Laços de Sangue e Fúria escrita por BadWolf


Capítulo 21
Diane Watson


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Então, vamos direto para mais um cap, que como podem ver, é dedicado à esta forasteira danadinha. Cap bem longo, espero que não seja um sacrifício lê-lo.

Também iremos saber um pouco da família do Watson - ou pelo menos o que eu entendo que é a família do Watson.

Boa leitura!



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Mas que...?

O cérebro de Esther ainda tentava processar – quase em vão – aquela informação.

Afinal, de uma hora para outra, lá estava ela. Uma jovem, de cabelos castanhos claros, sotaque estrangeiro (que ela soubera agora que era americano), usando vestes de qualidade mediana, um tanto rurais, e com três malas do lado de fora, onde o cocheiro ainda esperava.

–Ei! Será que agora você pode chamar meu primo John? Ou eu terei eu mesma de subir aquelas malditas escadas atrás dele? – perguntou a moça, já nervosa.

–E-Ele não está... Está cuidando de um paciente. – mentiu Esther.

Na verdade, nem mesmo Esther saberia dizer – ou melhor, gostaria de saber – aonde estava, àquela hora da noite, o Dr. John Watson. Com certeza o bom doutor estaria lhe devendo uma por isso.

–Bom, então eu irei esperar por ele. Vou pedir ao cabriolé que deixe minhas malas. Ei, energúmeno! – ela gritara, deixando Esther estarrecida. – Isso mesmo, seu asno! Pare de fazer companhia aos seus irmãos quadrúpedes e venha colocar o restante das minhas malas aqui dentro! Ande, logo!

Esther ficara horrorizada com a maneira nada gentil da moça. O pobre cocheiro descarregara, aos resmungos, apenas duas pequenas malas, que mesmo ela seria capaz de carregar.

–Aqui. – disse a moça, dando algumas moedas, que a julgar pela reação do cocheiro, eram insuficientes. Ainda assim, ele parecia aliviado em se livrar de tal cliente e nem reclamou disso, observou Esther.

–Será que dá para me ajudar? Não, deixe isso para a criada pegar.

–Watson não tem criada.

A moça pareceu espantada. – Não? E aquela velhota dos livros dele? Mrs. Houston...

–É Mrs. Hudson, e ela não é nossa criada. Ela é nossa senhoria, e isso é diferente. – completou Esther, ao perceber que as duas palavras pareciam ser a mesma coisa para ela.

A jovem bufou. – Que seja. Bem, eu vou esperar meu primo lá em cima.

Enquanto observava a jovem subir as escadas, Esther lembrou-se de Holmes. Aquela mulher, sem modos e arrogante, às sós com Holmes... O pequeno pensamento fazia seu sangue ferver. Não que ela não confiasse nele, mas era daquela completa estranha que ela não sabia o que esperar.

–Er... Eu vou te fazer companhia.

–Que seja (Whatever). – respondeu a mulher, não dando a mínima para a gentileza de Esther.

Ao entrar, Esther percebeu que o violino não estava sendo executado. Ocorreu-lhe que Holmes deveria ter parado de tocar e decidido dormir, o que era mais confortável. Entretanto, sua aguçada audição lhe fizera ouvir, baixíssimo, o som de uma corda. Ele o estava afinando.

–Droga! – foi o que escutou, após o som de um arrebentar. Certamente, a corda não resistiu à afinação – ou o violino estava precisando de um conjunto novo de cordas. A moça – que até agora Esther não sabia o raio do nome – pareceu levemente assustada.

–Quem disse isso? Oh! Deve ser o amigo de meu primo... O tal detetive... – ela pareceu entusiasmada demais para o gosto de Esther.

Para piorar, o próprio acabou por aparecer.

–O que está havendo aqui? – perguntou Holmes, usando pijamas e envolvido em seu robe, diante de Esther e da estranha. – E quem é você?

–Meu nome é Diane Watson. Sou prima de seu amigo, John.

