Foxface escrita por GabiLavigne


Capítulo 8
Capítulo 8 - Adeus


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu me desculpando novamente pelo atraso enorme. Digamos que não moro perto de uma lan house. Sem mais delongas aqui está mais um capítulo.

Boa Leitura!



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Eu me perdi entre as lágrimas que rolaram pelo meu rosto e o medo que se infiltrou em meu coração. Pânico inevitável. Dor insuportável. Eu queria me afundar em algum lugar, queria escapar do sorriso triunfante do prefeito, queria correr e fugir para bem longe, mas isso não será possível. Seco as lágrimas com as costas das minhas mãos e junto coragem. Tento lançar o olhar mais neutro possível em direção ao ser repugnante que se encontra á minha frente, com uma arma apontada para a minha testa.

– Já se decidiu, Foxface? - Arregalo os olhos e isso apenas faz com que ele sorria mais.

– Oque? Onde... onde você ouviu isso? - indago com a voz fraca e trêmula.

– Nada acontece por acaso. Estávamos de olho em você. - ele contorce os lábios - É só oque precisa saber no momento.

Oque ele quer dizer com isso? Como ele sabe o apelido que me fora dado por Tomas? Apenas eu e ele sabíamos desse apelido. E se o sorteio de Tomas não ter sido bem justo, e se na verdade todos os meus segredos, tudo oque sou, tudo que eu deveria ser já tiver sido descoberto por essa gente nojenta? Raiva brota no interior do meu peito e eu socaria o prefeito o quanto pudesse, se uma arma não estivesse apontada para mim.

– Eu vou para os Jogos Vorazes - respondo com o olhar voltado para as mãos inquietas no meu colo - Como funciona isso? Irei me voluntariar ou algo assim?

– Claro que não - diz ele como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Iriam desconfiar. Nós cuidaremos dessa parte.

Aceno com a cabeça e engulo em seco.

– Oque vai acontecer com a minha irmã? - está aí a pergunta que mais temi fazer.

– Ela ficará bem - ele coloca uma das mãos sobre a minha - Não se preocupe.

Algo no gesto do prefeito me trás uma desconfiança estranha. Ele está agindo de uma hora para outra, como se entendesse a dor de partir. Afinal, não é apenas a minha irmã que deixarei para trás, mas também a promessa, o último pedido da minha mãe.

– Agora se arrume para a colheita e não conte nada a ninguém - ele se afasta - E tente vencer os jogos. Seria bom para o distrito.

Revido um olhar cético para a possibilidade absurda que ele lança no ar.

– Alguma pergunta, Foxface? - seus olhos frios pairam sobre minha face.

– Primeiro: Vocês planejaram o sorteio de Tomas? Segundo: Pare de me chamar de Foxface! - quase berro a última palavra.

Depois de um olhar irritado ele respira fundo.

– Se planejamos ou não, receio que não seja da sua conta. - e é apenas isso que ele diz, ou que eu ouço antes de me erguer do assento e bater a porta atrás de mim. Com força.

Caminho pelas ruas tomadas pela chuva. O distrito 5 parece mais silencioso do que nunca, ou talvez seja apenas impressão minha. Não posso chorar. Se eu chorar ficarei com olhos vermelhos e inchados, Savannah pode ter apenas 6 anos mas pode reconhecer a preocupação estampada no rosto de qualquer pessoa.

Oque direi para a senhora Mikaels? Como posso ter certeza de que a mulher que depois que fiquei procurada pela capital, me deixou de lado, possa cuidar da minha irmã até eu voltar? Se eu voltar. Não posso pensar nisso. Que opção tenho?

Preciso ir aos Jogos para viver.

A senhora Winters foi morta por minha causa.

Savannah e a senhora Mikaels foram capturadas por minha causa.

E se eu estiver certa sobre o planejamento do sorteio de Tomas, ele se fora por minha causa também.

Deixo meus dedos deslizarem pelo meu cabelo ruivo e fecho os olhos por um segundo para imaginar, uma solução para tudo. Para não afundar em meio ás ondas de pânico. Ondas de desespero, que ameaçam me lançar para situações obscuras. É, agora eu tenho certeza. Não há como escapar disso.

Posiciono o punho e bato firme na porta da senhora Mikaels. E apenas agora percebo que mesmo conhecendo-a há um bom tempo, ainda não sei o seu nome. Diferente da mulher sorridente e alegre que me recebia antes de eu me tornar uma rebelde diante de seus olhos, uma mulher rabugenta e assustada me encara da porta entreaberta.

– Oque faz aqui, Finch? Não já causou danos demais? - a cada palavra sinto uma rachadura em meu coração que está prestes a se despedaçar.

– Savannah está aí? - pergunto numa tentativa frustrada de permanecer com a voz firme e confiante.

A mulher irreconhecível diante de mim acena com a cabeça.

– Eu só peço que cuide dela. - um soluço trêmulo me escapa - Por favor.

Ela suspira e por um instante penso que seu olhar perde a rigidez.

– Você não fez isso. - murmura ela - Você... eles te pressionaram e te convenceram a ir para os Jogos, não é?

Encaro-a desconfiada.

– Sim - digo baixo - Ou isso ou eles me matariam, ou pior, machucariam vocês.

Seus lábios se contorcem de forma esquesita.

– Eu só queria - sinto as lágrimas subirem até meus olhos - Droga, eu não posso chorar. Eu não... Eu sinto muito por colocar a sua vida em risco, mas quero que cuide da minha irmã enquanto eu estiver fora. Apenas isso.

– Pode ficar aqui - ela respira fundo - Precisa se despedir de sua irmã, enquanto der. A colheita acontecerá em breve.

