Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 4
A Resistência


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora pessoal, teve muitos empecilhos para escrever este capítulo mas finalmente saiu!
Boa leitura!



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Din Don

Ellen acordou com um som estranho, não aquele das moças do orfanato batendo na velha porta de madeira.

Din Don

É... Uma campainha???

Ellen se sentou meio grogue. Primeiro se perguntou onde estava para depois se lembrar do que havia acontecido noite passada. Uma história louca.

– Ellen? Acorde e vista-se! Aterrissaremos em menos de dez minutos!

Era a voz de Ayuna. Ellen se levantou, se trocou e subiu até o segundo andar, onde os outros estavam na cabine do piloto.

– Bem vinda a Resistência!

Disse Felipe. Num momento ela estranhou e achou que fosse uma brincadeira. Não tinha nada lá, só árvores de uma floresta temperada e algumas clareiras. Foi quando a imagem toda tremeu e ela pode ver, onde antes tinham clareiras, edifícios modernos. Os prédios eram envidraçados, baixos porém compridos, com não mais de quatro andares, todos com largos corredores conectando os edifícios entre si, distribuídos entre as árvores numa grande área. Em alguns dos prédios havia uma parte um pouco mais alta, como uma torre de vigia. Ellen estava maravilhada e para a sua surpresa, eles passaram o conjunto de prédios e seguiram em frente.

– Mas, não... A Resistência não fica lá atrás?

Tavo riu.

– Não pensava que iriamos estacionar a Volans entre os prédios e as árvores não é? Temos uma pista!

E logo a frente ela pôde ver a pista iluminada. Ele estacionou o Carro Aéreo e o manobrou ao lado de mais dois Carros Aéreos.

– Pronto! Podem sair!

A rampa desceu e todos saíram e se dirigiram a um comprido corredor que conectava a pista aos prédios. Liang colocou a senha touch e passou o cartão na placa ao lado da porta, que se abriu. O corredor era largo e comprido, envidraçado meio opaco.

– Tecnologia de ponta. As paredes são feitas de vidro blindado e reforçado e tem a característica de se tornar opacos como uma parede ou claros como vidro, prático para proteção e disfarce.

Comentou Tavo, com brilho nos olhos. Eles atravessaram o corredor, falando sobre a Resistência e como funcionava.

– Bem, agora as pessoas já devem estar em seus quartos porém Celiny deve estar acordada. O horário de ir para o quarto são as dez da noite e as luzes são desligadas as dez e quinze, porém os chefões ficam acordados até mais tarde, sabe como é, coisas para administrar e blá blá blá.

Disse Felipe. Ao chegarem no prédio havia dois caminhos, pela esquerda e pela direita.

– É melhor você falar com Celiny, eu te levo até lá. Os dormitórios ficam a direita, Celiny te mostrará o caminho. – Disse Ayuna.

– Tchau... Desculpa, acho que você não falou seu nome. – Disse Felipe.

– É Ellen. Ellen Henrich.

– Tchau Ellen.

Liang movimentou a cabeça num cumprimento e Tavo deu um alegra “Tchau” e se foram. As duas seguiram a esquerda por um longo corredor, com várias portas. Depois elas subiram uma escada, atravessaram um corredor e pararam em uma porta dupla com uma placa ao lado: “Sala de reunião – Somente pessoal autorizado”. Ellen estava começando a perceber quão organizado tudo aquilo era. Ayuna bateu na porta. Alguns segundos depois a placa ao lado da porta piscou, e uma voz soou do aparelho: “Quem é? Apresente-se por favor”

– Sou eu, Ayuna. Estou trazendo a novata.

A porta emitiu um clique e se abriu levemente. Ellen permaneceu parada.

– Vamos, entre. Pode entrar. Eu fico por aqui, vou deixá-la em boas mãos.

Ellen segurou a maçaneta e se virou.

– Obrigada.

Ayuna deu uma piscadela.

– Não há de que.

E saiu andando. Ellen suspirou e entrou. A sala era grande, com uma longa mesa ao centro. Havia umas cinco pessoas em volta da mesa, que tinha um holograma touch flutuando acima. Todas as cabeças viraram para ela e Ellen sentiu como se tivesse atrapalhado algo, mesmo que a porta havia se aberto.

– Ham... – Começou. – Me disseram para falar com Celiny.

Uma moça ao centro da mesa se levantou com calma. Ela tinha cabelos loiros lisos, presos com um lápis e amáveis olhos verdes. Usava um jaleco branco de cientista.

