Arizona, 2010

Elizabeth sentiu o solo embaixo dos seus pês em questão de segundos. Olhou ao redor, tinha mirado para as proximidades de um Motel perto de Phoenix, Arizona, sabia que encontraria quem procurava por ali.

Estava em uma estrada deserta, rodeada de árvores, não que isso realmente incomodasse Elizabeth, que já estava acostumada a essas situações. Sua Sede nunca a materializava em uma nova dimensão desarmada, ela sabia. Sentia o frio da lâmina da faca presa em sua calça.

Usava agora, no lugar do vestido, uma blusa básica branca com uma calça de lavagem escura e uma bota de caça marrom, apertou a jaqueta preta que compunha a roupa para perto do corpo, a noite estava fria.

Amy aterrissou ao seu lado segundos depois, usando a mesma saia jeans e blusa vinho que havia vestido em Storybrook.

Pálida como papel, a ruiva se apoiou fortemente na Guardiã para evitar cair no meio do asfalto.

– Viagem interdimensional é uma vadia certo? – A Guardiã disse com um riso, lembrando de sua primeira viagem. Segurava levemente o cabelo da outra que ameaçava vomitar no canto da rua.

A ruiva se limitou a assentir, e as duas se manteram naquela posição por algum tempo, antes de Amy finalmente se recompor o suficiente para se firmar em pé sozinha, e olhar ao redor, perguntado assim que teve uma noção das redondezas:

– Onde estamos?

– Em outra dimensão, bem longe da sua casa – Elizabeth respondeu sorrindo travessa, e andando para pegar o pacote de torta do Granny’s que estava repousando a alguns metros de onde estavam, parando para encarar a ruiva antes de falar novamente.

– Consegue andar?

Amy mais uma vez assentiu, limpou as mãos na calça e se pôs a caminhar acompanhando a Guardiã.

***

Estavam andando a algum tempo, tempo demais na opinião de Elizabeth, tinha certeza de que tinha focado em um ponto mais próximo da hospedagem dos irmãos, mas, seu senso de direção nunca havia sido um ponto forte. Deu de ombros levemente frustrada com sua exatidão – ou a falta dela - em suas aterrisagens.

– Então você conhece o Doutor... - Amy disse, tinha tentado fazer soar como uma pergunta para a mulher que caminhava a seu lado, mas a certeza dos fatos impediu que suas intenções se concretizassem.

Elizabeth estava esperando uma pergunta como essa, todas as companheiras do Doutor que havia conhecido lhe fizeram a mesma. Era verdade que todas elas desenvolviam no mínimo um senso de proteção pelo Lorde do Tempo, e considerando que a presença de Lizzy em si era considerada problema, parecia aflorar ainda mais esse lado nas pessoas que viajavam com ele.

– Sim, mas você já sabia disso – a Guardiã respondeu sorrindo para Amy e piscando, se iriam caminhar mais, pelo menos que trocassem histórias – Ele é como um pai para mim. – ela deu de ombros.

– Wow, uma coisa que não imagino – Amy retrucou rindo, puxou o casaco mais próximo do corpo antes de continuar – Ele nunca havia mencionado você, não antes de...

A Pond deixou a frase no ar ao observar a mudança nas feições da mulher ao seu lado, percebeu que não deveria mencionar a situação atual de seu amigo, e que a Guardiã estava se esforçando para não pensar no que poderia estar acontecendo, mudou rapidamente de assunto:

– Eu o encontrei quando era pequena. – ela disse se lembrando do dia em que havia encontrado o alienígena em seu quintal – Ele me fez esperar uma noite inteira, e anos depois disso... – Amy disse devaneando com uma feição preocupada no rosto.

– Valeu a pena? – Elizabeth perguntou mesmo já sabendo a resposta, que veio logo em seguida:

– Cada segundo.

– Nós vamos acha-lo – Elizabeth disse num tom de certeza, tocando o ombro de Amélia antes de disser – Eu sei disso.

