Bella a quase boa esposa

Acordei preguiçando-me e com um sorriso em meu rosto. Comecei a tatear a cama ao meu lado, mas ao invés de encontrar meu vampiro acabo apalpando apenas o lençol. Sentei-me em um pulo e olhei para a cama vazia.

Nenhum bilhetinho romântico como no início do namoro.

Eu já deveria imaginar que após algumas décadas de casamento ele se mostraria o mesmo homem alheio que todo homem se transforma após casar. Só falta ficar barrigudo e arrotar após as refeições.

Bufando e cheia de mau-humor levantei-me e fui direto para a cozinha. A casa estava vazia então provavelmente meu amado esposo saiu. Deveria ter ido caçar. Dei de ombros e me pus a tomar meu café da manhã.

Conforme mastigava minha mente trabalhava. E não de uma maneira sadia, devo acrescentar. Meu vampiro anda estranho nesta última semana e pensamentos de que ele não seja mais o meu vampiro rondam minha mente. Tento a todo custo expulsar tais ideias, mas aquele gostinho amargo de quem já ganhou um belo par de chifres está em minha boca e parece ter o sabor acentuado a cada ato anormal do meu marido.

Sei que prometi a ele e a mim mesma que não remoeria a traição do passado. Até porque a vadia estava morta. Pelas minhas mãos, é claro. Todavia há sempre uma vozinha lá no fundo semeando a discórdia. E Edward também não ajudava. No começo da semana, por exemplo, ele saiu com seus irmãos e só voltou no outro dia pela manhã com a desculpa de que fora caçar, mas veja bem, ela já havia ido caçar no final de semana anterior e pelo o que escutei de Emmett eles estavam saturados de sangue.

Tudo bem, eu relevei. Emmett exagerava de vez em quando. Porém nesta mesma noite após eu ficar de cara feia o dia inteiro pelo excesso de viagens para caça resolvi fazer as pazes. Então cheia de amor para dar tomei um belo de um banho com aqueles sais cheirosos e dispensei qualquer tecido cobrindo minha pele.

Tratei de usar meus poderes para abaixar a luz do quarto para criar um clima sensual. Saí do banheiro toda animada, com um batom vermelho em meus lábios esbanjando sexy appeal.

Edward estava deitado de costas na cama com a mesma roupa do dia inteiro. Chamei-o com uma voz sensual. Fiquei sem resposta. Aproximei-me e mais uma vez o chamei. Continuei sem resposta.

Fiquei ao lado da cama e notei que ele dormia. Ajoelhei-me no chão e comecei a beijar seu rosto, desci para o pescoço.

– Amor... – ronronei. – Abra os olhos.

Alguns anos atrás fiz a mesma surpresa e meu vampiro quase me comeu viva, em todos os sentidos que a palavra comeu implica. Porém para o meu completo desagrado ele me empurrou! Sim senhoras e senhores, ele me empurrou!

– Estou cansado Bella, amanhã nós conversamos.

– Eu não estou querendo conversar Edward! Estou querendo gemer! – grunhi irritada.

Ele abriu os olhos espantado, mas eu simplesmente levantei e voltei para o banheiro colocar meu pijama de vovozinha. Fiquei tão brava, mas tão brava que o coloquei para fora do quarto. Ele dormiria no sofá para aprender a me dar mais valor.

No dia seguinte quem não quis nada fui eu. E sabe o que mais me irrita? Ele veio cheio de me desculpe meu amor, a caça com meus irmãos foi cansativa. Cansada estava eu de ser trocada por um veadinho qualquer!

Dormiu no sofá de novo.

Quando acordei no dia seguinte imaginei que ele viria cheio de flores e chocolates como qualquer homem que faz cagada e quer o perdão da mulher que ama.

O desgraçado foi dormir na casa da mamãe!

Alice e Rosálie vieram defendê-lo e acalmar a fera que eu estava. As duas me garantiram que seus esposos estavam com ele, e que também Esme e Carlisle foram junto desta vez.

Ponderei. Esme nunca esconderia qualquer safadeza de seus filhos. Em todo caso eu liguei mais tarde para ouvir de sua doce voz que as meninas diziam a verdade.

– Minha querida, ele esteve conosco a noite inteira, eu garanto.

– Tudo bem Esme, só de um jeito nos meninos. Eu preciso mais do meu vampiro durante a noite do que eles dele.

Ela soltou sua risadinha entendedora e então garantiu-me que ele já estava indo para casa. Quando a noite chegou ele foi tão doce que enjoou e me amou como deveria me amar todos os dias.

Torci meus lábios. Acho que a minha ideia de morar sozinha com Edward não estava saindo tão boa quanto eu imaginava que seria. Não que eu não gostasse de viver com os Cullen e com meus filhos. Porém após Gina engravidar e ela e Harry acharem melhor morar sozinhos para iniciarem sua própria família e Nessie e Sirius seguirem os mesmos passos, mas para fugir das implicâncias de Edward, resolvi que nós também precisávamos de um pouquinho de privacidade.

Nos mudamos para uma casa não muito longe da casa dos Cullen. Não era bem a casa dos meus sonhos, mas bastaria por enquanto.

