Eu queria que minha história fosse imortalizada como se tivesse se passado em uma terra distante, onde houvesse torres e reis e riquezas, e seres mágicos que flutuassem ao sabor do vento, com suas ligeiras asas feitas de espuma. Mas a realidade não é assim tão doce, e a fantasia não é assim tão bela.

Já faz 900 anos que meus pais enfeitiçaram a mim e os meus irmãos para depois enfiar uma espada em nossos corações, transformando-nos nos monstros que hoje somos. Tudo para que pudéssemos viver. O problema, é que eu não vivi.

Eu nunca quis ser o que sou hoje, meus sonhos eram sonhos simples de uma garota que ainda nem sequer havia visto a vida. Eu queria me casar, ter filhos, deixar minha vida seguir seu curso natural, e quando minha hora chegasse, eu estaria pronta pra partir.

– Seus sonhos ainda podem ser reais Rebeka, nenhum mal é tão forte que não possa ser desfeito – dizia ele enquanto acariciava meus cabelos. Então eu adormecia e sonhava.

Alexander foi o meu primeiro amor. O que me fez sonhar mais alto, e também o que destruiu todos os meus sonhos. Até hoje não sei o que mais me doeu, sua traição me iludindo com a falsa esperança de uma vida, ou Nicklaus tê-lo tirado de mim. Mas foi o certo a ser feito, se é que algo nessa nossa existência tem sido certo.

– Rebeka você precisa parar de chorar irmãnzinha! Ou eu empalo você e enterro junto com ele!

– Você tirou tudo de mim Nick! Tudo!

– Rebecka aquele rapaz era um caçador! Um dos cinco! Ele queria nos matar! Queria matar a sua família, e estava usando você pra isso!

– Mas porque você não apagou a memória dele Nick? Porque não o hipnotizou?

– Os cinco não podem ser hipnotizados! Bruxas não criam caçadores de vampiros, que podem ser hipnotizados por vampiros! Agora arrume as malas e esqueça que ele existiu um dia ou, repito, enterro você junto com ele!

E assim eu fiz. Nick é a única família que me sobrou, e sempre haveria de ser assim. Eu o seguiria por onde quer que fosse, e o obedecia. Por mais que isso me afastasse da vida que eu queria, eu sentia que devia isso a ele.

Porque quando Michael arrancou o coração de minha mãe de seu peito diante dos olhos de Nicklaus, minha família inteira se espalhou, e apenas ele permaneceu comigo, me protegeu, e é assim que viveríamos nossos dias, protegendo um ao outro.

***

Depois da morte de Alexander Nicklaus não foi mais o mesmo. Os dias dele foram difíceis, eu quis partir, pensei em viver minha vida em outro lugar, respirar um pouco da liberdade de uma vida sem o Klaus. Mas e não podia! Ele precisava de mim e precisava muito.

– Rebeka! Rebeka? Ele esta aqui! – se voltou para o outro lado - Eu matei você! Você não deve estar aqui! Porque você está aqui? Você está morto!

– Nick não tem ninguém aqui! Só você e eu! Porque teria outra pessoa aqui Nick?

– Rebeka! Não encosta na minha irmã seu caçadorzinho de quinta!

– Caçador? Do que você esta falando Nick?

– Daquele seu namoradinho que voltou do além para me assombrar! Ele quer me matar Rebecka! Vai matar a todos nós! Você, eu, Khol, Elja,Finn! Todos! As adagas! Onde estão as adagas? Ele vai usá-las em nós!

Nick alucinava, tinha visões com meu ex-namorado morto, às vezes entrava e saia de todos os quartos de nossa casa procurando nossa mãe. Chorava, e chorava, e suplicava para que os espíritos parassem de torturá-lo. Durante esse tempo, cada vítima que Nick tinha feito em séculos, em quase um milênio, repetia em sua memória os olhares ameaçadores que ele imaginava que eles o dirigiam. Cada sangue derramado se espalhava no espelho de sua memória.

Então de repente cessou.

***