"Quem lamentaas suas perdas,

olha para os seus próprios pés.

E quem olha para os seus pés,

acha que o mundo é do tamanho dos seus passos."

- Augustus Cury.

Alguns dizem que foi por causa da neve, e talvez tenha sido. Na verdade eu não sei, só lembro-me de gritos.

Tudo começou em um típico dia de inverno em Greenwich, faltavam doze dias para o natal e eu havia vindo passar o feriado com a minha família na Inglaterra.

Eu estava cursando o primeiro ano na faculdade de medicina em Yale no EUA.

Tudo era perfeito, até o dia 14 de dezembro.

Depois daquele dia as coisas nunca mais foram às mesmas.

Todos os dias eu olhava para sua cama e eu a via. Vivia pensando se eu tivesse morrido eu não estaria passando por isso, toda essa dor, tudo teria desaparecido.

Lembro-me de todos os detalhes daquele dia, foi terrível.

Lembro-me de como fazíamos brincadeiras jogando comida uns nos outros e papai reclamando das tirinhas do jornal, falando como elas eram um bosta e logo mamãe o repreendendo por falar um palavrão na nossa frente, e também me lembro de como eu e April riamos enquanto eles faziam suas discussões bobas.

April Lancaster, minha irmã gêmea completamente diferente. Tínhamos os mesmos cabelos e éramos completamente iguais, a não ser pelos olhos. Ela tinha olhos castanhos e eu olhos verdes.

Mas não era só isso, enquanto ela era April Lancaster, a garota popular, capitã das lideres de torcida eu era Violet Lancaster. A garota nerd, excluída e zombada pela escola inteira.

Éramos completamente diferentes.

Lembro-me também da nossa ultima conversa. Tudo ainda era muito tenso depois que ela começou a namorar Daniel, meu melhor amigo.

- Você sabe o que quer de natal? – Ela me perguntou.

- Achei que presentes de natal fosse surpresa – Falei tirando os olhos do meu livro e vi-a dar um sorriso sem graça.

Vi-a tirar um pacote e foi até minha frente.

- Esse é o meu presente de natal adiantado – Eu peguei o pacote pronto para abrir, mas ela não deixou.

-Não abra agora, só abra quando for o momento certo.

Olhei para o pacote e perguntei:

- Como vou saber que é o momento certo?- Perguntei confusa.

- Você saberá.

E fora isso, umas horas depois estávamos no carro indo para a morte.

A briga para escolher as musicas para escutar durante a viagem para a casa da vovó era completamente normal.

Enquanto eu queria Imagine Dragons, April queria Taylor Swift, mamãe queria musicas clássicas e papai queria que colocássemos no canal de esportes.

No final tivemos que escutar Bethoven.

Suspirei encostando a cabeça na janela fechando os olhos.

E então, gritos.