Tetsui e Yukito - Sentimentos expostos escrita por Carol


Capítulo 2
Tetsui


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, espero que gostam agradeço a quem comentou e favoritou.
Boa leitura



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Acordei cedo nessa manhã, cedo até de mais. Meu pai já berrava alguma coisa em meus ouvidos, estava tendo um sonho tão bom, mas fui interrompido pelo blá blá blá do senhor Nakamura.

— Então é assim? Você está me desafiando Tetsui, sua mãe pode não estar mais aqui conosco, mas eu vou me encarregar de endireitar você, rapaz. Por isso a partir de hoje você vai trabalhar. – Ele usava seu tom mais austero para falar comigo.

— O que? – Perguntei ainda meio sonolento.

— Isso mesmo, você vai trabalhar na Nakamura, não na editora, mas fará meio expediente na “Ler” – Esse era o nome da livraria. – Ainda não entendo como mesmo andando com Yukito você seja tão diferente dele, não dá valor a nada, pago os seus estudos, compro suas roupas, jogos, comida, sapato, tudo! E o que você me dá em troca? Notas baixas! Isso eu não posso admitir, então vai trabalhar a partir de hoje mocinho. – Meu pai andava de um lado para o outro e quando andava, por ser gordo demais eu sentia o chão a minha volta tremer, ele passava a mão por seu cabelo grisalho perfeitamente ajeitado a todo o instante. Seus olhos azuis brilhavam de raiva, sua pele clara estava vermelha de irritação.

—Pai, não é por que ando com Yuki que tenho que me tornar igual a ele ou ele igual a mim, somos pessoas diferentes.

—Infelizmente! – Meu pai berrou, vi as bolsas debaixo de seus olhos tremerem e ele saiu em seguida batendo forte a porta do quarto.

Yukito é meu melhor amigo, desde sempre, nossos pais estudaram juntos no colegial e nunca mais deixaram de se falar, nossas famílias sempre foram muito unidas. Tia Naomi, a mãe de Yuki me deu muita força quando perdi minha mãe, eu ainda era muito pequeno, tinha apenas seis anos quando ela morreu de câncer. Lembro pouco dela, mas sei que ela sempre me deu muito amor e carinho, meu pai compensa sua falta me dando presentes, já que trabalha e viaja muito, ele acha que as coisas materiais são importantes, meu pai não é ruim isso é só o jeito dele pensar e quem sou eu para mudar o pensamento de alguém? Sou apenas um garoto confuso que ama o melhor amigo.

Resolvi levantar e me vestir, arrumei tudo que iria precisar para o dia de hoje em minha mochila e saí, fui direto para a casa de Yuki, todos os dias íamos juntos para a escola de trem e hoje eu estava disposto a me confessar para ele. Acho que todos os dias estou disposto a isso, mas sempre acabo com medo e nunca falo nada.

Cheguei à casa de Yuki e fui logo cumprimentando tia Naomi.

— Bom dia tia.

— Bom dia querido, você está tão lindo. – Ela sempre me elogiava, com um enorme sorriso no rosto.

— Obrigado, a senhora também está linda. – E eu sempre retribuía.

— Ah muito obrigada.

— Onde está Yuki?

— Ainda não desceu, mas vou chamar. – Naomi caminhou até a escada da casa e gritou para o filho —Yuki, Tetsui está aqui.

— Já estou descendo, estou pronto. – Escutei ele responder.

— Tetusi, já tomou café da manhã?

— Não tia, sai apressado de casa.

— Então sente-se, venha tomar café comigo enquanto espera Yukito.

— Obrigado. – Sentei ao lado de Naomi e fui logo me servido do café, peguei um pão, passei manteiga, coloquei queijo e presunto e em uma xícara coloquei leite e café. Enquanto mordia o pão Yuki chegou e ele estava lindo como sempre, seus cabelos azuis que teimavam em cair sobre seus olhos, seu corpo forte que transparecia pela camiseta branca do uniforme da escola, tratei de tirar aqueles pensamentos da minha cabeça, pois acabei mordendo a língua.

— Bom dia Tetsui. – Yuki me disse se sentando à mesa.

— Bom dia Yuki. – Respondi com a boca cheia e um pouco mais embolado do que gostaria, por ter mordido a língua.

— Quem te convidou para o café? – Ele me perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

— Sua mãe, Tia Nomi é muito gentil, não sei a quem você puxou. Seu ignorante! – Falei em tom sério e tia Naomi sorriu, Yuki apenas bufou.

