You could be Happy escrita por Dizis Jones


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeiro Capítulo
Narrado por Hazel
E começa a História
Boa leitura

" As vezes temos a Liberdade a nossa frente, basta esticar a mão, mas vezes temos um vidro em nossa frente, nossos empecilhos invisíveis que nós mesmo os colocamos ali."
Dila



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Capítulo 1

A Liberdade assusta, a sensação de que o mundo está todo em suas mãos agora.

Eu estava acostumada a viver um dia de cada vez, a agradecer por dar mais um dia a meus pais, sim, pois eu já estava conformada, eu iria morrer um dia, isso era fato, mas não é fácil para uma mãe e nem para um pai aceitar isso.

Isso soa clichê, mas enfim, é assim que eu me sentia, eu iria morrer um dia, não como todo mundo sabe, "sabe um dia vou morrer é inevitável", é mais para "Eu vou morrer, sim, e vou morrer nova, antes de meus pais, e a qualquer momento!” Era assim que eu me sentia sempre.

Minhas unhas estavam no toco, eu poderia até sentir o gosto de sangue se eu continuasse a buscar pedaços salientes para meus dentes fisgarem.

Eu estava dividida em duas partes igualmente em mim, uma parte estava aliviada, uma batalha estava vencida e eu poderia finalmente chegar o mais perto de uma vida normal que eu algum dia sonhei em ter, já a outra parte estava aterrorizada, simplesmente surtando dentro de minha mente apavorada, era um mundo totalmente novo.

Assim como uma criança que vai aprender a andar, eu estava temerosa, porém decidida, eu iria fazer valer a pena.

Quando a porta do quarto se abriu eu levei um susto e automaticamente temi pelas novas batidas em meu peito, aos poucos elas iam se acalmando gradativamente, eu sorria feito idiota eram as batidas de meu coração, era o que eu dizia a mim mesma: se acostume ele faz parte de você agora sua idiota.

— Te assustei? Não foi minha intensão. — a voz preocupada e carregada de medo do meu pai, mostrava que eu não era a única que precisaria me acostumar agora com a nova rotina.

— Não foi nada, estou bem, só ansiosa para voltar para casa.

— Está pronta Hazel? Estamos esperando somente você.

Olhei em volta, o quarto não era muito diferente do que sempre eu estava acostumada, era branco, alguns desenhos de bichos espalhados pela parede, eu ainda era atendida pela mesma equipe pediátrica que cuidava de meu antes defeituoso coração.

Ao lado de minha cama hospitalar estava um sofá que servia de descanso para meus acompanhantes, meu pai e minha mãe que se revezavam nos dias que fiquei internada no pré e pós operatório.

Respirei fundo desejando não precisar mais ter que estar em um hospital tempo suficiente para decorar o nome da equipe de enfermagem, decorar os horários do plantão e conseguir saber sem problemas a escala dos horários de quase toda equipe do andar.

— Vamos! — sorri para meu pai, ele pegou a minha pequena mala, e eu caminhei ao seu lado sorrindo vitoriosa.

As enfermeiras sorriram para mim, tão simpáticas, menos a Margarete, ela era loira e gostava de trabalhar de salto alto, ela era ranzinza e muitas vezes que perdi meu acesso ela foi muito bruta na hora de achar minhas veias, o resto eu gostava e não tinha reclamação alguma.

Quando eu era criança dei trabalho assim como qualquer garotinha, eu costumava fazer bonecos de neve no dia da primeira nevada do ano, gostava de correr pelo bairro no dia das bruxas, e melhor ainda amava os biscoitos de natal que minha mãe preparava.

No meu primeiro dia no jardim de infância meus pais já foram chamados por eu ter brigado com um de meus coleguinhas e infelizmente eu mordi seu braço.

Coisas normais, que não duraram muito tempo.

Antes da noite de natal, eu estava como sempre vestindo o boneco de neve, tinha acabado de colocar a cenoura que fazia seu nariz, e meu pai estava amarrando o velho cachecol vermelho no pescoço de Rony, o nome esquisito que eu dava ao boneco.

Quando senti uma pontada em meu peito, em segundos parecia que todo ar do planeta sumiu e eu estava em um vácuo , meus olhos já não enxergavam o rosto de meu pai e as palavras que eu queria gritar não saiam de minha boca.

Eu senti meus joelhos cederem, e o gelo da neve se acumulou em minha bochecha, e tudo ficou completamente escuro.

Não tinha a mínima noção do tempo naquela época quando acordei no setor de pediatria do hospital, eu só chorava por querer estar ao lado de minha mãe, e esse esforço me deixava mais cansada ainda, era como se eu tivesse corrido a quadra de minha casa duas vezes, eu tentava respirar fundo e sentia meu peito pesado, e logo o sono me dominava novamente.

Demorou um tempo, semanas e talvez meses para que uma criança pudesse entender que não poderia mais viver igual às outras.

Conheci a doutora Fells, ela era doce, e sempre cuidou de mim, também pude fazer amizade com a grande equipe de enfermeiras que estava em troca constante de setores e plantões, mas sempre tinha aqueles que nunca abandonavam seu posto, como Veronica a enfermeira mais querida, mesmo depois de completar 13 anos e eu já era considerar uma mocinha ela ainda me dava pirulitos escondidos quando ela buscava minhas veias de acesso.

