Bring Me Back To Reality. escrita por Elizabeth Watson


Capítulo 4
Capítulo 4: Declaração de amor.


Notas iniciais do capítulo

JesusMariaJosé há quanto tempo não posto aqui?! Nem pedirei que me perdoem, pois não mereço isso. Apenas espero que não tenham desistido em mim.



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O relógio despertou às 06h00m am. O céu estava escuro, mas ao menos havia parado de nevar. Enquanto eu fui fazer minha higiene matinal Oliver ficou na sala vendo jornal para checar se haveria aula naquele dia.

Entre o caminho do banheiro e o caminho de volta para o quarto, perguntei:

– Vai haver aula?

– Sim. Tomara que tenha aula vaga para eu dormir mais um pouco ou eu vou ter que ir trabalhar com sono depois.

– Ollie, quando você não está com sono?

– Se eu falar que é quando estou com fome é mentira, pois eu tenho fome e sono. E também tenho sono quando estou com você.

– Isso foi meio ofensivo, sabia?

– Não estou te chamando de chata, amore mio, pois você não é. Mas você sabe da minha relação com o sono e deveria ter pensado nisso antes de ter se juntado á mim.

– Isso soa como um “Caí fora da minha casa!” sabia?

– Ei, você tá difícil hoje, em?

– Quer dizer que eu sou fácil?

– Não. Quer dizer que você quer me enlouquecer. – levantou-se e foi até o banheiro.

– Te enlouquecer se tornará um dos meus hobbies então, amor.

Fui até o quarto, tirei o pijama e coloquei o sutiã. Abri o guarda-roupa para escolher alguma roupa quando senti as mãos quentes de Oliver envolvendo a minha cintura por trás. Coloquei as minhas mãos – que ao contrário das dele estavam frias – em cima das dele e me permiti ficar naquele abraço íntimo por um tempo.

Suas mãos foram subindo pelas curvas do meu corpo. Quando chegaram aos meus ombros, viraram-me lentamente e depois repousaram em meu rosto.

– Você é tão linda. – ele sussurrou ao meu ouvido.

Dei um sorriso tímido, virando levemente o meu rosto e beijando a palma de sua mão.

– Eu preciso vestir alguma coisa. – eu disse.

– Tudo bem. Tenho de me trocar também.

Deu-me um beijo demorado e depois me soltou, tirando logo a camiseta e as calças e virou-se para o guarda-roupa.

Coloquei uma meia-calça cor da pele e um vestido vermelho com a cintura marcada, saia rodada e mangas até um pouco abaixo dos cotovelos. Joguei minha jaqueta de couro preta por cima e coloquei meus tênis Vans vermelhos. Coloquei um colar de rosário branco junto com o meu de safira azul que eu nunca tirava do pescoço. Alguns anéis, meu gorro cinza e estava pronta.

Virei-me para o lado para falar com Oliver, mas ele estava deitado na cama com calças jeans surradas, uma camiseta do Motörhead, sua jaqueta de couro preta e coturnos.

– Adoro ficar te observando. – ele disse com um sorriso preguiçoso.

Sorri e me sentei ao lado dele na cama. Beijei-o demoradamente, apertando os músculos do seu braço enquanto suas mãos percorriam minhas costas e seus dedos se entrelaçavam em meu cabelo. Ele passou os braços envoltos na minha cintura e me apertou contra ele, como se tentasse fundir nossos corpos em um só.

– Amor, nós temos que comer alguma coisa antes de ir ao colégio. – eu disse entre um beijo e outro.

– Você me atiça e depois quer que eu pare? Nem pensar. O colégio é só á quinze minutos daqui e você pode comer algo no caminho. Quero ficar assim com você até o último minuto. – respondeu-me fazendo um caminho de beijos das minhas clavículas até a minha orelha.

– Tudo bem, então. Eu faço um esforço.

– E eu agradeço por isso.

Sorri e suspirei baixinho.

