Bring Me Back To Reality. escrita por Elizabeth Watson


Capítulo 2
Capítulo 2: Olhos gélidos.


Notas iniciais do capítulo

Ei, eu sei que demorei pra postar, mas eu precisei de um tempo para organizar os pensamentos. Uma coisa. Cadê os comentários? Isso me entristece um pouco. :(



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Despertei na manhã seguinte com o cheiro de waffles. Eu estava sozinha na cama de casal e com um pouco de frio por dormir de calcinha, meias 7/8 e regata. Olhei para o teto branco e depois fitei o cesto de roupas transbordando no canto do quarto. Suspirei e me levantei, pegando o cesto.

Oliver estava na cozinha derretendo chocolate. Quando ele se virou e olhou, sorriu.

– Como é bom ter uma mulher em casa. Eu ia gastar meu dinheiro na lavanderia com isso. – disse e apontou para o cesto.

– Eu tenho certeza que iria. De nada por ser sua namorada.

– Eu agradeço todo dia por você existir.

Dei um selinho nele e olhei para a panela com o chocolate derretido.

– O que você está fazendo? – perguntei.

– Eu esqueci de ir comprar calda de chocolate e tive medo que você acordasse e eu não estivesse aqui então resolvi derreter um pouco de chocolate. Não é a mesma coisa, mas ok.

– Você é um doce. – eu disse.

– Eu sou é? Pensei que eu tinha gosto de pele, mas já que você diz...

– Bobo. Vou por a roupa para lavar.

– Ok.

Fui até a minúscula lavanderia e coloquei as roupas na máquina. Voltei para a cozinha.

– Já está pronto? Estou morrendo de fome. – sentei-me na mesa.

– Coloque isso. – ele disse e tirou o moletom, entregando-o para mim.

– Não precisa Ollie.

– Está frio e eu estou de camiseta, viu?

Ele realmente estava de camiseta. Suspirei e vesti seu moletom, fechando o zíper. É claro que ele ficava ridiculamente gigante em mim, mas eu estava com um pouco de frio mesmo então apenas me permiti esquentar.

Oliver colocou um prato de waffles e o chocolate derretido em cima da mesa, junto com algumas frutas e um suco de laranja. Ele se sentou ao meu lado.

– Pronto amor. Pode comer.

– Obrigada, amor.

Servi-me com dois waffles, coloquei a calda de chocolate em cima e peguei um copo do suco de laranja. Oliver fez o mesmo.

– O que vamos fazer hoje? – perguntei.

– Bem, nós temos que terminar o ensino médio, então vamos nos matricular em alguma escola. E você precisa arranjar um emprego.

– É, preciso. Acho que vou dar uma passada na escola de música, acho que eles precisam de professores.

– Isso é bom. Duas horas eu trabalho, tudo bem?

– Ok.

Então, era assim a vida de um casal. Achei interessante, mas eu faria alguma coisa para fazermos quando estivéssemos de bobeira. Não queria ficar entediada.

Fui trocar de roupa, estava realmente frio.

Me agasalhei o máximo possível e me maquiei. Voltei para a sala e fitei o violão com desejo. Oliver percebeu isso.

– Faz muito tempo que você não toca, não é?

– Só toquei uma vez.

– Estou com saudades de ouvir você tocar.

Olhei para ele e sorri.

Peguei meu violão e o afinei. A sensação de tê-lo no colo me fez me sentir mais “em casa”. Meu violão e Oliver eram as duas coisas mais reconfortantes que eu tinha.

Oliver apareceu com minha caixa cheia de letras e cifras de músicas. Eu nunca havia mostrado-o a caixa, mas me senti bem em dividir meu refúgio com ele. Eu sentia como se pudesse contar tudo que eu sentia e ele entenderia. Vasculhei a caixa e escolhi Franklin da Paramore para tocar.

– Essa música é bem nostálgica. – Oliver disse me tirando dos meus pensamentos.

– Sim. Mas é uma nostalgia boa. Sabe a letra?

– Sei.

– Pode cantar o coro?

– Claro que sim.

– Ok.

Respirei fundo e comecei.

And when we get home, I know we won’t be home at all

This place we live, is not where we belong

And I miss who we were in the town we could call our own

Going back to get away after everything has changed

A música e seu significado eram realmente muito nostálgicos e eu sentia nostalgia quando a ouvia ou a cantava. Saudades dos velhos tempos ou de coisas que eu nem ao menos vivi, mas saudades. Saudades de quando eu morava com Helena e ela me contava as histórias de terror que tiravam meu sono por dias. Só saudades, só isso.

‘Cause you remind me of a time when we were so alive

Do you remember that? Do you remember that?

