Tandem Felix escrita por Paula Freitas


Capítulo 2
Filius


Notas iniciais do capítulo

Uma discussão faz Niko desabar em lágrimas, mas os problemas podem estar perto de acabar... Ou não...



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Félix estava na varanda quando Niko chegara do restaurante contando sobre a novidade. Talvez, finalmente, tivesse encontrado a pessoa certa para ficar em seu lugar no restaurante novo.

– Carneirinho... Tem certeza?

– Claro, amor! Acho que agora vamos solucionar esse problema do restaurante! Claro que eu ainda tenho que ficar indo por esses dias enquanto é alta temporada, pelo menos, essa primeira quinzena de fevereiro! Como o carnaval é em março esse ano, eu já quero até lá estar de volta ao restaurante daqui da praia e com um bom chef bem encaminhado no de lá do centro!

– Tá, se você diz que achou um bom candidato, eu vou entrevistá-lo com você! Mas, me diz... – Félix fez logo um olhar de certo ciúme. – Como é esse sushiman, hein?! O que te fez ficar tão entusiasmado com ele?

Niko riu. – Ai amor... Não tem necessidade de fazer essa carinha, tá! Não é ele... É ela!

– É uma mulher?

– É! Por isso, pode ficar despreocupado! E também seria legal se a contratássemos, eu a achei uma boa candidata para a vaga e de todos nossos funcionários, apenas dois até agora são mulheres, e são garçonetes no restaurante de São Paulo e no do Rio! Se contratarmos essa moça, ela será nossa primeira sushiwoman, já pensou?!

– Pode ser... Mas, vamos ver o currículo dela primeiro né, Niko?! Não vai logo pensando em contratá-la só porque ela faz sushi em dois minutos, não é assim, já te disse...

– Eu sei, eu sei, Félix... Temos que conhecer a pessoa, saber se é de confiança, as condições de trabalho, se tem higiene adequada já que vai trabalhar num restaurante, tudo isso... Eu sei! Mas, amanhã você vai pra lá no fim do expediente e nós a entrevistamos juntos, tá! Eu já deixei marcado e ela disse que vai e que está com muita vontade de conseguir esse emprego!

– Espero que dê certo dessa vez... Os únicos três candidatos que apareceram até agora foram uma negação!

– Pior que foi... Lembra aquele cara que não sabia fazer um prato sequer da culinária japonesa, mas queria por que queria nos mostrar que era especialista em peixes?!

– Aquilo não devia saber diferenciar um salmão de uma sardinha! Mas, não foi pior que aquele outro que disse que sonhava em ter um restaurante e nos pediu pra fazer sociedade com ele! Sabe que ele ainda piscou pra mim naquela hora que você saiu?!

– Foi?! Não acredito... É cada um que aparece né?! Mas, o pior foi o último que perguntou se nós éramos primos, e quando dissemos que somos casados ele ficou todo sem jeito, mal olhava pra gente...

– Aquele lá deve ser dessas famílias homofóbicas que tem por aí... Enfim, espero que essa moça agora seja a melhor candidata mesmo, porque passar mais uma semana assim... Ah não, vai ser o apocalipse de verdade e o primeiro raio que cair vai cair em cima de mim!

– Nossa... – Niko estava rindo, quando Félix mudou a expressão séria deixando aparecer um sorriso e um olhar cheio de ideias.

– Carneirinho... Já que você chegou um pouco mais alegrinho hoje... – Pegou em sua mão, ainda sentado, trazendo-o para sentar-se em seu colo. – Não tem nada assim que queira fazer antes de dormir?!

Já sentado em seu colo, Niko sorriu. – Amor... Eu queria muito, mas tenho que acordar cedo...

Antes que Niko continuasse, Félix logo interrompeu, ficando aborrecido: - Tá, tá, eu já sei... Não sei por que ainda insisto! – Empurrou Niko levemente, mas ele não levantou de seu colo. - Eu devo ter secado o rio Jordão pra merecer ficar nessa seca!

