Confiance escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 4
The hounds will stay in chains




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Trabalhar com Megan não estava sendo tão cansativo ou complicado quanto Davi esperava. A garota era aplicada quando colocava algo na cabeça, o que explicava porque ela havia sido tão obcecada por conquistá-lo. Quando Megan Lily Parker-Marra tem um objetivo, não para até alcançá-lo, e isso era algo que o programador estava tirando à prova.

“Uma americana criou uma campanha de assédio na rua, e eu achei a ideia really cool.” Megan mostrou uma notícia para Davi. “Como ainda não amadurecemos nossas ideias para a TV, podemos trabalhar com a dela. Entramos em contato e pedimos autorização. What you think?”

“Gostei, é diferente.” Ele elogiou. “E é boa em um ano como esse, que o Brasil está cheio de turistas nas ruas.”

Yeah, esse é o ponto. Mesmo after a Copa, ainda teremos movimento no país por um tempo. E mesmo sem os turistas, a ideia é good.”

A ideia consistia em imprimir nas paredes das ruas, rostos de mulheres que sofreram assédio nas ruas. As imagens eram acompanhadas de frases em inglês, espanhol e agora português, respondendo as “cantadas”. Megan sugeriu que espalhassem também em festas, com frases ligadas ao assédio à mulheres alcoolizadas.

“Será que a artista aceitaria desenhar o rosto das mulheres?” Perguntou Davi, lendo o site da campanha “Stop Telling Womens to Smile”. (N/A: mais informações nas notas finais)

“Não sei... Vou tentar entrar em contato com a criadora... Tatyana Fazlalizadeh?” A garota sentou ao lado do colega. “Acho mais fácil enviarmos a email, o que você acha?”

“Melhor do que postar no mural do Facebook ou mencionar no Twitter.” Davi começou a digitar a mensagem que Megan ditava, os dois discutindo o que diriam.

Era impressionante como as ideias fluíam entre eles com facilidade, com um mínimo de desentendimentos. Megan era bem insegura quanto as suas ideias, e certa vez confidenciara a Davi que isso se devia ao medo de o pai rejeitá-las por não serem boas à altura da herdeira dos Marra.

A princípio ele achou que precisaria controlar ideias idiotas e elogiar as menos ruins, para quem sabe incentivá-la, mas se surpreendeu ao constatar o quão sensata e brilhante ela podia ser, se perdesse o medo.

“Davi, você vai demorar aqui?” Megan revirou os olhos discretamente ao ouvir a voz de Manuela, que entrou na sala em que ela e Davi trabalhavam. “Temos coisas para trabalhar no Junior, antes que apresentarmos ele na próxima semana.”

“Estamos meio ocupados agora.” Se desculpou o rapaz, vendo a namorada bufar.

Relax Davi, eu termino o e-mail. Até porque, meu inglês é much better que o seu, se me permite o comentário.” Os dois riram, enquanto Manuela começava a ficar inquieta. “Go, capriche bem no Junior e impressione dad com ele.”

“Tudo bem. Me avise se conseguirmos uma resposta da Tatyana, ok?” A americana assentiu, enquanto Davi pegava o casaco e caminhava até Manuela. “Até amanhã, Megan.”

“Até, Davi. Tchau Manuela, good to see you.” Acenou para a nordestina, que apenas lhe deu um sorriso amarelo e saiu puxando Davi. Megan suspirou. “Me pergunto como alguém pode ter tanta bochecha.”

~M&D~

“Você podia ter respondido ao tchau, pelo menos.” Davi repreendeu a namorada, enquanto entravam no carro. “Ela estava sendo simpática.”

“Ela estava sendo mais falsa que nota de três reais.”

“Ela pelo menos está tentando.” O programador deu partida no carro. “Que droga, Manuela, você sabe porque eu preciso fazer isso, você podia colaborar.”

“Você fala como se fosse uma obrigação, mas eu sei que tá se divertindo, e muito, com a gringuinha atirada.” Rebateu Manuela com ódio.

“A gringuinha atirada está sendo uma companhia agradável, completamente focada no nosso trabalho e me respeitando completamente, porque ela sabe que eu tenho uma namorada que eu amo muito.” Davi disse entredentes, apertando o volante com força. “Que droga, você precisa confiar em mim. Ou melhor, em você.”

“Eu confio sim no meu próprio taco, se é isso que você está insinuando.”

“Então demonstre. Porque nesses últimos dias, você está insuportável, e te aguentar está sendo um martírio. Não me culpe por querer passar tempo com a Megan.” Se arrependeu assim que proferiu as palavras, vendo os olhos de Manuela se encherem de água. “Droga, desculpa Manu. Eu só...”

“Davi, fica quieto, por favor.” Foi só o que a engenheira disse, antes de virar o rosto para a janela, encarando a rua. Davi bufou, socando o volante e aumentando o volume do rádio, sendo atingido por Team, da Lorde.

A música era acalentadora, e permitiu que ele se acalmasse um pouco. Gostava da melodia, acostumado a ouvir no celular de Megan, que vira e mexe colocava sua playlist para acompanhá-los no trabalho.

Lorde é, like, uma fofa. Eu a conheci em uma festa da Paris, algum tempo atrás. Nós nos demos muito bem, trocamos mensagens no whatsapp everyday.” Contou a jovem Marra, enquanto eles discutiam algumas ideias ao som da cantora.

“Deixa eu adivinhar... Sua música favorita dela é Royals?” Megan negou aos risos.