Deixei o som se extinguir por ele mesmo. Oliver cantava bem até. O apartamento ficou em silêncio. Oliver me olhou e sorriu e eu sorri de volta. Eu estava de volta ao normal. Eu tinha achado o que a Hayley Williams da música procurava ter de volta. A minha casa.

...

Eram oito horas da noite. Eu estava sozinha em casa e estava compondo, tentando relaxar depois do dia longo que tive. Eu e Oliver havíamos conseguido nos matricular na San Diego High School. Oliver ainda não havia chegado do trabalho, ele só saía ás dez. Resolvi esperá-lo até que ele chegasse em casa. Era engraçado a nossa rotina, parecíamos até casados.

Uma música realmente estava saindo naquela noite. Eu realmente poderia aproveitar as noites sem Oliver até a hora que ele chegasse. Uma música sobre eu ter encontrado meu lugar, mesmo nessa cidade, nesse estado, nesse país. E a música tinha tudo para ser nostálgica, que eu tocaria quando eu estivesse mais velha e sentiria saudades do tempo.

So I can feel that I belong from this town now.

With you I belong from anywhere.

Resolvi beber um pouco de café para me manter um pouco mais acordada. Quando me levantei para ir até a cozinha, percebi que estava nevando. Aquilo me preocupou, eu não sabia se a caminhonete de Oliver tinha pneus para neve.

Lembrei-me que nós não sabíamos fazer café na metade do caminho. Era estranho Oliver ser tão bom na cozinha e não saber fazer café, mas relevei esse fato quando o descobri.

– Bom, acho que terei de ir à Starbucks. – disse á mim mesma.

Fui até o quarto e troquei os pijamas por meia-calça preta grossa e um vestido azul de saia rodada com caveiras. Coloquei minha jaqueta de couro e minha fiel bota de salto 15 com fivelas. Peguei um pouco do dinheiro que me restava na carteira – eu precisava urgentemente de um emprego. – e saí para a noite fria de dezembro.

A Starbucks era á quatro quadras de casa. Uma caminhada que me deixava um tanto cansada, por conta da minha vida depressiva e sedentária. E eu ainda andava de salto.

Eu também estava com uma sensação estranha. Eu não sabia o que era, mas incomodava muito.

Cheguei a Starbucks rapidamente. Eu tinha certeza que Oliver me repreenderia por sair àquela hora da noite, mas eu não me incomodava. Eu já me acostumara com a escuridão. Pedi um frapuccino e me sentei em uma mesa vaga.

Eu havia recebido uma mensagem, era de Oliver.

Não se preocupe comigo, vou pegar uma carona para casa e eles podem guardar a caminhonete por uma noite. Amo você, chego logo.

Dei um sorriso fraco e comecei a responder a mensagem, quando algo me chamou atenção á algumas mesas adiante.

Ele era grande e forte, parecia ter uns vinte e poucos anos. Cabelos e barba por fazer negros e olhos cinza como uma manhã nublada.

Arregalei os olhos. Meu coração disparou de modo frenético e tive certeza que o arrepio na espinha que tive não foi por conta do frio.

Como ninguém o reconhecia? Seu rosto estampava os jornais e as ruas, era impossível ninguém o perceber. E mesmo assim ele estava sentado ali, agindo como uma pessoa completamente normal.

Mal percebi o frapuccino em minha frente. Peguei-o e fui até Derek.

Ele me olhou normalmente e arqueou uma sobrancelha como se não soubesse o que estivesse acontecendo.

– Posso ajudá-la, senhorita? – perguntou-me.

– Derek?!

Fez cara de confuso.

Seu rosto então foi ficando embaçado e eu não conseguia enxergar mais nada, apenas me senti caindo e ouvi o barulho de arrastar de cadeiras.

Lembro que acordei e pude ver seu rosto, mas não era o seu rosto. Outras pessoas estavam a minha volta.

– Você está bem? – o senhor que antes era Derek perguntou.

– Estou. T- te confundi com uma pessoa. Perdão.

Levantei-me lentamente, sendo ajudada pelo senhor. Peguei o meu frapuccino e paguei-o como se tudo estivesse normal. Saí da cafeteria.

Andei o mais depressa possível, bebendo e olhando para os lados como se uma ameaça estivesse ao meu lado. Perseguição. Era essa a sensação.

Percebi que um carro me seguia.

– Por favor, Deus, não. – rezei baixinho.

A janela foi abaixada lentamente. E lá estava ele. Derek. Mas eu não sabia se era Derek ou era o Derek da minha imaginação. Não importava, era um carro estranho me seguindo, coisa boa não era.

