"Eu recuso-me a seguir o mesmo pensamento de meu amigo Samuel. Enquanto ele acha que todos nascemos apenas para reproduzir, eu acho que todos nascemos predestinados a uma missão, por menor que seja, como salvar um cachorro ou até mesmo dar água para alguma senhora. Esses nossos pensamentos divergentes tem sido motivo de uma de nossas brigas diárias. Nada grave claro, eu e Samuel já passamos por muita coisa juntos nesses 24 anos de amizade, e não seria uma mera divergência de ideias que acabaria com tudo, aliás ele próprio costuma me dizer. “Sempre haverá brigas quando nossos pensamentos forem diferentes”, pois ele está certo. Isso eu tenho que concordar.

Lembro-me bem quando nossos pensamentos eram iguais e sem divergências, quando dividíamos o mesmo objetivo, criar um hospital único, que seria mundialmente conhecido por todo o mundo, que todos falariam bem, e gastariam fortunas para tomar uma vacina apenas. Para minha felicidade, eu estou a poucos passos disso acontecer, mas como nem tudo na vida são flores, eu tenho que encarar com tristeza meu grande amigo desistindo de tudo. Muitos digam que o motivo e ele estar ficando velho, mas não é, apenas eu e Alísia, minha esposa, sabemos do verdadeiro motivo de Samuel Wallace estar deixando tudo de lado.

Estávamos lá, sentados na cadeira comemorando um dos dias mais felizes da vida dele, o dia em que se tornaria pai, ele havia falado daquilo desde quando descobrira que a mulher estava grávida de 3 meses, Daniel Wallace, o primogênito, ele disse para mim. E quando a enfermeira veio até nos e nos disse que Claudia havia morrido, nossos sorrisos se tornaram lagrimas de dor e luto. E naquele momento eu já havia percebido que Samuel deixaria tudo que um dia construiu para trás, com o propósito de cuidar do menino. E assim ele fez, trabalhando de medico durante a noite e passando o dia com o menino. Ficou assim até pouco tempo atrás, quando decidiu se aposentar. E triste compartilhar isso com você meu caro diário, mas eu ainda me pergunto se isso é algum objetivo da vida comigo, se eu devo fazer algo para ajudar Samuel Wallace, antes que o próprio venha morrer. Coisa que parece estar muito perto, se os ataques cardíacos dele continuarem. E ele ainda insiste em esconder isso do filho. Pobre Sam, mesmo velho continua o mesmo cara, que recusaria ajuda mesmo se estivesse com as pernas quebradas e com os braços arrancados."

Rixon fechou diário velho e de capa verde, e colocou na sua cômoda. A pouca que luz que saia do abajur era o suficiente para ele ler sem prejudicar a sua vista. Embora ele já tivesse lido aquele diário varias vezes, ele nunca se cansava. Havia algo em Henry em que ele se identificava.

Um homem que era bom, mas que teve que mudar seu comportamento por algum motivo grande. Mas e claro que nenhum motivo do Criador se compararia ao dele.

Rixon levantou-se de sua cama e foi em direção a janela de seu quarto, uma bela lua cheia iluminava a rua, as casas e o prédio, mesmo a vista sendo linda, ela não chamava a atenção dele, sua mente estava preocupada demais pensando em coisas mais importantes... Y...

Sua mente vagava para a cena que ele viu mais cedo, o rapaz jovem nu deitado em sua cama, com o peito e os dentes arrancados e a mensagem na parede. O luto caiu sobre a Cadimus como um cobertor cobrindo uma criança do frio noturno, todos os funcionários compadecidos por Mark, pessoas chorando, ele já havia visto e ouvido isso o dia todo, e mesmo que por dentro ele se sentisse mal por seu amigo, ele não demonstrou. Fazia parte do script ele não se compadecer de nada ou demonstrar seus sentimentos.

Rixon colocou a mão nos bolsos de seu short e caminhou pesadamente em direção a cama.

Embora o assassinato tenha sido ruim para muita gente, para ele fora questão de alegria e medo, sua teoria estava errada. Era essa a verdade, mas ele não queria assumir. O assassino não mata só pessoas com a ficha suja, ele mata inocentes também. Foi a primeira coisa que ele pensou ao ver a ficha de Miguel, mas agora sentado em sua cama seu pensamento ia mais além, ele duvidava que Gabriela fosse a assassina, mas agora Jade havia entrado na lista, simplesmente pelo modo como ela tentou o derrubar mais cedo, ela almejava o poder mais que tudo, se fosse necessário derrubar para ela ficar no topo da elite ela faria, ela era suja, fria e inteligente, além de tudo era uma mulher, ela realmente tinha tudo para ser a assassina. Mas havia outro suspeito, alguém que saberia todos os passos de Rixon, alguém que ele compartilhou as suas teorias, alguém que disse que era seu amigo, agora ele se perguntava para si mesmo, quando ele disse a verdade?.

