Stay With Me escrita por Lady Liv


Capítulo 28
Capítulo 28 - Você me vê, mas não me reconhece.




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 Narrador

 

 O dia de Gwen tinha começado péssimo. Acordou tarde, atrasada e com dor de cabeça.

— Eu sei, Jenny. Não preocupe. – Deixa as preocupações comigo, ela pensou ao telefone. — Pode cobrir pra mim? Eu já estou chegando.

Ela não era o tipo de pessoa que vivia pelo namorado, céus, não. O problema era Peter ser justamente quem ele era: Homem Aranha. Já era difícil não pensar nele sabendo que ele estaria em suas patrulhas, correndo o risco de levar um tiro ou ser atropelado ou ser descoberto ou-

Gwen suspirou. Agora havia um simbionte! Como tirar aquilo da cabeça? 

Era Peter. Não podia fingir que estava tudo bem, ele não agia daquela forma. 

Se sentia tão preocupada que tudo que fazia era automático.

E foi por essa razão, que Gwen demorou a entender a cena que acontecia à sua frente perto de seu ambiente de trabalho.

Havia um casal se beijando no meio da calçada.

Mas não era qualquer casal. O homem a encarava e aquele homem... 

Aquele era Peter...

E Mary Jane...

Oh.

Não, não, não, não, não! Isso não podia estar acontecendo. 

Ela fechou os olhos, rindo nervosamente e dando meia volta. Seus passos foram rápidos e seu corpo tremia. O choque inicial se desfazendo, a risada se transformando em choro. O mundo estava girando ao seu redor e parecia que alguém tinha lhe socado bem na boca do estômago.

— Idiota, idiota, idiota, idiota... — ela murmurava. Para Peter? Para si mesma? Para o mundo? Gwen não tinha a resposta, mas se havia alguma dúvida sobre a relação deles antes, agora estava tudo bastante claro.

Ela entrou no primeiro transporte que passou, sem ao menos olhar o destino do ônibus. Tudo que sabia era que precisava sair dali e rápido.

O celular vibrava em seu bolso e ela fez questão de ignorar; não podia voltar para o trabalho, não agora, não daquele jeito... 

— A senhorita está bem? – um senhor de idade perguntou, fazendo-a franzir o cenho. — Tome, querida.

Ele a estendeu um lenço e só então Gwen percebeu que chorava. Céus, que humilhante. 

— Obrigada.

— Não seja por isso. – ele sorriu simpático, rugas formando-se em todo seu rosto. – É um dia difícil?

— Não sabe o quanto... – Gwen murmurou, limpando os olhos. Ainda bem que eu não passei maquiagem, ela pensou, sentindo a cabeça doer.

— Seja lá o que for, há sempre um jeito.

— Oh?

— É o que eu acho. — ele deu de ombros. — Se você pode fazer algo para mudar, faça. Ou viverá com a culpa.

Gwen assentiu. 

— Desculpe, mas... Pra onde esse ônibus vai?

O senhor riu, balançando a mão.

— Passaremos pelo Central Park em alguns minutos.

— Ah, obrigada... de novo.

— Não seja por isso. – ele repetiu, a fazendo rir baixinho.

— STAN! Stan, meu velho, tá na hora de descer! – alguém gritou nos fundos e o senhor se despediu.

— Ah, tenho que ir. Minha mulher é ciumenta.

Aquilo fez a loira sorrir um pouco,  vendo o senhor se afastar. Ele estava certo, em poucos minutos, o ônibus passou pelo Central Park e Gwen decidiu descer por lá.

Como sempre, estava cheio de árvores e algumas crianças corriam brincando, o calor não incomodando ninguém. Amigos reunidos. Pessoas fazendo piqueniques. Lembrou-se dos tempos que seu pai estava vivo. Eles costumavam fazer um piquenique em família pelo campo quando ele não estava na delegacia. O que ela não daria para uma simples tarde e normal, pelo menos mais uma vez mais?

Ah, Peter...

Olhou para os lados quase em desespero, procurando alguma coisa chamativa antes que as lágrimas se formassem em seus olhos novamente.

Sua respiração saia entrecortada; o que ela ia fazer? O que aquele beijo havia significado? Era verdade que o simbionte estava mexendo na cabeça de Peter, mas até que ponto? Mary Jane era... tão linda... e se... e se...

