O príncipe, a cientista e o plebeu escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 57
Uma conversa antes da partida




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Dia seguinte e Bulma acordava, deparando-se com o outro lado da cama vazio. Por conta dos últimos dias, essa constatação era um bom sinal, pois siginificava que Vegeta voltara à rotina de sempre e buscaria apagar de sua vida a ideia que tivera de desistir de lutar. Pensou consigo mesma que era melhor assim e não o suportaria tendo uma vida de tédio. Se ele já era rabugento em circunstâncias normais, seria bem pior se não lutasse mais.

Ele havia lhe dito que sem a revanche contra Goku não haveria razão em continuar lutando. Mas ao perceber que ele fora buscar Trunks quando fora levado pelo tal Dr. Stiru, sentiu que algo mudara naquele homem. Mesmo sem treino havia vários dias, ele enfrentara a contraparte mais velha do filho, que se tornara um jovem muito poderoso e um adversário bastante difícil. Ainda assim, lutara com o máximo de suas forças para evitar que algo acontecesse tanto com o menino que agora estava em seus braços quanto com o rapaz vindo de um futuro devastado para conseguir encontrar um modo de salvar o mundo em que vivia.

Teria Vegeta encontrado em Trunks uma razão para poder seguir em frente sem pensar na revanche que nunca teria? Não sabia ao certo. Apesar de três anos convivendo com ele, sua cabeça e seu coração eram difíceis de decifrar por completo. Das pessoas de seu convívio, como Kuririn, Piccolo, Tenshinhan e outros, poucos confiavam nele e dificilmente acreditariam que ele poderia ter algo bom em seu âmago.

Se bem que ele também não se ajudava a limpar a própria imagem de guerreiro prepotente. Era como se tivesse a necessidade de manter essa fachada, pois ainda entendia que sentimentos não poderiam interferir nos combates. Não que fosse algo deliberado de sua parte, pois Bulma já percebia que na verdade ele possuía dificuldades por conta de sua vida pregressa, afinal, ele fora criado para ser o mais forte e, depois, para ser um soldado leal a Freeza após a destruição de seu planeta natal.

Aquela marra toda e as barreiras para se relacionar com outras pessoas eram instintivos, mas em momentos muito específicos ele se desarmava completamente. Era meio raro e ela aprendia aos poucos perceber que ele dava alguns sinais sutis do que sentia, das motivações e de suas intenções. Sim, havia muita coisa por trás daquela fachada de homem rabugento e cheio de marra. A cada gesto ou palavra vindos dele, tinha certeza de que ele não era totalmente mau, e começava a entender esses sinais sutis. Pouco a pouco entendia o saiyajin, sabia que era um processo lento e que demandaria tempo para que ele realmente baixasse por completo a guarda e se abrisse com mais frequência.

Se havia uma coisa que Bulma possuía era paciência. Aprendera desde cedo que deveria ter paciência para certas situações, tanto para entender como certas coisas funcionavam no mundo da ciência quanto para entender pessoas. E neste último quesito, paciência era fundamental para entender um pouco mais seu companheiro alienígena.

Após trocar as fraldas de Trunks, ela se trocou enquanto ele explorava os objetos por sobre sua cama. Junto com o filho pequeno, seguiu pelo corredor rumo à cozinha, onde tomaria o café da manhã. Ao se aproximar da cozinha, olhou por uma das janelas pelas quais entravam os raios de sol e viu algo não muito comum.

Vegeta e o Trunks vindo do futuro tinham uma conversa aparentemente amistosa, horas antes da partida do jovem, que por fim voltaria à sua linha temporal.

Bulma não se deteve por muito tempo para continuar vendo a tal conversa, pois sabia que seria notada por ambos. Mesmo assim, sorriu por saber que Vegeta estava de algum modo tentando ser paternal... À sua maneira, claro.

 

*

 

― Então – Vegeta estava à paisana, encostado a uma das árvores do jardim e encarava o jovem à sua frente. – É hoje que você volta para sua época?

O jovem de cabelos cor lavanda confirmou enquanto checava o estojo de cápsulas que trazia consigo. Ele acordara bem cedo, ansioso para sua volta. Já tomara seu café da manhã e aguardava todos chegarem para a sua despedida. A espera, por mais incrível que parecesse, era mais suportável pela companhia de seu pai, algo que achava improvável até conviver com ele na Morada do Tempo. No começo era insuportável, mas depois se iniciou algum laço entre os dois.

E diante dos últimos acontecimentos, sabia que seu pai não era tudo aquilo que vira na primeira vez que o encontrara. Podia dizer por si mesmo agora que tinha certo orgulho de ser filho de quem era.

― Estou bem ansioso e ao mesmo tempo preocupado. Com o tempo que passei aqui nesta época, não sei como estão as coisas na minha linha temporal e não faço muita ideia do que posso encontrar quando chegar lá.