Niko riu sem sair do seu colo nem soltar as mãos que estavam em volta de seu pescoço.

– Como você é dramático, Félix! Olha, eu já fiquei bem mais tempo na seca, como você diz, e nunca fiz esse drama todo!

– Quando que você ficou? Ah, quando morava com a lacraia? Por favor, carneirinho, com aquele lá você passou dez anos de seca, meu amor!

Niko riu ainda mais. – Ai Félix, você não tem jeito! O tempo passa e algumas coisas não mudam nunca!

– Você não ia gostar se eu mudasse...

– Hum... Não ia mesmo! Eu me apaixonei por você assim do jeitinho que você é! E eu adoro! – Niko o beijou.

Ainda com os lábios juntos aos dele, Félix perguntou: - Hum, carneirinho... Tá mudando de ideia é?!

– Não... – Quando Niko respondeu negativamente, Félix logo afastou o rosto contrariado, mas o loiro continuou. – Sério, amor, hoje ainda não... Por favor... Mas, não quer dizer que não possamos ficar namorando um pouquinho aqui na varanda... – Segurou em seu rosto, trazendo-o de volta para junto de si. – Ei! Faz tempo que a gente não fica aqui, né?! Vem, me beija... Me beija e quem sabe esse cansaço não passa...

– Será que passa?

– Tenta... - Respondeu o loiro olhando para a boca do amado. - Me beija...

Félix correspondeu sem fazer questão de resistir aos encantos do seu carneirinho, que demonstrara, para sua esperança, um sorrisinho malicioso ao pedir seu beijo. O beijo se intensificava e uma mão de Félix já deslizava a massagear uma das coxas de Niko. Foi quando ambos ouviram passos já bem próximos, chegando à porta. Niko levantou rapidamente do colo de Félix.

– Jayme?! Filho... Oi! O que está fazendo acordado?

O garoto estava com o pijama e um casaco por cima, com as mãos no bolso. A noite estava moderadamente fria. Ele olhou para os pais rapidamente e desviou o olhar, ficando nitidamente constrangido por quase tê-los flagrado namorando.

– É... Eu desci pra tomar água... Eu estava sem sono e queria ficar aqui um pouquinho, mas, vocês já estão aqui... Eu vou pra o meu quarto...

– Não, filho, pode ficar aqui fora! Fica aqui com a gente! Quer conversar um pouco?

Enquanto Niko tentava convencê-lo a ficar um pouco com eles, Félix o observava atentamente tentando desvendar o que estava acontecendo com o filho.

– Não, não quero ficar aqui não... – Jayme levantou a cabeça para olhar para Niko. – Você não está cansado hoje não, pai?

Niko sentiu um nó na garganta. Sentiu que seu filho estava lhe perguntando isso quase como uma indireta por aqueles dias que estava tão ausente. Talvez fosse coisa da sua cabeça, mas ele não podia deixar de se entristecer pela distância que estava se criando entre eles.

– É... Eu estou um pouco sim... Mas... Filho, eu nunca estou cansado pra conversar com você! Vem, fica aqui com a gente só um pouquinho!

Jayme voltou a baixar o olhar. Sentou na ponta da espreguiçadeira na qual Félix estava, e voltou a pôr as mãos no bolso do casaco. Niko sentou-se do lado, mais no meio para ficar tanto perto do filho quanto do marido.

Se ninguém tomasse a iniciativa de puxar algum assunto os três permaneceriam num silêncio sufocante, então, Niko começou.

– Tá frio hoje, né?!

– Está! – Respondeu Jayme.

– E você, está com frio, Félix?

– Um pouco! – Respondia ainda atento a Jayme.

– Você está com muito frio, Jayme? – Perguntou Niko.

– Não muito...

– Então, porque pôs esse casaco, meu filho? O pijama já era suficiente...