Rixon Fechou os olhos e sentiu seu coração acelerar, com culpa, medo e uma mistura de traição, quando seus pensamentos foram para o rosto de Mark chorando forte, pelo corpo daquele que ele considerava um irmão.

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O dia mal havia começado quando as noticias chegaram a Rixon, a primeira era simples, havia um novo membro no corpo do hospital e a elite teria que estar lá para a iniciação, já a segunda não o agradou muito, o enterro do corpo de Miguel seria a tarde. Enterros nunca fora o forte dele, odiava lagrimas e pessoas se lamentando por alguém que nunca mais iriam voltar, enterros eram o grande ponto de encontro da falsidade, era quando o demônio se sentava tranquilamente, com um charuto, para assistir pessoas que nem se importavam, tranquilizarem umas dizendo sempre as mesmas coisas. "Vai ficar tudo bem" "Ele foi pra um lugar melhor".

O relógio marcava 7:39 quando ele estava pronto, seus passos foram rápidos para a sala da iniciação, todos estariam lá, os membros genuínos da Elite, entre eles Mark e Jade, os suspeitos.

– Rixon, espera. - A voz de Mark veio como um relâmpago, iluminando tudo e rapidamente se apagando.

Rixon parou e olhou para trás, o cabelo loiro cortado baixo, que sempre estava arrumado, hoje estava desalinhado e bagunçado, e os olhos dele estavam vermelhos e inchados devido ao choro.

– Ficou a noite toda acordado? - Ele tentou disfarçar a voz, guardaria para si mesmo as suas teorias dessa vez.

– Sim, eu não consegui dormir. - Ele disse disfarçando o máximo possível para não parecer um chorão, Rixon sabia que Mark era orgulhoso, e ser pego chorando para ele seria um grande problema.

– Eu realmente sinto muito. - A voz dele continuou firme, sem alterações.

– Tudo bem, eu só queria te falar uma coisa, não tive tempo de dizer ontem devido ao acontecido. - Os olhos de Mark se desviaram de Rixon. - O corpo de nossa ultima experiência sumiu.

– Como assim sumiu? - Rixon se assustou, assassinatos seguidos de roubo. Nao era possível isso.

– A mãe dele chegou de viajem ontem, e veio ao hospital, ela pediu para ver o corpo, eu entrei no necrotério, e o corpo não estava mais lá.

– Que droga, isso não pode estar acontecendo, primeiro assassinatos e agora roubo? o que o Y quer? - Rixon olhou para Mark, procurando qualquer sinal de culpa.

– Acha que foi ele?

– Tenho quase certeza. Mark, ele sabe do nosso segredo, tudo faz sentido, ele sabe o que a Cadimus e realmente, ele quer que eu fale. Irei resolver isso em breve com ele. - Aquilo saiu mais como se ele estivesse falando com ele mesmo.

– Tem mais uma coisa. Nick disse que mostrou uma coisa para você, ele pediu que você levasse hoje a tarde no laboratório. - E começou a andar para a sala da iniciação sem ao menos olhar para trás.

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A sala da iniciação era grande, com uma cadeira e uma maquina de tatuar, o momento mais importante para alguém que trabalhava para a Cadimus era fazer a tatuagem, ser marcado era submissão e alegria.

O tatuador estava sentado em sua cadeira de trabalho, estava nervoso, e ao mesmo tempo excitado para marcar mais alguém. Os membros da Elite estavam sentados em sua cadeira enquanto aguardavam a entrada do novo membro.

Rixon fechou os olhos, analisando novamente o que Mark dissera, houve um roubo na Cadimus, e o culpado provavelmente era Y. O que queria dizer isso?

A maçaneta girou e Rixon olhou para ela, uma mão branca e flácida a abriu e entrou juntamente com uma mulher linda, de olhos verdes, cabelo cacheado, e pele negra.

Rixon se levantou da sua cadeira rapidamente, enquanto sua boca ficava seca e seu passado retornava para atormentá-lo.

– Ninna - Ele disse, e todos olharam para ele, nunca haviam visto nenhum comportamento parecido com aquele que o líder da Elite estava fazendo.

A mulher olhou diretamente para Rixon, o fulminando com seu olhar, abriu seu sorriso branco e disse lentamente.

– Rixon. E muito bom vê-lo novamente.