Uma semana se passa desde que comecei a trabalhar na cafeteria. Não demorou muito até que Jace aparecesse por lá. Às vezes me distraia com seus elogios e eu ficava corada. E hoje, nessa segunda-feira nublada e chuvosa, eu espero que ele não apareça na minha frente, porque terei prova de inglês e não aceito qualquer distração.

A prova não foi muito difícil. Acho que as noites em claro estudando ajudaram. Logo o outono está chegando e só preciso agüentar um pouco mais até as férias de inverno.

–Clary! – olho para frente e vejo Sebastian bem a minha frente- está indo para casa?

–Na verdade não.

–Vou ter treino daqui a quinze minutos, então eu estava pensando em depois disso, quem sabe, nós passarmos em algum lugar...

–Hm, eu adoraria, mas não posso. Tenho que ir agora- sou um sorriso torto e desvio meu caminho, mas ele segura meu pulso. Viro-me e olho para ele. Apesar de seus olhos negros serem meio aterrorizantes, me derreto com o olhar de suplica dele.

–Vamos Clary. Passar um tempo juntos vai ser divertido- tiro os fios rebeldes do meu rosto e solto o ar preso em meus pulmões. –Onde está indo? Eu posso te acompanhar.

–Ah, você vai se atrasar...

–Não, eu faço questão.

Apesar de eu ter corado, aceitei. E eu não teria outra saída.

Conforme andamos, ele vai puxando assunto. Ele é muito educado e gentil durante todo o trajeto.

–É aqui – digo parando na calçada em frente à cafeteria. Ele analisa rapidamente o espaço e põe as mãos nos bolsos. –Acho melhor você ir correndo para o seu treino.

–É- ele dá de ombros. Uma de suas mãos sai de seu bolso e ele segura a minha mão, levando-a até seus lábios e deixando um beijo lentamente sobre as costas da mão. Eu não deixo de corar com seu ato.

–Eu preciso ir – dou um sorriso amarelo, sem saber como agir. No fundo, eu me sinto meio mal, porque a companhia dele é agradável.

Xx

As semanas foram passando e eu me concentrava em estudar. Não teve um dia sequer que eu não fui acompanhada por Jace ou Sebastian. E eles viviam lá na cafeteria, jogando indiretas para cima de mim e tentando chamar minha atenção. Minhas notas melhoraram e estava tudo muito bem, exceto duas coisas: Simon e a gripe nada bem vinda que chegou no meio da semana.

Recebo uma cotovelada de leve nas costelas e me viro, encontrando uma garota parada ao meu lado com alguns muffins nas mãos.

–Tem uma encomenda pra você- franzo o cenho e ela indica com o queixo a mesa próxima a janela de vidro ao lado da entrada.

Uma caixa retangular laranja. Pego um papel e assuo meu nariz antes de ir até lá. Abro a tampa e encontro algo surpreendentemente fofo e engraçado. Remédios para gripe, uma caixa de lencinhos, um pacote de jujubas e um cartão. Abro o envelope e leio o pedaço de papel, escrito com uma letra surpreendentemente bonita.

Espero que isso ajude. Agradeça-me depois.

–Jace Incrível Herondale.

Reviro os olhos com um sorriso bobo no rosto. Pego a caixa e volto para atrás do balcão. Antes de atender outra pessoa, tomo um comprimido de um dos remédios.

Xx

Não faço à mínima ideia de como Sebastian ficou sabendo sobre o “presente” que Jace enviou, mas eu comecei a receber presentes dos dois. Logo depois que recebi a caixa com coisas para a gripe, não demorou em que Sebastian me desse um cartão com uma corrente fininha de prata com um pingente de trevo de quatro folhas. Depois, uma pulseira de berloque com pingentes de Sherlock. E logo depois vieram as flores de um, chocolate de outro... Eu jogava as flores fora, por que não queria levá-las para casa e explicar a situação para minha mãe, mas os chocolates eram mais do que bem vindos. Isso já estava me tirando do sério. Nunca pensei que poderia ficar tão envergonhada, mas Jace e Sebastian me provaram que consigo. Quando Jace aparecia na cafeteria e começava a flertar comigo era o fim do mundo. Ficava tão vermelha quanto um pimentão.

Isso durou suas semana e meia.

Hoje, eu irei colocar um ponto final definitivo nisso. Jace precisa entender que eu preciso estudar agora, e Sebastian... Eu terei que inventar uma desculpa para ele.

Seguro a alça da minha mochila e caminho através do refeitório até a mesa onde Jace está. Se ele fosse feio, talvez isso se tornasse mais fácil.

–Jace- digo com a voz falsamente firme. Todos os garotos do time param de rir e ele ergue os olhos, com o sorriso no rosto ainda. Um Red Vine pende em sua boca, preso entre seus dentes. Ele nem mesmo se esforça para ser bonito desse jeito. –Preciso falar com você.

Os meninos começam a murmurar, rir e fazer piadinhas, mas sem deixar de sorrir, ele se levanta.

–Muito bem, eu vou ser direta: por favor, pare de me envergonhar e dar-me presentes.

–Pelo que eu me lembre, você concordou quando eu disse que não iria me conformar com o que sua mãe disse, certo?

–É... Eu sei disso, mas de qualquer forma, eu já estou cheia de receber presentes. E também, não dê em cima de mim enquanto estou trabalhando, porque você não tem ideia de quão constrangedor isso é.

–Vai ter que arcar com as conseqüências, querida- ele puxa o Red Vine.

–Posso dizer o mesmo para você- dou um sorriso. Não faço ideia do que eu quis dizer com isso, mas me pareceu a coisa certa a dizer no momento.

No fim do dia, procuro por Sebastian durante quinze minutos. Finalmente o encontro e vou até ele, pensando nas palavras corretas para dizer a ele.

–Olá senhorita Clary – ele diz. Sorri e me dá um beijo na bochecha lentamente, me fazendo corar.

–Oi. Hm... Eu vim falar sobre os presentes e tudo.

–Ah, claro- ele cruza os braços. Parece tão tranquilo e confiante.

–Bom, eu realmente agradeço por todos eles. Mas eu não acho que seja muito conveniente levá-los a cafeteria, porque logo a minha chefe começará a se irritar com isso. E infelizmente não posso voltar para casa com flores todos os dias- minto, como se eu não tivesse as jogado fora- Logo estará mais florido que o Central Park.

Ele dá uma risadinha e desvia o olhar, depois volta o foco na conversa e solta um suspiro.

–Se é assim que deseja... Assim farei- fico feliz que com ele foi mais fácil do que com Jace.

–Obrigada por entender. Preciso ir. Até mais- me viro e saio apressada para evitar mais dialogo.

Xx

Termino o quinto exercício de matemática e abro o livro de inglês para revisar antes da prova de amanhã. Ouço a campainha e me levanto. Abro a porta e meus olhos quase saltam das orbitas. Meu coração acelera.

–Simon! O-oi!- engasgo co minhas próprias palavras, mas percebo como isso é ridículo. Simon é como um irmão para mim e fazer isso é estranho com nosso nível de familiaridade. –Entre.

–Bom, eu me lembro que estávamos conversando um dia em um passado distante sobre coisas que nunca devemos fazer um ao outro. Entre elas estava ir a Comic Com sem o outro.

–Realmente imperdoável.

–Então eu passei aqui para convidá-la a ir tomar um chá gelado comigo enquanto combinamos como resolveremos isso.