As palavras de Joffrey ecoam em seus ouvidos todas as noites. "Eu sou o seu pai, Katerina."

A verdade ainda a assombra. A sua vida havia mudado tanto de uns meses para cá e tudo parecia muito confuso. Ela ainda não havia se encontrado.

Depois da revelação de Joffrey, ela havia fugido do escritório e embarcou no avião particular que Francis havia disponibilizado para levá-los ao norte. Ele não perguntou nada e ela agradeceu por isso.

– Eu avisei Valentina que estávamos partido hoje - Josh quebra o silêncio. - Ela já recebeu os soldados que você enviou, Katerina, e agradeceu.

– E ela conseguiu abrigar todos eles? Haverá espaço para nós?

Sua voz saiu meio contida, quase como um soluço. Ela havia guardado todas as suas lágrimas para si. Decidiu que não iria mais chorar.

– Eles não terão um quarto só para si mesmos, é claro - Josh fala -, mas os alojamentos são grandes o bastante para abrigarem até cinco homens grandes e ela me disse que ficariam três em cada. Alguns dos nossos cederam seus quartos e optaram por dormir no alojamento de algum amigo.

– Então acho que devemos fazer o mesmo - ele se vira para ela. - O que você acha? - Katerina tenta segurar o riso, mas um som esquisito vaza da sua garganta.

Francis dá uma risada leve também e a abraça.

– Vai dar tudo certo a partir de agora - ele beijou o topo da cabeça dela. - Vamos vencer a guerra.

+++

O avião pousa algumas horas depois em um terreno vazio.

– Onde estamos? - Francis pergunta.

Josh dá um sorriso.

– Nós já chegamos.

– Isso é algum tipo de brincadeira? - ele pergunta novamente, irritado.

– Um abrigo para milhares de rebeldes chamaria atenção demais - Josh se ajoelhou em meio as gramíneas que cresciam no meio da terra e puxou uma corda com for çara trás, revelando um buraco escuro. - O abrigo é subterrâneo.

Katerina não conseguia ver nada lá embaixo. Estava escuro demais. Ela recuou.

– Eu desço primeiro - Josh bufou. - Há uma escada que nos leva até um lugar que chamamos de Sala Vaziae depois há um elevador que...

– Vocês tem um elevador debaixo da terra? - a ruiva pergunta, surpresa.

Ele sorri novamente.

– Pensei que Frömming fosse o país das tecnologias.

Josh desce primeiro, Katerina vai depois e Francis por terceiro. Os outros três seguranças que os acompanharam desceram depois.

– Você me disse que o seu irmão viria conosco - Katerina fala a Josh depois que todos estão na Sala Vazia.

– Andrew veio com os outros soldados.

– Quantos homens você mandou para cá? - Francis pergunta.

– Vinte mil.

Ele esbugalha os olhos azuis.

– De onde você tirou vinte mil soldados? - ele pergunta, chocado.

– Eu ainda era rainha - Katerina responde. - Eles não ouviram a revelação de Rebekah. Josh pediu a Valentina que não comentasse nada com ninguém.

– Foi o máximo que eu consegui arranjar de última hora - ela dá de ombros.

– Vinte mil será o bastante por enquanto - Josh fala.

Francis ainda está espantado quando os outros seguranças chegam a Sala Vazia. Josh anda até o elevador e o chama. Poucos segundos depois ele se abre e todos entram nele um pouco espremidos. Josh aperta o número três.

– Como vocês conseguem respirar lá embaixo? - Francis pergunta. - Digo, cinco andares subterrâneos nós conseguimos construir lá em Altulle, mas vejo que aqui há trinta andares - ele aponta para a parede do elevador cheia de números.

– Há uma tubulação especial e muito extensa - ele fala. - Os chefes dos Apátridas mais antigos gastaram uma grana preta para construir tudo. Demorou muito tempo e nós temos bem mais andares do que trinta, mas alguém pode descobrir, não é mesmo? Precisamos estar preparados para um ataque a qualquer momento.

