Irmãs Blood escrita por Raquel Barros


Capítulo 26
Medo


Notas iniciais do capítulo

Minhas sinceras desculpas pela demora. Foi um mês bem corrido na minha escola e o computador em que eu escrevo quebrou, então milhões de desculpas por deixar vocês ansiosos.



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A terra abriu-se abaixo dos nossos pés sem o menor aviso previu. Em um minuto olhávamos um para o outro e sem saber o que fazer, e no outro éramos sugados pela própria terra. Juro que achei que iria morrer. Droga! O cara não brinca em serviço. Depois de ameaçar, cumpri mesmo. Outro bom motivo para meus parentes sadics dar um fim nele. E sem contar é claro: minha mãe esta em perigo por causa dele. Apesar de que ela cuidou de duas filhas biológicas e uma adotada sozinha, então é uma mulher resistente. Não é qualquer idiota que vai acabar com ela tão facilmente. E meu pai já deve ter feito isso. Ítalo tem uma cara de vacilo que só Deus na causa.

–Você esta bem?

Perguntou Dexter. A única coisa que eu via naquela escuridão toda era os olhos verdes dele. Brilhantes como duas esmeraldas. O que é realmente estranho.

–Não tenho medo de escuro, então acho que estou.

Respondi conferindo se estava tudo no lugar. Por incrível que pareça, sim. A queda não foi tão alta assim. Pelo menos é o que eu acho.

–Não por muito tempo, querida.

Discordou alguém. Olhei para o lado e dei de cara com os olhos azuis esmeraldas brilhantes do Alef, ou é o William? Nem sei mais. Ambos são tão parecidos eu nem sei por que eu fiquei tão surpresa quando foram revelados como pai e filho. Acho que é por causa do cabelo loiro de William. Loiro não, branco que nem o meu. E o Alef é moreno com aquela cara de menino amarelo que esta crescendo barba agora.

–Como?

Perguntei confusa. A voz também era igual. Santo DNA. Sempre confundindo tudo. E eu sei do que estou falando. Viviam confundindo minha irmã Caryn comigo. E nem somos parecidas. Acho que o povo alheio nós ver loiras, e quase da mesma altura e mesmo sabendo que somos gêmeas não idênticas elas insiste em perguntar: “Vocês são gêmeas idênticas?”.

–Desculpa aí, mas Drakon não deixa mais de duas pessoas que se dão bem juntas na câmara do medo.

–Câmara do medo? Mas quem é que esta aí?

Perguntou Dexter antes de mim.

–Eu, William, pai do Alef, Lorde Dark, o que preferi.

–É assim que ele vai nos matar?

Perguntei-me incrédula. Mas o cara é louco mesmo. Câmara do medo? Ele não tinha nada mais criativo do que acordar o medo das pessoas?Drakon deveria contratar alguém para cuidar da criatividade dele, por que, sinceramente, é péssima.

–O medo pode matar e é bem eficaz.

Respondeu o pai de Alef com um suspiro pesado.

–E ele por acaso sabe do que eu tenho medo?

–Claro que sabe. É tão claro que parece ilógico.

–E qual é?

–Estamos numa câmara do medo e você quer saber qual é o seu, Angel? Desculpas a parte, mas isso não faz parte do meu oficio.

–Que é?

–Eu já passei por isso. Antes de ser isso. Não é divertido. Nem um pouco.

–Eu não sinto nada.

–Ainda. Aqui não funciona assim criança. Vocês não sentirão, ele chega de surpresa. Vamos andando, é bom para mandar oxigênio para a mente. E quanto mais rápido ele nós achar, mais rápido saímos daqui. E mais chances sua mãe tem.

Aconselhou William levantando.

Confesso. Não acreditei em uma única palavra que ele disse. Até porque não sou de confiar nas pessoas assim tão facilmente, ou eu não seria Angel. Mas não tinha jeito, estou simplesmente sem escolha. Ou fico aqui parada sozinha ou começo a andar.

–Vem Angel.

Chamou Dexter me ajudando a levantar. Minhas pernas doeram um pouco. Acho que cai quase que de joelhos.

–Você confia nele?

–E tem outro jeito?

–Como eu disse anteriormente, seu medo estar bem estampado em sua cara.

Lembrou William desnecessariamente. Não consigo nem imaginar do que eu tenho tanto medo. De altura não é. Nem de escuro, barata ou sapos. Não tenho medo de morrer, e acho que também não tenho medo de perder alguém importante. E não tenho medo de zumbis, vampiros ou lobisomens do mal, até porque, estou apaixonada por um presai que é quase um vampiro e tenho um cunhado lobo.

–Eu ainda não consigo vê-lo.

Comentei mal humorada. William gargalhou em puro desdém antes de alfinetar sem motivo:

–Deve ter problema de visão. Pode ser comum em sua espécie.

