O café da manhã foi um silêncio gritante. Cada palavra não dita era um alarde do que estaria por vir. Cada minuto era mais do que podiam aquentar neste conflito. E assim o tempo passou num equilíbrio bambo de uma linha tênue.

Maya sentia-se terrível com o silêncio, Castiel identificou a perturbação da garota, queria fazer algo para fazê-la ficar melhor. Não sabia o quê. Priscila odiava a situação. Mariana queria dizer a verdade.

Um ruído desconhecido despertou o corpo de caçadores. Mary e Priscila fizeram menção de se levantar e foram impedidas pelos irmãos.

– Vocês ficam aqui. – ordenou o mais velho seguindo para a sala, seguido pelo irmão. Quando estavam fora do campo de visão das visitas, sacaram as armas e Dean deu cobertura ao mais novo que seguiu para a porta. Sam a abriu agilmente enquanto Dean apontava a arma para o invasor. Um Yorkie ou melhor, uma yorkie.

Os irmãos ficaram um tempo parados antes de abaixar as armas e guardá-las ao mesmo tempo que Maya chegava na sala.

– Nossa quanta hostilidade com o bichinho. – repreendeu ela se aproximando do animal. – Como você veio parar aqui amiguinha?

Sam e Dean observaram, abobados, ela recolher a carta da boca do animal e pegá-lo no colo. O cachorro não protestou contra os braços da garota.

– Acho que é para você Dean. – Maya passou a carta ao destinatário, indo chamar os demais para ver a pequena visita.

O Winchester abriu a carta com desconfiança, a caligrafia era desconhecida e o envelope estava quase completamente em branco, se não fosse por uma palavra escrita com clareza no centro.

“Cuidado!”

– Que brincadeira de mal gosto é essa? – explodiu o mais velho seguindo imediatamente para a cozinha onde as garotas observavam a pequena cadelinha tomar a água que lhe fora dada em um pequeno vasilhame.

– Porque está alimentando esse bicho? Tire ele da minha casa! E vocês o que significa isso? Da onde surgiram? – interrogou, conseguindo captar a atenção de todos os presentes. A yorkie se assustou e pôs-se à frente da ruiva em uma postura defensiva mostrando os dentes ao Winchester.

– Dean se acalme ok? – Maya rolou os olhos contornando o pequeno cão que a acompanhou.

– Nada de calma, você pode até aceitar estranhos na sua casa, mas eu não aceito. Exijo saber a verdade e exijo que seja agora! – ordenou ele, a garota já ia protesta quando a morena antecipou-se.

– Você é quem manda, Dean.

O Winchester indicou para que todos seguissem para sala onde sentaram-se em silêncio.

– Pode começar. – mandou ele.

Priscila parou de respirar por um instante, a amiga não tinha lhe dito nada sobre contar a verdade para eles.

– Então, como vocês já devem imaginar... Nós não chegamos aqui por acaso. – confessou a morena, desta vez Maya parou de respirar e apertou a Yorkie contra o peito. Sam segurou a arma com mais segurança atrás das costas. – Nós sabemos o que vocês são.

– O quê você quer dizer com isso? – Dean perguntou um tanto apreensivo, enquanto observava a loira que fitava seus pés. Sentindo-se observada a garota ergue o olhar e encontrou o Winchester.

– Sabemos que são caçadores. – sussurrou ela. Priscila agora começava a se preocupar verdadeiramente, elas apenas souberam que eram caçadores e então supuram que eram amigos, e se não fossem? O que isso representaria para Mary? E para si mesma?

Maya apertou ainda mais a yorkie que soltou um pequeno ganido. Ninguém disse nada.

– Nós nos deparamos com um rastro de vocês, na verdade, foi um acidente. – Mariana tentou explicar. - Nós ouvimos falar de um assassinato aqui perto e seguimos para investigar, mas quando chegamos vocês já tinham cuidado do caso. Ao chegarmos no cemitério só havia um carro parado e quando encontramos a lapide o corpo já era cinzas. Não foi difícil somar dois mais dois e perceber que havia algo ali.

–Então resolveram nos seguir? – supôs o Winchester.

– Na verdade não. – confessou a loira. – Seguimos para outro caso, mas com o passar dos meses percebemos que este estado estava muito seguro, sem nenhum vestígio de coisas sobrenaturais praticamente, além de poucos casos sem conexão um com o outro... E foi quando nos lembramos da placa do carro.

– Não resolvemos vir atrás de vocês imediatamente, continuamos com a nossa vida, até que mais uma vez cruzaram nosso caminho. – continuou a outra jovem. – Estávamos resolvendo o caso de uma sereia quando vimos o carro de vocês no lado de fora de um bar.

Sam, Dean e Maya se lembraram do caso, foi no mesmo caso em que a garota havia conseguido aqueles pontos na testa.

– Mais uma vez o caso estava resolvido e tivemos certeza que vocês eram os responsáveis. Então seguimos o Impala. – informou a mais nova.