Eu só não esperava que Edward não se desapegaria de sua antiga casa, já que ultimamente passava mais tempo com sua família do que comigo.

– Bella? Bruxinha?

– O que?! – resmunguei.

Eu estava sentada no sofá com o livro “50 tons de feitiços” nas mãos. Não ergui meu olhar. De relance vi que meu vampiro abaixou-se em minha frente.

– Eu sei que nesta semana não estou sendo o melhor dos maridos... Mas Bella eu am...

– Mas que cheiro é esse?! – ergui minha cabeça furiosa.

– Cheiro? – estreitei meus olhos quando o pomo de adão de Edward subiu e desceu.

– É! Esse cheiro impregnado em você!

Ele começou a fungar com uma expressão inocentemente nervosa no rosto.

– Ah! Esse cheiro... Foi Alice que estava passando perfume e acabou espirrando em mim.

– Alice não usa perfume barato! Me fale a verdade Edward! O que diabos está acontecendo? Você vem mentindo para mim desde o fim de semana passado! O que você está aprontando? Espero que você se lembre o quão vingativa eu sou!

Seus olhos arregalaram e ele imediatamente segurou meu rosto entre suas mãos.

– Bella! Não ouse sequer pensar que eu cometeria essa cretinice novamente! Por favor, não pense isso!

Meus lábios tremeram e meus olhos encheram-se d’água.

– O que você quer que eu pense? – choraminguei. – Você não tem me dado atenção. Foge de mim quando quero conversar. Nega fogo! Você nunca negou fogo!

Antes que eu pudesse cair em lágrimas meu vampiro puxou meu rosto e me beijou como há tempos não beijava. Resolvi deixar minhas preocupações de lado pelo menos por aquele momento. Sentia-me tão carente que não negaria o que ele vem me negando.

Enlacei meus braços em seu pescoço e minhas pernas em sua cintura. Nosso beijo estava tão alucinante que nem senti nossa movimentação até o quarto. Quando percebi estava deitada na cama com minha blusa completamente aberta e com Edward entre minhas pernas.

Puxei o ar com força quando ele deixou minha boca e começou a beijar meu pescoço. Movimentei minhas mãos rapidamente e usei minha magia para trocar de lugar.

Fiquei por cima sorrindo maliciosamente. Sua feição era divertida, mas ficou assustada assim que estalei meus dedos e fiz com que seus braços e pernas fossem presos por correntes na cama. Meu marido era um vampiro, eu precisava de uma coisa mais forte do que meras algemas.

Levantei-me ficando em pé com seu corpo entre minhas pernas. Estalei meus dedos mais uma vez e minhas roupas mudaram para um pelo conjunto de coro que valorizava meu corpo, em minha mão um chicote.

Estalei meus dedos mais uma vez e as roupas de Edward rasgaram-se o deixando completamente nu sob mim.

Sorri largamente antes de chicotear os músculos bem torneados de sua barriga.

– Bella! – gritou assustado e um tanto divertido.

Sim eu sabia que não o machucaria, mas eu queria brincar. E o tal livro havia me dado algumas ideias.

– Você foi um menino mal e vou castigá-lo!

Ele não conteve o gemido e eu só tive certeza que a noite seria divertida.

[...]

Meu corpo dói, mas não consigo esconder o sorriso do meu rosto. Nada melhor do que a reconciliação.

Cantarolando continuei a mexer as panelas. Estava fazendo o doce preferido de Edward para a sobremesa do almoço. Hoje ele não saiu, estava no escritório cuidando de nossas finanças.

Acho que supervalorizei as coisas. Toda a nossa mudança e distância dos Cullen estava mexendo conosco. Sentia falta de mais companhia e isso estava sobrecarregando meu vampiro. Acho que estava exigindo demais dele.

Suspirei um pouco culpada e resolvi desligar as panelas. Iria falar com Edward. Nós ainda não havíamos falado sobre nossos problemas, mas não podemos mais adiar isso.

Subi as escadas rapidamente e fui em direção ao escritório. Porém antes que eu entrasse acabei paralisando na porta. Edward cochichava ao telefone.

– Eu sei Alice! Mas não está dando mais! Tenho que contar para ela... Bella está desconfiada. Se ela descobrir por outra pessoa que não seja eu vai acabar arrancando alguma cabeça, você conhece sua amiga.

Estreitei meus olhos e fiz o caminho de volta para a cozinha. Eu não estava imaginando coisas! Ele realmente me escondia algo.

Torci meus lábios, acendi o fogo e apertei a colher de maneira em minhas mãos. Edward sabia que eu odiava segredos! E se ele está me escondendo algo é porque muito provavelmente eu não irei gostar!

– Bruxinha? – chamou meu vampiro hesitante.

– Hum?

Senti suas mãos em minha cintura e seus lábios em meu pescoço.

– Terei que dar uma saidinha rápida, mas prometo voltar para o almoço.

– Está bem querido, eu o espero. – respondi amorosamente, eu deveria ganhar um Oscar.