— Meu amor, preciso ir trabalhar ou o senhor Nakamura me esgana. – Tia Naomi disse.

— Até parece tia... – Eu a interrompi, meu pai podia ser severo com qualquer funcionário, menos com a tia Naomi, ele a adorava, assim como adorava o marido dela o pai de Yuki que havia falecido, eles pareciam irmãos.

— Tetsui, cuide de Yuki e fiquem bem vocês dois. Preciso ir, Yuki não esqueça de trancar a casa. – Assenti enquanto ela dizia e sorria.

— Pode deixar mãe, tenha um bom trabalho. – Yuki respondeu sorrindo.

— Obrigada filho. Te amo.

—Hum... O que diz Yuki? – Resolvi implicar com ele, era sempre bom implicar com Yuki ele caía fácil na pilha e ficava ainda mais bonito quando se irritava.

— Eu também a você mãe. – Ele disse revirando os olhos. Me aproximei dele e apertei forte as suas bochechas, era bom ter um contato mais próximo de Yuki, eu aproveitava cada toque em sua pele, seu cheiro, seus olhos, seus lábios, tudo.

— Mais que lindo o filhinho da mamãe Yukizinho tão fofinho. – Tia Naomi ria enquanto deixava a casa.

— Pare com isso seu tampinha! – Ele deu um tapa na minha mão e eu gritei esfregando uma mão na outra e voltando para meu café, ele sempre frustrava minhas tentativas de aproximação, mas também eu entendo que fiz para deixa-lo com raiva mesmo. — Coma logo isso e vamos embora, não quero me atrasar.

—Tá bom, já vou.

Não me demorei mais, Yuki retirou a mesa e deixamos a casa rapidamente em direção ao metrô da cidade. Eu sabia que o horário em que pegávamos o trem era tranquilo e íamos até confortável, mas hoje não, hoje eu queria contato e resolvi nos atrasar um pouco, fiz que não encontrava meu passe do metrô e revirei minha bolsa várias vezes dizendo não encontrar, só quando perdemos o  trem que eu “encontrei” meu passe. Eu sabia que o próximo viria bem cheio e assim eu conseguiria ter mais contato com Yuki, não fazia isso sempre, não sou um tarado nem nada, mas pelo menos uma vez a cada dois meses ou mais eu arrumava uma coisa ou outra para pegarmos o trem mais cheio.

— Você só me atrapalha Tetsui, não sei por que ando com você. – Bufou.

— Ah Yuki você só reclama, por que não correu na frente e pegou o trem? – Resolvi questiona-lo, queria mesmo saber o que ele responderia.

— Por que se eu largar você é bem capaz de morrer pelo caminho.

— Então se preocupa comigo é? – Perguntei sorrindo e o olhando de lado. Mais uma vez ele bufou e revirou os olhos.

— Aí vem o outro, vamos logo tampinha. – Yuki disse dando um tapa na minha cabeça, ele queria mesmo me irritar então me deixei levar.

— Pare de me chamar de tampinha, você que é gigante. – Disse esfregando minha cabeça onde ele havia dado o tapa.

Como era a minha intenção fomos feito sardinhas em lata, sempre que eu podia colava meu corpo ao de Yuki sentindo seu perfume gostoso, mas ele nem notava minhas intenções, claro lesado como era, nunca me viu da maneira que eu o via. Acho que nunca conseguirei revelar meus sentimentos, não consigo notar uma brecha sequer nos sentimentos de Yuki por mim. Não demorou para que chegássemos na escola e chegamos até bem cedo.

— Tá vendo seu reclamão, ainda chegamos cedo.

— Estou vendo.

— Ah! Tetsui, hoje vou ver você jogar. – Chegou a chata da Yoko logo me agarrando pelo pescoço.

— Mas você sempre me vê jogar Yoko. – Eu disse tentando soltar a garota do meu pescoço, mas desisti quando vi que não conseguiria, bufei e relaxei meus ombros entediado e irritado.

— Eu também vou te ver Yuki. – Kimi se aproximava dele, outra chata perseguidora, mas em um movimento rápido, típico de Yuki ele deu um drible na menina a deixando agarrar o ar e eu sorri, mas quando vi ele me abandonar o olhei frustrado. Essas garotas não percebem que eu não curto isso? Elas não notam que eu sou gay? Mais que saco será que vou precisar desenhar? É estou achando que vou.