– Eu quis...

Niko olhou para Félix. O cansaço se fazia presente e ele já estava ficando impaciente com as respostas tão curtas do filho.

– Filho... Seu pai disse que você pediu pra sair com seus colegas um dia desses... Pra onde vocês foram?

– Jogar basquete!

– Basquete?! Que bom... Quer dizer, que você se interessou mesmo pelo basquete?!

– É... É legal!

– E... Onde vocês vão jogar? Na quadra da escola mesmo?

– É... Às vezes...

– E quando não vão para a quadra da escola, vão para onde?!

Jayme tirou uma das mãos do bolso, coçou o canto da boca e voltou a esconder a mão, ergueu os ombros e respondeu:

– Vamos... Para a quadra de outra escola...

– Por quê? A da escola de vocês é bem ampla...

– É, mas, essa outra é maior, apesar de ser mais longe...

– É mais longe? Onde fica?

– Mais perto do centro da cidade... – Pela primeira vez virou o rosto para olhar para os pais desde que iniciaram a conversa. – E o restaurante lá no centro tá indo bem?!

– Está... – Niko sentia o remorso aperta-lhe ainda mais. – Está sim... Sabe, filho, eu estou certo de que logo vamos contratar uma chef para esse restaurante e eu vou poder voltar para o daqui de perto...

– Uma chef? Vão contratar uma mulher agora?

– Vamos... Quer dizer, talvez, ainda temos que entrevistá-la, mas ela tem muitas chances de ficar com a vaga! E eu quero logo alguém para me substituir para eu poder voltar a ter mais tempo pra vocês! – Acabou a frase pegando na mão de Félix e olhando para os dois. – Vai ser legal né?! Essa correria vai acabar e eu vou voltar a ficar mais tempo em casa, até voltar a ter um dia de folga por semana como antes!

Jayme apenas balançou a cabeça positivamente, mas nada respondeu.

O silêncio se fez presente de novo. Niko queria dar um fim àquela situação, mas de um lado, Jayme não falava nada, do outro, Félix ficara estranhamente calado.

Niko titubeou um pouco para falar mais alguma coisa, pois um nervosismo já tomava conta dele. Começou a balançar as pernas, respirou mais forte, passou a mão no rosto em sinal de cansaço.

– Gente... O que vocês dois têm, hein?!

– Como assim, carneirinho?!

– Ah, finalmente você falou! – Exclamou Niko voltando-se para Félix. – Você é o que mais fala de nós e de repente se cala, fica aí parecendo um mudo, uma estátua! O Jayme não quer conversar, tá na cara, mal falou, só respondeu o que eu perguntei... O que vocês têm, afinal?!

– Nada, pai! Não tenho nada! – Respondeu Jayme com a voz calma. – Eu vou pra o meu quarto! – Levantou indo em direção à porta.

– Por que já vai sair assim, só porque eu perguntei o que vocês têm?!

Ambos começaram a exaltar o tom de voz. Falavam um com o outro impacientes.

– Não, pai Niko... Eu só quero ir dormir! Posso?

– Pode, pode sim, aliás, deve! Vai dormir que já tá tarde, vai! Não é por que você tá de férias que vai dormir meia-noite!

– Que meia-noite, pai?! Não deve ser nem onze horas...

– Pois não falta muito! Isso não é hora de criança estar acordada não!

– Eu não sou mais criança!

– Não, nossa! Com treze anos já é um homem! – O tom sarcástico de Niko deixou Jayme irritado. Ele foi para dentro de casa e subiu as escadas pisando firme.

Niko respirou profundamente, fechou os olhos e desabou na cadeira ao lado da espreguiçadeira, enquanto Félix só observava a tudo calado, sério e atento. O loiro levou as mãos ao rosto demonstrando cansaço e arrependimento pelo modo como falou com o filho. Sabia que a exaltação na voz fora produto do estresse por tudo que vinha acontecendo nos últimos dias. Ficou assim por uns segundos, até que olhou para Félix pelo canto dos olhos, por entre os dedos. Tirou as mãos do rosto e o encarou.