Ele estalou um beijo em minha bochecha e partiu em disparada.

Ah! Mas é hoje que descubro o que esse vampiro está aprontando.

Não esperei mais nenhum segundo e corri para fora chamando minha vassoura e voando alguns metros acima do carro de Edward. Para variar ele estava acima da velocidade.

Revirei meus olhos e continuei minha perseguição.

Edward estacionou em frente a uma joalheria e eu tratei de pousar em um beco próximo. Discretamente observei-o sorrir para a atender e pedir alguma coisa. A moça saiu de vista e logo voltou com uma pequena sacola. Ele a pegou e entregou o cartão.

Ainda mais desconfiada voltei ao beco e preparei meu voo. Então Edward havia feito uma encomenda... Acompanhei seu carro em direção a uma floricultura.

Torci meus lábios. Eu ia matá-lo!

Voltei para casa voando como um foguete e para o meu completo azar a cozinha quase pegava fogo. Havia esquecido o almoço no fogo. Soltei um palavrão e corri apagar o fogo. Cinco minutos depois Edward chegava.

– Bella?! O que aconteceu?!

– Acho que é bem óbvio o que aconteceu!

– Calma meu anjo... – veio para o meu lado tentando acariciar meus ombros.

– Não me venha com anjo! – esquivei-me de seu toque. – O que diabos você fazia em uma joalheria?!

– Eu não...

– Nem ouse mentir para mim! Eu vi com meus próprios olhos! O que você está me escondendo? É a droga de uma amante? É isso? É para ela que vai mandar as flores?

Confesso que eu estava descontrolada e a luz acendia e apagava cada vez que minha voz alcançava uma nota maior. Antes que eu pudesse proferir todos os feitiços possíveis que produzissem o fogo necessário para queimar meu marido ele me jogou em seus braços e começou a correr.

– Edward! – grunhi.

Ele não disse nada até que chegamos a uma cabana em meio a uma floresta fechada. Mesmo que a raiva me fizesse enxergar vermelho não pude evitar o pensamento de que aquela casa era maravilhosa. Mas me recusei a focar nos detalhes, eu estava furiosa.

– Cale a sua boca Bella, antes que comece a proferir ainda mais palavras das quais se arrependerá.

– Como você... – sem nenhum romantismo ele enfiou a mão na minha boca a tapando.

– Você estragou sua surpresa! – reclamou ele.

Franzi o cenho e ele tirou a mão de minha boca.

– Bella... – foi um misto de suspiro com resmungo. – Fiquei estranho essa semana porque queria te surpreender. Venha aqui.

Ele me puxou para dentro da casa que imediatamente me encantou por dentro. Apesar das estantes da sala principal estarem vazias, o ambiente era extremamente aconchegante ao redor da lareira.

Olhei para Edward sem entender.

– Essa é nossa casa, ou melhor, a casa que lhe daria como presente de aniversário de casamento.

Minha boca abriu. Puta merda! Eu havia esquecido completamente! Faríamos 50 anos de casados amanhã!

– Sei que não gosta muito da casa em que vivemos, não é a nossa cara. Então com a ajuda da minha família nós construímos essa aqui. A sala tem uma lareira como você queria e uma televisão de plasma como eu queria. Cada pedacinho da casa foi pensado e balanceado entre os seus gostos e os meus. Alice deu uma ajudinha para saber o que você realmente ia gostar.

Não sabia em que pensar. Minha cabeça rodava e rodava.

– Quanto à joalheria... – Edward ajoelhou-se em minha frente e retirou a caixinha vermelha de seu bolso. – Eu encomendei uma aliança para pedi-la em casamento mais uma vez para refazer nossos votos.

Peguei a caixinha e a abri. Meus olhos já estavam cheios d’água quando peguei a linda aliança dourada com um diamante em forma de coração. Nem olhei as palavras gravadas por dentro, pois eu tinha certeza que cairia em lágrimas.

– Na floricultura eu fui apenas pagar as rosas que Alice e Rose colocariam na casa para deixar o clima mais romântico.

Meus lábios agora tremiam para segurar o choro. Ele levantou-se e segurou meu rosto.

– Eu pensei que após 50 anos de casamento nós já havíamos superado o passado. – suspirou. – Eu amo você Bella, a cada dia amo mais, até mesmo quando surta sem motivos.

Ele beijou meus lábios enquanto limpava as lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

Eu havia feito uma bagunça completa. Desconfiei de meu vampiro quando ele estava apenas querendo fazer uma super surpresa para me agradar. Eu era uma esposa tão ruim!

– Eu sou uma péssima esposa! – choraminguei fungando.

– Não é meu amor... Apenas um pouquinho diferente.

– Não Edward! Eu sou uma péssima esposa! Fiz todo esse alarde por nada e desconfiei de você! Eu disse que não desconfiaria mais! Eu te perdoei e não tinha o direito de desenterrar essa história! E para completar eu... Eu...

– O que foi minha bruxinha?

– Eu queimei o almoço.

Edward prendeu o riso e me puxou para o seu corpo abraçando-me com carinho.

– Tudo bem Bella, você é uma quase boa esposa.