" Não importa se é uma mudança no jeito de falar, andar ou vestir; se é no lugar onde vivemos ou nas pessoas com quem andamos, tudo se transforma..."

O temporal já havia se esgotado na manhã seguinte quando Lyanna, Liv e Raven desciam as escadas do dormitório. Raven olhou pela janela do salão comunal da Sonserina e pode observar nuvens chumbo no alto.

— Hoje vai chover — Pressentiu dando um leve sorriso.

— Ai que droga! Temos aula lá fora essa manhã... — Reclamou Lyanna erguendo o horário para mostrar para as amigas — Dois tempos de Trato das Criaturas Mágicas... É, continuamos com a Grifinória

— Vai ter que aturar o Lysander nessas aulas também — Caçoou Olivia sorrindo enquanto se observava no espelho acima da lareira

— Só não desisto de Trato das Criaturas Mágicas por que sei que vai me ajudar quando eu for aurora.

— Fala sério Ivanovich, com o Professor que temos acho que não vai te ajudar em nada — Ironizou Natasha, a menina se sentou em uma poltrona próxima a elas, e acrescentou — Ele é um péssimo Professor, só consigo sentir pena daquele infeliz.

— Está falando do Rúbeo? — Interrompeu Draco com um sorriso maldoso, o loiro sentou-se ao lado de Natasha e os dois trocaram sorrisos.

— Yordanov, não acredito que Hagrid seja tão ruim assim, ele é uma boa pessoa. — Argumentou Raven — Afinal Malfoy, você é que não teve as melhores experiências com ele...

Olivia e Lyanna riram, enquanto a pele de Draco atingia um tom avermelhado.

— Vamos, nós temos que tomar café. Um ótimo dia para vocês. — Disse Olivia enquanto passava pela pedra, seguida por Raven e Lyanna.

***

O corredor de saída das Masmorras estava vazio, apenas as três meninas passavam.

— Não suporto mais a Natasha, por Merlin! Não sei como Ced consegue ser amigo dela... — Queixou-se Liv

— Acho que a implicância fortalece a amizade

— Também acho, até por que Cedrico é amigo da Natasha desde o primeiro dia dela aqui. Então as implicâncias fazem parte — Argumentou Lyanna

As meninas continuaram andando quando uma menina com os cabelos castanhos, ondulados e curtos com o uniforme amarelo e preto, vinha andando apressadamente na direção das meninas.

— Liv!

— Hol, o que você tá fazendo aqui? — Questionou Olivia

— Eu vim... — Começou Holly, dando uma parada e olhando para as meninas, sorriu sem graça — Oi gente, bom dia. Liv o papai quer ver a gente.

Olivia trocou olhares surpresos com as amigas, e se virou para Holly:

— Tá falando sério? — Olivia não sabia a verdadeira razão de estar tão nervosa, mais ou menos alguns segundos atrás sua única preocupação era se encontraria o namorado hoje, mas agora, seu pai, Severo Snape, estava querendo vê-la, se preocupando, talvez, com ela.

— Liv, eu não brincaria com isso. Vamos logo, ele disse antes do café — Insistiu sua irmã.

— Ele veio falar com você? — Seu estômago borbulhava, ela tentava, de todas as formas, manter a calma e fingir que está tudo bem.

— Liv... Vamos conversar sobre isso depois. Temos que ir.

— Tá bom — Concordou Olivia, respirando fundo — Vejo vocês no café, me esperem antes de ir para aula.

— Ok — Responderam Raven e Lyanna em coro.

As irmãs foram andando pelo lado oposto da Masmorra, Liv já estava acostumada com o frio daquele lugar, mas Holly não, os lábios da menina tremiam cada vez mais. As meninas pararam na porta, que estava fechada, as duas se olharam e finalmente Holly quebrou o silêncio:

— Quer bater?

— Você bate — Respondeu Liv, respirando fundo e mantendo a calma; a menina ergueu a cabeça antes um pouco antes de seu pai abrir a porta e dizer com a voz firme e arrastada de sempre:

— Entrem.

A sala de Severo continuava sendo a mesma coisa, o cheiro forte de diversas poções borbulhando se misturava com o cheiro doce do perfume de Liv, o que resultava num cheiro enjoativo, que fazia o nariz das irmãs coçarem.

— Papai, a Liv já está aqui — Comunicou Holly

Snape estava de costas, e virou-se para as filhas, e as encarou seus olhos eram negros, e eram frios e vazios e lembravam túneis escuros. Liv sustentou o olhar, e se virou se sentando na primeira cadeira que achou.

— Então, o senhor disse que nos queria falar algo importante. Pois bem, estamos aqui, e se quer saber, não temos o dia todo.

Holly olhou para irmã surpreendida. Snape trincou os dentes, ignorou Olivia.

— Então como eu iria dizer, este é o quarto e quinto ano de vocês em Hogwarts, e é claro é um ano muito importante para ambas. Holly, este é o ano das N.O.M.s preciso que você tenha máxima concentração — Holly parecia concentrada em cada palavra que saía da boca de Snape e parecia querer anotar tudo mentalmente desde já — Olivia, preciso que melhore suas notas, com certa urgência...

