Give Your Heart A Break escrita por Leonardo Lima


Capítulo 2
Capítulo 2 - Encobrir, não sentir...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/518266/chapter/2

Os dias foram passando, e eu tinha certeza de que Junior falava mal de mim. Eu sentia isso. Ele e o grupinho dele estavam sempre no sétimo andar, a diferença é que agora eu notava a presença deles. Com essa certeza de que ele falava mal de mim, eu comecei a olhar feio pra ele sempre que nossos olhares se encontravam. Aposto que ele falou pra todo mundo, e ficava rindo de mim e falando mal de mim. Eu estava começando a ter raiva dele, e eu nem sabia de nada, se era verdade ou não que ele fazia fofocas sobre mim.

Eu tentei ser mais amigável com as pessoas da minha sala, e todo perceberam que eu podia ser engraçado quando eu queria. Eu não era um aluno exemplar, eu estava longe disso. Eu faltava muito, eu não fazia a maioria dos trabalhos, minhas notas eram péssimas. Eu estava acostumando a minha mente a aceitar perder de ano. Eu não tinha esperanças em mim, mas Adriele e Jessica sempre me incentivavam, diziam que eu podia passar na recuperação, era só eu me esforçar e estudar.

Minha relação com minha família era deprimente. Eu não me sentia parte da família, eu sempre torcia pra alguém me dizer que eu era adotado, que eu tinha ido pra família errada e que eu tinha outra vida. Eu chegava da escola e ia dormir, e de madrugada eu ficava na internet. Eu comecei a pensar demais sobre aquele tal de Junior, ele parecia metido, e eu odiava pessoas metidas. Porém... é como dizem ''entre o ódio e o amor, a linha é tênue''.

Eu cheguei em casa de mais um dia de escola, tirei a roupa da escola, joguei dentro do guarda-roupa e liguei o computador.

—Chegou agora, filho?

—Não, mãe, ainda estou na escola. - disse eu irritado. Era sempre assim com minha mãe, ela sempre fazia uma pergunta idiota e eu respondia com ironia. Sei que as vezes eu pegava pesado, mas pensei que ela estivesse aprendendo com o tempo.

—Vai comer não? Fiz macarrão com carne moída.

—Depois eu como. - respondi serio.

A relação entre mim e minha mãe era mais rasa do que uma colher de chá e tão profunda quanto uma folha de papel. Ela não me entendia e eu não entendia ela, simples.

Ela estava deitada na cama do quarto dela, dali mesmo, ela pegou o celular, ligou para amiga dela, Flávia, e começaram a conversar. Minha mãe falava muito alto, parecia que estava discutindo, e isso me irritava.

Respirei fundo, e fui pro meu quarto. Entrei no facebook, vi as notificações (nada de importante, como sempre) e fui procurar algum filme para assistir. Mas antes disso, eu fiquei curioso... No facebook, eu pesquisei por Junior, eu não sabia o sobrenome dele, então fui na sorte. E encontrei logo de cara, ele tinha vários amigos em comum comigo, fiquei olhando as fotos que estavam públicas, e ele não era de se jogar fora. Era bonito, e tinha um sorriso lindo também. Mas enfim, tirei do facebook dele e fui assistir o meu filme.

No dia seguinte, eu acordei sem ânimo algum pra ir a escola, eu acordava 5 da matina, pra poder ter tempo de tomar banho, me arrumar e pegar um ônibus que eu pudesse ir sentado. Depois de arrumado, peguei minha mochila, coloquei meus fones de ouvidos, meu celular e minhas chaves no bolso, e sai de casa. Fiquei no ponto esperando o ônibus. Quando ele chegou, estava completamente vazio, porém, não por muito tempo. Sentei no fundão, no canto esquerdo, abri a janela e deixei que o vento batesse em minha cara.

Logo no segundo ponto, vários adolescentes vestidos com a mesma camisa que eu entrou no ônibus, eu não conhecia ninguém e se conhecia... eu não prestei atenção. Eu nunca prestava atenção em nada.

Logo no segundo ponto, entrou Suzy e Estefane, Suzy me deu um sorriso tímido e Estefane deu um tchauzinho, sorri de volta, um sorriso fraco, vazio, só pra não deixa-las no vácuo. Fiquei ouvindo musica, e, chegando na escola, subi as escadas vagarosamente. Sim, tinha um elevador, mas boatos diziam que ele quebrou por causa do peso do vice-diretor... Enfim, ainda era muito cedo, 7:00 mais ou menos, então não havia muitas pessoas na minha sala, dois ou três no máximo. Coloquei minha mochila na cadeira e fiquei na janela ouvindo musica, mal percebi o tempo passando e a sala enchendo, Jessica chegou de repente.

—Bom dia, Lu. - disse ela alegremente, sorrindo mostrando todos os dentes.

—Bom dia, Jessica. - disse eu na minha monotonia.

Eu não precisava dizer nada, Jessica falava muito e não precisava de ajuda pra conversar, eu só precisava fazer os meus ''aham'' e os ''e o que aconteceu?'' e continuava. Eu gostava disso, ela me distraia. Então, olhando pra rua, eu o vi. Junior. Ele estava esperando o sinal fechar pra poder atravessar, ele passou a mão no cabelo pra ajeita-lo, seu cabelo tinha mexas de um vermelho vivo, mesmo assim, caia bem nele. Ele ia de short pra escola, e deixava ele fofo.

—Ó seu namorado ali ó. - disse Jessica, me fazendo tomar um susto. -Ele é gostoso, pena que é viado.

Eu odiava isso em Jessica, ela tinha um preconceito com os gays. Eu nunca fui gay, mas eu não gostava de qualquer tipo de preconceito ou racismo, somos todos humanos, independente do que fosse; raça, religião, orientação sexual, nacionalidade, todos somos humanos. Eu achava preconceito ridículo, e no meu primeiro dia de aula, eu tive uma pequena discussão com ela.

Eu não respondi nada, fiquei com medo de ela ter percebido de que eu tava olhando pra ele. Sentir algo revirar no meu estômago, e não era o macarrão com carne moída do dia anterior. Eu estava pensando em várias coisas. ''Por que eu não aceitei ficar com ele?'' - ''ora, Lucas, você não gosta de homens.'' respondi para mim mesmo. Mas só passava em minha cabeça que eu deveria ter aceitado.

Bem, agora era tarde pra isso...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!