– Fiz uma coisa enquanto você dormia. – Oliver disse fazendo-me esticar o pescoço para olhar em seus olhos castanhos dourados. – Quer ver?

– É claro. – respondi animada.

Ele se levantou e se esticou para pegar algo embaixo da cama. Era um bloco de desenhos. Colocou em minhas mãos.

– Eu desenhava bastante quando era pequeno e ainda não fazia poesias, mas depois de um tempo eu parei. Voltei á desenhar quando você estava; você sabe...

– Internada. – eu disse abrindo o bloco.

Havia inúmeros desenhos lindos ali. Reconheci meus próprios olhos azuis com alguns pontos verdes e sardas ocupando uma folha, um corvo sombrio em outra, uma tribal de lobo em mais outra e outros desenhos incríveis que eu jamais conseguiria reproduzir com tamanha técnica e habilidade artística.

O último desenho era de uma mulher em uma cama, dormindo em um sono profundo. Demorei em reconhecer-me no papel.

– Oliver, isso é lindo! Você desenha muito bem! – eu disse encantada, captando todo o traçado leve, porém bem marcado, o sombreamento bem distribuído, a precisão em cada linha... Tudo.

– São só uns rabiscos. – respondeu-me acanhado.

– Oliver, meus rabiscos não chegam nem perto disso.

– Bem, obrigado. – ele passou a mão pelos cabelos, ainda acanhado.

Deixei o bloco de lado e puxei Oliver para mais perto de mim pela jaqueta, beijando-o de um modo intenso que eu não sabia de onde saíra.

Soltei-o e me afastei dele lentamente, comprimindo os lábios e sentindo-me corar.

– Desculpa, foi um impulso. – eu disse.

– Pode ter esse impulso quantas vezes você quiser, amore mio.

Sorri tímida.

– Acho melhor nós irmos agora, não é?

Oliver deu um sorriso largo.

– Sim. Vamos.

Pegamos nossas mochilas, trancamos tudo e ligamos o alarme.

Dissemos “oi” ao porteiro e saímos pela manhã fria.

– Você não fica com frio nas pernas, não? – Oliver me perguntou, abaixando a cabeça para dar uma boa olhada nas minhas pernas.

Dei uma risada fraca.

– Não Ollie. Não fico. Agora, deixe-me perguntar uma coisa: você já pensou em cortar essa sua juba?

– Ei, quem é você para falar de tamanho de cabelo? O seu é na cintura!

– Sem essa, eu sei que você o adora.

– Sim, eu o adoro. E sei que você adora meus cachos também.

– Se você acha...

– Não acho, eu sei. Como eu sei que você ama tocar violão, que você ama minhas poesias, que você amou os meus desenhos...

– E com isso você concluiu que eu amo seus cachos?

– Sim. E eu sei também que dourado é uma das suas cores favoritas, por isso você ama meu cabelo loiro, meus olhos castanhos dourados e o fato de eu ser bronzeado.

– Você está se achando demais, sabia?

– Sabe qual é a minha cor favorita?

– Qual Ollie?

Paramos em frente ao portão do colégio, faltavam cinco minutos para o primeiro tempo e a rua estava lotada de alunos.

– Minha cor favorita é azul. Na verdade, o exato tom de azul dos seus olhos. E eu adoro o contraste deles com o branco da sua pele com algumas sardas, com o seu cabelo castanho e com seus lábios rosados. – ele tocou com o polegar meu lábio inferior. – É praticamente a combinação perfeita.

Sorri envergonhada. Seu cheiro era uma mistura de café, noz moscada e sândalo.

– Vem. Vamos logo procurar nossas salas. – ele disse, puxando-me para dentro do prédio.

– Qual é o seu primeiro tempo? – perguntei á ele.

Ele olhou para seu papel com sua distribuição de aulas e fez uma careta.

– Física, e você?

– Redação. Boa sorte e não durma.

– Por que não?

