O mundo secreto de Velsea escrita por Little Alice


Capítulo 2
Um passeio pela fronteira


Notas iniciais do capítulo

A fanfic será postada a cada dois ou três dias, não precisam ficar preocupados. Espero que gostem desse capítulo novo.



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Podia escutar pequenos murmurinhos vindos próximos de mim, seriam estas vozes de pessoas que estavam mortas? Era difícil entender o que falavam com minha cabeça doendo daquela forma, eu tinha a ligeira sensação de que havia batido em algo realmente duro antes do portal me sugar por completo. Temia abrir os olhos, de certa forma porque tinha medo de ter ido para algum lugar realmente horrível e assustar, e também, sentia que estava sendo observada por algo ou alguém que eu não sabia se tentaria me ferir. “Que bobagem Kelly, você morreu, porque te machucariam?” pensei comigo enquanto criava coragem para finalmente abrir os olhos lentamente. —Hey! Ela acordou. – A voz mais próximo parecia estar estasiada de satisfação. —Você está bem querida? Ficamos preocupados ao encontrá-la desacordada. – Pude enxergar um rosto indistinto me olhando. Minha vista estava meio embaçada, fato que não colaborava em nada para que o pânico em meu coração desaparecesse. Balancei a cabeça algumas vezes enquanto tentava me sentar.

Uma mulher de meia idade me olhava com curiosidade e legitima preocupação. Estávamos em uma espécie de “casa” em formato oval lotada de objetos feitos de madeira, muitos que nunca havia sequer imaginado que existiam. Mais a frente, uma garota com seus quinze anos e meio cozinhava algo em um fogão improvisado. “Eu fui sugada para o portal, eu não devia ter morrido?” tentei me lembrar de tudo que tinha acontecido. —Onde eu estou? E minha mãe? A senhora viu o Theodor? – Pisquei com força me sentando no colchão improvisado. —Tinha um portal azul e… Tudo ficou escuro, agora estou aqui. – Podia sentir meu coração palpitar de forma irregular, estava longe de minha mãe, ela sempre sabia o que fazer, eu não queria ficar sozinha, sempre tinha sido ruim em decidir por mim mesma. A mulher ao meu lado levantou-se ainda me lançando um olhar cheio de pesar e caminhou próximo de sua filha, ao menos julgava ser.

—Nós também fomos arrastadas pelo portal misterioso, todos nós. Acordamos em um mundo totalmente diferente da realidade, simplesmente ninguém sabe explicar o que aconteceu. Alguns jovens têm buscado a verdade a todo custo. – Um suspiro longo e pesado encheu o recinto. —Muitos não retornam. Tudo que sabemos, é que fomos levados para Velsea. – Observei-a dirigir-se a garota no fogão e encher uma caneca com o líquido e me entregando em seguida. Segurei a caneca com certa desconfiança, se não estava morta significava que ela poderia tentar fazê-lo. “Qual é, ela teve todo o tempo do mundo para matá-la enquanto dormia”, a vozinha em minha cabeça começou a gritar. —Pode tomar, é chá. – A garota murmurou enquanto se aproximava de nós.

—Meu nome é Caroline, sei o que sente, cheguei aqui a um mês. – Ela parecia meio aturdida. —Perdi toda minha família, meus amigos, devo ter sido dada como morta e nem sequer consegui dizer aos meus pais que eu os amava. – Aquele assunto parecia ser difícil para ela, como se uma tonelada de arrependimento tivesse caído sobre sua cabeça ao ser mandada para cá. —Tenho reconstruído minha vida, mas tomamos cuidado para não cruzar a fronteira, ouvi dizer que existem criaturas terríveis que devoram todos que encontram. – A garota estremeceu e lançou um olhar para a velha. —Logo Samuel vai chegar, não duvido nada que ele tenha ido caçar na floresta ao fim das fronteiras, ele sempre quis conhecer os segredos desse lugar. – Sua expressão irritada mostrou que aquilo acontecia com uma grande frequência e não agradavam a jovem por momento algum.