– Sarah?

Era Derek. Engoli em seco e andei mais rapidamente, sabendo que eu não teria chance.

– Sarah, pare!

Saí correndo. Mesmo de salto eu ainda conseguia correr sem virar o pé.

– Sarah!

Ele veio correndo atrás de mim. Eu estava perdida, era só questão de tempo até ele me pegar. Virei pensando que iria dar em outra rua acabei entrando num beco. Procurei desesperada por uma arma e tudo o que achei foram alguns cacos de vidro. Teria de bastar.

Ele entrou no beco.

– Sarah, se acalme. – ele disse, vindo até mim.

– Por favor, me mate, mas deixe Helena, Laila e Oliver em paz. – implorei, escondendo o caco de vidro atrás das costas.

– Sarah, sou eu.

Ele veio até mim. Levantei o caco e mirei na sua jugular, mas ele foi mais rápido e segurou minha mão com força, fazendo o caco cair.

– Por que eu, Derek?! Por quê?! – gritei.

– Sarah sou eu! Oliver!

– Oliver? – seu rosto ficou embaçado novamente e depois foi tomando forma. Os olhos dourados do homem que eu amava me fitaram preocupados. – É você mesmo, Oliver?

– Sim, amore mio. Sou eu.

Respirei fundo. Estava tudo bem, não estava?

Definitivamente, não.

Ele me explicou que havia saído mais cedo por causa da neve e não havia conseguido sinal para me mandar mensagem no meio do caminho. Mas eu não queria saber o por quê de ele ter saído mais cedo, ou o nome do amigo dele que estava dirigindo o Mustang em que estávamos. A única pergunta que eu queria que fosse respondida naquela hora era: o que diabos estava acontecendo comigo?

Mas eu não teria a minha resposta naquela noite.

Chegamos a casa. Oliver agradeceu o amigo pela carona e acabei descobrindo que ele se chamava Mike. O mesmo me disse para ficar bem e que qualquer coisa Oliver poderia ligá-lo. Oliver agradeceu-o mais uma vez e entramos no prédio. O porteiro nos cumprimentou com um “boa noite” e eu tirei do fundo da minha garganta um “oi”. Mantive meu olhar reto e vazio.

– Ela está bem? – pude ouvir o porteiro perguntar á Oliver.

– Sim. Só está cansada. – Oliver disse e passou o braço pela minha cintura.

Fomos andando e pegamos a escada, já que o elevador estava quebrado. Chegamos ao nosso andar e depois entramos em nosso apartamento.

Acendi a luz. A parede preta, meu violão no sofá, o papel com a minha canção em cima da mesa de centro. Tudo como eu havia deixado.

Tirei minha jaqueta e coloquei-a no cabideiro. Oliver fez o mesmo com seu casaco. Coloquei o violão no pedestal e me sentei.

– Eu tinha certeza que você era o Derek. – eu disse.

Oliver se sentou ao meu lado e passou o braço pelos meus ombros, como sempre fazia.

– Era realmente ele para você? – perguntou.

– Sim.

– Quando é a sua consulta aqui?

– Quinta que vem.

– Você consegue esperar até lá para falarmos com o seu psiquiatra?

Ele beijou meu cabelo e segurou minha mão.

– Vai ficar tudo bem, amore mio. Você verá.

Virei minha cabeça para olhá-lo. Ele deu um sorriso fraco e apertou a minha mão. Comprimi os lábios e depois os soltei, indo para frente e olhando para os lábios de Oliver. Ele me beijou suavemente, mas de forma apaixonada. Passei meus braços entorno de seu pescoço e ele passou a mão pelo meu cabelo, enquanto a outra apertava a minha cintura. Separamos-nos devagar e ele fez carinho na minha bochecha com o nariz, sorrindo. Sorri também quando ele desceu para o meu pescoço e me beijou. Depois ele se afastou.

– Estarei sempre com você, tudo bem? – disse.

– Tudo bem. – eu disse.

O relógio marcava 09h50min PM.

– Acho melhor eu tomar banho. – eu disse.

– Tudo bem. Vou guardar suas coisas.

– Tudo bem.

Peguei minha camiseta gigante dos Beatles no quarto, minhas meias 7/8, cinta-liga e um Cardigans velho.

Tomei um banho quente e relaxante, mas não pude deixar de pensar na alucinação extremamente lúcida de Derek. Por que eu estava alucinando com ele? Teria eu me traumatizado tanto á dois meses atrás que meu quadro psiquiátrico piorou ou aquilo era uma espécie de aviso? Seja o que fosse eu não estava gostando nem um pouco.

Saí cerca de 20 minutos depois, já vestida. Oliver me viu e sorriu.