— O quê!? Minhas notas do ano passado foram ótimas! — Argumentou Liv

— Para uma filha de um Professor de Hogwarts, foram vergonhosas. Se não quer me honrar, honre sua própria casa, a Sonserina tem acolhido jovens de ótimas mentes desde sempre, não seja essa vergonha para mim. — A boca de Snape se contorceu num riso de desdém. — Holly, se concentre. Olivia se concentre ainda mais.

— Pode deixar Snape.

— Esse ano, receberemos visitantes, e como pai, creio que é meu dever aconselhar vocês para...

— Também é dever de um pai ser mais presente na vida das filhas — Disse Liv em tom sério —Achei que deveria saber

Os olhos frios de Snape passaram por Olivia, e mais uma vez, ele a ignorou.

— Enfim, fiquem longe de Igor Karkaroff — Alertou Severo — Não se inscrevam no Torneio Tribruxo.

Seus olhos pararam em Holly ao dizer isso. Parecia que ele estava lendo sua mente, afinal a menina realmente pensava em se inscrever, por em prática tudo o que aprendera estes anos em Hogwarts.

— Entenderam?

— Claro — Respondeu Holly prontamente

— Podem ir, vão se atrasar para o café — Holly se levantou e saiu rapidamente da sala, enquanto Liv se levantava e fazia o mesmo — Olivia espere. Preciso falar com você.

A menina se virou, e encarou Snape;

— Eu vou ser claro e curto — Anunciou Snape — Não quero vê-la com o Diggory

— O quê!? — Liv deu uma risada irônica — Pode deixar papai, não vai me ver com ele. Nunca

A menina virou as costas e saiu da sala muito irritada, sua cabeça explodia.

***

Após as amigas conseguirem acalmar Liv, elas desceram as escadas de mármore e iam em direção ao jardim. Descendo o jardim em direção à pequena cabana de madeira de Hagrid, que ficava na orla da Floresta Proibida. Hagrid estava parado à frente da cabana, uma das mãos na coleira do seu enorme cão de caçar javalis, Canino. Havia vários caixotes abertos no chão a seus pés, e Canino choramingava e retesava a coleira, aparentemente tentando investigar o conteúdo dos caixotes mais de perto. Alguns alunos da Grifinória já haviam chegado quando as garotas se aproximaram, um estranho som de chocalho chegou aos seus ouvidos pontuados, aparentemente, por pequenas explosões.

— Bom dia! — cumprimentou Hagrid sorrindo para seus alunos — Alguém tem alguma ideia do que seja isso?

— Eu tenho uma ideia, mas acho que não é isso... — Disse Lyanna olhando para os caixotes

— Explosivins! — Exclamou Hagrid

— Eu acertei — Confirmou Lyanna desanimada

— Como é? — perguntou Peggie

Eles pareciam lagostas sem casca, deformadas, terrivelmente pálidas e de aspecto pegajoso, as pernas saindo dos lugares mais estranhos e sem cabeça visível. Havia uns cem deles em cada caixote, cada um com uns quinze centímetros de comprimento, rastejando uns sobre os outros, batendo às cegas contra as paredes das caixas. Desprendiam um cheiro forte de peixe podre. De vez em quando, soltavam faíscas da cauda e, com um leve pum, se deslocavam alguns centímetros à frente.

— Acabaram de sair da casca — informou Hagrid orgulhoso — por isso vocês vão poder criar os bichinhos pessoalmente! Achei que podíamos fazer uma pesquisa sobre eles!

— E porque iriamos querer criar esses bichos? — Perguntou uma voz fria

Os alunos se viraram, um Natasha acabara de chegar, acompanhada de Lorcan os dois juntaram-se ao grupo de alunos da Sonserina, e observavam os Explosivins com nojo.

— Quero dizer, o que é que eles fazem? — perguntou Natasha. — Para que servem?

Hagrid abriu a boca, aparentemente fazendo um esforço para responder, houve uma pausa de alguns segundos, depois ele disse com aspereza:

— Isto é na próxima aula. Hoje você só vai alimentar os bichos. Agora vamos ter que experimentar diferentes alimentos... Nunca os criei antes, não tenho certeza do que gostariam... Tenho ovos de formiga, fígados de sapo e um pedaço de cobra, experimentem um pedacinho de cada.

Alguns alunos simplesmente recusaram-se a tentar dar comida aos animais. Enquanto Lyanna abaixava-se para pegar um pedaço de um molhado fígado, sentiu uma mão calejada em suas costas, não precisava se virar para ver quem era; o perfume já entregava Lysander.

— Anna — Cumprimentou o rapaz com a voz normalmente rouca

— Scamander — Respondeu Lyanna, entediada e com vontade de escolher o fígado o mais rápido possível apenas para sair dali.

— Tudo bem?

— Não — Lyanna olhou para os olhos de Scamander, e sorriu — Tenho que dar comida para esses bichinhos né?

— Ah sim, eles são amigáveis — Concluiu Lysander, piscando o olho e virando as costas com ovos de formiga na mão

Lyanna parou. Lysander realmente não a cantou, nem a convidou para dar uma volta? A garota surpreendeu-se. Positivamente, é claro.

Talvez realmente o garoto houvesse mudado. Talvez ela teria tempo para ele. Talvez.