– Pois não. – Ela sorriu, passando conforto. Celiny caminhou até Ellen. – Qual seu nome, querida?

– Sou Ellen Henrich.

– Muito prazer, Ellen. Tenho certeza que está procurando por respostas, tudo será explicado. Com licença, senhores.

Celiny fechou a porta trás delas.

– Bem, acho melhor me apresentar. Sou Celiny Beaumont, fundadora da Resistência. Os seus companheiros já devem ter te explicado a função da Resistência, não é?

Elas caminhavam pelos corredores e Ellen olhava através das paredes de vidros, que dava para a clareira onde ficava a Resistência. Deviam ter a mesma tecnologia que os corredores, concluiu ela.

– Sim. Vocês resgatam mutantes.

– Exatamente. Sabe, Ellen. – Ela virou-se para Celiny. – Eu trabalhava no governo, era cientista de pesquisas governamentais e de ONGs. Porém, numa reunião do conselho eu fiquei sabendo da nova ideia do governo: A busca e exterminação de mutantes. Consideravam os mutantes perigosos para a humanidade e mandaram exterminar a todos, secretamente, é claro. E eu não podia concordar com isso, então fugi. Uns amigos meus contra essa ideia me ajudaram e junto com eles construí a Resistência. Temos como missão o resgate e proteção de jovens mutantes e ensinar a eles como controlar suas mutações.

“Fomos reunindo mutantes e com ajuda das mutações, esse processo está muito mais rápido. O Tavo, por exemplo, tem a mutação de sentir e localizar mutantes, além de ser um ótimo piloto. Por isso ele participa da maioria dos resgates. Os outros são mutantes já bem treinados, com controle suficiente sobre suas mutações para ajudar no resgate, a Ayuna está num alto nível de controle sobre sua mutação e é ótima em combate corpo a corpo. Fazia ginástica na escola, quando criança, foi o que me disse. Sabia que Liang é trigêmeo? Suas duas irmãs tem a mesma mutação de invisibilidade. Eles revezam para camuflar nossa Resistência. Felipe também é importante nas missões, contra armas de fogo, pois são feitas de metal e sua mutação habilita o controle sobre alguns metais magnéticos. Está vendo, senhorita Henrich? Como as mutações são uma nova evolução do ser humano e pode trazer grandes vantagens ao mundo? É fantástico.”

Ellen olhou pra Celiny e notou como seus olhos brilhavam ao falar disso. Era algo que ela realmente amava.

– Mas porquê? Por que você defende tanto os mutantes? Você é mutante?

– Eu? Sou sim. Minha mutação me permite ter uma inteligência acima da média. Por isso fiz parte de grandes pesquisas, a cura de doenças, por exemplo. Ciência é minha paixão.

– Então você é super inteligente?

Celiny riu.

– Simplificando, sim. Sou super inteligente.

Elas pararam por um momento, olhando a clareira no escuro da noite.

– Bem, Ellen, é importante você saber que aqui nós trabalhamos. Temos um cronograma. Todo dia os campistas devem ir para o quarto as 22:00 e as luzes apagam 22:15, por isso tudo está apagado e os jovens já estão nas camas. O horário de despertar é 7:10. O acampamento da Resistência, ou só acampamento, é dividido em três séries com horários diferentes. Você será colocada na Série C. Criamos as séries pois a quantidade de mutantes está muito grande e não há como colocar todos os campistas numa só atividade. Sua aula de controle de mutação é individual, pois há diferentes mutações e diferentes níveis de controle sobre ela. As atividades variam entre aulas normais e didáticas, já que muitos mutantes que temos aqui são jovens e precisam de estudo, à luta corpo a corpo para defesa, uso de armas, de fogo ou não, e outras atividades de sobrevivência. Você receberá o seu cronograma daqui a pouco, quando se instalar no seu dormitório. Agora, os edifícios.

Elas se aproximaram das paredes espelhadas. Celiny apontou para o edifício do lado oposto:

– Aquele é o edifício dos dormitórios. É onde você dormirá. É dividida em duas Alas, a Oeste e a Leste, uma para os dormitórios femininos e a outra para os dormitórios masculinos, respectivamente. Os quartos têm a numeração 1A Oeste e 1A Leste, dependendo da sua série. Também é edifício de lazer. É onde tem os jogos e um mini cinema.

Celiny apontou para o edifício menor ao lado, conectado por um corredor largo.

