You are my sunshine escrita por Sparkles


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

"You are my sunshine, my only sunshine
You make me happy when skies are grey
You'll never know, dear, how much I love you
Please don't take my sunshine away"

Feliz leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521146/chapter/1

– John, nós precisamos de um mascote. – Sherlock declarou, sentado no tapete do quarto do amigo. O pequeno John acordou com um pulo.

– Meu Deus, o que você tá fazendo aqui? A Harry abriu a porta pra você?

– E tem que ser um cachorro.

– Tá escuro ainda. – John levantou e olhou pela janela – E eu acho que vai nevar.

– Sim, sim, já separei suas roupas de frio. – disse, colocando um grande casaco verde, um par de calças e um gorrinho sobre a cama – Espero você lá embaixo.

– Ok. – John respondeu para si mesmo. Respirou fundo e seguiu as instruções. Sabia que nada de mal lhe aconteceria se não fizesse o que Sherlock mandasse, mas mesmo assim fazia. Sherlock não tinha nenhum outro amigo além de John e ele não queria que Sherlock se sentisse sozinho. Ainda mais agora que Mycroft tinha ido pra faculdade.

Desceu e estabeleceu sua única regra.

– Eu estou indo com você, mas é melhor que a gente volte a tempo de assistir Doctor Who.

– Ok, vamos!

– Ah, ah, ah... Espera. E amanhã, eu não vou poder sair com você. Vai ter maratona de Doctor Who o dia inteiro.

Sherlock suspirou e puxou John pelo braço.

– Tudo bem, ai, você reclama demais.

***

– Sabe quantos cachorros tinham lá? Um monte. E você não gostou de nenhum, Sherlock. Nenhum! – John iniciou um monólogo na sorveteria, enquanto Sherlock lia o cardápio – Eles são todos fofinhamente iguais, por que você não podia ter escolhido um e pronto?

– Silêncio, John, eu to tentando escolher nosso café da manhã – fez sinal para o gigante atendente – Bom dia, Rocky, eu vou querer uma Banana Split pra mim e um sorvete de creme pro John.

– Vocês vão tomar sorvete nesse frio? – o atendente perguntou.

– Não está a fim de ganhar dinheiro não, Rocky? – Sherlock sacudiu as poucas libras que tinha, como se fosse um bolo de notas de cem. – Vamos, é para hoje. – Rocky revirou os olhos e seguiu para a cozinha. John encarava Sherlock profundamente. – E você, o que foi?

– Por que o meu é o menos doce? – John contestou.

– Porque eu to acostumado a comer essas coisas no café da manhã e você não. Confie em mim, você ia ficar com o estômago enjoado.

– Certo – John engoliu a resposta mal educada que ia dar. Odiava a mania que Sherlock tinha de trata-lo como bebê, cheio de ordens e cuidados.

– E não faça esse biquinho, eu não estou te tratando como bebê.

– Como...? – Essa era nova. Sherlock lia pensamentos.

– Só estou tentando me manter no controle. Você precisa me respeitar, John, eu sou mais velho que você.

– Não, não é. Eu tenho 12 e você ainda vai fazer 11.

– Sério? Você parece tão... bebê. – Sherlock ficou desconcertado, mas logo voltou a si. Pigarreou. – Eu estava falando de idade mental, John.

***

Após o “café da manhã”, seguiram para o parquinho local. Ainda tinham tamanho para frequentar o balanço, então limparam os resquícios de neve do banquinho e começaram a balançar. O estômago de Sherlock doía e John estava congelando, mas nenhum dos dois queria admitir que o sorvete tinha sido uma má ideia.

– E o seu cachorro?

– Nenhum deles é o cachorro certo. – conversavam enquanto balançavam em direções contrárias.

– E como é o cachorro certo?

– Vermelho. – a resposta de Sherlock foi imediata – E rápido.

– Acho que você está procurando por uma Ferrari então.

– Não tente ser engraçado John. Você está parecendo até a sua irmã.

– Para de me comparar com a Harriet, ela é louca. – disse John, se sentindo afrontado – Seu... seu projeto de Mycroft!

– O quê? – Sherlock parou de balançar, fez uma bolinha de neve e tacou-a em John, que caiu do balanço. O menino loiro demorou a reagir. Sherlock correu preocupado. – John, você tá bem? JOHN?

O pequeno Watson esperou que Sherlock chegasse bem perto para abrir os olhos e tacar neve na cara do amigo. Em meio a risadas, iniciaram uma guerra de bolas de neve.

***

Já devidamente embrulhados em cobertores quentinhos, cada um com uma caneca de chá na mão, John e Sherlock se preparavam para o novo episódio de Doctor Who que começava. John mal piscava, olhava para a TV com uma empolgação e um brilho no olhar que Sherlock não compreendia.

– O que tem de tão legal nesse programa?

– Viagem no tempo. – John respondia rápido, para não perder nenhum precioso segundo.

– Pra que ano eles estão indo?

– Pro passado. - disse John, impaciente.

– Impossível. – Sherlock riu – A única maneira de um ser humano viajar no tempo é correr mais rápido do que a velocidade da luz, o que é impossível e mesmo assim, ele só conseguiria ir para o futuro, nunca pro passado.

– Nem se ele correr de costas?

– O quê? Ai, você ao menos pensa antes de falar?

– Cala a boca e assiste o programa, por favor.

E foram lindos 42 minutos de silêncio. John vibrava e interagia com a TV, enquanto Sherlock numerava as coisas ilógicas que já haviam acontecido naquele programa até o momento. Nos minutos finais de episódio, John começou a chorar. Sherlock rapidamente desligou a televisão.