“Gosto mais de Team, tem uma melodia mais gostosa.”

“Hum, uma apreciadora musical?” Brincou o programador.

“Come on, eu cresci no meio de muita coisa, sei um pouco de tudo. Apenas exalto meus maiores interesses.” Explicou ela, envergonhada. “Mas eu gosto de música, de tipos variados. Gosto de sentir o ritmo, the sound, a melodia crescendo e chegando ao seu ápice. It’s wonderful.”

“Adoro ouvir música também. Meu tio é músico e sempre levou eu e o Matias para as rodas de samba com ele.”

“Mas você já parou para sentir a música?” Perguntou a loira, largando o que estava fazendo e sorrindo animada. “Ok, close your eyes.”

“Fechar os olhos? Para quê, sua louca?” O rapaz questionou, enquanto ela fechava seus olhos.

“Shut up, ou não vai entender.” Riu Megan, voltando a música para o começo. “Ok, deixe a mente vazia e foque na música, e então me diga o que você sente.”

Ele fez o que ela pediu e a primeira coisa que sentiu, foi as batidas de seu coração entrando com o compasso da batida da música. Depois, como um filme, a música foi se formando em sua cabeça e aquecendo seu coração, enquanto se sentia cada vez mais ligado à melodia. E então chegou ao ápice da música e foi a fisgada na nuca, o arrepio pelo corpo, o sorriso incontido. Ele abriu os olhos, encarando a garota a sua frente, ainda de olhos fechados.

“É incrível.” Megan o encarou sorrindo. “Tantas emoções e sentimentos em uma única música.”

“Yeah, e essa tem um instrumental fraco. Ouça Numb, do Linkin Park. Você entra em, like, uma montanha-russa emocional. It’s amazing.”

“Davi, nós já chegamos na Gambiarra.” Manuela cutucou seu braço, tirando-o do transe em que estava. Ele estacionou o carro em frente à casa dela, os dois descendo em silêncio. Entregou a chave para a nordestina, que se dirigiu para a portaria.

“Manu?” Ela virou com a cara ainda fechada. “Você quer fazer alguma coisa hoje, só nós dois? Sem nada ligado à Marra ou aquela família, só nós dois.”

“E o que você propõe?”

“Maya e Golias nunca mais se encontraram depois que começamos a namorar. Talvez eles lutem melhor agora que são cúmplices.” Ela sorriu para o namorado, assentindo com a cabeça. Entrou no prédio em silêncio, deixando Davi com os próprios pensamentos.

~M&D~

Megan estava sentada no sofá de sua casa, ouvindo mais uma discussão de Jonas e Pamela. Depois que o pai havia adoecido, elas haviam se tornado mais frequentes. Sabia o quanto os pais se amavam, mas essa insegurança de Jonas estava deixando tudo mais complicado.

Como não estava com vontade de ouvir a gritaria (nem os barulhos constrangedores que a seguiriam), rumou para o quarto, caçando o fone de ouvido. Deitou na cama, ligando a música o mais alto possível.

Foi direto para Team, fechando os olhos e deixando a mente limpa, ou talvez não tanto. Nos primeiros acordes, o rosto de Davi se desenhou em sua mente. O sorriso torto e tímido, os olhos brilhando por trás da lente dos óculos, o cabelo bagunçado.

Levou o indicador até a boca, mordendo-o da maneira que o via fazer quando estava concentrado. Era adorável, na opinião da loira. E ele o fazia com cada vez mais frequência, e Megan desejava tanto ser aquele dedo.

Abriu os olhos, sabendo que não conseguiria dormir sem falar com ele. Mas não podia ligar, já que ele deveria estar trabalhando com Manuela. Optou pela mensagem e usou o que tinham em comum.

Ainda sem resposta da Tatyana, espero que tenhamos algo até amanhã.”

Ficou encarando a tela do celular, batendo os pés um no outro, esperando a resposta. Estava quase desistindo, quando ela afinal chegou.

Ela vai responder de madrugada, tenho certeza disso. Se não, subimos tag no twitter.”

“OMG, você é tão idiota.”

“Vai dizer que não é uma boa ideia?”

“Yeah, I like it. Anyway, vou dormir, porque tenho que acordar com as galinhas”

“Dramática, tão dramática. Dorme com os anjos, Megan.”

Sorriu ao ler aquilo, sabendo que teria uma noite maravilhosa.

Infelizmente isso será impossível, porque o maior deles está aí na Gambiarra, so far from me.”

Encarou o visor do celular por um tempo, antes de deletar a mensagem e mandar um “você também, boa noite.”

“Você é uma coward, Megan Lily.” Suspirou, jogando o aparelho para o lado e recolocando os fones, rumando logo para a inconsciência.


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Notas finais do capítulo

Hello peanuts, como vão? Estou feliz que já temos 20 leitores, apesar de nem todos comentarem. Espero que todos estejam gostando :D
Bom, aqui estão os links sobre o projeto que a Megan cita:
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2014/04/artista-faz-campanha-contra-assedio-de-rua-mulher-disfarcado-de-elogio.html
http://stoptellingwomentosmile.com/
Como eu não tive nenhuma ideia boa, cacei algumas na internet e essa foi uma que apareceu e eu achei bem interessante, até para vocês conhecerem. Espero que tenham gostado e se acharem mais alguma coisa e tal, podem me mandar, está bem?
Bom, creio que agora só postarei semana que vem.
Até lá peanuts :D