Magnésio 12 escrita por Evelyn Waldrich


Capítulo 2
A Garota das Veias Azuis


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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– Ô Henrich, tá com febre ou o que??? Não tá vendo que está o maior calor???

Gargalhadas soaram.

– Hahahahah, garota estranha!

Ela ignorou e seguiu em frente. E não estava tão calor assim. Dava para ficar com cachecol... Por mais que ela suasse um pouco. Ela entrou na biblioteca vazia, com exceção de duas pessoas estudando para uma prova que haviam se esquecido e era naquele dia. Ela seguiu em direção a uma prateleira e deixou o livro com a mão enluvada. Uma luva sem dedos, muito prática e que escondia o que devia esconder. Ela tocou a lombada dos livros de leve e puxou um bem gasto e velho. Ela sentiu olhares em sua nuca mas ignorou. Jah estava acostumada. Seguiu em direção a bancada.

– Boa tarde, Ellen. – Disse a senhora do outro lado do balcão, alegre.

– Boa tarde, senhora Josepht.

– Mas para que tanta roupa querida? Está uma tarde de primavera tão bela!

Exclamou a senhora, enquanto passava o código do livro.

– Não combina com meu animo. – Sussurrou Ellen, mais para si mesma.

– Ah, querida, ao menos tire o cachecol de cima do nariz! Não está tão frio! E você tem um rosto tão lindo!

Ellen hesitou e depois lentamente levantou a mão, puxando o cachecol. Foi rápido e quase imperceptível mas Ellen percebeu a surpresa no olhar da bibliotecária. O mesmo olhar que as pessoas fazem para uma criança deficiente. E tão rápido como veio, se foi, sendo substituído por um sorriso.

– Viu? Assim está bem melhor! Aqui está seu livro. Obrigada, querida. Vai com Deus.

Ellen saiu da biblioteca e foi andando para a sala. O recreio havia acabado e todos já tinham ido para os prédios. Uma leve garoa havia começado a cair. No caminho ela olhou numa das janelas e se viu refletida, a mesma imagem que fugia no dia a dia, a menina com as finas veias azuis abaixo do olho esquerdo, cortando toda a bochecha. Ela virou o rosto e recolocou o cachecol. Se ao menos fosse apenas no rosto...

O dia passou como outro qualquer. Monótono, chuvoso e melancólico. No final da aula, enquanto todos os colegas saíam conversando alegres, Ellen Henrich saiu sozinha e se dirigiu a saída de pedestres, onde iria esperar Madame Berenice, a senhora do orfanato que a abrigava. Madame Berenice contou a ela que quando ela tinha apenas alguns meses ela fora deixada na porta do orfanato, embrulhada em um manto e numa caixa de papelão. Afinal, quem gostaria de ter uma criança marcada como ela? Uma... aberração. Ellen sentou-se no chão com seu livro. A maioria das crianças haviam ido embora com seus pais mas ela sentiu o olhar recair sobre ela. Levantou os olhos e olhou de um lado a outro até fixar os olhos numa guarda que a encarava. Quando viu que a menina a olhava desviou o olhar. Era sempre assim.

Madame Berenice demorava para pegá-la na escola, pois havia que cuidar do orfanato; por isso Ellen esperava uma hora ou mais até que Madame Berenice aparecesse. Ellen fechou o livro e foi até o banheiro, apenas as luzes para lhe fazer companhia. Parou na frente do espelho e baixou o cachecol. Olhou-se: uma garota séria retribuía o olhar. Tinha olhos cor de mel e cabelos cor caramelo claro, uma pele clara com uma leve cor dourada. Seria considerada bela se não fosse pelas veias: várias veias finas e azuis cruzavam-lhe a bochecha esquerda, começavam logo abaixo dos olhos e afinavam na mandíbula. Ela tocou a bochecha com as pontas dos dedos, seguindo o desenho das veias. Depois, sem pressa, tirou as luvas. Nas mãos também haviam veias, e no antebraço também. Ellen ligou a torneira e encheu a mão de água, molhando o rosto. Lavou as mãos, secou-se e repôs as luvas.

