Shot me Down escrita por Kaya Terachi


Capítulo 1
I was five and he was six.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/519964/chapter/1

O sol brilhava refletindo sobre o lago, a água tão limpa que se podia ver os peixes que nadavam por ali, entre folhas e galhos que vez ou outra deixavam as árvores. O vento soprava, mas não estava frio, era verão, o melhor clima para se morar ali, naquela pequena cidadezinha afastada do resto do mundo, sufocada pelo verde da natureza, sem carros barulhentos e fumaça, nada que pudesse deixar o ambiente pesado, era lindo por si só, natural como deveria ser. Alguns cavalos bebiam água no lago, soltos de amarras e correntes, mas mesmo invisíveis estavam ali de alguma forma, e era assim que o garoto se sentia.
Tom se sentava a beira do lago toda tarde, observando a floresta, majestosa e enorme, queria se aventurar dentro dela um dia, imaginava as maravilhas que poderia encontrar, as flores que poderia ver, as maravilhas perdidas ali dentro, era sonhador, sonhava com o mundo, em conhecê-lo, viajar com seu cavalo pelas mais bonitas cidades, conhecer outras realidades, outros lugares, outras coisas.
Ao apoiar os pés no chão, limpando os sapatos sujos pela areia próxima ao lago, aproximou-se dos cavalos a acariciar a crina do branco mais perto de si, amava aquele animal, mas não pertencia a ele, mesmo assim em seu peito ele já era seu, afinal todos os dias o via por ali, o cumprimentava, tratava-o como se fosse uma pessoa e ele fazia parte de seu sonho perfeito, queria viver uma aventura, fosse o que fosse, onde quer que fosse.
Ele vestiu as botas pretas e bateu sobre as roupas para ajeitá-las, retirando também os restos de areia que nela havia, seguiria para casa, antes que dessem por falta de si. Lavou as mãos na água límpida do lago, levando a mão ainda úmida sobre a face e deslizou pela nuca, nos cabelos loiros e curtos, ajeitando-os em seu lugar, diminuindo o calor intenso da tarde de verão, os olhos azuis brilhavam como o céu, livre de nuvens, e ele, livre de medos, nada podia pará-lo quando decidia sonhar. Era seu aniversário de quinze anos, era novo ainda, podia sonhar, ah se podia, iria embora dali, juntaria as malas e encararia a vida.
Um dia é sempre lindo e tranquilo a beira de um lago ou do mar com o silencio incomodo e vazio da falta de companhia, mas não era o caso dele, ele tinha alguém, um rapaz, alto, forte de cabelos negros e curtos, os olhos verdes e penetrantes, era seu amigo desde a infância, se vestia sempre com roupas negras e sempre chegava como uma nuvem negra a fechar o céu do rapaz com suas ideias loucas. Jack tinha problemas, eles costumavam dizer, ele não era boa companhia para um rapaz distinto como ele. Ele nunca os ouviu, Tom via em Jack a liberdade de espírito que ele não tinha, a rebeldia que faltava em si para fugir e viver a vida que queria. E fora nessa hora que o moreno chegara em seu cavalo preto, cavalgando até parar em frente ao rapazinho que quase parecia sumir em frente ao cavalo. Tom levou uma das mãos sobre os olhos, fazendo sombra e olhou para cima, observando o rapaz montado ali.
– Ora, ora, o que faz perdido por aqui essa hora?
– Eu estava voltando pra casa.
– Sei... Estava vendo a corrida de novo, não estava?
Tom estreitou os olhos, achava irritante o fato do outro implicar com seu amor por cavalos. Vivia apostando com alguns amigos nas corridas que tinham por ali, ou até nas corridas que viam na TV, quando conseguiam ver, todos se reuniam em volta do aparelho para assistir, Tom sempre ficava na frente, gostava do cavalo número 13, estranhamente esse era seu número de sorte, ele não tinha medo do azar, apostava tudo em seu cavalo favorito e quase sempre ganhava. Jurava para si mesmo de pés juntos que um dia veria de perto aqueles maravilhosos jockeys ingleses, cheios de classe, tão diferente de si com o chapéu sobre a cabeça e os cabelos bagunçados. Eles tinham uma rainha lá, parecia um conto de fadas daqueles que ouvia quando criança.
– Só estava no lago olhando as árvores.
– Bom, não importa, sobe, eu te levo em casa.
Tom tomou impulso e subiu junto a Jack em seu cavalo, sentindo o trotar tranquilo do animal a guiar a si até em casa.
– Você parece meio perdido hoje, o que foi, hein?
– Ah... Só estou pensando um pouco, nada de mais.
Jack riu, ele era debochado, se segurava para não fazer uma piada que irritasse o garotinho, ele tinha a imagem de irmão mais velho, apesar de ser somente um ano mais velho que o outro, era ele quem dava as broncas e os cascudos, mas não podia falar muito, era irresponsável, brigava com o rapaz e sumia de casa, não voltava por semanas, desaparecia e ninguém tinha noticia. Quando voltava dizia que andara pela estrada, conhecendo uns lugares diferentes, até um moinho abandonado e assombrado no meio da floresta, ele jurava que era verdade. O problema é que ele tinha as companhias erradas, gente de mau caráter, e ele tinha o jeito de líder de bando, ele falava e os garotos obedeciam, mas era facilmente influenciado pelos colegas. Ele amava aquele loirinho como um irmão caçula, mas em frente aos amigos costumava fingir que nem o conhecia.
– Pronto, está entregue.
Jack sorriu e Tom desceu do cavalo, deslizando os dedos pequenos e delicados pela crina do animal numa suave carícia.
– Que horas você vem amanhã?
– Não sei, que horas começa a festa?
Tom riu, desviando o olhar ao chão com os olhos enrugados pela luz do sol que batia de encontro a eles.
– Você só vem pela festa então?
– Não seja bobo, pode deixar que vou te trazer um belo presente.
– Quero só ver.
O garoto desviou o olhar a ele novamente e sorriu, um sorriso delicado, apreensivo, sabia que ele podia ou não aparecer, dependia do humor dele e se estaria sóbrio naquela manhã. Deu suaves tapinhas no cavalo e acenou ao outro.
– Tente não se meter em confusão.
– Eu não vou, nos falamos amanhã, loirinho. Ah, feliz aniversário.
Jack sorriu, o sorriso branco, irresistível que ganhava o coração de muitas garotas da cidade e bagunçou os cabelos do outro como tinha costume, não sem antes tomar o chapéu de sua cabeça, colocando sobre a dele e batendo as esporas no cavalo se afastou a correr pelo campo verde, deixando ali o pequeno a observá-lo enquanto partia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shot me Down" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.