— Yoko, por favor me solta, já te disso que não gosto disso, você é muito pegajosa, credo.

— Ah Tetsuizinho, não fale assim comigo. – Mas que merda é essa de Tetsuizinho?!

— Me deixa em paz demônio, preciso ir para minha classe. – Em um movimento de sorte consegui me desvencilhar daquela praga e correr para a sala, Yuki já estava sentadinho em seu lugar, caminhei até ele.

— Muito obrigado Yuki. – Disse lançando um olhar de ódio.

— Problema é seu se não consegue desviar de uma marcação. E pelo que eu sei você é goleiro então o seu negócio é agarrar. – Ele começou a rir e eu fiz bico.

— Essas meninas parecem chicletes. – Disse me jogando na cadeira atrás de Yuki.

— Isso está acabando, logo deixaremos o colégio e elas param, seremos calouros na faculdade e sabemos que as meninas de faculdade não curtem calouros.

— Essa é a nossa salvação. Ah Yuki nem te contei, meu pai me obrigou a trabalhar na livraria da editora, então agora estaremos juntos lá também. – Disse sorrindo, a melhor parte de trabalhar era que conseguiria ficar ainda mais tempo ao lado dele, por isso nem discuti com meu pai, ele nem sabia o favor que me fazia.

— O que? – Nesse momento o professor entrava em sala, continuei sorrindo e Yuki ficou sem resposta.

Yuki era tão compenetrado nas aulas, ele se fixava na explicação e não havia nada que tirasse a sua atenção, já a minha... A qualquer movimento dos cabelos azulados dele me dispersavam, o vento que batia e retornava trazendo seu cheiro de perfume amadeirado para o meu nariz me tirava dali, lembrei do meu sonho onde eu finalmente me declarava para ele e ele me beijava. Não sei quando comecei a me sentir assim por Yuki, acho que foi desde sempre, sempre o vi como algo a mais que amigo, sempre senti meu coração bater mais forte quando ele se aproximava, mas eu sabia que ele nunca me viu assim e que para ele eu não passava do seu melhor amigo idiota e tampinha que ele tinha que carregar e proteger, me sentia sempre tão frustrado que ultimamente não conseguia mais me concentrar nos estudos e o que já era ruim ficava ainda pior, minhas notas caíram consideravelmente, eu não me alimentava direito e só pensava em Yuki, em ficar com ele, escutar suas histórias sobre futebol. Ah ainda tinha isso, eu na verdade nem gostava de futebol, entrei para agradar Yuki e ficar perto dele, mas acabei gostando de ser goleiro, descobri ali uma válvula de escape para os meus problemas. No campo quando eu estava no gol só pensava naquele momento. E eu era mesmo o melhor goleiro que poderia ser e me orgulhava disso, mas fora dali só Yuki estava em meus pensamentos. As horas passaram tão depressa e eu nem vi nada da aula mais uma vez. Quando dei por mim já tocava o sinal do primeiro intervalo. Yuki aproveitou e exigiu explicações.

— Explique-se melhor.

Minhas notas caíram ainda mais e meu pai quer me dar uma lição, ou eu sei lá. Ele quer que eu dê valor ao dinheiro que ele gasta comigo, cortou minha mesada e me botou para trabalhar. Ele disse não entender como eu não aprendo nada com você que estuda é o artilheiro e capitão do time da escola, trabalha e fica sempre em primeiro lugar no ranking da escola. Eu disse a ele que eu e você somos pessoas diferentes e não é porque andamos juntos que eu tenho que ficar parecido com você ou você comigo, mas ele não entendeu.

—Tetsui, eu que não te entendo, você não trabalha, tem um pai que te dá tudo, você só precisa estudar e eu sempre te ofereci ajuda, mas você sempre recusou, sabe-se lá por que. O que te impede de ser o melhor aluno da classe? – Ele me questionou seriamente, mal sabendo que meu problema era ele.

— Hum... você? – Acabei dizendo sem pensar.

— O que, eu? Como assim? – Ele me questionou um pouco raivoso.

— Ah esquece Yuki, vamos voltar para a sala que esse intervalo já chegou ao fim e não estou a fim de nenhuma chata no meu pescoço. – Cortei seu questionamento já um tanto sem graça por ter dito aquilo, Yuki me olhava seriamente e um olhar estranho que eu nunca tinha visto. Percebi ali que Yuki nunca me olharia com amor, o amor que eu queria que ele sentisse por mim.