– Quer ficar para sempre na Hollister?

– Tá, está bem. Ei, trate de surpreender a professora ou o professor de redação, ok? Sei que você consegue.

– Obrigada. E eu sei que você vai conseguir ficar muito bem em Física.

Ele me deu um selinho e o sinal bateu. Centenas de alunos irromperam pelos corredores.

– Te vejo mais tarde, amore mio.

– Te vejo mais tarde, querido.

Fui até a sala 10 e sentei-me numa das carteiras do meio. Observei o professor de aparentemente 25 anos virar-se do quadro para frente da sala. Ele usava terno e gravata, era moreno e tinha olhos escuros como buracos-negros. Desci o olhar e soltei um risinho quando reparei em seus Converses pretos consideravelmente sujos.

– Bom dia, moçada. Como podem ver, temos uma aluna nova hoje. – ele apontou para mim. – Gostaria de se apresentar?

– Na verdade não. – respondi.

– Perdão, mas foi uma pergunta retórica. Venha aqui na frente.

Obedeci-o. A sala era média, cerca de 30 alunos.

– Bem, eu sou Sarah Jackman, tenho 18 anos.

– Tem namorado? – um garoto do fundo perguntou, fazendo outros rirem.

Suspirei e revirei os olhos.

– Tenho sim.

– Onde você arranjou esse colar? – a voz da garota guiou-me até ela. Ela tinha grandes olhos verdes e cabelos loiros platinados até os ombros, completamente desfiados. Seus olhos estavam na direção da minha safira.

– Meu namorado me deu. – respondi desconfiada.

– Bom, pelo visto ele realmente te ama. – o professor disse. – Seja bem-vinda, sou o Sr. Marks.

– Obrigada. – respondi.

Quando estava indo me sentar, alguém perguntou:

– Ei, você e mais umas três pessoas não foram sequestradas por aquele assassino, o tal de Derek? – era a garota loira de novo.

– Eleanor, por favor. – o professor a reprendeu. – Sarah, não precisa responder isso...

– Está tudo bem. – eu disse mesmo querendo ao máximo apenas me sentar e não chamar mais a atenção de ninguém pelo resto do dia. – Sim, sou eu mesmo. Meu namorado, minha prima e a amiga dela foram as outras três vítimas.

– Onde você ficou nesses últimos dois meses? Os jornalistas te procuravam, mas você tinha sumido.

Deus, aquela garota não ia parar de falar da minha vida?

– Fiquei reclusa por esse tempo, me recuperando.

– Longe do seu namorado? Eu não teria coragem, ele é tão lindo.

Hum, entendi onde ela estava querendo chegar.

– Pois é. Eu tenha muita sorte por amá-lo tanto e por receber todo esse amor multiplicado.

Eu sentia quase como se faíscas saíssem dos meus olhos.

Decidi me sentar logo e não atrapalhar mais a aula e quando me deparei novamente com o vestuário do professor segurei o riso e me abaixei para pegar o caderno tentando disfarçar.

– Bem, vamos começar a aula então... – o Sr.Marks disse. –Vou passar um trabalho. Vocês terão que fazer um texto sobre o Dia dos Namorados, contando o que vocês acham do romantismo, se vocês passaram essa data com alguém, as críticas que vocês têm sobre o dia...

– Como a política de trocar presentes, fazendo parecer um natal em fevereiro só que sem a comida boa. – um garoto do fundo disse.

– Exatamente, Christopher. E também quero saber se vocês têm alguma história engraçada de Dia dos Namorados e como foi o Dia dos Namorados de vocês este ano. O trabalho é para o dia 22, ou seja, vocês têm duas semanas para fazê-lo. No mínimo duas folhas, frente e verso.

– Você tem alguma história engraçada de Dia dos Namorados, professor? – a ruiva na minha frente perguntou.

– Bem, eu tenho algumas.