– Claro as coisa saíram um pouco do controle. – completou Priscila. Castiel estava confuso com a forma das duas falarem elas completavam a frase uma da outra, e isso começava a irritar Dean também. – Nós estávamos decidindo vir nos apresentar, já faz algum tempo que não temos contato com nenhum caçador, mas tinha alguma ... coisa no caminho.

– O que quer dizer com “alguma coisa”? – perguntou Sam.

– Não sabemos, escutamos rosnados... Como se fosse de algum animal, nos preparamos para lutar... Mas não podíamos lutar o que não conseguíamos ver. – a loira parecia confusa, sem ter certeza do que vira, ou na verdade não vira.

Uma palavra piscava em neon na cabeça de Maya, uma imagem que ela jamais se esqueceria , que tinha sido cravada em brasa em sua mente. Impossível esquecer-se do corpo sem vida de Dean mutilado por eles. Cães do Inferno.

Dean também se lembrou das criaturas, entretanto se aquelas duas a sua frente eram realmente caçadoras elas os conheceriam. Percebeu a loira tremer com as lembranças e resolveu dar um voto de confiança.

– Tudo bem, acredito em vocês. –anunciou o mais velho e Sam sorriu vendo o motivo da confiança do irmão.

– Agora que está todo mundo feliz e contente a Yorkie pode ficar? – pediu a ruiva com os olhos brilhantes. Antes que o anjo pudesse responder Dean o fez.

– Não. – anunciou ele para a surpresa da garota.

– Mas Dea...

– Sem mais, nem menos Maya. Não sabemos da onde ela vem, quem é seu dono e o que quer dizer essa carta. Ela tem que ir embora. – ordenou o mais velho. A garota ia apelar a Sam, mas esse também fez sinal negativo.

– Não podemos abandoná-la... – tentou explicar a garota.

– Podemos sim. – falou Dean pegando o animal o colocando do lado de fora e fechando a porta. – Pronto, fim de problema. Agora, alguém tem alguma ideia do que significa essa carta?

Maya o observou por algum tempo aborrecida, antes de seguir para a escada.

– Você é inacreditável, Dean Winchester. – grunhiu ela sendo seguida por Castiel que até então se manterá em silêncio.

– Deve ser complicado se apaixonar por um anjo. – Mariana meditou alto e percebendo o deslize tentou consertar. – Eles parecem ter um relacionamento conturbado.

No andar de baixo amanhã foi forrada de conversar a fim de se conhecerem melhor. Os Winchesters tinham certeza que os talheres usados no café eram de prata e que a ruiva já tinha dado um jeito de servir-lhes água benta.

No quarto Maya fitava o teto, sua cabeça parecia que ia explodir, mas preferiu não contar isso ao anjo e disse apenas que estava cansada com a noite mal dormida.

O anjo estava sentado na cama com a cabeça da garota em seu colo, enquanto ele brincava com seus cabelos. Pensava na afirmação de Mariana, “ deve ser complicado se apaixonar por um anjo”. Seria melhor ele se afastar e deixar que Maya seguisse seu caminho, mas sabia que não era forte o suficiente para deixa-la ir. Queria que de alguma forma aquilo fosse mais fácil para ambos.

– Um dólar pelos seus pensamentos. – a ruiva sussurrou com um sorriso.

Castiel sorriu para a garota, mas de forma alguma ia falar o que estava pensando, por isso resolver mudar o foco.

– Você realmente queria ficar com aquele animal?

– Porque não? Ela era fofinha e pequena, não ia dar muito trabalho cuidá-la. E ia ser quase como uma família normal. –justificou-se.

–Você sente falta da sua antiga vida, não é? – o anjo sabia a resposta, mas talvez se escutasse vindo dela, pudesse da isso a ela.

– Nunca tive uma antiga vida Cas, teve a época em que eu não sabia, mas eu era só uma criança. E além do mais, prefiro dividir minha vida em antes de você e depois de você. Não trocaria essa fase por nada, eu, você e os garotos e agora Mariana e Priscila, é tudo mais do que eu poderia imaginar.

– E você está feliz com isso? – indagou, se perguntou quando a garota começou ser tão direta.

Maya se levantou o fitando, levou a mão até o rosto do rapaz em um carinho suave.

– Acredito que não tenho motivos para estar triste. Pelo menos, não enquanto você estiver comigo.

–Maya...

– Ok anjo. Então vamos realmente fingir que não é como nos sentimos? Por favor, eu sei que falei para que apenas ficassem assim, mas eu não aquento mais. Cas, acorda, não dá para ficar assim, quando vai perceber que eu te amo? –perguntou o observando. – Eu te amo, e não sei mais o que fazer para que perceba isso. – sussurrou.

– Isso é errado Maya. – ele disse entredentes, se desvencilhando dos braços da garota.

– Cas não... – mas no minuto seguinte o anjo já não estava mais lá.

– Droga. – sussurrou se jogando contra a cama. – Estúpida. Vá lá abra o seu coração. Idiota!

A garota se repreendeu, as lágrimas se acumularam rapidamente enquanto ela enterrava o rosto contra o travesseiro.