–Olha só, o Lorde Dark tem senso de humor.

–Que ingênua.

–Eu não achei graça.

–Que falsa.

–Que irritante.

Alfinetei de volta furiosa. Mas que pai chato o Alef foi arranjar. O cara fala em enigmas e ironiza a cada frase. Eu não conseguiria conviver com uma criatura dessas. Mas agora dá para saber de onde vem o lado irônico que aparece só em alguns momentos do Alef. Como eu disse antes, o DNA é coisa de louco. Ainda mais o DNA sadic. Parece que passa tudo de pai para filho.

–Vamos acabar nós dando bem, você vai ver.

–Vamos é?

–Boa pergunta.

–Não como vocês dois no futuro. Se sobrevivermos é claro.

–Ver o futuro?

Perguntou Deter sem incredulidade nenhuma na voz. Não é pra menos né? Ele foi criado por sadics e é um sadic. Deve ter visto muita coisa estranha na vida, creio eu.

–Sim e não.

Respondeu William. Não foi bem uma resposta na verdade. Sim e não é a mesma coisa de mais ou menos. Nada.

–Porque estamos caminhados que nem loucos?

Indaguei depois de um tempo, com as pernas cansadas, e meu estomago já reclamando com o vazio que se encontrava nele. Eu deveria ter ouvido o Drakon e comido alguma coisa. Mas quem é louco de confiar no cara que quer te matar? Ele poderia ter colocado veneno em minha comida. Isso sem contar é claro que esse vazio escuro em que me encontro estava por incrível que pareça ventando, e o lugar estava bem frio. É nesses momentos que você se ente burra por não usar nenhum casaco. E o vestido curto também não ajudava.

–Para ele nós achar.

Respondeu William friamente, parando do nada. Esbarrei nele com tudo e quase cair em cima de Dexter que me segurou.

–Ele quem?

Perguntou Dexter impaciente.

–O medo.

William respondeu como se fosse obvio, o que realmente Ra, mas estamos com fome. Pelo menos eu.

–Não deveríamos esta fugindo del... Mas o que?

Indaguei enquanto o chão abria de novo embaixo dos meus pés. Porém dessa vez só dos meus pés. Como anteriormente a terra se dividiu, e separou-se, deixando um gigantesco abismo embaixo de mim. Por reflexo me agarrei na única coisa em que eu poderia. Um galho preso na parede de pedra que nunca alguém conseguiria escalar. Agarrei com as duas mãos, e fiquei esticada. O vazio embaixo dos meus pés.

–Angel!

Gritou Dexter, mais em cima.

–Ele chegou.

–Não é hora para isso,William. Ajude-me a segurar ela, droga!

–Eu não posso. Ele já me pegou.

–Não parece.

–Estou imobilizado e sem poder cumprir com a promessa que fiz a Ítalo.

–Seu maior medo é não cumprir promessas?

–Não Dexter. Meu maior medo é ver uma situação em que eu poderia ajudar e não consigo.

–Eu não tenho medo de altura.

Lembrei sem saber se fico com raiva ou desesperada. É nessas horas que desejo ter a tecla mute da Bev. Aquela que Alef vive falando que ela usa para momentos de desgaste emocional. Serio, já estou cansada só de pensar em ficar desesperada. Ou com raiva. Ou são meus braços que já estão doendo de cansaço.

–Ele sabe disso.

Concordou William. Apenas a boca se mexia. Tadinho. Mas ficar uma estatua não é pior do que estar pendurado em um penhasco apenas com um galho frágil para se segurar.

–E porque eu estou pendurada a beira de um penhasco?

–Seu medo e o dele estão interligados.

Explico-o. Agora que William confundiu tudo. Medo interligado? Deus! O que é isso? Esse cara tem que aprender a ser mais direto. Serinho, ele confunde quem esta perto dele.

–Me fala qual é.

Pediu Dexter para William desesperado enquanto estendia a mão para mim. Eu não tinha coragem para segura-la. Ou pensar em segura-la. Mesmo ela estando tão perto. Eu teria apenas que estender o braço. O pai de Alef começou a falar alguma coisa, mas perdeu a voz. Drakon! Ele tinha feito isso com Beverly antes, e agora estava fazendo com o William, o sobrevivente.

–Angel, por favor. Segura a minha mão.

Implorou Dexter. Por mais que eu quiser, eu não conseguia. Não conseguia confiar nele.

–Não.

–Eu vou segurar você, eu juro.

–Eu...eu não consigo.

–Por favor.

–Eu não consigo Dexter.

–Você consegue.

–Esse não é o problema.

Gritei beirando ao desespero enquanto o galho que eu segurava ia entrando na parede.