– Aquele é o restaurante. No térreo é onde ocorre as refeições e acima é a lavanderia. Tem um dia específico para lavar as roupas e não se preocupe, temos gente trabalhando para preparar as comidas e lavar as roupas de cama e arrumar os quartos, mas sempre esperamos que tenham um pouco de organização. E, ah! Nesse mesmo edifício temos uma fábrica de roupas, nós vendemos para nos sustentar e para dar aos campistas. Resgatamos muitas crianças em situações deploráveis que precisavam de novas roupas, então é bem prático. Você pode conseguir algumas se quiser.

Celiny seguiu apontando para os edifícios, todos conectados por corredores fechados. O próximo prédio era das salas de aulas e todos os estudantes tinham um segundo cronograma de estudo durante a manhã. Depois desse prédio tinha o longo corredor que Ellen havia atravessado para chegar do estacionamento aos prédios. O edifício depois desse era o de atividades físicas, lutas e treino de armas. E após este era o prédio da coordenação, onde elas estavam, onde ficava o controle do acampamento, das câmeras, a sala de reuniões, e a biblioteca, um andar a baixo.

Celiny dirigiu Ellen até o terréo, onde atravessaram um longo corredor que conectava o edifício da coordenação com os dormitórios. O térreo era a sala de jogos e nos andares acima era os dormitórios. Cada dormitório tinha seu próprio banheiro, que deviam ser “minimamente limpos”, nas palavras de Celiny. As duas pararam na frente da porta 24 C Oeste. Celiny tocou a campainha. Alguns minutos depois a porta se abriu e apareceu uma menina com cabelo parecendo uma juba de cachos encaracolados e bagunçados e olhos caídos de sonos. Ellen notou, pela luz fraca do corredor que ela tinha os cabelos levemente azulados, mas era difícil ter certeza a noite.

– Ellen, esta será sua companheira de quarto, Marlene. Marly, esta é Ellen Henrich. Ela chegou hoje.

A menina balançou a mão num cumprimento, fungando levemente, com sono.

– Tenho certeza que vocês vão se dar bem. Ellen, seu cronograma estará na Placa Pad ao lado de sua cama de manhã. Alguma outra pergunta?

Ellen balançou a cabeça, negando.

– Ótimo. Seja bem vinda.

Celiny deu um último sorriso amável e se retirou. Com um bocejo Marly convidou Ellen para entrar e ligou a luz do quarto. Foi aí que Ellen percebeu o cabelo realmente azul de Marly.

– Sou Marlene Culler, mas todos me chamam de Marly, prazer. - Disse Marly, o sono se dissipando.

– Sou Ellen Henrich.

Elas chacoalharam as mãos. Marly sentou na cama aberta e bagunçada dela. O quarto era de um bom tamanho, as camas separadas por uma escrivaninha com duas cadeiras. Ellen sentou na borda da sua cama. Elas ficaram um momento olhando uma para a outra. Ellen notou os olhos azuis profundos de Marly e como ela era magrinha.

– Então... Que bom que você chegou hoje, é solitário não ter uma companheira de quarto.

Disse Marly, tentando começar uma conversa.

– Qual sua idade?

– Tenho 16. E você?

– 14.

Ellen se surpreendeu mas não deixou transparecer. Ela era alta para sua idade.

– E sua mutação?

– Não sei. Algo com eletricidade.

– Nunca experimentou né? Sei como é. Eu consigo animar objetos.

– Ah é?

Marly concordou e olhou fixamente para o abajur que, surpreendentemente, começou a se mexer. O abajur ambulante saltou para a cama e pareceu olhar de Marly para Ellen, de Ellen para Marly e depois saltou para o colo de Ellen, se aninhando em seu colo, como um bichinho. Ellen sorriu de cantinho, olhando o abajur, que procurava uma posição confortável em seu colo. Ellen levantou os olhos para Marly e viu que ela sorria também. Foi aí que Ellen notou que estava na frente de alguém que poderia se tornar uma grande amiga.

– Desculpa, deve estar cansada. Normalmente temos uma chegada turbulenta. Eu sei como é.

Marly levantou a mão e o abajur saltou. Ellen ficou um pouco decepcionada de perder o pequeno abajur. Marly o envolveu na mão e ele se tornou inanimado novamente.

– Tem um pijama no armário, para os recém chegados.

– Obrigada.

Ellen colocou um pijama que tinha no armário e se deitou.

– Boa noite. – Disse Marly.

– Boa noite. – Respondeu Ellen, uma estranha paz se alojando no fundo do coração.


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Notas finais do capítulo

Vão começar a aparecer os personagens interativos!
Espero que gostem!
Beijos especiais a Lyra Roth!



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