Ah, agora você diz seu maldito nome... pensou Esther.

Holmes ergueu uma sobrancelha, um tanto desconfiado. – Prima?! Ele jamais me contou sobre prima alguma...

De braços cruzados, a moça franziu o rosto. – Não me surpreende.

–Há como provar? Documento, correspondência, alguma evidência? – perguntou Holmes, desconfiado. Esther parecia ter a mesma desconfiança, e demonstrava isso por meio de troca de olhares com Holmes.

–Eu tenho minha certidão de nascimento, e alguns documentos de meu pai, Donald Watson, que é tio de meu primo John.

Holmes suspirou. – De todo modo, apenas Watson será capaz de confirmar essa história, e ele não está aqui no momento. Deve estar...

–Atendendo algum cliente. – interrompeu Esther, evitando um lapso de sinceridade de Holmes estragasse a imagem de família de Watson. Holmes sorriu muito brevemente com a mentira, antes de voltar a si.

Parecendo ainda refletir sobre o assunto, Holmes acabou cedendo.

–Enfim, Watson está em serviço médico e eu não sei que horas ele estará de volta, realmente. Pode esperar na sala, eu irei fazer-te companhia. E não se preocupe, Mrs. Sigerson, eu assumo daqui. – disse Holmes, passando por Esther sem antes dar-lhe um leve e discreto afago no ombro.

–Não, Mr. Holmes. Posso perfeitamente fazer companhia a esta senhora. Além de quê, não é apropriado um homem solteiro estar às sós com uma desconhecida, é? – retrucou Esther, cochichando.

Oh, Céus. Ciúmes agora, pensou Holmes, escondendo diversão.

Para alívio de Holmes, Watson reapareceu, quando mal tinham sentado no sofá. Talvez sua noitada não tenha sido exatamente bem-sucedida, a julgar por seu olhar carrancudo.

–Olá, meu caro Holmes. Ainda acordado? Sophie? O que você... E o que deseja, senhorita? É alguma cliente de meu amigo Sherlock Holmes? – fez Watson a pergunta óbvia.

–Estávamos a esperar que você nos dissesse exatamente quem é ela, meu caro Watson. Além de fato de que essa senhorita é uma americana, canhota, em vias de contrair gripe creio que pelo nosso clima londrino, acostumada a atividades ao ar livre, que sabe como arar uma terra, que está sem dinheiro, que pegou o trem errado e parece temerosa em te encontrar, pouco posso dizer. Mas o fato é que ela se diz sua prima.

–Minha prima? – Watson, que tinha ficado encantado com mais uma demonstração de Holmes, deu lugar à surpresa.

–Meu pai é Donald Watson.

–Oh, por Deus! Você deve ser Diane! - Watson pareceu reconhece-la prontamente, cumprimentando-a de imediato, com entusiasmo. – Por São Jorge! O que lhe traz aqui, em Londres? A uma hora dessas?

Em um instante, toda a empáfia sensivelmente sentida por Esther desapareceu, dando lugar a uma inquietude, incômodo. Talvez até certo temor.

–Não trago boas notícias da América, meu primo. Meu pai, ele... Ele está morto.

–Morto?! – Watson pareceu surpreso, enquanto Holmes e Esther ouviam a tudo atentamente, ainda um tanto desconfiados, mas já não mais tanto como antes.

–Er, se me permitem... – disse Esther, levantando-se, ao perceber que o assunto estava se tornando privado.

Watson assentiu, enquanto Esther se levantava e saía dos aposentos. Holmes permaneceu no mesmo lugar. Acendeu seu cachimbo, enquanto escutava o relato emocionado de Diane.

Embora não estivesse interessado propriamente neste ponto, Holmes acabou descobrindo um pouco sobre a família Watson. Sobre como o pai de seu amigo, Henry Watson, era um perfeito antagonista ao mais velho, Donald Watson, desde crianças. Henry era tido por filho perfeito dos Watson, entrara na Universidade , se graduara em Medicina, chegara a ter um consultório, mas era um homem de vícios. Especialmente bebida e jogos.