As aulas acabaram depressa de mais, hoje teríamos a semifinal do campeonato estadual de escolas, Yuki como sempre apressado correu e me deixou para trás, não liguei, guardei meu material lentamente, pus minha mochila nas costas e caminhei em direção ao vestiário.

No caminho pelo corredor vi uma menina escorada na parede, ela se vestia vulgarmente com sua saia tão curta que sua calcinha apareceria caso ela se inclinasse.

— Tetsui?

— Sim, te conheço?

— Não, sou Kuoko Mei. Sou repórter do jornal do colégio Tenshi.

— E eu com isso?

— É que me disseram muitas coisas sobre você e eu queria ver se era tudo verdade mesmo.

— E o que seria? – Perguntei arqueando uma das sobrancelhas.

— Primeiro que você é o melhor goleiro do campeonato inteiro, - Ela foi se aproximando e eu me afastando. – segundo que você não é muito inteligente, pois tira péssimas notas – Cada vez ela se aproximava mais e eu me afastava, me afastei até a parede onde ela me prensou. – E terceiro que você é lindo demais. Essa número três posso dizer que é verdade, a segunda eu confirmei olhando o ranking da escola e a primeira terá que ser na prática, vamos ver se você me agarra como agarra no campo. – Quando dei por mim a louca me segurava pelos cabelos e beijava minha boca com vontade, a goleira ali parecia ela e não eu que tentava afasta-la, mas não conseguia, as mãos dela percorriam meu corpo e a minha procurava um lugar onde segurar nela para que eu pudesse empurrá-la, mas ela só me soltou quando faltou o ar. Olhei para ela incrédulo e Mei sorriu para mim e virou-se rapidamente, eu sacudi a cabeça e corri até o vestiário, não entendi nada. O que tinha acontecido ali? Me troquei rapidamente e corri para o campo, Yuki já estava treinando e notei seu semblante endurecer quando me avistou, mesmo assim caminhei até ele e pedi:

— Hei Yuki, vamos até o gol, me ajude a aquecer?

—  Por que eu? – Ele me perguntou com certa raiva na voz.

—Por que você é o melhor em chutes a gol! E desde quando você se nega a treinar comigo?

— Tudo bem tampinha, vamos lá. – Ofensa gratuita, mas o que foi que eu fiz agora?

— Sem essa de tampinha. – Me aproximei dele e o empurrei fazendo bico.

Yuki começou a lançar as bolas para o gol, meus reflexos estavam ótimos em campo. Ali, sob aquelas traves muitos dos meus problemas iam embora. Das dez bolas que Yuki chutou agarrei sete, mas algo tirou a minha atenção a tal Mei subia para se sentar na arquibancada, me olhou, mandou um beijo e se sentou sorrindo, notei que Yuki viu toda a cena e mais uma vez seu semblante se modificou, parecia enfurecido, sei lá, nunca antes havia visto ele assim. Fiquei olhando para ele sem entender, quando dei por mim Yuki corria velozmente em direção à bola e chutava, nem sei de onde veio só senti a pancada forte em minha boca e o gosto do sangue logo em seguida quando cai sentado dentro do gol. Yuki havia colocado toda a sua força naquele chute e todo o seu ódio também, por que aquela bola não foi lançada com a intenção de fazer um gol, mas sim de me acertar e ele conseguiu. Depois que ele viu o que fez arregalou os olhos e correu para me ajudar.

— Desculpa aí cara. – Disse e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Passei a mão, coberta pela luva, sobre os lábios para limpar o sangue.

— Não, você não teve culpa, eu que me distrai. – Eu disse mesmo sabendo que era uma mentira e forcei um sorriso estendendo minha mão.

— Hum, acho que suas admiradoras se preocuparam com você. – Ele disse apontando para Yoko, mas meus olhos foram diretamente para Mei, não sei por que, mas achei estranho ela esboçar preocupação.

— Estou bem, vamos continuar.

— Tem certeza?

— Sim, isso não foi nada já disse. Eu que me distrai, sabe bem como sou distraído não é, Yuki? – Perguntei e sorri, mas senti dor por conta do corte em meu lábio e levei a mão ao mesmo. Yuki agora me olhava com certo arrependimento. —Vamos jogar? – Perguntei acabando com aquele momento estranho.

— Vamos claro. – Yuki disse e em um ato rápido me abraçou. – Desculpe, amigo.

— Sem problemas, cara. – Aproveitei o momento e senti mais uma vez seu perfume amadeirado.


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Notas finais do capítulo

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