Celeridade escrita por Rob Sugar


Capítulo 2
Tiara, Lapso e Canalha




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Entro na escola com os óculos escuros que roubei da minha mãe dois verões atrás.

Minha blusa de “seda asiática” marrom e minhas calças jeans “exclusivas” são acompanhadas pela minha sacola da Gucci que tem cinco frascos de xampu indonésio, alguns chineses, a pasta de dente da Inglaterra e uma tiara de brinquedo que achei na rua.

Com sorte, elas acreditam que acrílico está na moda na Noruega.

Vejo Oscar recostado numa parede conversando com um dos garotos que estava na mesa ontem. Ele me vê e me chama.

Déjà vu.

Quando chego, ele me mostra um vídeo protagonizado por ele mesmo, no qual ele bate num cortador de grama com a raquete elétrica. Vejo faíscas.

–Temos que conversar sobre essa raquete. – digo a ele sem tirar os olhos do celular.

–Sobre o quê? – ele me pergunta confuso.

–Sobre para quê ela serve. – digo.

Dou a sacola para ele segurar e ajeito meu visual. Ele me acompanha até a sala, onde encontramos as Cintia-lantes.

Elas estão sentadas com suas carteiras formando algum símbolo que, visto de cima, deve ter algum significado.

Claro que a chefa está no meio.

Peço o celular emprestado e ponho no bolso.

–Oi, amigas! – digo e cumprimento a líder delas com um beijinho na bochecha. Tusso. O pó dela ficou na minha boca. Santo Cristo – Esse aqui é meu namorado, Oscar.

–Tipo assim, ele é seu namorado? – ela pergunta.

–Sim, é um amor. – pelo canto do olho, vejo que ele está me encarando com um olhar de “eu vou matar você depois disso” – Os presentes, querido.

Mesmo com toda a doçura com a qual falei; Oscar simplesmente joga a sacola na frente delas.

Surpreendentemente, as outras se acotovelam com tanta violência que eu e Oscar nos afastamos. Quando elas pegam seus frascos de xampu e a pasta de dente (uma delas pegou e comeu um pouco), a líder enfia a mão lá dentro lentamente.

Que agonizante.

Ela majestosamente retira a tiara de plástico e põe na cabeça.

–Ficou linda, menina. – digo sorrindo.

–Claro que sim. – ela responde fazendo uma pose de rainha – E o celular que você comprou ontem?

–Achei que não perguntaria... – solto um riso falso e tiro o celular de Oscar do meu bolso – Não é chique?

Ela contempla o celular por alguns segundos e o liga.

Um grito agudo sai de sua boca martirizada pelo batom e ela derruba o telefone.

–O que é isso? – ela grita abanando o rosto.

Pego o celular e vejo o papel de parede.

Um bode moribundo de três cabeças está sentado em um trono de ossos, de onde saem rios de sangue no qual dezenas de humanos se afogam. Há no céu um sol rubro atemorizador.

Sob isso, se lê “Goat Throne EP – Panda Desolado”.

Tenho de me lembrar de perguntar a ele o que é isso.

–Ah, deve ser algum vírus! – guardo o celular no bolso.

A garota que estava comendo pasta de dente cospe em mim, mas acerta meus sapatos de grife falsos.

–Meus sapatos de grife fal... – elas olham pra mim – franceses.

Dou uma risadinha.

A cuspidora pede desculpas.

A líder me diz para comprar outro par depois.

Meu namorado me arrasta para fora.

–O que você tá fazendo? – ele pergunta com um semblante furioso.

–Amigas. – sorrio.

Ele agarra meus ombros e me sacode.

–Por que você está mentindo? Por que você chamou minha banda de vírus? – ele parece com raiva.

–Você tem uma banda? – pergunto.

Ele fecha a cara.

–Seguinte, eu não gosto de mentir.

–Eu também não! – completo.

–Não é o que parece! – ele grita num sussurro – Tá legal. – ele se acalma – Vai lá e conta a verdade.

Minha expressão diz “É sério?”, mas eu sei que é o certo.

–Ou você conta, ou nós terminamos. – ele diz e cruza os braços.

–Uuh, chantageou errado, ô da raquete. – cruzo os braços em resposta – Podemos terminar aqui e agora.

–É mesmo?

–É! – grito com todas as forças.

Ele libera um sorriso maníaco. Põe a mão no meu bolso e puxa o celular dele de volta.

–Já que acabou. – ele ri – Vou pegar o meu celular.

–Tá. – empino o nariz para ser superior neste momento difícil.

–E você não vai mais sentar na nossa mesa. – ele puxa um bloquinho do bolso da jaqueta e risca meu nome – Espero que goste de comer em pé, Robin.

–Epa, epa, epa! Você não... – tento argumentar, mas ele me interrompe.

–Eu sim. – ele dá um tapinha no meu ombro – E, também, não te devo satisfação, então vou contar pra elas que era tudo mentira.

Meus olhos se arregalam involuntariamente.

Ele começa a andar.

Minha reação é imediata.

Corro até a porta.

Nada de ruim, se eu não tivesse feito isso na velocidade da luz.

Torço para que ele não tenha notado esse deslize de concentração.

–Por favor, não. – imploro – Não termine comigo. – fico de joelhos – Mas não conte a verdade, e nem me faça comer em pé! Por favor, Oscar!

Ele ri de minhas súplicas.

–Fechado, não conto. Você conta. – ele diz e eu simplesmente concordo com a cabeça. A culpa vai me consumir se eu não fizer nada – Ah, e já que não terminamos, vai se acostumando com essa posição.

Quando me dou conta do ridículo, ele já foi embora rindo.

“E aí, mãe?

Bom, meu namorado me fez de trouxa hoje na escola, mas foi por uma boa causa.

Eu parei de mentir para minhas amigas, e descobri que elas não são minhas amigas de verdade. Mas eu ainda tive que passar no mercado pra comprar mais pasta de dentes. Longa história.

Acho que meu segredo pode ter sido revelado, mas por uma fração de segundos. Estou um pouco preocupada, mas Oscar, namorado, é o único que deve saber.

Saudades, Robin.”

Termino a carta, beijo e desço para colocar na caixa de correio.

De volta ao meu quarto, vejo Oscar pendurado na porta.

Tomo um susto.

–O que você quer? – pergunto, deprimida.

Ele me encara com um tom questionador.

–Minhas amigas me enxotaram do grupo por não ser rica. – digo.

–É melhor você ir se trocar, estamos de saída. – ele diz sorrindo.

–Saída pra onde? – indago entrando no quarto.

–Surpresa. – ele responde.

–Vai me bater com a raquete elétrica até eu morrer? - pergunto enquanto me visto, ouço o vindo – Não olha, eu to nua!

–Foi mal. – ele se desculpa, mas sei que ele ainda está ali.

–Oscar!

–Tá bom, eu espero lá fora.

Confiro para ver se ele realmente saiu. De fato.

Deixo o pijama em cima da cama e ponho uma roupa simples de sexta à noite.

Mesmo sendo terça.

–Aonde vamos? – pergunto, dando o braço a ele.

–Já disse que é surpresa, não adianta perguntar. - ele responde friamente.


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