– Como sabia que me obrigaram a ir para os jogos? - desconfiança se amarra em meu peito.

– Fizeram o mesmo com a minha filha - um ar triste toma conta da expressão da senhora Mikaels - Ela não voltou.

Baixo o olhar e penso em uma última pergunta.

– Qual o seu nome?

Ela me encara por alguns instantes e depois pisca.

– Magda.

Adentro a casa de maneira hesitante e caminho até a sala. Savannah se joga em meus braços.

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O chão da casa está gelado. Penteio meu cabelo e prendo dois nós em cada lado da minha cabeça. Mergulho as mãos na água e esfrego meu rosto. Meu reflexo pálido me encara de volta, sem graça. Respiro fundo. Está quase na hora da colheita, porém é diferente de todas as outras opções. No meu caso tenho certeza do meu destino, sou eu que irei para essa competição mortal. Sou eu.

Agarro o vestido com o qual irei ser transportada para a capital. Azul. Uma das cores favoritas da minha mãe. Uma cor que se tornou um símbolo de alívio, porém ao mesmo tempo, uma lembrança dolorosa para mim. Visto-o e seu tecido se ajusta contra meu corpo. Calço as sapatilhas velhas que guardei e me examino no espelho.

Quando caminho pelo corredor em direção á porta algo me impede.

Um conjunto de braços, pernas e uma cabeleira loira se agarra em minhas pernas. Os olhos azuis e intensos penetram nos meus.

– Para onde você vai, Finch? - a voz doce de Savannah entoa pelo corredor e delicadamente, passo uma das mãos sobre sua bochecha.

– Nos veremos daqui a pouco - digo contendo as lágrimas - Faça-me um desenho, certo?

Ela acena com a cabeça. Dou-lhe um beijo na testa e depois desapareço na multidão de pessoas que caminham em direção á praça.

O desespero entre a massa de pessoas é visível, sou tirada do meu pânico interior e hipnotizante quando a agulha perfura meu dedo.

A mulher me afasta e caminho para a fila de garotas da minha idade. Todas elas parecem aflitas, mas apenas eu tenho o verdadeiro motivo para isso, mas não as culpo. Para elas ainda existe a possibilidade de serem as sorteadas.

Junto-me entre a população. A garota á minha esquerda chora. Sito-me tonta e o ar parece diminuir a cada segundo. Tento controlar meu desespero assim que a representante da capital, Wisa, sobe ao palco, vestida num algodão doce colorido e com um sorriso falso.

– Olá distrito 5, hoje conheceremos os corajosos guerreiros que terão a honra de participar da 74 edição dos Jogos Vorazes!

Ela aplaude e uma vontade súbita de subir ao palco e esgana-la precisa ser reprimida.

– Mas antes, um pequeno vídeo da capital.

Guerra, terrível guerra...

Não presto muita atenção no vídeo, estou ocupada demais deixando o desespero me corroer de dentro para fora.

– Damas primeiro!

A voz fina de Wisa me tira da transe em que me encontrei, meu coração martela em meu peito.

Ela caminha até o jarro de papéis e ao invés de me preocupar com a oficialização de que serei uma dos tributos, pergunto-me como eles manipulam o sorteio assim, fazendo parecer tão... normal.

– Finch Navka.

Essa é a minha deixa.

Caminho tranquilamente até o palco e volto meu olhar para a parte inferior dele enquanto o tributo masculino é sorteado e suspiros de alívio e pânico se espalham pela multidão.

Quando um rapaz aparentemente forte sobe ao palco viro-me e o encaro nos olhos antes de apertar a sua mão.

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Aos poucos a multidão se dispersa. A praça se esvazia, assim como oque restou do meu coração. Fecho os olhos e inspiro lentamente. Oque farei agora? Como lidarei com oque acontecerá a seguir? E todo o peso que não me alcançou durante a colheita, agora despenca com toda força sobre mim. Deixo as lágrimas transbordarem de meus olhos, na esperança de que levem consigo o peso da tristeza. O gosto amargo do abandono da esperança.

Assim que ouço o ruído da porta se abrir concentro-me nela. Magda fica parada no vão da porta e acena e então uma menininha de trancinhas loiras entra correndo. Ela não parece feliz, está chorando. Entre seus dedos carrega um desenho.

– Finch - murmura ela contra meus cabelos - Para onde você vai?

– Lembra que lhe contei sobre a colheita? - afasto-me e a encaro com lágrimas nos olhos - Acho que fiquei madura, sim.

Um sorriso triste me escapa e aperto-a entre meus braços.

– Eu não quero que você vá. Fique! - ela implora agarrada a mim - Prometa que vai ficar!

– Eu não posso prometer isso, Savannah - entre a respiração trêmula consigo encontrar as palavras.

– Então prometa que vai voltar! - berra ela, lágrimas escorrem belas suas bochechas rosadas.

– Cuide-se Savannah. - murmuro.

– Prometa! - ordena ela e quando sinto todo o seu desespero não consigo resistir.

– Eu prometo.

Tudo correu rápido demais. O último abraço. E então, ela se vai, desaparecendo pela porta enquanto tudo de que me lembro são lágrimas e uma folha de papel rabiscada.

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Não olho o desenho de Savannah. Ainda não. Não estou pronta para ser esmagada e torturada pelas emoções. Continuo sentada em um dos assentos acolchoados do trem luxuoso, indo em direção ao desconhecido.

Em direção á incerteza.


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Notas finais do capítulo

O sobrenome que coloquei na Finch não é o original. Obrigada por lerem e novamente desculpem pela demora.



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