CADIMUS: Mutação escrita por Sombrio1


Capítulo 5
Gabriela - Morte e Ameaças


Notas iniciais do capítulo

Oe...



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O sol ainda não havia saído direito, mas eu estava acordada olhando pela janela as ultimas estrelas da noite passada. Um rosto em meu pensamento havia me acordado. Erick. Fazia três dias que ele havia entrado no hospital devido a um acidente de carro. Fazia três dias em que ele não acordava. O medo dele ele morrer me assombrava desde quando ele entrou na Cadimus. Não queria que ele morresse. Gostava muito dele. Eu o amava.

Minha mente nesses dois dias não fazia outra coisa. Ficava vagueando, ora no rosto dele deitado na maca do hospital Cadimus, ora na conversa em que tivemos na Boate a uns dois dias atrás. Eu observara Erick a muito tempo, e havia posto tudo a perder naquela noite. Eu havia sido uma idiota. Deveria ter puxado outro assunto com ele, e não ter dito “Guerras são partes de nós”, e pra completar ele viu minha tatuagem. Levanto o pulso e olho a tatuagem de uma ampulheta velha e quebrada e duas cobras se enroscando nela. O símbolo da Cadimus. O símbolo que todo o funcionário deveria tatuar ao entrar para o corpo de médicos e funcionários da Cadimus, para provar a total submissão ao hospital. Deveria ter tatuado em outro lugar. Penso. Mas já era tarde demais.

Por trás das nuvens La fora o sol começava a surgir. Demoraria pelo menos mais dez minutos para que seus raios de sol ficassem mais fortes e entrassem pela janela se esparramando em meu quarto. Deveria me aprontar. Mais um dia estava começando no grande hospital Cadimus.

Tomo meu banho, escovo meus dentes, visto minha roupa. O sol já estava suficientemente forte para acordar qualquer pessoa na Cadimus. Um dia normal, como qualquer outro dia. Em cima da minha cômoda meu crachá de identificação repousa. Pego ele em minha mão. Meu sorriso se abre automaticamente. Cadimus, um sonho que se torna realidade, mas será realmente um sonho. Penso.

Quando era criança meu maior sonho era ser medica, estudei a vida inteira para isso, na época meu maior desejo era trabalhar na Cadimus, o maior e melhor hospital já criado, suas tecnologias eram muito avançadas para época, e seus feitos eram vistos e comentados por todo o mundo. Cadimus aquela época era sinônimo de dinheiro ilimitado, riquezas, vida boa. Houve uma seleção na minha escola uma vez. Nos deram um questionário com 180 perguntas. Acertei todas. Ganhei bolsas para as melhores faculdades da época. Me formei com 18 anos em Yale. Idade em que entrei para a Cadimus. E logo me arrependi. Naquela época a Cadimus havia decaído muito. Um de seus funcionários havia vazado a noticia de que os médicos tratavam mal seus pacientes. Uma mentira. Porem as pessoas acreditaram. E a Cadimus caiu. Ser médico da Cadimus nos dias atuais era sinônimo de torturador. Se as pessoas vissem a tatuagem da Cadimus em seu corpo, elas se afastariam de você, com repulsa, ódio e pavor. Mas eu não ligava. Havia dado duro para estar ali. E ali eu ficaria.

Olhei para o meu crachá. Eu sorria nele, meu cabelo solto ocupava o lado esquerdo inteiro da foto. Sorri. Coloquei meu crachá no bolso e abri a porta.

Os corredores da Cadimus eram completamente brancos, com exceção das portas de madeira preta dos quartos. Fui em direção as escadas. Estava com fome. Comeria algo antes de trabalhar. O corredor estava completamente vazio e meus passos ecoavam alto enquanto andava. Observo o mesmo jarro de plantas brancas que ficava na porta de uma colega de trabalho. Seu nome era Jhoana, sua porta por todas as vezes que eu passava por ali estava aberta, porem hoje não estava. Havia uma pequena fresta aberta de modo que dava para ver a cômoda cheia de livros ao canto. Meus olhos se detém no nome dos livros. Sempre fui interessada por leitura. Começo a analisar as capas. Uma vermelha, uma marrom e uma capa de cor dourada muito bem limpa de modo que dava para ver o reflexo do restante do quarto. Começo a analisar aquela capa. No canto uma cama, os lençóis estavam desarrumados como se ela tivesse tido uma noite de sexo quente e esquecesse de arrumar a cama. Continuo olhando o resto do quarto. Quando meu coração palpita. Há um corpo sentado no chão, com a cabeça baixa como se estivesse dormindo, e em cima sujo de vermelho vivo há letras. Não consegui ler o que era. Por isso fui até a porta do quarto e a abri. A porta se abriu lentamente, me revelando uma cena que nunca mais iria esquecer.