― A sua mãe deve ter dado um jeito de te esperar. Ela não seria presa fácil daqueles bonecos de lata.

Trunks sorriu ante esse raciocínio, pois realmente sua mãe e a Bulma desta linha temporal tinham muito em comum. A diferença era realmente pouca, apenas por conta do que ocorrera em sua época e um pouco da decepção com a personalidade difícil de seu pai. Concluía que ele não tivera tempo de vida suficiente para mostrar o que realmente era.

Seu pai não era um cara tão maligno quanto o pintavam.

― Realmente minha mãe não seria presa fácil. E no que depender de mim, esse período de terror daqueles androides vai acabar!

Vegeta viu um brilho de determinação nos olhos azuis de seu filho. Sim, aquele jovem, embora não tivesse cabelos rebeldes e olhos na cor negra, era inegavelmente seu filho. Tinha o sangue de um saiyajin da realeza correndo em suas veias e o fazia sentir certo orgulho. Trunks se mostrara mais poderoso do que aparentava ser e sua determinação era o que o movia, lembrando a sua própria determinação em se superar.

Trunks não queria ser apenas mais forte e derrotar os androides Nº 17 e 18 de sua linha temporal. Queria proteger sua mãe, que era a sua família.

― Gosto dessa sua determinação, Trunks. – o saiyajin sorriu. – Com certeza você vai derrotar aquelas sucatas, mas não fique convencido demais e nem se acomode, mesmo quando tudo estiver em paz.

― Não pretendo relaxar, pai. – o jovem mestiço devolveu o sorriso. – Também tenho pessoas a proteger e não posso me dar ao luxo de me acomodar.

Trunks avistou sua mãe se aproximando junto com o bebê e foi até ela para ter uma última conversa antes de partir. Enquanto os outros chegavam, ele recebia uma série de recomendações e recados para serem repassados para a sua mãe em sua linha temporal. Vegeta continuou encostado à mesma árvore, observando tudo. Preferia ficar afastado, na sua, enquanto os outros estavam rodeando o jovem que arremessava uma cápsula, da qual surgira a máquina do tempo em que voltaria para casa. Ele se despediu de todos antes de partir e o saiyajin fez um leve e discreto gesto com os dedos, acompanhado por um olhar que mais parecia uma ordem, que foi interpretada por Trunks como “se cuida”. Pela última vez, seus olhos azuis encontraram os olhos negros do pai, que pareceram confirmar a mensagem enquanto o jovem dava um aceno final a todos antes de partir.

E assim Trunks, em sua máquina do tempo, desaparecia da vista de todos e empreendia a viagem de volta para casa.

 

*

 

Yamcha fazia sua caminhada solitária pelas ruas da Capital do Oeste após a partida de Trunks para a sua época de origem. Não tinha dúvidas de que o jovem seria capaz de derrotar os androides que aterrorizavam seu mundo. Havia se tornado muito mais forte do que era na primeira vez que apareceu e derrotou Freeza e o Rei Cold. Não só se tornara mais poderoso, como também amadurecera bastante.

O ex-ladrão passara a observar principalmente a relação entre ele e o pai. Sabia que Vegeta não era uma pessoa fácil de lidar, por conta de seu temperamento difícil e irascível. Mesmo assim, os laços entre pai e filho surgiram após o período em que estiveram juntos na Morada do Tempo. Tinha suas dúvidas, pois o saiyajin parecia não se importar com o jovem, dizendo até mesmo que o rapaz só o atrapalhava.

Mas a luta contra Cell acabara por dizer exatamente o contrário. Yamcha testemunhara aquele momento terrível após Goku se sacrificar para tentar deter o androide, que conseguira se regenerar e, ao voltar, atingira mortalmente Trunks. Se não tivesse vivenciado aquele momento, visto aquela cena com seus próprios olhos, jamais acreditaria se alguém contasse que Vegeta ficara tão enfurecido com a morte do filho que fora tentar vingá-lo.

As pessoas sempre podiam mudar, concluiu. Se Piccolo, que já fora um inimigo, se tornara quase que um pai para Gohan, por que Vegeta não mudaria em alguma coisa? Os últimos três anos mostraram que até mesmo alguém como o saiyajin poderia ter alguma mudança, mesmo que bastante sutil. E essas mudanças sutis faziam com que Bulma se sentisse ainda mais feliz.

Como ele sabia disso? Conhecia a cientista de longa data, devido ao relacionamento que tinham anteriormente. Sabia como eram os sentimentos dela, logo sabia que ela estava feliz de verdade ao lado de Vegeta.

Irônico? Sim. Mas, mais irônico ainda era torcer para que ela continuasse sendo feliz ao lado daquele que fora seu rival por ela.


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