– Incrível - Francis sussurra.

O elevador para, mas a porta não se abre. Onde antes estava o número cinco no visor do elevador, aparece a imagem deles, como um espelho.

– Identificação - uma voz feminina e mecânica diz.

– Joshua Zancheddu Duninghan - o loiro fala, se aproximando do visor.

– Identificação de digitais - a voz pede e a imagem dele some, aparecendo agora o desenho de uma mão.

Josh pressiona a sua palma lá e depois que alguns raios vermelhos escaneiam as suas digitais e o liberam, ele retira a palma de lá.

– Código - a voz pede pela terceira vez.

–Mesmo que a morte chegue, eu defenderei a honra do meu povo. Se tiver que morrer tentando, o véu cobrirá o meu corpo ensanguentado e eu partirei em paz - Josh fala com uma voz tão robótica quanto a da mulher. A porta do elevador desliza para a direita e libera a passagem deles. - É parte do nosso juramento para entrar para os Apátridas - ele conta. - Vocês são convidados e patrocinadores, então acho que não precisarão ser rebeldes para ficarem aqui. Vamos ver o que Valentina decide.

Katerina não ouve mais nada do que ele diz. Está tão envolvida com aquela beleza que não consegue sequer ouvir o que estão dizendo ao seu redor. Há um balcão onde há uma mulher-robô informando as pessoas dos horários, deveres e um homem-robô tira dúvidas, dá informações de localização, hora e etc. Há vários sofás brancos espalhados e pessoas estão sentadas mexendo em telas de vidro médias e pequenas, lendo livros ou revistas, conversando e rindo. Há várias televisões espalhadas dando informações de vários países, não só do continente Manske.

Ela viu pessoas passeando de jalecos, alguns de luvas sujas de alguma experiência que não foi bem sucedida, outros impecáveis, provavelmente médicos. Ela viu pessoas de terno caminhando para lá e para cá. Viu idosos, crianças, adultos e adolescentes. Viu também mulheres grávidas e olhando para cima, viu que o teto não era branco como na maioria dos lugares, mas sim era pintado da cor azul do céu e com nuvens desenhadas e até alguns raios de sol aparecem meio escondidos. Parece tudo tão real.

– Poucas pessoas saem do nosso abrigo - Josh conta. - Elas sentem falta, então Valentina deu a ideia de pintarem o teto para dar um ar de realidade.

As luzes claras davam a impressão de que o sol estava realmente entrando ali. É tudo tão bonito.

De repente uma mulher se concretiza em sua frente. Ela é uns bons centímetros mais alta do que ela, tem cabelos escuros e lisos na altura dos ombros e seus olhos são duas esferas negras. Sua pele é de um tom claro meio bronzeado e ela sente que conhece aquele nariz fino de algum lugar.

A mulher estende a mão para ela.

– Sou Valentina Hemingski, a chefe dos Apátridas.

– Katerina Archiberz - ela cumprimenta a mulher. - Ex-rainha de Frömming.

Ela vê a mulher séria esboçar um rápido sorriso.

– Sejam bem-vindos. Vocês podem ficar o tempo que desejarem.

Uma menina baixa de cabelos castanhos claros lisos e olhos azuis surge ao lado da mulher.

– Jasmine lhes mostrará os seus alojamentos - ela se vira para Katerina. - Com os vários soldados que abrigamos, já deve ser do seu conhecimento que as coisas estão um pouco apertadas. Espero que não se incomode de dividir o alojamento com a Majestade ali - ela aponta o queixo para Francis. - Bom, há duas camas de casal lá, então vocês não precisam ficar constrangidos, por mais que eu tenha ficado sabendo de algumas fofocas...

Ela parece perceber que falou demais e deu um sorriso leve. Valentina não é tão séria assim, afinal.

– Darei alguns dias para vocês se adaptaram. Nossas reuniões em breve se tornarão mais recentes - ela diz. - Temos uma guerra para planejar, afinal.