Seu celular vibrou de novo e Gwen resolveu atender. Era Jennie. Obrigou-se a parecer animada.

— Oi!

— Hey, 'tá aonde? Não consegui falar com você, perdeu 4 ligações!

— Ahm, é... A ligação ficou ruim. Não te ouvia direito. – ela disse, e torceu para a amiga ter acreditado, era péssima com mentiras. — Deve ter sido problema no sinal.

— Ahm... e está tudo bem? Sua voz tá estranha.

— Eu estou bem.

Quantas vezes ela havia dito essa palavra? Ela nunca estava realmente bem.

— Okay... mas você tá, tipo, um milhão de horas atrasada.

— Jennie, eu 'tô com uma dor de cabeça daquelas, sabe. Tem como me cobrir hoje? Prometo que te retribuo depois.

Houve um breve silêncio e a mulher suspirou.

— Tá, mas eu quero saber tudo depois.

— Obrigada.

— De nada. Então, como eu ia dizendo ontem, Allison disse que vai haver outra missão espacial.

— Ah, é! Eu ouvi falar sobre isso! Em duas semanas, né?

— Ou antes, John Jameson disse que apesar do assalto lá na festa, eles nunca tiveram tantos investidores.

— Sério?

— É, parece que eles se animaram com os resultados. Isso é bom, né?

Gwen franziu o cenho. Se o simbionte havia sido o resultado da primeira missão, eles provavelmente queriam mais. Principalmente agora que ele havia sido roubado, ou como seu namorado (ainda era namorado? Doía só de pensar!) dizia, ter sido emprestado.

— Isso é... bem... — preocupante, no mínimo. — Curioso.

Aliás, será que haviam mais simbiontes?

 

Peter Parker

 

Andávamos lado á lado em direção ao metrô. Ao contrário do que pensava inicialmente, não me sentia nada envergonhado por ter beijado Mary Jane. Ela muito menos. A gente conversava como se nada tivesse acontecido e isso era maravilhoso. Pra quê viver sobre rótulos mesmo?

— Você vem comigo? – enquanto o trem se aproximava, ela perguntou.

— Não, ainda tenho algumas coisas pra fazer.

— Sabe... podíamos... sair qualquer noite dessas.

— Ah, não. Minhas noites são tão divertidas... – falei sarcástico e ela riu. — Mas agradeço o convite.

— Talvez uma balada.

— Curtir a "night"?

— Isso! Curtir a night!

— Talvez. – sorri enigmático, me aproximando. Senti ela prender a respiração quando dei um beijo próximo a sua boca. — MJ.

— Te vejo depois.

— Pode apostar que sim.

Me afastei, sentindo-me pela primeira vez em muito tempo, satisfeito. A tarde se passava rápido e logo eu me troquei, pronto para começar minha patrulha de Aranha.

Antes de sair voando, senti meu celular vibrar.

S.H.I.E.L.D

— Nem pensar. — eu ri, a última coisa que queríamos era dor de cabeça.

Voei com meu uniforme escuro pela cidade, acenando para as pessoas que gritavam meu nome. Ri enquanto pulava cada vez mais alto. Eles deviam me amar mesmo, afinal, sou eu quem protejo essa cidade de qualquer tipo de crime! Eu que sempre estou aqui, todos os dias! Vingadores? Não era só ameaças grandes que contavam, quem iria proteger os bairros menores? Os X-men? Há! Preferem o anonimato, dificilmente se importam com os humanos. E aquele tal de Demolidor? Só atua á noite, o babaca. Quarteto Fantástico? De vez em quando, que tolice, eles preservam bastante o bem estar deles mesmo!

Eu era o único herói diferente de verdade. O único real.

Merecemos mais reconhecimento, Peter.

Sim, nós merecemos.

Fui tirado dos meus pensamentos quando ouço um barulho de sirene. Nem havia percebido que já havia escurecido, a tarde passou literalmente voando.

A noite estava dominando Nova York e bandidos acharam um bom momento para invadir um mercado, fala sério.

— Cara, vocês não cansam dessa vida, não? – perguntei entrando no estabelecimento. Dois homens vestiam roupas pretas e meias calças cobrindo o rosto. — Que tal umas férias?