O corpo de Jhoana estava sentado ao chão com a cabeça baixa, sua barriga estava aberta e as tripas saiam para fora se arrastando ao chão, uma poça de sangue inundava o chão ao seu redor, e em cima de sua cabeça havia o símbolo da Cadimus e a frase “CADIMUS, EU SEI O QUE VOCÊ É”, escrita em vermelho vivo. Sangue.

Não contenho meu grito. Sento no chão e me encolho, enquanto as lagrimas saem dos meus olhos sem parar. Aos poucos pessoas começam a aparecer de todas as direções, alertadas por meu grito. Todas ao chegar se detém em frente a porta. Algumas tampam a bocas tentando prender os gritos, outras choram, outras simplesmente olham aterrorizados para a cena chocante. Em poucos minutos o quinto andar da Cadimus está lotado de pessoas. Todas apavoradas com a cena. O caminho começa a abrir, deixando um pequeno corredor por onde, Rixon. Mark e Jade andam em direção a porta. Rixon, Mark e Jade, eram a elite do hospital Cadimus, eram como vice-diretores do hospital. Eles param em frente a porta. Percebo o olhar assustado de Rixon quando ele olha a frase.

– Todos fora daqui agora. – Ele diz. O andar começa a se esvaziar rapidamente. Me levanto, ainda estou chorando. Mas não passaria pela ordem de um da Elite. Começo a andar em direção as escadas quando a voz de Rixon diz. – Foi você que gritou?

Olho para ele. Seu rosto parece uma mascara. Se Rixon estava sentindo alguma coisa naquele momento, eu não conseguiria saber o que era.

– Sim. – Digo em meio a soluços.

– Como encontrou o corpo dela? – Ele pergunta

– Eu estava indo para o refeitório. – Começo a chorar com mais intensidade. – A porta estava aberta... Eu comecei a olhar os livros dela... e... e... – Não consigo terminar, caio de joelhos no chão. O choro havia se intensificado ainda mais, Não poderia agüentar mais nenhum segundo ali.

– Devemos chamar a policia? – Jade pergunta a Rixon.

– Não. Já dizem que tratamos mal os pacientes, uma morte só pioraria as coisas... – Rixon responde. Os lhos de Jade começam a marejar, ela abre e fecha a boca varias vezes como se quisesse protestar, Mas não faz. Até ela tinha medo de Rixon.

– O que faremos com o corpo Rixon? – A voz de Mark, sai inalterada. Como se ele tivesse tentando imitar o lado duro de Rixon.

– Ponha em um saco de lixo e se livre dele. E mandem limpar os quartos. – Rixon diz. – Jade certifique-se de que nenhum funcionário tenha ligado para policia. E caso alguém tenha ligado diga que foi um trote. Dê regras claras a eles para não chamar nem imprensa, nem a policia. – Jade tenta protestar. Mas apenas abaixa sua cabeça, vai em direção ao elevador e desce. – E você. – Ele agora diz para mim. – Vai fingir que não ouviu nada. Saia daqui agora. – Levanto-me e saio correndo em direção as escadas. – Hey, se você disser um pio, a qualquer pessoa que seja. Eu mato você, sem pensar duas vezes. -Engulo em seco a ameaça de Rixon.- Saia daqui. Agora.

Subo as escadas rapidamente, O quarto de Erick e aonde devo chegar. Lagrimas saem dos meus olhos. A imagem de Jhoana morta e nítida em minha mente. Enquanto subo as escadas tento esquece-la. Mas não consigo. A imagem foi muito forte. Nunca esquecerei. Penso.