– Por favor, conte! – a garota implorou tentando fazer uma voz sexy. Não me surpreendia o fato dela estar tentando seduzi-lo, ele era uma gracinha, mas nada comparado ao meu italiano.

– Tudo bem, eu conto. Eu tinha 21 anos e estava saindo com essa garota. No Dia dos Namorados eu a levei para a minha casa, encomendei comida da nossa cantina italiana favorita, arranjei um bom vinho... – algumas das garotas suspiraram. – Nós comemos um pouco, bebemos, nos beijamos e bem, o resto vocês podem imaginar. Algumas horas depois eu fui levar ela pra casa dos pais dela e o pai dela não me conhecia ainda. Eu a entreguei na porta dei boa noite aos pais dela até que o meu sogro viu algo no pescoço da garota, entendem? Ele entrou na casa e eu sem estar entendendo nada continuei parado na porta, até que ele saiu com um rifle de caça carregado e mirado em mim.

– E o que você fez? – perguntei.

– Eu corri como nunca corri na minha vida inteira.

Eu e os outros alunos rimos.

– E o que a garota fez? – uma mulher morena com um sotaque bem acentuado perguntou da porta de trás da sala.

– No momento ela ficou assustada, mas quando tudo se resolveu ela riu de mim até chorar. – ele disse sorrindo para a bela morena em seu vestido azul Royal na altura do joelhocom detalhes em dourado. Com certeza ela era a garota do acontecido e pelos seus traços pude concluir que era indiana.

– Ah, quanta maldade! A diretora mandou-me avisar-lhe que haverá uma reunião na hora do lanche.

– Obrigado, Yasmeen.

– Não há de quê, Patrick.

A mulher saiu e meu celular vibrou no mesmo instante. Olhei por debaixo da carteira:

Como está sendo o primeiro tempo?” – Oliver.

Sorri discretamente.

“Ótimo e o seu?” – respondi.

O Sr. Marks que eu descobri ser também professor de literatura começou á escrever no quadro um trabalho sobre um dos contos de escolha livre de Edgar Allan Poe.

Ouvi meu celular vibrando em baixo da carteira.

“Magnífico.” – Oliver.

Dei um sorriso largo.

– Sarah? – ouvi o professor me chamando. – Sarah, está prestando atenção?

Levantei o olhar para ele.

– Sim, estou sim.

– Não, agora você está.

– Perdão.

– Tudo bem.

Ele começou a falar um pouco da vida de Edgar Allan Poe, mas eu mal prestava atenção. Minha mente divagava tanto que eu nem sabia no quê eu estava pensando. Era alguma coisa haver com Oliver? Ou sobre como Helena estava, considerando sua situação na noite passada?

Minha mente congelou em algo. A ameaça de Derek.

Como ele sabia que eu estava fora da clínica e morando com Oliver? Como ele poderia estar tão perto e não ser pego com todos á procura dele? A não ser que...

Alguém próximo estava ajudando-o.

Alguém próximo queria ver-me morta.

Eu precisava contar isso ao Oliver. E precisava contar naquele instante, cara a cara.

– Professor? – eu disse.

– Sim, Sarah?

– Posso sair um pouco, não estou me sentindo muito bem. Estou com um pouco de tontura.

– Quer que alguém a acompanhe até a enfermaria?

– Não, não é necessário. Só preciso tomar um ar.

– Tudo bem, pode sair.

Peguei meu celular, a mochila e saí da sala o mais rápido possível. Onde ficava a sala de física?

“Qual é o número da sua sala?” – mandei a mensagem ao Oliver.

“27 no 2º andar. Por quê?” – Oliver.

“Tenho que falar com você.”

Subi as escadas o mais rápido possível, tentando não ser pega fora da sala na hora da aula.

Cheguei á sala onde ele estava. Ele me parecia inquieto, balançava a perna e batia com o lápis na mesa constantemente.

– Professor? – bati na porta.

– Pois não? Sarah, não é? – o senhor grisalho disse olhando-me com seus olhos que pareciam gigantes com os óculos de lentes garrafais.