— Ah, eu não vou pra prisão por sua culpa, Aranha! — um deles veio correndo na minha direção.

— O quê?! Trent, volte aqui! – o homem gritou já pondo o saco com o dinheiro nas costas. — Eu não vou voltar por você!

— Dane-se, hoje que eu mato esse inseto! – o tal do “Trent” retrucou.

— Esse papo já cansou. – resmunguei.

Pulei em cima das prateleiras, desviando dos tiros até que inacreditavelmente, um deles pegou de raspão no meu braço.

Toquei em minha pele, o simbionte voltando a cobrir o buraco e por consequência, o sangue que escorreu; ele me curava ainda mais rápido.

— ARRÁ! Peguei ele! – eu pude ouvi-lo gritar e-

Foi estranho.

Como se eu estivesse flutuando. A onda de ódio se apossou de mim e eu rosnei. Antes que o bandido a minha frente fizesse qualquer outra coisa, joguei uma teia em sua pistola, trazendo-a pra mim e girando-a em meus dedos como um cowboy em um filme de faroeste. O ladrão tentou correr, mas eu fui mais rápido e joguei outra teia em suas costas, o puxando. O empurrei contra o chão, e subi em cima de uma estante com diversos produtos de limpeza.

— Você está muito sujo, precisa de um banho! – zombei, dando uma cambalhota pra trás, empurrando a estante bem em cima dele.

O homem gritou, me fazendo rir. Olhei ao redor e consegui ver o parceiro dele correndo pelo lado de fora do mercado.

Saí dali, já ouvindo as sirenes da viaturas mais perto. Percebi um aglomerado de pessoas se formando e atrás delas, no fim da rua, alguém tentando de modo desesperado e inútil abrir a porta de um carro. Achamos ele! Voei até o bandido, puxando-o com minhas teias para dentro de um beco.

— Vai embora! Me deixa em paz! – gritou pra mim, apontando uma arma. — Eu vou atirar, eu juro!

— É claro que atira. – concordei , e em menos de dois segundos a arma já estava em minhas mãos. — E foi tarde demais, viu? Tão fácil pra mim.

Desferi um soco nele que o fez cair. Ele retirou a máscara fina de seu rosto contorcido de dor, cuspindo sangue e se arrastando pra trás.

— O que vai fazer, hein? — perguntei. — O que você pode fazer agora? O que pode usar contra mim?!

Ele puxou uma faca, tentando inutilmente me acertar, mas eu desviei. Uma, duas, três vezes.

Se eu fosse um civil, ele ainda faria isso. Ele mataria um inocente; mataria uma pessoa fraca. Mas eu não era fraco. Na quarta tentativa, permiti que ele acertasse meu abdômen, me fazendo rir. Retirei a faca, sem ao menos gemer de dor.

— Seu tolo! – gritei, minha risada se transformando em ódio. — NÃO PODE ME VENCER!

O segurei pelo pescoço, o prendendo na parede. A mão dele foi até meu braço, tentando em vão afrouxar, quando eu vi...

A manga de seu casaco caiu e eu vi.

Era...

Era uma estrela.

A tatuagem de estrela no pulso.

— Tio Ben.

Como o assassino do meu tio.

 

Narrador

 

Já era tarde quando Gwen resolveu voltar pra casa.

Eu não devia nem ter saído de casa, pra começar... ela pensou frustrada. A tarde que passou no shopping não rendeu nada além de um sorvete para afogar as mágoas. Também não era sua intenção voltar andando, mas depois de ter perdido o ônibus, encontrar o metrô cheio e não ter dinheiro suficiente para um táxi, ela resolveu deixar-se guiar pelos passos mesmo.

Gwen suspirou ao se encontrar em meio a multidão, o som alto e familiar das viaturas de polícia inundando seus ouvidos.

A violência de Nova York podia não impressiona-la mais, mas isso não a impediu de investigar os gritos que havia acabado de ouvir.

Franziu o cenho. Estava perto.

Ela sabia que devia alertar a polícia antes de tudo, mas sua curiosidade nublou seus sentidos e quando percebeu, já estava em frente ao beco próximo do mercado.

E era... meu Deus, era Peter?!