– E você?! Por que não disse nada?! Não fez nada?!

– O que eu deveria ter feito?

– Sei lá, Félix! Mas, tinha que ficar aí parado parecendo uma múmia?!

– Ah, mas eu devo sim ter roubado a múmia do faraó mais rico do antigo Egito pra você estar querendo descontar em mim agora! Quem começou foi você!

– Eu que comecei?! O quê que eu comecei?! – Olhou indignado.

– Como o quê?! Essa discussãozinha boba do “o que vocês têm?”! – Afinou a voz para imitar a de Niko de modo um tanto ácido. – Onde já se viu... Isso é coisa que se pergunte para um menino de treze anos?!

– O que você queria que eu perguntasse?! Aliás, eu não perguntei só a ele não, perguntei a você também! Vocês dois estão agindo como se eu tivesse culpa por, por trabalhar demais, sei lá...

– Você está é confuso, isso sim! Ninguém te culpou de nada, Niko, de nada!

– Ah não?! Se não é o Jayme que está quase sem falar comigo é você faz questão de passar na minha cara toda hora que... – Baixou o tom de voz. – Que a gente não fez mais amor, por minha culpa, por que eu estou cansado demais...

– Eu nunca disse isso!

– Não diretamente, mas, acredite Félix, não há nada mais direto que as suas indiretas, tá, meu amor!

– Ah, mas eu devo ter roubado as sandálias de Judas enforcado pra ouvir uma coisa dessas!

– Olha, Félix, eu não quero brigar tá! Eu sei muito bem o quanto estou ausente aqui em casa todos estes dias, mas... Tenta me entender, não é por que eu quero... Eu... – Levou a mão aos olhos que já se enchiam de lágrimas. – Eu só queria tudo saísse bem nesse restaurante, eu só... Eu só quero que isso seja mais um bom negócio da nossa família, é o meu sonho e eu quero que dê tudo certo... – Não aguentou mais desabando em lágrimas. – Mas... Não sabe como eu me sinto mal por não ficar mais com vocês...

Ao ver os ombros de seu carneirinho mexerem por causa do choro, Félix finalmente saiu da posição de conforto em que estava e passou seus braços em volta dele, abraçando forte.

– Shh... Shh... Calma, carneirinho! Calma! Você sabe que eu não aguento te ver chorando! Calma... – Pedia trazendo sua cabeça para repousar encostada em seu peito. Beijou-lhe a cabeça, sentindo o perfume dos cachos loiros e ficou alguns segundos com ele assim, até que Niko começou a se acalmar. Outra vez beijou-lhe a cabeça e pediu: - Relaxa carneirinho, por favor... Olha... Desculpa se te pressionei de alguma forma... Se estou sendo chato ou insistente com você... Eu sei, eu entendo que o estresse é horrível para qualquer um e... Olha, tá tudo bem... Ei... – Pôs uma mão levemente em seu rosto, fazendo com que Niko olhasse para ele. – Tá tudo bem, tá! Sei que vamos resolver os problemas mais rápido do que a gente imagina e logo vamos estar como antes, você vai ver! Não chora mais...

Niko segurou na mesma mão de Félix que estava sobre seu rosto enxugando suas lágrimas e a beijou.

– Obrigado, amor! Desculpa também...

– Shh... Esquece... – Félix sorriu e piscou para ele. – Você vai ver, depois nós vamos recuperar todo o tempo perdido...

– Eu sei... Mas, não é só isso! Eu estou muito preocupado com o Jayme também... Acho que tem alguma coisa que ele quer falar, mas não fala por que eu nunca estou aqui...

– Ah carneirinho, quer saber... Acho que o que o nosso filho tem não tem nada a ver com você!