– Sim. Será que eu poderia falar com Oliver, por favor? É algo urgente.

– É claro, se for urgente. Vá, Oliver.

Oliver levantou da cadeira rapidamente.

– Ih, acho que alguém vai ser papai. – um garoto ruivo e sardento disse, fazendo todos rirem.

– Provavelmente eu preferiria isso. – Oliver sussurrou para mim.

Saímos da sala.

– Sim, acho que eu também preferiria.

– O que foi, bela raggazza?

– Alguém próximo de nós está passando informações para o Derek.

– O que?!

– Pense bem, como Derek descobriria que estou morando com você sem estar perto o suficiente para que não desconfiássemos que estamos sendo vigiados? É claro que aquele desgraçado recebe ajuda!

– É verdade. Vamos avisar a polícia depois que sairmos da escola.

– Ok. Vou voltar para a sala.

– Tá bom. Eu te amo. – me deu um selinho demorado.

– Também te amo.

– Tchau.

– Tchau.

Oliver entrou na sala e olhou para trás por uma última vez, dando-me uma piscadela marota. Sorri e fiz um sinal com a mão para que ele entrasse na sala logo, mandando-lhe um beijinho logo depois.

Voltei para sala. O professor estava com um rádio em cima da mesa e todos estavam em absoluto silêncio, fitando-o como se aguardassem algo. Bati na porta pedindo licença.

– Está melhor, Sarah? – o professor perguntou-me.

– Sim, estou. – acomodei-me em meu lugar.

– Ótimo. Farei uma atividade com vocês. – ele anunciou para a turma. – Separem uma folha, pois me entregaram depois. – pode-se ouvir o barulho de folhas sendo arrancadas de cadernos. Peguei uma folha de meu fichário e a minha caneta, anotando meu nome.

– Ótimo. Não sei se vocês conhecem esta música, porém se conhecem quero que esqueçam seu significado por alguns minutos e se concentrem em o que ela os proporciona e então descreva as sensações, os sentimentos e os impulsos na folha. Quero total sinceridade e não se preocupem, não julgarei vocês. Apenas quero ver vocês descrevendo sentimentos e sensações.

Ele deu play e pude reconhecer a música tema do balé de Romeu e Julieta tocar. Dei um sorriso singelo e suspirei. Eu amava aquela música.

“Senti como se estivesse voando, indo em direção ao céu. Para cima, para cima... Eu transpassava pelas nuvens e sentia seu toque suave em minha pele. Encontrei-o lá em cima e o fitei por um longo tempo. Eu o amava tanto que doía. Abracei-o e senti seu o cheiro de café emanando de seu tórax, por baixo da camisa branca. Ele me abraçou também, nos aproximando mais ainda, o que eu não achava que fosse possível. Pude ouvir o uivado de um lobo em algum lugar ao horizonte. Roçou seus lábios nos meus e me envolveu em um beijo ardente, esmagando meu corpo de encontro ao seu.”

Parei para ler e fiz uma careta. Definitivamente eu não entregaria aquilo. Guardei a folha numa pasta e tentei me concentrar e escrever de novo. Mas nada saía. Tentei até imaginar uma letra para aquela música, mas a música era expressiva demais e não necessitava de uma letra.

...

Certo tempo depois o sinal bateu. Suspirei. Não havia conseguido escrever nada. Minha próxima aula seria de anatomia. Perguntei para uma garota de cabelos verde escuro onde ficava a sala e ela me guiou até uma sala do 2º andar.

Acomodei-me na banqueta em uma bancada ao fundo da sala. Alunos chegavam aos poucos. A professora - que notei ser a indiana Yasmeen – estava sentada em sua cadeira, esperando todos se acomodarem.

Desviei meu olhar para a janela. Pequenos flocos de neve caíam sobre as folhas das árvores. Ouvi a movimentação da banqueta ao meu lado e me virei para ver quem era.