– O QUE VOCÊ FEZ, SEU MONSTRO? LIGA, LIGA, LIGA... – acabou encontrando o controle e ligando sozinho.

– Mas o personagem principal tava pegando fogo, você tava chorando!

– Ele não tá pegando fogo, seu babaca, o Doctor tá regenerando.

– Isso não existe! Ninguém pega fogo desse jeito sem morr...

– NÃO ESTRAGA MINHA VIDA, SHERLOCK!

***

– Já é hora do almoço? Não estou com fome. – Sherlock disse e John, concentrado num livro que pegara na estante de Mycroft, não respondeu – Você ainda tá me ignorando, John? É por causa da televisão? – John levantou a cara do livro apenas para lançar um olhar sério para o pequeno Holmes e depois voltou a sua atividade.

Sherlock então se debruçou sobre a janela. A neve caía lentamente e tudo estava profundamente branco lá fora. Estava pensando como era interessante o fato de que cada floco de neve era diferente do outro, quando viu um vulto. Não era preto, ou branco como o resto das coisas. Era vermelho vivo. E rápido. Tinha acabado de dar de cara com um arbusto branco do outro lado da rua.

– Encontrei, John! Encontrei! – Sherlock gritou – Vamos John, coloca sua toquinha e desce! – começou a descer as escadas e percebeu que seu amigo não ia acompanha-lo. Abriu a porta do quarto. – Faça o favor de largar esse livro. É em latim, você nem tá lendo de verdade.

O menininho loiro suspirou, fechou o livro e foram atrás do vulto vermelho.

Era mesmo um cachorro. Não estava machucado, só com muito frio e com os pelos cobertos de neve devido a derrapada.

Sherlock e John carregaram-no para dentro, onde limparam seu pelo e ofereceram-no uma xícara de chá.

– Você se acha muito inteligente, mas você tá dando chá pra um cachorro.

– Bem, é uma raça britânica, ele deve gostar. – Sherlock respondeu e John revirou os olhos. – Não faz essa cara, vem aqui fazer carinho nele.

Então John foi e deslizou os dedinhos sobre o pelo macio do Golden Retriever avermelhado. O cachorro fez barulhos de felicidade, que fizeram John e Sherlock sorrir.

– Sherlock, posso perguntar uma coisa?

– Vá em frente.

– Por que tinha que ser vermelho e rápido?

Sherlock tirou o cachorro do colo e deixou que ele corresse pela casa.

– Quando eu tinha uns oito anos eu tive um cachorro vermelho.

– E rápido?

– E rápido. – Sherlock fez uma cara malcriada para a gracinha – Seu nome era Red Beard e ele era meu melhor amigo. Eu gostava dele mais do que do Mycroft. Só que um dia eles tiveram que matar ele porque ele tava doente. Foi muito triste. Eu não entendi o porquê na época, daí eu chorei e chorei. Fim. Sem perguntas, eu não gosto de falar sobre isso.

– Então você tá tentando substituir o Red Beard?

– O assunto acabou. – Sherlock assoviou e o cachorro vermelho veio correndo – Olha, ele já até responde aos meus comandos. – lambeu a mão de Sherlock e foi em direção à porta, onde começou a pular.

– Sherlock, para com isso, esse cachorro não é seu, você sabe.

– Ele não é de ninguém, ele veio correndo até aqui.

A campainha tocou. O senhor Holmes desceu as escadas para atender.

– De quem é esse cachorro? – o pai de Sherlock perguntou – É seu, John?

Não foi preciso responder. A mulher na porta segurava um cartaz com a foto do cachorro vermelho. Ele tinha sumido há dias e seu filho, relatava a mulher, estava inconsolável com saudades do mascote.

O pai de Sherlock estava confuso. Olhou para John que olhou para Sherlock.

– Ele precisa ir pra casa dele.

– Mas John...

– Sherlock, eu sou mais velho, me obedece. – John riu com os olhos, mas logo voltou ao sério – Se você o ama, tem que deixa-lo ir.

O pequeno Holmes suspirou. Apesar de ter feito uso da frase mais clichê do episódio de Doctor Who que assistiram no dia como lição de moral, John tinha razão. Também tinha razão quando disse que aquilo era como substituir Red Beard. Aonde quer que ele estivesse agora, ia querer que Sherlock deixasse aquele cachorro ir.

Os meninos passaram a mão na cabeça do Golden Retriever e ele foi embora com a mulher.

***

– Pronto, John, em casa.

– Obrigado por andar até aqui comigo.

– Como se eu tivesse alguma outra coisa pra fazer... – Sherlock bufou.

– Mas você tem – John sorriu – Nós temos. Amanhã é outro dia, a gente pode tacar neve um no outro ou jogar alguma coisa ou sei lá, o que você quiser.

– E a sua maratona de Doctor Who?

– Ah, é só reprise, não tem problema. – John sorriu.

– Sério mesmo? – Sherlock ficou surpreso – Então tá. Passarei aqui bem cedinho.

Sherlock se despediu de John com um aperto de mão e foi andando para casa, planejando surpreender o amigo no dia seguinte e assistir a maratona de Doctor Who com ele. Enquanto isso, John se jogava cansado no sofá de casa. Percebeu então que o motivo real pelo qual fazia sempre o que Sherlock queria não era por pena de sua solidão, e sim porque mesmo quando não queria, acabava se divertindo pra caramba.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deixem comentários e biscoitos. Mentira, Sherlock me disse que é fisicamente impossível alguém deixar um biscoito de verdade no espaço de comentários. Deixem só os comentários mesmo, rs. Beijos e obrigada por ter lido! ♥