Finalmente estava me mudando. Aquele quarto que agora eu poderia chamar de meu. Eu sabia que não era nenhum apartamento, não era mais do que um quarto, mas era meu.

Mas não me avisaram do que havia lá, não me avisaram sobre as paredes finas que me cercavam, não me avisaram dos ecos que ali se encontravam, das noites conturbadas e principalmente, sobre meu vizinho com hábitos noturnos. Minha primeira noite no meu quarto de parede fina foi o suficiente para entender que eu raramente poderia dormir.

As batidas constantes na minha parede só eram abafados pelos gemidos e suspiros vindos do outro lado daquele lugar. As noites que se seguiram foram todas assim, daquela mesma maneira, aquela mesma voz masculina, mas nunca a mesma voz feminina.

Batidas na minha fina parede me impediam de dormir, aqueles gemidos constantes me enchiam de certa curiosidade misturada com uma excitação inexplicável. Eu jamais havia visto o homem com quem eu dormia quase todas as noites sem dormir, o homem que eu escutava gemer de prazer sem ter o prazer de vê-lo ou tê-lo. Isto não durou muito tempo.

Em certa tarde, uma surpreendente tarde após ter outra das minhas excitantes noites mal dormidas eu saía do meu apartamento quando me deparei com aqueles brilhantes olhos verdes. Talvez eu pudesse ficar hipnotizada apenas pelos olhos, mas a pele morena misturada com um queixo forte e másculo também chamavam a atenção. Meu olhar se encontrou com os olhos verdes do meu até então desconhecido vizinho, que me fitava sem pudor, aquele olhar penetrante e desconcertante me fazia entender porque sempre haviam diferentes vozes femininas ao longo das noites, aquele sorriso malicioso dirigido diretamente a mim foi imediatamente correspondido. Sim, era impossível resistir a ele.

Uma apresentação, um jantar e lá estava ele, saindo do elevador mais uma vez acompanhado. Mas desta vez não era por mais uma mulher que eu desconhecia, era por mim mesma. Aquela era a minha vez, meu barulho, meus gemidos. Saía do elevador entre beijos e amassos, sentindo suas mãos fortes percorrerem pelo meu corpo. Mal pude perceber quando entramos em seu apartamento, apenas percebi quando ouvi a batida de porta, aquela velha batida de porta que eu escutava todas as noites. Logo eu já estava finalmente conhecendo a origem daquelas batidas constantes que me impediram de dormir por tantas noites. A cama confortável daquele homem que eu já nem lembrava o nome, pois já estava acostumada a chama-lo de “vizinho da parede fina”. Roupas eram tiradas com ferocidade, como se a noite pudesse acabar a qualquer instante, junto à oportunidade de finalmente tê-lo por completo. Aquela noite era minha, aquelas batidas da cama do meu vizinho eram agora provocadas por mim, a sinfonia de gemidos que por tanto tempo me excitaram agora eram minhas, ele era meu. Eu sabia exatamente o que fazer, eu o conhecia sem o conhecer, pois por muitas noites eu o escutei, eu o conheci. E agora que era eu quem estava ali em seus braços, eu sabia exatamente o que fazer.

Seus braços fortes, seu rosto másculo e seu olhar penetrante eram algo que excitaria qualquer mulher, mas o que mais me agradava naquela noite eram as batidas e os gemidos. Aquela era a primeira noite que eu passava com o vizinho com quem eu já havia passado muitas outras noites. Mas desta vez eu sabia, eu estava ciente de que do outro lado daquela parede fina, não havia ninguém ouvindo.