Encarei seus olhos castanhos mel e seu sorriso animado.

– Olá, bela raggazza. – Oliver disse com a voz suave.

– Oi amor. – dei um sorriso largo.

– Tudo bem... – Yasmeen disse. – Todos já se acomodaram então vamos começar. Devem ter percebido que temos dois alunos novos aqui. Poderiam se apresentar?

Oliver se levantou.

– Sou Oliver. 18 anos. Imigrante italiano.

Ele se sentou e levantei-me em seguida.

– Sarah. 18 anos. Sou daqui mesmo.

– Bem vindos. – ela disse. – Sou Yasmeen, sua professora de Anatomia e como devem ter percebido sou indiana.

– E uma bilauta. – alguém sussurrou.

– Hm, pelo visto vocês sabem um pouco das outras línguas.

– Graças a Deus nem todos são tão centrados no próprio país. – Oliver disse. Algumas pessoas o olharam com certa raiva.

Bati de leve com as costas da mão em seu braço.

– Que foi amor? É a verdade.

– É um bom ponto á ser discutido, mas receio que não poderemos falar sobre isso nesta aula.

– Perdoe-me, apenas quis ressaltar. Não irei mais interrompê-la, senhorita.

– Tudo bem. – ela se virou para escrever algo no quadro. Seus cabelos negros e ondulados caiam como uma cascata negra sobre as costas inteira da mulher. – Alguém aqui já assistiu CSI ou quem sabe até uma série bem recente, Forever?

Eu, Oliver e mais um punhado de pessoas levantaram a mão.

Ela se virou.

– Muito bem. – comentou. – O que iremos fazer aqui é bem parecido, porém não dissecaremos cadáveres, lidaremos com bonecos.

Ouviram-se inúmeros lamentos vindos dos outros alunos. Dei de ombros. Já estava rodeada de cadáveres para ter que lidar com mais.

– Que bom. Já temos corpos o suficiente para lidar. – Oliver sussurrou no meu ouvido.

Assenti com a cabeça, entrelaçando meus dedos nos dele.

– O que quis dizer com isso, Oliver? – Yasmeen perguntou.

– Quis dizer o quê? – Oliver perguntou enrolando-se.

– Você disse que você e a garota ao seu lado já tinham corpos o suficiente para lidarem. Gostaria de esclarecer à classe o que quis dizer?

– Todos têm esqueletos no armário, professora. Não creio que convém explicar os nossos não é? – indaguei.

– Certamente que não. Apenas não conversem sobre assuntos que não condizem com a aula, entendidos?

– Sim. – respondi.

– Sì. – Oliver disse.

Olhei-o de esguelha.

– Esqueço o inglês quando fico nervoso. – explicou-se baixinho.

– Ainda posso te ouvir daqui, Oliver. – a professora disse.

– Scusa me.

Sorri de canto. Eu adorava quando Oliver falava em sua língua materna.

Yasmeen murmurou algo em híndi e Oliver olhou-me apreensivo.

– O quê? Mal sei falar o inglês direito, amor! Não espera que eu entenda híndi, não é?

– Fiz uma pequena prece à Parvati, Sarah. Apenas isso. Bem, eu adoraria continuar falando sobre línguas e culturas, mas essa é a aula de Anatomia então vamos manter o foco.

Assenti com a cabeça. Yasmeen voltou-se de novo para sua introdução, porém foi interrompida pelo diretor a qual julguei um tanto novo pela sua aparência. Parecia-me não passar dos 36.

– Perdão, professora Yasmeen, por interromper sua aula. Teremos de dispensar os alunos por conta da pequena nevasca. – anunciou.

– Tudo bem, senhor. Eu entendo. Obrigada.

– Obrigado. – o homem se retirou.

Estávamos todos em silêncio, imóveis, esperando autorização para sair. Yasmeen nos viu congelados e deu um sorriso de dentes brancos e alinhados.