Saiu do banheiro distraída e a sua natureza, que a fez ficar tão acostumada com os olhares, não notou aqueles. Na saída do banheiro, ela foi agarrada com violência, sua boca tapada, os braços torcidos nas costas. Ela tentou se desvencilhar mas as mãos que a seguravam eram fortes. Ela sentiu algo metálico gelado tocar sua têmpora, fazendo-a congelar. Uma voz foi sussurrada em seu ouvido, seguida com um forte bafo de alho:

– Você vai fazer o que eu mandar, vai andar para onde eu te mandar e quando eu mandar. Se não fizer exatamente isso, eu estouro seus miolos. Um movimento brusco e você ganhará um tiro na nuca. Você entendeu?

Ellen concordou lentamente com a cabeça.

–Ótimo. Agora vou te soltar e você não vai se mexer a menos que eu te mandar, ok?

E lentamente o homem desconhecido soltou Ellen, que respirava pesadamente. Seus braços permaneciam nas costas e ela sentiu algo metálico tocar seus pulsos. Uma algema.

– Agora vire-se e caminhe até o subsolo. Se tentar alguma gracinha, estouramos teus miolos.

Ellen fez o que mandaram e ao fazer isso viu quem era seu sequestrador. Ou melhor, seus sequestradores. Eram cinco homens, todos vestidos com roupas parecidas com as do exército porém com o símbolo do governo costurado na roupa. O primeiro segurava uma pistola prateada, a mesma que a havia ameaçado, e todos estavam armados. Tinham olhos frios e inescrupulosos.

– E então? Ande!

Ellen fez o que lhe mandavam, andando lentamente. Ela sentia a ponta da arma apontada pra sua nuca. Tinha que fazer alguma coisa, mas o que? O que podia fazer contra três homens armados do exército? Afinal, porque estavam sequestrando-a como se fosse uma criminosa? Simplesmente não fazia sentido. Simplesmente nã....

Seus pensamentos foram interrompidos por um som de tiro. Seu primeiro pensamento foi que estava morta, que haviam atirado. Mas não. Logo depois uma luta havia começado. Os cinco soldados atiravam e se defendiam como podiam dos novos atacantes. Por um momento Ellen parou, olhando a cena estupefata. Os novos atacantes eram somente jovens, trajando uniformes pretos. Ellen sabia que estava vendo só não entendia o que. Um primeiro jovem, de cabelos verdes, com um simples movimento de mão tirou as armas dos soldados. Uma segunda, lutava com agilidade, dando chutes e socos certeiros, sempre aparecendo um escudo vermelho envolta do punho. Um terceiro, aparecia e desparecia de repente, lutando com uma adaga. Num momento este último parou e olhou-a:

– O que está esperando?? Corra!!!

Ellen desatou a correr. Ela sentiu um tiro de bala passar a centímetros dela, por pouco errando seu alvo. Ela olhou para trás, sem parar de correr: Um dos soldados havia recuperado a arma e estava no chão, atirando em sua direção. Mais tiros. Ela berrou de horror. No primeiro corredor que viu ela virou, olhando para se certificar que não havia como atirar nela daquele ângulo quando ela bateu em algo, caindo para trás, em cima das mãos algemadas, sentiu uma dor terrível no pulso, gritando de dor.

No segundo seguinte ela estava sendo arrastada rudemente por mãos fortes de volta a batalha, uma faca posicionada no pescoço.

– Chega!!!

Gritou o homem que a segurava. Era o mesmo homem que a havia ameaçado com a pistola, provavelmente o líder. Todos pararam e olharam para o homem com a faca na menina.

– Parem com isso e larguem as armas se não quiserem que ela morra aqui e agora.

Os jovens pararam mas permaneceram com as armas.

– Eu disse... Larguem as armas.

Ellen sentiu a arma enfiar alguns centímetros na pele, um grosso fio de sangue escorrendo pelo pescoço. Os jovens não se moveram, fazendo com que o homem enfiasse a arma ainda mais em seu pescoço. Ellen sufocava.

Não... Não... Eu não posso morrer assim... Não aqui... Não agora...

Ela sentia. Aquela queimação nas veias, aquele sentimento por muito tempo não sentido mas facilmente reconhecido.

Não... Não agora... Não...

O homem sorriu com deleite.

– Muito bem.

O homem afastou a faca e deu o impulso para enfiar a faca...

Não... NÃO!

Naquele momento a terra tremeu com um trovão. As veias brilharam e o raio caiu sobre todos. Houve uma explosão e a eletricidade tomou conta do local. Corpos voaram, cabelos queimaram. O homem caiu eletrocutado e o cheiro de carne queimada encheu o lugar. As luzes se apagaram.


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