***

Continuaram caminhando daquela forma – entre conversas sobre a história de uma ao lado do Senhor do Tempo, e uma longa e detalhada descrição das aventuras da segunda rodando o universo e as dimensões - até que ambas avistaram um prédio a alguns metros, estava quase amanhecendo, e estavam cansadas, mas apertaram o passo:

– O que estamos fazendo aqui afinal? – a ruiva disse com um claro tom de curiosidade na voz já que estava mais animada, conversaram sobre diversas dimensões, mas nenhum momento nada que Elizabeth havia falado tinha feito ela suspeitar de onde estariam.

– Temos que falar com uma pessoa – a Guardiã respondeu virando-se para caminhar de costas, e encarar a ruiva - Normalmente eu iria atrás do Doutor para resolver esse tipo de situação, mas... – não era necessário complemento, a ruiva havia entendido.

– Que tipo de situação? – Amy disse tentando entender melhor o porquê de tudo aquilo e distrair a Guardiã.

– Do tipo falta de informação – Elizabeth disse surpreendentemente paciente, ela não costumava explicar as coisas que fazia aos mortais que acabara de conhecer, mas chegou à conclusão de que gostava da ruiva:

– Eu preciso descobrir algo que não sei, sobre algo que aconteceu antes de minha posse como Guardiã.

Amy então retrucou meio-seria-meio-brincando:

– Ah... Lizzy, não me leve a mal, mas... Estamos andando a horas para fazer algo que uma ligação poderia ter feito?

Elizabeth apenas riu em reposta disse voltando a andar de frente:

– Ele não é do tipo que tem celular

Amy riu, sabia pela passagem dos carros e pelas roupas de Elizabeth que aquela dimensão deveria estar na mesma faixa de tempo que a dela, e nessa época, bem “quem não tinha celular?” , então ela deu um empurrãozinho brincalhão com o ombro em Elizabeth antes de dizer:

– Do tipo não humano?

Elizabeth abraçou a ruiva pelos ombros antes de sorrir e responder:

–Exatamente.

Ela riu do olhar da ruiva antes de solta-la e caminhar porta a dentro:

Haviam chegado no Motel.

***

Elizabeth passou na recepção com o um raio, fazendo somente uma pergunta a mulher simpática no balcão, seguindo a direção indicada por ela como resposta. Fez isso antes mesmo de Amy chegar até ela, o que foi pouco tempo depois, dizendo:

– Como assim não humano Elizabeth?!

Ambas passaram por algumas portas do motel, os primeiros raios da manhã estavam chegando ao corredor pelas janelas abertas, mas não demorou muito para a Guardiã parar na frente de um quarto: 212.

Um imaginaria que alguém teria cautela antes de bater na porta de um quarto desconhecido nas primeiras horas da manhã, mas não com Elizabeth, ela sorriu travessa e bateu com força na porta três vezes.

Se ouviu uma movimentação dentro do quarto e em poucos segundos um homem, forte com uma tatuagem, e com cabelos longos abriu a porta, assumindo um olhar engraçado de confusão assim que olhos para a Herondale.

“E que homem” Amy pensou dizendo com um sorriso:

– Você tinha razão... De jeito nenhum ele é humano.

Elizabeth apenas deu uma batida de leve na nuca da ruiva e disse tapando os olhos, uma vez que o homem que estava na porta usava nada a não ser uma toalha e um olhar extremamente surpreso:

– SAMMY POR FAVOR! – ela exclamou – Coloque uma roupa! Não sei de onde você aprendeu abrir porta para estranhos num motel pelado!

Mas não foi a voz do Winchester que a respondeu, para a surpresa dela, uma voz feminina que ela nunca imaginou ouvir no quarto de Samuel naquela situação... Constrangedora falou:

– Elizabeth?!

Foi a vez dela de ficar confusa enquanto a ruiva apenas soltava um resmungo

– Droga.