Foi exatamente depois de dez dias de internamento que meus pais sentaram ao redor de minha cama, cada um segurando uma das minhas mãos, eu me lembro do monitor ao meu lado fazer bips descompassados, e de minha mãe estar com os olhos tão inchados que mal poderia se ver que eram verdes.

— Minha querida, sabe por que está aqui?

— Não papai.

— Então, se lembra do dia que estávamos montando o Rony?

— Sim, eu senti uma dor tão grande.

— Ela foi aqui. — meu pai apontou para meu peito. — Exato?

— Sim. — encarei os olhos dele.

— Então filha você está aqui no hospital para poder curar essa dor, e você precisa descansar.

— Ok.

Ele me explicou nos mínimos detalhes que eu não deveria levantar sem avisar alguém, que eu deveria ficar o mais imóvel possível até meu coração melhorar.

Mas ele nunca melhoraria.

Basicamente meu coração do nada resolveu que iria dilatar seus músculos cardíacos, diferente dos das outras crianças "normais" e assim dificultaria o bombeamento de sangue para o meu corpo.

Esse problema tinha um nome esquisito que eu só consegui pronunciar depois de muitos anos, Cardiomiopatia Dilatada, não havia explicação nada que justificasse, simplesmente o destino escolheu aquela criança naquele dia para fazer um dos órgãos mais importantes do corpo não funcionar direito, e assim começou uma luta, como manter meu coração batendo o tempo suficiente para eu poder ter "uma vida" .

Primeiro vieram os vários testes, depois várias drogas, uma infinidade delas, todo tratamento experimental ou não, isso me trouxe vários outros problemas secundários, meus pulmões estavam enfadonhos de trabalhar quase sozinhos, com um coração que não coopera com o resto, o resultado foi que muitas vezes eu tinha problemas recorrentes da doença, Bronquites, pneumonias entre outras.

O que me dava muitos dias de hospital, e poucos dias em casa, consequentemente, minha mãe parou de trabalhar, eu não pude ter uma vida escolar normal e fazia meus estudos em casa, o que era realmente bom, pois assim minha mente ficava bastante ocupada para não perceber os dias se passarem.

Eles passaram, um, dois, três... Cinco... Sete ...Dez anos desde o diagnóstico, eu já havia convivido com a doença tempo demais, para aceitar, eu vou morrer com ela, eu só não aceitava ter passado mais da metade de minha vida em hospitais, mas meus pais queriam esperanças.

Transplante, acho que ouvi essa palavra milhares de vezes mais do que eu poderia contar nesse tempo, mas um coração jovem e também compatível, era basicamente a mesma chance de um ganhador na loteria, uma agulha no palheiro.

Eu realmente não tinha esperanças de recuperação, mas eu queria ter a chance de viver, um dia ter um baile de escola, ter alguém que me buscasse, uma amiga que pintasse minhas unhas enquanto fofocássemos do garoto mais bonito da escola, mas essas coisas eu deixava para as séries de TV como Teen Wolf e The Vampire Diaries, tirando os vampiros e lobos, é claro.

Até que um telefonema durante a madrugada mudou tudo, e hoje eu estou colocando os pés fora do hospital, com meu coração novo pulsando em meu peito, assim que eu coloquei os pés na calçada virei para o hospital e sorri.

— Espero não te ver por um longo tempo!

— Calma filha terá muitas consultas de pós-operatório, e sabe que temos outra luta ainda pela frente.

— Shi, deixe-me ter meu momento!

Sorri assim que meu pai abriu a porta do carro, minha mãe estava sentada no banco da frente esperando, acho que ela como eu, estava farta de hospitais, e quis evitar enfrentar ele hoje.

Eu fiquei passando a mão por cima da camisa na saliência que a operação deixou, um pequeno corte entre meus seios, os pontos seriam retirados daqui uns dez dias, mas o que eu estava pensando era no que estava dentro do peito.

— Mãe, será que ela sofreu?

— Quem minha querida?

— A moça que eu estou com o coração dela.

Meus pais se encararam.

—Hazel! Pare de ser assim, e como sabe que é uma moça? — minha mãe falou um pouco alterada.

O que minha mãe não sabia era que a enfermeira Veronica tinha um trato comigo de nunca mentir, sempre que eu perguntava algo ela dizia o máximo da verdade, se ia doer algo, se era amargo, se ia demorar, nada de mentirinhas que se contam a crianças, e quando eu perguntei do coração ela me respondeu calmamente.

— Ele é de uma garota que morreu em um acidente de carro, morte cerebral os pais dela só a mantiveram viva tempo suficiente para retirar os órgãos.

Mas será que ela sentiu dor?

Eu era grata por saber desses detalhes, se eu iria carregar no peito um órgão tão importante era bom saber a procedência.

— Filha, o cérebro comanda a dor no corpo então se ele morre...

— A dor morre junto. — isso é um consolo, ninguém sofreu, ou pelo menos era mais fácil pensar assim, pois eu sabia que por trás de tudo isso havia um pai e uma mãe chorando, talvez um cachorro sem sua dona, um irmão ou irmã, ou até mesmo um namorado.


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Notas finais do capítulo

É só o começo, mas podemos saber um pouco da Vida de Hazel pré e pós transplante
comentários?