Sentiu-se suar frio com o que presenciava.

A cena era horrível e longe das luzes da cidade; Homem Aranha espancando um homem enquanto ele implorava por misericórdia. Gwen se surpreendeu em como ninguém havia visto ou ouvido nada do que acontecia ali.

— VOCÊ O MATOU!— A figura gritava e céus, a figura era Peter, como isso- foco Gwen! — VOCÊ NEM SABIA QUEM ELE ERA, E MESMO ASSIM O MATOU!

Ele o segurou pelo colarinho da camisa e lhe transferiu mais um soco. O homem mal havia caído no chão, e Peter já havia chutado suas costelas, fazendo ele girar pra longe. Lembranças que antes eram trancadas agora estavam a inundar sua mente; tio Ben, o choro de tia May, aquela noite fatídica...

— Hey, Homem Aranha... Homem Aranha! – Gwen chamou assustada, dando passos receosos em sua direção. – Homem Aranha?

— Não, por favor... – o homem sussurrou enquanto Peter o puxava pelo braço.

— Ele te pediu por favor também? – não dando ouvidos á ele, o jogou contra a parede.

— Homem Aranha!? — Gwen chamou com mais firmeza, ao mesmo tempo que o homem chorou:

— Não sei do que está falando!

De qualquer forma, ele não parecia estar ouvindo nenhum dos dois.

— Você matou alguém que era especial pra mim... — Peter deu passos pra trás. Uma teia saiu de uma mão e voltou com uma arma. Gwen arregalou os olhos. — Devemos matar você também.

— QUER SABER? – O homem gritou. — ATIRA! Eu não 'tô nem ai. Sempre soube que você não era o herói dessa cidade!

Aquilo foi o bastante. Peter atirou em sua perna. Gwen cobriu a boca, horrorizada. A polícia estava perto, céus, civis estavam perto, ela estava bem ali! Como Peter não podia se importar?!

Eram chutes, socos... Quanto sangue aquele homem já não tinha perdido?

— É ISSO O QUE ACONTECE COM QUEM MEXE COM A MINHA FAMÍLIA! – Ele se afastou e mirou a arma na cabeça do homem. — COM QUEM PISA EM NÓS!

Por segundos, a loira permaneceu parada. Paralisada. E naquele momento, foi como um choque.

Ele ia mata-lo...

Peter ia matar alguém.

Seu pulmão se encheu de ar e ela correu até o amado.

— PETER!

Ele se virou.

Seus olhos se encontraram.

E não pela primeira vez, Gwen não o reconheceu. A arma estava apontada para ela agora.

Havia a falha esperança de que ele ainda estaria ali, que o simbionte estava no controle, mas oh como era difícil manter aquela esperança. Era tão difícil como conter as emoções, e naquele momento, Gwen deu um passo para trás, erguendo as mãos para cima.

Ela havia perdido; perdido Peter; perdido o controle; tudo.

A máscara não escondia quem ele era. Um estranho, realmente. Um estranho que toda mãe alerta para não se falar, pois não se sabe o que se pode esperar de alguém assim.

Ele paralisou.

Peter, pela primeira vez, se perguntou o que raios estava fazendo. Estava apontando uma arma para a mulher que amava.

Atire.

Seu dedo formigava, a vontade imensa de apertar o gatilho. Mas por quê? Peter franziu o cenho, ela está defendendo o assassino do seu tio. Mas ela não sabia disso, sabia? E acabou vendo Gwen dar um passo pra trás. Lágrimas escorriam em seu rosto enquanto ela suprimia os lábios, numa tentativa falha de conter o choro. Seu queixo tremia.

E Peter finalmente percebeu. E ele sabia que ela sabia.

Um arrepio subiu por suas costas, e ele se deu conta do que estava se passando. O pensamento o assustou, mas ele continuou a analisar a situação.

Se lembrou de quando ela tentou avisa-lo, e agora, ele quase... Oh Deus! O que ele havia feito? Como pôde fazer isso?

Ela não estava mais com raiva. Não estava mais magoada, ou decepcionada.

Ela estava com medo. E com medo dele

Gwendolyn Stacy estava com medo de Peter Parker.

Foi com essa conclusão, que ele atirou.

E não havia mais para onde fugir.


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