– Isso é tão sexy, sabia? Mais sexy que uma camisola de renda. – ele disse e me envolveu pela cintura.

– Ah é? Pensei que eu ficava parecendo uma prostituta.

Ele segurou a ponta do meu cabelo castanho – que batia na cintura- e cheirou.

– Você é angelical demais para se parecer com uma prostituta. – sussurrou.

Dei um sorriso fraco.

– Ai meu Deus! – eu disse.

– O que foi? – Oliver perguntou preocupado.

– Era para eu ter tomado meus remédios á duas horas atrás.

– Á duas horas atrás a senhorita estava na rua, no meio da neve, não é? – ele me reprendeu.

– Eu queria tomar um café. Ninguém mandou não saber fazer. – retorqui.

– Bela tentativa, mas não me convenceu.

– Oliver eu não sou nenhuma garotinha indefesa, está bem?

– Percebi isso quando você quase me matou com um caco de vidro. Mas, amor, tome o máximo de cuidado possível, o.k.? Hoje foi uma alucinação, mas Derek ainda está por aí. Eu nem sei o que eu faria se acontecesse qualquer coisa com você. Hoje eu já fiquei desesperado! Promete que vai ter cuidado?

– Prometo.

– Ótimo. Agora vá tomar seus remédios.

Ele tirou os braços de volta da minha cintura e beijou minha testa.

Fui até a cozinha e tomei os dois remédios diferentes, os 60mg de antipsicótico e as quatro gotas de calmante. Joguei água por cima para tirar o gosto de remédio da minha boca.

Voltei para a sala. Pelo barulho de água caindo, Oliver estava no banho. Deitei-me no sofá e liguei a TV. Fui zapeando pelos canais até achar uma maratona de Two And A Half Men. Como ainda faltavam cinco minutos para começar resolvi fazer um lanche. Voltei faltando um minuto.

Oliver apareceu de toalha na sala.

– O que vai passar? – perguntou.

–Two And A Half Men. Corra se quiser assistir.

Ele foi ao nosso quarto e voltou de calça moletom e camiseta dois minutos depois.

– Ou. Essa foi rápida, ein? – eu disse.

Ele se sentou ao meu lado e mordeu um pedaço do meu lanche.

– Me senti como se estivesse correndo uma maratona. – disse depois de engolir.

Eu ri.

– Cara, como o Ashton Kutcher pode ser tão lindo?

Oliver me olhou com a sobrancelha arqueada.

– É sério isso? – perguntou.

– O quê?

– Amor, não se pergunta como um cara pode ser tão lindo na frente do seu namorado.

– Espera, você está com ciúmes do Ashton Kutcher?

– Não é esse o ponto. Você acha que eu não vou ficar com ciúmes de qualquer cara que você disser que é lindo?

– Então você está com ciúmes.

Ele suspirou.

– Sim.

Dei um selinho nele.

– Você é um fofo.

– Mais fofo que o Ashton Kutcher?

– Não me faça escolher. – brinquei.

Ele ficou de queixo caído e se levantou.

– Ei, aonde você vai? – perguntei.

– Vou dormir antes que você lamba a TV quando o Ashton Kutcher aparecer.

Dei uma risada estrondosa e acabei caindo do sofá. Oliver começou á rir também e tentou me ajudar á levantar, mas eu acabei derrubando-o também. Ele começou á fazer cócegas em mim.

– Não Ollie! Para! – gritei.

– Shh. Não acorde os outros. – sussurrou no meu ouvido.

– Então pare de fazer cócegas em mim. – eu disse.

– Tudo bem.

Ele se levantou, me levando junto pela cintura. Olhei no relógio de esguelha e já estava bem tarde.

– Vamos dormir amor? – eu disse.

– Vamos.

Arrumamos-nos e fomos dormir, mas antes que pudéssemos apagar as luzes ouvimos uma batida na porta.

– O que é isso? – Oliver disse.

Ele pegou um taco de baseball e saiu na minha frente. Peguei uma das facas no faqueiro e fui atrás dele. Ele olhou no olho mágico, me olhou e negou com a cabeça. Abriu a porta.

Havia um pacote no chão.

Oliver me deu o bastão e pegou o pacote. Deixei a faca em cima do balcão e fui espiar o pacote. Ele abriu o pacote e colocou a caixa em cima do balcão. Com a ajuda da faca abriu o lacre e revelou o conteúdo do pacote.

Dois glóbulos oculares azuis nos fitavam. Do lado, um bilhete.

“Olhos azuis, olhos azuis, por que tão cheios de morte?”


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim. Comentem o que acharam e tenham uma boa tarde.