Já Donald era quase o oposto. Não se destacara muito nos estudos. Era um homem simples e religioso, sem vícios, poderia se dizer sem pecado. Sequer fumava. Aos dezoito, começou o seminário, para tornar-se padre. A família não aprovara, especialmente Henry, seu irmão e pai de John Watson. Os dois irmãos passaram a travar grandes batalhas. Não havia um encontro que não resultasse em discussão. Don, como era chamado, queria ver seu irmão em um caminho correto, e Henry lhe zombava. Em muitos momentos dessa revisitação ao passado, Watson cedera às lágrimas, juntamente com Diane, sua prima.

Quando o pai de Henry e Don morreu, a batalha se intensificou.

Henry dera um golpe em Don, e conseguira ficar com toda a herança. Simplesmente misturou entre os papéis de despacho do enterro, que eram assinados por Don, uma certidão onde Don renunciava da herança para Henry. Don perdera todo o dinheiro de sua herança. Pelo relato de Diane, ele não ficara irritado por perder seu dinheiro, mas pelo golpe sórdido do irmão. Decidira, então, abandonar a Inglaterra, aceitando um trabalho missionário na América.

Seus tios e primos pareceram não gostar dessa opção. Henry Watson pouco se importou. Embora descobrisse, mais tarde, que seu pai pouco lhe deixara, ele conseguiu colocar seu único filho, John Watson, na Universidade de Medicina. Queria um futuro melhor para ele. John crescera ouvindo pouco sobre esse tio, padre, que morava “no meio de marginais em uma terra distante e selvagem”. Às vezes, ficava curioso. Mas seu pai, cada vez mais bêbado e violento, não era o tipo de pessoa a se perguntar. Só depois da morte de seu pai ele soubera da história completa. E também de um fato não conhecido.

Seu tio padre, Donald Watson, tinha abandonado a batina.

Não se sabia se a criança – que Watson sabia por sua família que era filha de uma prostituta, mas preferiu não comentar naquele momento –, era realmente filha de seu tio Don, ou apenas mais um gesto de caridade do ex-padre de imenso coração. O que importava a todos era que aquela criança tinha nas veias o sangue de uma devassa, e causava pavor a toda a família imaginar que vícios e tendências criminosas havia aquela menina americana, que agora carregava o sobrenome Watson.

Holmes fechou os olhos, sorrindo levemente.

Agora posso entender muita coisa... A família Watson estava cortada por muito mais que um oceano.

Diane parecia ainda disposta a convencer Watson que, independentemente se em suas veias realmente corria o sangue dos Watson ou não, Don Watson realmente a amava como filha. Ela sacou de sua bagagem uma pequena caixa com uma série de papéis. Cartas que Don recebia dos poucos familiares que lhe escreviam, e que cessaram quando Don contou sobre a criança – e suas origens. John ficou horrorizado em saber com mais detalhes o desprezo de sua família para com seu tio Don e sua prima Diane.

–Eles nunca ajudaram meu pai, mas ele não se deixou abater, e cuidou de mim. Minha mãe abandonou sua antiga vida, se converteu à boa Religião, e os dois se casaram e passaram a morar juntos. Meu pai tinha comprado algumas terras ao norte do Texas e tínhamos uma fazenda, com um roçado e algumas cabeças de gado. Vendíamos leite e queijo para a cidade. Minha mãe morreu há dois anos atrás, e desde então vivo sozinha com o meu pai, até...

Chegara o momento mais interessante da narrativa para Holmes. Ele abrira seus olhos, em interesse. Diane prosseguiu.

–Minha mãe morreu de tifo. Onde morávamos, havia poucos recursos e tudo era mais caro. Meu pai se endividou para dar-lhe o melhor tratamento. Ele andava muito irritado por conta do falecimento de minha mãe, e se envolveu em uma briga com um vizinho nosso, Kifler, por causa das fronteiras. Era uma questão boba, que poderia ser facilmente resolvida, mas meu pai era teimoso. Até que um dia, fomos atacados. Meu pai foi morto e eu consegui escapar, com a roupa do corpo. Só deu tempo de pegar sua carta, John, com seu endereço, e a velha caixa de meu pai.