– Por que você acha isso? – Levantou a cabeça de seu peito para ficar de frente para ele. – Tá sabendo de algo, Félix?!

– Não, ainda não, mas... – Félix baixou mais o tom de voz olhando rapidamente para o lado da porta. – Você não percebeu que aquela história de ir para outra quadra, de outra escola, jogar basquete, era mentira?!

– Mentira?! Como você sabe que ele está mentindo?

– Quando vocês estavam conversando, ele estava quase que de costas para você, mas estava de lado para mim e por isso eu estava calado, eu fiquei o observando... Carneirinho, ele estava dando todos os sinais de quando alguém está mentindo!

– Mas... Mas, meu Jayme, mentindo pra gente?!

– É, carneirinho, todo adolescente mente mesmo! Mas, agora, só nos resta descobrir por quê! E acredite, eu vou descobrir!

– Ah Félix, isso me deixa mais preocupado ainda! Se ele estiver com más companhias?! É melhor não deixar mais ele sair outra vez...

– Imagina, Niko, aí é que ele fica com raiva da gente! Não, deixa assim... Eu vou tentar descobrir alguma coisa e você para de ficar preocupado senão fica mais estressado do que já está! Aliás, vamos acabar com esse estresse agora, vem, vamos pra o quarto, você precisa dormir!

Félix pegou em sua mão, levantando e levando-o consigo. Ao chegarem ao quarto, Niko o abraçou, ainda com a expressão desanimada e os olhos marejados.

– Félix... Eu te amo, tá!

Félix sorriu e o abraçou mais forte. Entendeu que aquelas palavras eram mais um jeitinho de seu carneirinho lhe pedir desculpas por não estar sendo tão receptivo ao seu carinho, e de reafirmar seu sentimento.

– Também te amo, Niko... – Beijou-lhe o ombro e o pescoço. Pôs a mão em seu rosto e o olhou nos olhos, completando: - Meu amado carneirinho!

Beijaram-se e deitaram-se para dormir. Um de frente para o outro. Niko logo adormeceu. Félix o olhava como já fazia todas as noites. Passeava com seus dedos levemente por seus cachos. Admirava a beleza do loiro fazendo de vez em quando um suave carinho em sua barba por fazer.

Aquele olhar que Félix tinha era de compreensão, de uma ternura quase divina, mas também de um desejo infernal, que lhe trazia saudade. Cada noite que admirava seu carneirinho antes de ser vencido pelo sono sentia uma felicidade incomensurável por tê-lo e um medo inexplicável de perdê-lo. Não era só a falta de sexo que estava lhe levando a tantas reflexões e obsessões, mas a distância como um todo. Niko estava distante fisicamente e mentalmente. Tudo que Félix mais queria era poder resgatar seu carneirinho amado dessa areia movediça que o afundava cada dia mais.

... ...

– Aceito! – Foi o que Félix disse logo após a pergunta mais crucial de sua vida. A do dia do seu casamento. Ao mesmo tempo em que aceitava Niko na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, jurava em pensamento: - Eu juro que vou te proteger, te respeitar, te amar e ir até o infinito para ser a melhor pessoa do mundo para você, meu amado carneirinho, nos momentos bons e ruins, por todos os dias das nossas vidas!

Enquanto fazia juras de amor em pensamento, ouvia seu noivo a sua frente, aceitar-lhe também, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, eternamente, até que a morte os separe!

... ...

.

.

No dia seguinte, Jayme parecia estar mais calmo, mas ainda tão fechado quanto para com os pais. Ele assistia TV enquanto Fabrício brincava de pintar desenhos na sala com Félix.

– Vamos ver quem termina primeiro?! – Dizia Félix brincando com o pequeno quando o telefone tocou. Jayme, que estava ao lado, atendeu.