– Pelo quê estão esperando?! Por favor, saiam logo daqui! – disse em tom brincalhão.

O barulho de arrastar de cadeiras, vivas, murmúrios, conversas paralelas e pessoas guardando os materiais encheram a classe.

– Que bom que fomos dispensados. Pretendo continuar o que começamos hoje de manhã, bela raggazza. – Oliver sussurrou em meu ouvido e mordiscou o lóbulo de leve, fazendo-me arrepiar até a nuca.

– Ollie, aqui não! – sussurrei em repreensão.

Ele apenas deu um sorriso sacana em resposta, olhando-me de cima á baixo.

Bati em seu braço de leve. Ele riu e beijou-me a bochecha.

– Vamos? – perguntou colocando a mochila nas costas.

– Vamos. – eu disse.

Andamos pelos corredores e acabamos por esbarrar em Eleanor, que me pareceu muito feliz por esbarrar em Oliver.

– Oliver! Tudo bem? – ela disse animada.

– Oi Eleanor. – Ollie respondeu não tão animado assim.

– Tudo bem? Tentei entrar em contato quando te vi na TV todo machucado por conta daquele psicopata, mas você nunca respondia.

– Perdão, estava preocupado demais tentando encontrar minha namorada. Agora, se me der licença, vou tirar o tempo perdido.

Arregalei os olhos, contendo o riso. Oliver podia ser muito grosso quando queria.

– Tudo bem, a gente se vê então. – Eleanor tentou dar um beijo na bochecha de Oliver, mas ele recuou. Ela foi embora e nós seguimos em direção á saída.

– Amor, como você foi grosso! – eu disse soltando a risada.

– Ah, ela com certeza mereceu.

– Por quê?

– Digamos que ela já foi a minha “Vadia do Mês”, mas então eu a flagrei em cima do meu “amigo” e mandei-a á merda.

– Espera. Você me disse que não fazia isso.

– Por quê? Está preocupada que eu te largue?

– É, é claro que nã-nã... – gaguejei.

Ele sorriu e me abraçou.

– Não se preocupe. Você está mais para a minha vadia para a vida inteira.

– Uou! Não acha que está muito cedo pra isso?

– Cedo? Já está mais do que na hora! – ele disse sério.

Arregalei os olhos, espantada.

– O- Oliver nós só temos 18 anos.

Já fora do prédio ele começou a gargalhar como um louco.

– O que foi?! – perguntei.

– Você acha mesmo que eu vou te pedir em casamento agora, Sarah?!

Suspirei aliviada, sentindo um peso sendo retirado dos meus ombros. Logo eu estava rindo também.

A risada de Oliver se cessou e ele me encarou sério com aqueles olhos cor de âmbar hipnóticos.

– Mas, você quer? – perguntou-me, olhando fundo nos meus olhos.

– Quero o que? – perguntei sentindo um calafrio subir-me a espinha.

– Se casar comigo um dia? Obviamente quando estivermos mais velhos.

Encarei-o sem saber o que dizer. Eu jamais havia parado para pensar nisso e não queria começar naquele momento. Mas, se eu queria? Bem, eu o amava, não é mesmo? O casamento seria consequência desse amor um dia, não é? Então por que eu não conseguia reponde-lo?

Ele abaixou a cabeça, dando-se por vencido sem ao menos ouvir a resposta que aparentemente eu não tinha. Quando me encarou de novo ele sorria de leve, um sorriso triste.

– Tudo bem. Nada de pressão. Até porque somos muito jovens, certo? Ainda temos anos para falar sobre isso.

Apenas assenti de leve.

– Vamos, amore mio. Vamos sair dessa nevasca. – ele passou o braço pelos meus ombros e começamos a andar em direção à nossa casa.

...

Chegamos à nossa casa. Larguei a bolsa no sofá. O silêncio entre mim e Oliver estava me incomodando em demasia. Eu sabia que ele jamais admitiria, mas eu havia magoado-o.