–E suas malas? – perguntou Holmes, ainda pouco convencido.

–Eu encontrei uma amiga em Dallas. Ela me cedeu algumas roupas. As outras eu mesma comprei, sacando minhas economias no Bank of Texas. De segunda mão, porque não tinha dinheiro o bastante para comprar roupas novas.

–Certamente não são estas que você está usando. Posso distinguir quando alguém usa roupas que não são suas...

–N-Não, não são. – ela respondeu, ficando corada. Watson sentiu-se incomodado momentaneamente.

–Perdoe as observações de meu amigo, Diane.

–Eu não disse nada demais, Watson. – alegou Holmes. – Ainda assim, perdoe-me se porventura eu a ofendi. Não foi minha intenção. – Holmes suspirou.- Um caso interessante este seu, Miss Watson. Mas poderia nos esclarecer o que pretende fazer agora?

–Creio que esta pergunta se aplica a mim, Holmes. – disse Watson, irritado. – E você não precisa sequer responder, Diane. Até segunda ordem, você ficará aqui, em Baker Street, comigo.

–Aqui?! – questionaram, em uníssono, Holmes e Diane.

Watson não parecia entender o porquê da dúvida.

–Sim, lógico. Sei que isso pode não parecer o mais adequado, mas... Entenda, Diane, minha prima, eu ando um tanto... Atribulado financeiramente. Me mudei para um consultório cujo aluguel duplicou nos últimos meses e não sei se tenho suporte para pagar mais um aluguel...

Holmes sabia que aquilo era mentira. Os gastos de Watson aumentaram, de fato, mas devido às suas noitadas e gastanças com certa dama da noite que ele sabia que o atendia em Whitechapel – ou, áquela altura, já tinha um apartamento próprio para suas noites exclusivas.

–E o que você propõe, Watson? Dividir o seu quarto com ela?

Watson levantou-se, aturdido com a indagação de Holmes. Olhou brevemente para sua prima, que parecia incomodada pela natureza da situação e fez um aceno a Holmes para que os dois pudessem conversar em local mais privado.

–Poderia ser mais delicado, Holmes? Minha prima passou por um momento deveras adverso!

–Não é esta a questão, Watson! O problema é que somos dois homens solteiros e você pretende colocar uma moça de trinta anos entre nós!

Watson pareceu surpreso, tanto quanto Diane, bastante impressionada e admirada. – Como você sabe a idade dela de maneira tão precisa?

–Dedução, meu caro. E além disso, não é este o caso. O fato é que estamos diante de um problema. Dois homens e uma mulher, dois quartos com uma cama de solteiro em cada um. O que propõe?

Watson analisou a questão. – Bem, eu posso dormir no sofá.

–Sim, e sua perna certamente lhe agradeceria. Nem pensar!

Watson pareceu ter uma idéia.

–Será que Sophie aceitaria hospedar minha prima?

–Sophie, mas quem é Sophie?

Holmes suspirou, um tanto irritado, tanto pela pergunta quanto pela possibilidade de um morador na casa de Esther. Isso implicava em mais gente no 221-A - e pior, menos visitas noturnas e secretas. Watson respondeu educadamente.

–Sophie é uma das inquilinas daqui. Ela mora no apartamento de baixo.

–Ah, então deve ser aquela loira que estava aqui até agora há pouco. Eu a achei um tanto desaforada demais para o meu gosto, insistindo em saber o meu nome... Coisas que não são de sua conta.

Watson pareceu chateado em perceber que Diane já não nutria uma simpatia por Sophie de imediato. Ele conhecia o bastante das mulheres para saber que as impressões do primeiro encontro praticamente determinavam os rumos de uma amizade feminina. Ou rivalidade.