– Alô?! Oi, Jonathan! - O garoto se alegrou ao ouvir o irmão e os dois continuaram conversando. – Sim... Ele está aqui... – Respondeu olhando para Félix. Félix entendeu que Jonathan havia perguntado por ele, e logo depois por Niko. – O papai Niko tá trabalhando... É... – Ele parou por um instante ouvindo o que Jonathan falava. - Você vem?! Que legal! Eu estava querendo mesmo falar com você... – Olhou de novo para Félix. – É... Depois eu te digo... Tá... Vou passar pra ele... – Entregou o telefone para o pai.

Félix parou a pintura que fazia com Fabrício para falar com o filho mais velho. – Oi, filho, tudo bom aí?!... Aqui está mais ou menos... – Olhou rapidamente para Jayme. – Mas, tudo bem... Você vem? Ah, no fim de semana? Ótimo... Vem com a namorada, quer dizer, noiva?! – Riu. – Ok, filho... Tchau! Estamos te esperando!

Ele desligou e Félix entregou o telefone para Jayme colocar no lugar. E, aproveitou para comentar:

– Parece que você tem assuntos para conversar com seu irmão...

– É... Eu queria perguntar uma coisa a ele...

– O quê? Não pode perguntar a mim?

Jayme ficou calado um instante e desviou o olhar.

– Não... É só uma coisa que eu quero saber dele, só!

– Está bem, já que é assim, não pergunto mais, ok! – Jayme balançou a cabeça positivamente e Félix completou: - Mas, ó... Pode me perguntar qualquer coisa que quiser, viu! – Outra vez, ele só balançou a cabeça, mas Félix viu que ele queria falar algo.

De repente, ele virou. – Pai Félix...

– Oi?

Titubeou para perguntar o que queria e acabou desistindo. – Não... Nada...

– Pergunta, Jayme!

– Não... Esquece...

– Jayme... – Chamou. – Olha pra mim, meu filho... – Jayme olhou. – O que é que você quer perguntar, hein?!

– Nada, pai, já disse...

– Como nada, criatura?! Pelas contas do rosário... O que é que você pode falar com o Jonathan que não pode falar comigo ou com o Niko?!

Jayme ia falar algo, mas desistiu de novo. Levantou do sofá, retrucando: - Pra quê?! Vocês não iam entender! – Foi para o quarto.

Félix ficou pensativo, mas talvez estivesse começando a entender pelo que o filho estava passando. Talvez não fosse tão diferente do que ele próprio passou.

.

.

À noite, Félix foi para o restaurante, quase no fim do expediente para a entrevista com a candidata a assistente de Niko. Ao chegar, já havia uma moça que ele não conhecia ajudando a servir as mesas. Ele foi até o balcão onde Niko estava.

– Carneirinho...

– Oi, meu amor! Que bom que você já chegou! Assim que aqueles últimos clientes saírem eu fecho, tá!

– Tá! Niko... Quem é aquela, hein?! – Perguntou apontando para a moça desconhecida.

– Ah, é a candidata que nós vamos entrevistar! O nome dela é Jéssica! Como ela veio mais cedo do que eu tinha marcado, eu aproveitei e pedi para ela fazer outro teste, ajudando a servir os pratos! Eu gostei, ela é bem rápida com as bandejas, bem atenta, simpática...

– Ok... Mas, enfim, vamos ver como se sai na entrevista!

Niko voltou aos seus afazeres enquanto Félix esperava sentado ao balcão, observando a candidata ao emprego. Era uma moça morena, alta, cabelos escuros e aparentemente crespos presos em uma trança.

Félix, sempre detalhista, notou que ela se mantinha séria até chegar para servir uma mesa, onde dava um sorriso um tanto forçado, mas simpático. Seu rosto redondo e de traços delicados até chamou sua atenção por um momento. Ele não sabia explicar o porquê, mas estava com um mau pressentimento desde que entrou no restaurante e a viu.

...


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Notas finais do capítulo

Continua...



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