– Monstros? Vocês encontraram monstros? – Arqueei a sobrancelha duvidando temporariamente da sanidade de ambas. Que loucura, monstros não existiam, nem mesmo em um lugar como aqueles. Qual seria o sentido disso tudo? —Olha garota, estamos falando sério sobre monstros, posso pedir ao Samuel para levá-la até a fronteira, tenho certeza que você vai mudar de ideia. – Caroline balançou as madeixas castanho-claro. Não havia vacilo em sua expressão, ela parecia estar de fato sendo tão sincera que cogitei a ideia de monstros poderiam supostamente existir, entretanto, desejava do fundo do meu coração ir até a tal fronteira conferir, temia ser enganada por ela ou por outras pessoas, ninguém podia realmente me garantir que aquele lugar de fato existia, talvez eu estivesse apenas dormindo após a noitada que tinha tido ao lado de Theodor. Talvez eu tivesse batido a cabeça com força demasiada e ficado inconsciente o suficiente para que tivesse que ficar em coma temporário. Aquilo tudo não me parecia ser real, não podia ser.

—Olhem só o que eu consegui! – Uma voz masculina me fez sobressaltar. Um garoto bonitinho acabara de adentrar a porta segurando uma criatura esquisita e abatida. —Samuel! Você foi para além das fronteiras de novo? – Caroline parecia aliviada em vê-lo e ao mesmo tempo brava a ponto de querer agredi-lo. —Eu estou bem mana, não precisa se preocupar. – Senti seu olhar deveras nervoso em minha direção, como se eu não devesse estar lá. Abri a boca algumas vezes para responder, mas a verdade é que não sabia porque estava ali. Devia ter sido levada enquanto estava desacordada, mas porque? Talvez quisessem me ajudar ou talvez tentassem me machucar a qualquer momento, algo que já estava praticamente descartado da possibilidade.

—Ela apareceu ontem de noite, imagino que tenha sido trazida pelo portal também, decidimos ajudá-la. – A Mulher de meia idade respondeu enquanto andava até a porta. —A mocinha aqui está interessada em ver os tais monstros, gostaria de levá-la? – O rapaz pareceu pensar seriamente se devia fazê-lo. —Outra incrédula? Acho que ela vai gostar de ver as belezinhas que vivem por aqui. – Sua risada me deu calafrio, algo em seu timbre me deixou claro de que ele não estava brincando, aquilo fugia completamente de meu controle, algo me dizia que, se eu não fosse esperta o bastante, acabaria morta por ai.

Mordi o lábio inferior ao levantar-me, sabia que nada de bom aconteceria em nossa simples viagem, pelo contrário, temia que o lugar onde teria de viver fosse assustador demais para que eu tivesse coragem de sair. —Existe um boato de que ao final do planeta, existe uma passagem para o mundo real. – Ouvi Samuel dizer enquanto fazia sinal para que eu o seguisse. Caminhei até a porta com um terror iminente, talvez o planeta não fosse tão bonito quanto a terra, ou pior, talvez se parecesse com o inferno ou meu pior pesadelo. Tapei os olhos pouco antes de chegar a porta e parei abruptamente com medo de olhar adianta, temia mais do que qualquer coisa viver em um mundo assustador, onde tivesse que fugir de tudo ao meu redor. Minha respiração começava a ficar irregular quando senti alguém me puxar. De súbito abri os olhos visando não cair de cara no chão, minha surpresa ao ver o local deve ter ficado estampada em meu rosto.

Sentia-me como em um sonho, a grama era tão verde que imaginei ser feita de cristais, a brisa morna que passava vez ou outra por meu rosto deixava-me a sensação de um acampamento que tinha participado quando menor. O céu não era azul, um roxo claro tomava conta de toda a imensidão como se fosse completamente natural ser daquela cor. As árvores não pareciam ser iguais ao mundo real, pelo contrário, suas cores e formas deixavam o mundo totalmente fantasioso, me sentia praticamente em um mundo de videogame. —Ai meu Deus, como esse lugar é incrível! – Soei extasiada dando vários passos para fora da casa e apreciando a bela colina. Algumas pessoas que caminhavam pelo local até pareciam um pouco curiosas com minha reação, como se a maioria odiasse viver ali.