–Não diga isso, Diane... – Watson disse, pesaroso. –Você ainda não a conheceu devidamente. Ela é uma mulher adorável, você verá. E como tem um coração enorme, acredito que poderá te hospedar em sua casa.

Holmes negativou. – Não aconselho. Quero dizer, ao menos que você deseje que sua irmã compartilhe do mesmo teto que John Sigerson... Ainda mais agora, que sabemos de sua frequência no 221-A...

Watson demonstrou desgosto com essa afirmação.

–De jeito nenhum! – ele suspirou. – Tem toda a razão. Não posso sequer cogitar essa possibilidade, não com esse calhorda podendo reaparecer a qualquer momento aqui...

Holmes suspirava de alívio internamente.

–John Sigerson é marido dela, minha cara. – explicou Watson.

–Sigerson... Que nome mais estranho! – observou Diane, com diversão. – Mas qual o problema com esse John Sigerson? Posso ver que você o detesta, meu primo.

Watson trocou olhares com Holmes.

–Uma longa história, minha prima. Apenas saiba que o sujeito não vale um xelim.

–Mas voltando à questão das... Acomodações de sua prima, meu caro. – pediu Holmes. – Seu quarto, meu caro Watson, é pequeno demais para duas pessoas. – analisou Holmes. – Ela pode dormir no seu quarto. E você pode dormir no meu quarto. E eu posso ficar com o sofá.

–Tem certeza, Holmes? Podemos dividir o quarto.

–Você ronca demais, Watson. E meus horários são irregulares. Gosto de tocar meu violino durante a madrugada e sempre fumo dois cigarros antes de dormir. Quero dizer, ao menos que não haja problemas para você se eu mantiver os meus hábitos, ou...

Watson estudava a proposta, até concordar. – Er... Acredito que sua proposta seja a mais adequada, meu caro. Isto é, se isso não for um incômodo...

–Só será se perdurar por muito tempo. – disse Holmes, de maneira sincera.

Watson concordou. – Em breve, arranjarei um emprego para você, Diane. Ou até mesmo um casamento, se for necessário.

Holmes sorriu. – Duas saídas possíveis.

O olhar irritado de Diane parecia não concordar com a afirmação de Holmes.

Os dois amigos, então, firmaram o acordo. Sacramentaram-no com um cordial aperto de mão.




Hudson não parecia apreciar o acréscimo de mais uma moradora em Baker Street. Não que isso significasse mais trabalho, mais comida a fazer. Simplesmente, a senhoria acabava se envolvendo demais nas vidas de seus inquilinos, e os acolhia em suas asas, tal como filhos. A idéia de uma mulher, nos mesmos aposentos que dois homens solteiros, era por demais inapropriada à sua boa educação anglicana. O fato de ela ser prima de um deles era um atenuante, mas não o suficiente.

–Conheço homens que se casaram com suas primas. – ela retrucou, na mesa do café, no dia seguinte.

–Tenha certeza, Mrs. Hudson, que este não é o caso. – disse Watson, tentando afastar a idéia. – Só consigo enxergar em Diane o afeto de uma irmã.

–E quanto ao Mr. Holmes?

–Nós conversamos a respeito, e ele disse que irá me ajudar. Isso será temporário, Mrs. Hudson. Eu já estou à procura de um emprego para Diane. Ela tem predicados, e creio que em breve arranjará algo. Assim que conseguir, poderá alugar seu próprio aposento, até que consiga matrimônio e forme uma família. Quem sabe ela não consiga uma locação aqui mesmo, em Baker Street? Seria ótimo.

Hudson sorriu. – Não há mais vagas aqui, Dr. Watson. Mas creio que morar a algumas quadras daqui não seja problema. Aliás, onde ela está?

–Dormindo. – explicou Watson, enquanto cortava sua generosa fatia de bacon. – Ela estava muito cansada da viagem e chegou aqui muito tarde. Por enquanto, ela está dormindo em meu quarto, enquanto Holmes cederá o seu quarto para mim.