– Ollie, posso falar com você?

– Pode. – pendurou a jaqueta e tirou os coturnos.

– Olha, é... Eu sei que você quer se casar e eu também quero, mas falar sobre isso agora me pegou de surpresa e não é como se tivéssemos que falar sobre isso agora, mas, sim. Daqui alguns anos eu com certeza vou querer me casar com você.

Ele me olhou e deu um sorriso largo, depois me puxou pela cintura, levando meu corpo de encontro ao seu.

– Você não sabe como fico feliz em ouvir isso. – ele disse, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

Puxei-o para mais perto pela camisa e o beijei. Ele me levantou do chão e eu entrelacei as pernas em sua cintura enquanto ele me levava de encontro à parede, me prensando.

Sua boca deslizou pelo meu pescoço, deixando beijos carinhosos pelo caminho que traçava.

– Amor, os vizinhos vão nos ouvir. – murmurei.

– Então vamos fazer um barulho que encubra o que estamos fazendo.

E dizendo isso nos guiou até o banheiro e fechou a porta.

...

– Então, o que quer fazer? – Oliver perguntou, sentando-se na cama.

Sentei-me também e abracei suas costas nuas e quentes.

– Não sei. Eu gostaria de visitar a Helena e a Laila quando parasse de nevar. – disse contra seu ombro.

Ele se virou para que pudesse me encarar, deixando-me de encontro com seu peitoral largo.

– Quer ligar pra uma delas?

Assenti com a cabeça. Ele se levantou e pegou meu celular, que estava em cima do criado-mudo.

– Toma. – entregou-me.

– Grazie, cavaliere.

Deu um sorriso torto e depois me deu um selinho demorado.

– Adoro quando você tenta imitar o sotaque italiano desse jeito horrível.

Dei uma risada fraca e liguei para Helena, que estava na discagem rápida.

– Sarah! Tudo bem? – Helena atendeu animada.

– Oi. Tudo sim e você?

– Sim, estou.

– Certeza? Ontem você não parecia muito bem.

– Não, eu não estava bem mesmo, mas agora eu melhorei.

– Então posso ir ai quando parar de nevar?

– Você quer dizer agora? Pode.

– Não. Quando parar de nevar.

– Sarah, olhe pela janela.

Dei de ombros e olhei, percebendo que a nevasca havia cessado.

– Ah, então tá. Onde você mora?

– Seu colega de quarto sabe.

– Ok. Já estamos indo então.

– Tá, tchau.

– Tchau. – desliguei.

– Você não percebeu que havia parado de nevar? – Oliver perguntou.

– Não.

– Você é muito distraída.

– Perdão se eu estava concentrada em outra coisa.

Ele deu um sorriso torto e vestiu-se. Vesti-me também, colocando um sobretudo preto por cima do vestido que eu estava usando antes e um par de luvas.

– Vamos? – eu disse á Oliver.

– Vamos.

Saímos de casa e pegamos o metrô. Eu tinha certa claustrofobia, principalmente no subsolo, mas eu podia me controlar.

Chegamos ao apartamento e apertamos a campainha. Helena veio atender 5 segundos depois. Seus olhos estavam marejados de lágrimas e seu rosto estava pálido como um lençol.

– Lena, o que foi? – perguntei preocupada.

Ela apenas se afastou para que entrássemos e apontou para a mesa de centro azul na sala. Havia um pacote aberto lá e o pacote estava sangrando.

Laila estava sentada no sofá, com seu cabelo azul turquesa cobrindo sua face.

Aproximei-me do pacote e senti um arrepio descer-me a espinha quando vi o conteúdo. Havia um coração humano dentro com um bilhete.

“Para meu amor da vida inteira. Faço isso por você, Helena.”


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Notas finais do capítulo

E aí? Posso esperar por comentários ou vocês não querem nem "ver a minha cara"? Tchau, Beijão e me perdoem de novo!