Erick estava no décimo quinto andar, quarto 213. Abro a porta. Ele ainda está lá. De olhos fechados. Imovel. Com vários fios saindo do seu corpo e indo em direção a maquinas que mediam seus batimentos cardíacos. Aproximo-me dele. Ele era lindo. Erick tinha uma barba rala, cabelo muito preto e pele muito branca. Toquei sua mão. Meu coração acelerou, minhas lagrimas pararam. A cena do crime que acontecera a poucos metros do meu quarto foram esquecidas naqueles pequenos minutos. Olho a boca de Erick, há uma pequena cicatriz do acidente em seus lábios. Não consigo me conter quando estou perto de você. Abaixo-me e o beijo nos lábios. Uma eletricidade percorre meu corpo. Meu coração se acelera ainda mais.

– Ah, Erick. – Começo a dizer.

Erick começa a se mover. Uma resposta do meu beijo. Penso.

– Gabriela. – Ele diz quando olha para mim.

–Erick. Você está bem? – Que pergunta idiota.

– Parece que não. Não sinto minhas pernas. – Ele diz. Abaixo minha cabeça para que ele não veja o rosto de alguém que fez de tudo para conseguir nada.

– Sinto muito. Tentaram fazer de tudo. Mas... – Começo a chorar de novo. A lembrança de Jhoana ainda era viva dentro de mim. Esse era o motivo de eu estar ali.

– Não chore. Não e culpa sua. Eu não devia ter corrido. Estava bêbado demais.

– Eu podia ter impedido.

– Não, não podia. – O silencio estendeu-se entre nós como se durasse décadas

– Me sinto culpada. – Digo – Podíamos ter falado de tantas coisas mas discutimos.

– Não discutimos. Apenas não concordei com você. Meu pai morreu em uma guerra. Por isso não concordei com você. – A palavra morrer me trouxe a tona a imagem de Jhoana sentada no chão.

– Meus pêsames. – Digo, ele concorda com a cabeça. Novamente o silencio entre nos se estende.

– Seus olhos, são violetas. – Ele diz com um sorriso bem leve no canto de seus lábios.

– Na verdade são castanhos, mas depende da luz. – Ou de quanto eu chorei. Sinto vontade de contar tudo para Erick, dizer que Jhoana havia morrido no hospital essa noite. Mas a vontade e reprimida pela lembrança da ameaça de Rixon, dos olhos dele.

– São lindos. Eu gosto deles.

– Obrigada. - Digo

Sinto meu corpo todo se avermelhar. Minha vontade era ficar ali para sempre, com Erick. Mas o relógio na parede me lembrou que eu teria que fazer uma cirurgia.

– Tenho que ir – Digo a Erick.

– Ta bem. – Ele concorda.

Coloco minha mão na porta. Espero ele dizer alguma coisa. Ele não diz. Saio do quarto e volto novamente para minha vida normal. Só que havia algo diferente. As emoções dentro de mim eram confusas eu estava feliz por que Erick havia acordado e provavelmente mais tarde viria voltar a vê-lo, mas também estava triste por Jhoana. Não só triste como atormentada com a cena da morte dela. “CADIMUS, EU SEI O QUE VOCÊ É”. O que aquilo queria dizer. Por que Rixon havia ficado tão preocupado?. E também havia o medo. As palavras de Rixon faziam um peso enorme em minha consciência. Desço a escada até o sexto andar.Paro com o barulho de passos que ecoam do corredor. Era Mark.

Mark passa por mim, em sua mão um saco preto e em seu rosto, uma expressão que lembrava luto. Jhoana. Lembro-me do rosto e da frieza de Rixon. Seria ele que tinha matado. Penso. Reprimo a memória de Jhoana morta da minha mente. Levanto a minha cabeça e vou em direção a sala de cirurgia enxugando as lagrimas que estavam começando a descer. Tentando evitar qualquer pensamento que me tirasse o foco. Oh, pobre Jhoana. Tentaria não pensar nisso, de novo naquele dia.


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Notas finais do capítulo

Xao...



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