–Tem que confiar em mim. Uma única vez.

–Dexter. Eu não quero confiar em você.

–Não tem encolha.

–Eu não consigo.

–Porque?

Perguntou ele, tentando achar lógica na minha falta de confiança.

–Eu não quero ter que confiar em você, para que depois, eu acabe como minha mãe.

–Esta com medo de acabar como sua mãe?

–Sim e não.

–Explica. Angel explica.

–Eu não quero me machucar. E eu tenho medo de confiar em você e acontecer de você me machucar.

–Eu prometo, Angel. Prometo por tudo que eu mais considero e amo nesse mundo que eu nunca vou machucá-la.

–Já fez isso uma vez quando não se lembrava de mim.

Avisei. Meus olhos enchiam de lagrimas, que os ardia. Para piorar a situação, começou a cair um pé d’água. Molhando minha mão que começou a escorregar e me obrigando a fazer esforço em dobro.

–Perdão. Por favor, perdoa-me.

–Eu não consigo.

–Angel, eu não posso perder você.

–Dexter, eu não consigo.

–Por favor. Você tem que superar isso.

–Eu não posso.

–Por favor.

–Eu não posso. Não depois de ver minha mãe cuidando de três meninas sem nenhum pai. Eu não aguentaria.

–Eu não vou fazer isso com você.

–Eu não consigo acreditar.

–Você tem que confiar em mim.

–Eu já disse, eu tenho medo.

–E eu tenho medo de perder você. Por favor, só uma vez. Uma única vez. Depois, com o tempo, iremos superar isso. Por favor, Angel, eu imploro.

Confessou Dexter infeliz. Isso foi uma força a mais. Não consigo confiar nele, mas uma confissão faz o caminho andar um pouco. Ele tinha medo de me perder, e eu tinha medo de confiar nele. E se eu não fizer isso, é bem capaz que eu morra e nossos maiores medos terminem de se concretizar. Apesar de que estou sendoo obrigada a confiar em alguém que por mais que seja do bem, e legal, eu não consigo. E ele esta sendo obrigado a me perder eternamente de maneira dramática por eu ter medo de confiar nele.

–E se não conseguir me pegar?

Perguntei aos prantos enquanto tentava me segurar no único lugar que sobrou para me segurar, que diminuía cada vez mais.

–Eu vou morrer depois.

Respondeu Dexter, os olhos brilhando de lagrimas bem seguradas.

–Vai me pegar mesmo? Promete?

Pedi tentando me agarrar ao pouco do escoro que restará. Meus braços já estavam doendo, e o olhar de puro desespero de Dexter, junto a sua mão estendida para mim. Se eu estender-se o braço poderia segura-la. E tudo aquilo acabaria. Se não fosse pelo medo. O medo de nossas mãos escorregarem ou ele não conseguir me segurar. Era tão perto e tão longe.

–Juro que não vou larga de você nunca mais.

Prometeu ele, com sua mão estendida para mim e os olhos brilhando na mais pura sinceridade. Quando estendi minha mão para segurar a dele, a única coisa que me mantêm segurada no penhasco sumiu de repente.

–Não!

Gritou Dexter desesperado. Era impossível não me ver caindo pelos olhos deles. Não resistir e fechei os olhos, esperando pelo fim. Parecia uma eternidade que não nunca chegava. Alguma coisa me puxou para cima, pelo pulso da mão estendida. Ele tinha me segurado afinal. Cumprindo sua promessa. Segurou-me. Quando senti seu esforço diminui, abri os olhos. Acho que nunca vi tanto desespero e alivio na face de alguém. O penhasco tinha desaparecido. Sobrou apenas Dexter, seu cheiro de pinho novo e seus braços me envolvendo. O calor que manava dele esquentando-me. E minhas lagrimas. Quase morri por orgulho. Por não querer admitir que sinto muito medo de confiar nas pessoas. A chuva parou tão rápido quanto começou. Deixando-nos molhados como pintos no temporal.

– Já passou.

Consolou-me ele, limpando minha lagrimas com as costas das mãos. Parece que me consolar só deixou em evidencia meu frágil lado sensível. Mas, o que seria de mim sem o Dexter? Se não fosse por ele, eu estaria morta. No fundo o louco do William tinha razão. O medo pode sim matar. Matar fisicamente e emocionalmente. Cegar-nos completamente. Pelo menos o mesmo medo que mata é superável. Como tudo na vida.

–Temos de procurar suas irmãs, Angel. Elas estão em grande perigo.

Avisou William saindo de sua posição estatua e olhando para o vácuo, com o desespero enchendo seu olhar. Algo realmente muito grave deveria esta acontecendo.


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Notas finais do capítulo

Comentem, recomendem a historia e digam o que não gostaram. Beijos para vocês, sadizinhos.



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