Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.

Fernando Pessoa

Descer de um helicóptero correndo num aeroporto não é uma boa idéia, pior ainda é se você simplesmente decidir de uma hora para outra virar maratonista e correr a cidade inteira.

Dizem que a raiva impulsiona alguém, eu estava descobrindo como isso era bom, passei por varias pessoas que me encaravam como se eu fosse louca ate chegar ao apartamento de minha tia e entrei de rompante.

Estava toda suada e nada bem, minha tia como por um milagre estava em casa, ela cozinhava e arregalou os olhos quando me viu, ignorei nossa situação e me joguei em cima dela imediatamente.

–tia- falei tentando segurar as lagrimas.

–oque foi pequena?- ela me perguntou.

Geralmente eu ficava estressada só de ouvir alguém me chamar de pequena, mais nesse momento eu não me importava, com nada.

–oque aconteceu?- ela perguntou.

Funguei com o rosto ainda enterrado em seu pescoço, eu não deveria me importar com nada, mais eu não ignorava o fato de que minha tia como sempre cheirava a chocolate, e seus cabelos sempre macios e bem cuidados ou o fato de ela estar me abraçando com um único braço enquanto os segurava com o outro.

–minha vida inteira foi uma mentira - falei.

–como assim? – ela perguntou.

–sou adotada-comecei- mais como se isso não bastasse sou fruto de uma adoção ilegal.

–querida como assim?- falou ela- explique-se.

– papai e mamãe estavam brigando, parece que ele a traiu e ela descobriu que esta doente, então no meio da discução ele soltou algo do tipo ‘’ se nos separarmos eles podem cavar tão fundo a ponto de descobrir a adoção ilegal de Clary’’

Minha tia me afastou o suficiente para ver meu rosto.

–você esta bem querida?

Neguei com a cabeça, agora ali com minha tia, eu não necessitava tão loucamente de Lysandre havia sido apenas um pensamento fail, a primeira pessoa que me veio à cabeça só isso.

–eu não sabia disso- falou ela- Lucia estava grávida.

–como isso é possível -perguntei.

Ela suspirou derrotada.

–eu já assisti novelas o suficiente para saber que ela pode ter forjado seu nascimento e isso e grave, eles cometeram mais de um crime:Falsidade ideológica que pode causar ate três anos de prisão, seqüestro e cárcere privado que pode causar até oito anos de preço.

–mais e meus pais biológicos- perguntei- eles também podem ser presos não por vender uma criança.

Ela assentiu.

–não estou querendo defender minha irmã, mais os crimes que ela cometeu foram todos muito graves, e por isso acho melhor você não dizer nada a ninguém, pelo menos não por enquanto.

Ela enxugou minhas lagrimas.

–não chora ta minha pequena, agora vai dormir ok?

Assenti e me levantei um pouco tonta, correr tanto me deixara mal e cansada.

Tomei banho e coloquei uma das poucas roupas que tinha deixado no apartamento, não demorou muito minha tia me chamou para jantar, eu não respondi, estava em outro mundo.

1: oque leva uma pessoa a fazer uma adoção ilegal: provavelmente infertilidade ou desespero por um filho, a adoção normal e muito complicada, existe muitas crianças para ser adotadas em todo o mundo, e muitos interresados nisso, mais o processo judicial fica cada vez mais complicado dificultando a vida de todo mundo, hipótese um meus pais estava desesperados por um bebe e não podiam ter um.

2: mais se eles estavam desesperados por um bebe, porque durante toda a minha vida eles nunca foram presentes, e quando digo nunca não estou mentindo ou exagerando, sempre ‘’ temos uma reunião ali’’ ‘’uma viajem aqui’’ fui criada basicamente por babas e tive tantas durante toda minha vida que ficava meio difícil dizer o nome delas.

Coloquei a coberta por cima de minha cabeça como uma tenta e enterrei meu rosto nos joelhos.

P.O. V on Lysandre

–eu estou preocupada com a Clary- falou a tia de Clary - ela não sai daquele quarto desde que descobriu... Uma coisa sobre seus pais, ela come bem pouquinho e dorme menos ainda, só fica na mesma posição.

Ele suspirou.

–eu não sabia que ela estava na cidade- falei.

–ela me pediu para não avisar a ninguém, nem mesmo seus pais sabem que ela esta aqui.

–posso falar com ela?- perguntei.

Ela ponderou um pouco.

–não sei a Clary parece tão frágil ultimamente acho que qualquer coisa pode fazê-la quebrar.

–por favor- pedi.

Ela revirou os olhos para mim.

–cuide anda, ates que eu mude de idéia sobre isso.

Entrei no quarto de Clary, ela estava sentada na cama com o cobertor por cima do corpo apenas a cabeça de fora como uma tenda.

–Clary?- falei.

Ela não ergueu os olhos para mim, avancei e me sentei ao seu lado na cama.

–Clary?- repeti.

Ela levantou os olhos, parecia muito frágil como vidro.

–oque você esta fazendo aqui? -ela perguntou se afastando um pouco de mim.

–as aulas começaram já faz uma semana, e você não foi a nenhuma delas, perguntei a Nathaniel e ele disse que você não foi transferida em nenhum momento, fiquei preocupado, oque aconteceu.

Ela se encolheu como se a lembrança doesse.

–sou adotada- falou simplesmente.

–então e por isso que você esta assim?- perguntei.

–não, fui adotada ilegalmente, meus pais estão se separando e minha mãe ta com câncer.

–ah- falei- por isso.

–Lys-ela pediu- eu to muito mal, você poderia se retirar, não quero que você me veja assim.

Eu a abracei.

–nunca, amigos são para isso- falei.

Por incrível que pareça ela me abraçou de volta enterrando a cabeça em meu peito.

–obrigada- falou e logo depois se soltou de mim.

–e então?-perguntei.

–então oque -ela respondeu.

–oque você vai fazer?

Ela agitou o lençol me olhando torto.

–dormir- respondeu.

–você não pode ficar nessa cama para sempre - ralhei- vai ficar simplesmente ai se sentindo a pior pessoa do mundo, essa não e a Clary que eu conheço- falei.

–oque você pensa saber de mim- falou ela lançando um olhar quarenta e oito- mal nos conhecemos.

Doeu, doeu mais ninguém precisa saber então eu briguei com ela.

–para de tentar dar uma de durona desinteiriçada, certo eu não te conheço direito, mais sei que você e capaz de mais que isso, de erguer e mostrar que sabe lutar, de sorrir mesmo que esteja triste de mandar as pessoas para aquele lugar quando elas te chamam de baixinha- ergui o queixo dela- essa é a Clary.

Levantei-me tentando parecer bravo.

–você tem esse final de semana para pensar- falei - segunda feira quando você for para aula me procure, as garotas estão um pouco bravas com você a Ambre esta espalhando noticias ruins a seu respeito.

Ela gruniu.

–sei que você odeia ela, mais tem que se esforçar.

–não odeio ela- falou- se eu odiasse poderia mandar matá-la- ela estava falando serio.

Sorri secamente.

–bom a vida e curta de mais para desperdiçá-la com momentos tristes e odiando pessoas, pense nisso- falei e sai dali