—Vem logo, tenho que voltar ao trabalho daqui a pouco. – A voz de Samuel me despertou. Corri até onde o garoto estava tentando não parecer maluca demais para ele ou para quem me observava. Passamos por algumas pequenas vilas com casas em sua maioria redondas, como se fossem ocas. Muitos rostos dali tinham sido estampados em revistas e jornais na categoria de desaparecidos. Era para lá que eramos mandados quando o misterioso portal surgia, de certa forma, era um alívio não estar morta, e ao mesmo tempo, desejava que minha família também pudesse estar comigo. —Faça silêncio agora, estamos perto da fronteira. – Ouvi Samuel sussurrar ao meu lado. Estava deveras ansiosa para o que encontraria, talvez ele realmente provasse que monstros existiam, ou talvez fossem apenas um bando de gente maluca.

Toda aquela ausência de barulho deixavam-me aflita, tinha a sensação de estar em um daqueles filmes de suspense em que a mocinha é cruelmente assassinada após ir na direção do monstro sem saber, e naquele momento, eu simplesmente sentia que um passo em falso custaria minha vida inteira. Um ruido vindo de um arbusto fez meu coração ameaçar saltar pela boca, tinha algo ali e eu não queria descobrir o que era. O arbusto continuou se mexendo, enquanto eu cutucava Samuel tentando avisá-lo. Ele parecia focado demais no que tinha depois de algumas árvores e nem sequer notou. Uma criatura pulou de trás do arbusto fazendo-me gritar como uma criança. Dei vários passos para trás e fechei os olhos enquanto a risada do garoto ao meu lado preenchia o ar. —É só o Flup, ele não vai machucá-la. – Meu rosto esquentou com tais palavras e eu voltei a abrir os olhos. Era difícil dizer com o que ele se parecia, lembrava-me um coala pequeno e azul, com olhos gigantescos, não parecia ser realmente perigoso, mas, mesmo assim, ao vê-lo se aproximar de mim, engoli em seco.

Senti seu focinho gelado encostar em minha perna como se estivesse identificando meu cheiro, assim como os cachorros fazem e em seguida, o senti abraçar minha perna. —É, ele gostou de você, quero ver você tirá-lo dai. – Fiz uma careta ao perceber que ele tinha razão. O pequeno bichinho parecia ter grudado em mim com super-bonder, nem mesmo puxá-lo para lá e para cá o fazia se mexer e me largar. —Droga Flup, não posso ficar o dia inteiro nisso. – Resmunguei. —Eu quero ir pra casa, mas se não me largar não vou conseguir me mexer! – Revirei os olhos notando que não seria nada fácil me livrar dele.

As mãos de Samuel foram em direção a minha boca fazendo com que me calasse no mesmo instante, alguma criatura se arrastava bem perto de onde estávamos. Com pavor, olhei em todas as direções sem conseguir ver absolutamente nada. Fui puxada para o mesmo arbusto onde Flup tinha se escondido. A respiração ficava descompassada a medida que o barulho aumentava, começava a ver uma sombra vagando em direção a onde estávamos. Uma criatura extremamente magra e negra surgiu, uma espécie de névoa a seguia conforme o bicho se movimentava. Em sua mão, uma espécie de machado parecia estar extremamente afiado. Olhei preocupada para Samuel que apenas observava o monstro com um brilho esquisito nos olhos. —O- o Q-que é i-ss-sso? – Gaguejei o mais baixo que pude. O garoto voltou seu olhar para mim assim que o monstro começou a se afastar. -É um dos sem-almas.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, não deixem de mandar comentários ou acompanharem a fic, apesar de gostar de escrever, não vivo apenas de pão e água e o comentário e aprovação de vocês é de extrema importância.



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