–Mr. Holmes fará isto? – a senhoria estava surpresa, com razão.

–Sim. Isso porque ele preferiu...

De repente, Mrs. Hudson ouviu um grunhido, que interrompeu a conversa.

–É-É o Mr. Holmes quem está dormindo? – a senhoria perguntou, ao perceber que o cobertor estendido sobre o sofá começara a se mover.

–Sim, é ele. Ele está dormindo no sofá agora. Eu pedi, supliquei, mas ele não aceitou. Disse que seria um companheiro de quarto inadequado, por causa do cigarro e do violino. Por isso, preferiu o sofá. Eu jamais tinha visto Holmes dormir, e é impressionante, Mrs. Hudson. Ele sequer se move quando dorme. Eu dei “boa noite” à ele na mesma posição, e quando levanto, eis que ele está do mesmo jeito,

Hudson pouco deu importância ao fato. Estava preocupado com outra coisa.

–Faço-o acordar logo, antes que sua prima levante. Não é adequado que uma dama encontre um cavalheiro sob tais circunstâncias.

Sem dúvida, era mais uma regra de etiqueta sagrada de Mrs. Hudson. Ele levantou-se, enquanto observava seu amigo, dormir profundamente. Ele suspirou. Holmes detestava ser acordado, salvo em caso de um cliente. Mas não havia o que fazer senão acordá-lo. Por um lado, realmente não ficaria bem que sua prima o avistasse ainda em pijamas.

–Sim, Watson, eu já vou levantar. – disse Holmes, ainda de olhos fechados e com a voz sonolenta. – Apenas dê-me mais um tempo, está bem?

–Tudo bem. – disse Watson, surpreso. – É que minha prima...

–Ela ainda está dormindo, aposto. Posso ouvir seu leve ronco daqui.

Watson parecia descrente. – Ronco?! Francamente, Holmes... Eu não estou escutando nada!

–Não, porque você está pensando. E quando pensamos, ignoramos os sons mais inaudíveis. Aproxime seu ouvido da porta.

Watson o fez, e notou um leve roncar, nitidamente feminino, vindo da porta.

–Tem toda razão. Ela está dormindo.

Holmes, que começara a se levantar, reafirmou. – De fato. E como as mulheres sempre demoram a se arrumar, creio que sua pressa em acordar-me era infundável, mas tudo bem. – disse Holmes, caminhando até seu quarto enquanto tentava ajeitar seu cabelo, cuja franja insistia em cair-lhe sobre os olhos.

–Mais uma vez, Holmes, eu peço desculpas pelo inconveniente.

–Sem problemas, meu caro. Sem problemas. – limitou-se Holmes, trancando-se em seu quarto.

Watson retornou à sua cadeira. Deu um último gole em sua xícara de chá, até que seus olhos azuis se voltaram à cadeira que ficava de frente a si. Vazia.

Onde estava Sophie?


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Notas finais do capítulo

Holmes, você é um santo!!! Trocou o bom conforto de sua cama pelo sofá!!!

Está vendo? Se não fosse pelo cigarro e o violino, você poderia pelo menos dividir o quarto com Watson.

E no próximo cap, saberemos porquê Esther não está ali, tomando café com eles.

Gostaram do cap, gente? Não sei se Diane atendeu às suas expectativas. Espero que sim. Nos próximos caps, teremos mais mistérios e mais casos. A morte de Morrison e do Pinkerton ainda não esfriou. Tem água pra rolar debaixo daquela ponte. Sem contar essa misteriosa Beatrice Morgan e todos os segredos do Holmes... Confiram nos próximos caps!!!

No próximo cap: a vida de Esther na Agência pós-morte de Morrison. Será que ela também será vista como Traidora?

(Aposto que tem gente que vai tremer depois que lê-lo na quarta, literalmente...) #falonada

Um grande bj e até quarta! E deixem reviews, são sempre preciosos!!



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