O Anjo escrita por Escarlate


Capítulo 1
One-shot




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Todas as noites quando acordava, Léa se depara com aquela mesma sensação. Alguém sempre a observava de algum lugar invisível entre as sombras. Léa podia sentir sua presença, como um sopro frio no pescoço, mas não tinha medo, era como se lhe trouxesse uma profunda comodidade e segurança, ela desconhecia sua fonte, talvez nem mesmo existisse, mas as sensações eram reais. Às vezes sentia seu perfume, embora não soubesse ao certo se aquilo era um perfume. Um odor diferente, não cheiroso, algo suave e divino, sobrenatural demais para se encaixar no enorme catálogo de odores dos seres humanos. Em algumas noites ela chegava a sonhar com ela. Uma forma luminosa tão bela e mística que lhe cegava os olhos. Seus contornos divergiam, mas sempre tomava uma forma humana sublime. Léa sentia uma grande ligação com aquela força, como se ambos fizessem parte de um todo.
Foi em uma noite qualquer em que Léa o viu pela primeira vez. Enquanto dormia, afogada nas mais profundas camadas do sono, a garota sentiu um arrepio subindo por sua espinha. Um sopro gelado e elétrico que eriçava os pelos de seu corpo. Essa sensação puxou-lhe dessas profundezas de tal forma que ao abrir os olhos com sutileza, vislumbrou a imagem de uma figura espectral, observando-a por entre as sombras de seu quarto. Ao vê-lo, Léa sentiu tudo, menos medo. Havia certa serenidade em sua presença. Observava-a com afeição, como se o simples fato do adormecer fosse algo cativante de se olhar. Léa acabou se mexendo na cama, ao tentar olha-lo melhor, contudo, nesse momento, o ser desapareceu como uma nuvem de fumaça que se dispersa. Depois daquela noite, Léa adormecia todas as noites pensando numa maneira de vislumbra-lo novamente.
Talvez por força do seu desejo, tal coisa veio a acontecer. Quando o viu, Léa não se mexeu, mas disse como num sussurro silencioso em sua mente “Quem é você?”, e para o seu espanto, uma voz suave e masculina, respondeu-lhe, como se sussurrasse próximo ao seu ouvido “Volte a dormir”, e assim o ser começou a desaparecer. “Espere!”, ela gritou em pensamento. A criatura permaneceu ali, observando-a por entre as sombras.

“Qual é o seu nome?”

Léa podia sentir seu olhar por trás da leve cortina luminescente que lhe cobria. “Lelahel”, disse em resposta. O ser parecia flutuar em seu quarto. “Oque você é?”, perguntou Léa, agora já sentada em sua cama. “Oque acha que eu sou?”. A garota observou-o com atenção, o modo como sua forma ondulava era sublime e misterioso, como se Léa o visse através de um lençol. “Eu diria...que você é um espírito, ou quem sabe, um anjo”. O ser se aproximou, emergindo das sombras para a claridade da luz da Lua, que entrava pela janela. Sua forma tremeluzia, ainda parecendo mais disforme. “E como imagina ser um anjo?”. Léa não sabia dar-lhe uma resposta apropriada para aquela pergunta. “Eu não sei...imagino asas, longas e alvas”. Lelahel se afastou um pouco e sua forma pareceu malograr-se. Então a intensidade do seu brilho foi sorvida, até tornar-se por fim, um jovem homem de cabelos escuros e longilíneas asas alvejadas. “Posso ter a forma que desejar”, disse Lelahel. Léa observou seu corpo esguio, a pele clara e límpida, os cabelos escuros que lhe caíam sobre a fronte, os olhos de um tom amendoado que lhe fitavam com tanta curiosidade. Trajava uma calça em tom creme tão luzidia que ofuscava sua visão. Suas longas asas eram resplandecentes e por um momento Léa imaginou que ainda estivesse sonhando. “Oque fazia me observando?”, perguntou. Lelahel não demonstrava nem o menor movimento facial, totalmente frígido e imparcial, contudo sua voz era cheia de afetividade. “Gosto de observá-la dormindo”. Léa deitou-se novamente na cama. Percebeu que nada daquilo poderia de ser real, portanto deveria de estar sonhando. “Pode me contar uma história para dormir?”. Lelahel se aproximou e sentou-se na cama. Seus olhos amendoados observavam-na inexpressivos, mas a energia que irradiava de sua presença era apaixonante. “Sobre o que gostaria de ouvir?”, disse Lelahel. Léa sorriu sonolenta. “Conte-me sobre o outro lado...o lugar de onde você veio”.
Pode-se dizer que Lelahel contou-lhe não uma, mas muitas histórias. Durante noites seguidas, quando Léa acordava, tinha sua noite iluminada por sua presença e a mente ocupada por imagens belíssimas de suas histórias. Lelahel descrevia com detalhes e uma riqueza impressionante. E foi assim que Léa se apaixonou.
Numa noite, durante sua visita, Léa ouviu mais uma de suas histórias, contudo, o sono não lhe visitara naquela noite. Lelahel a cativava de todas as formas e mais que uma vez, Léa desejava beijá-lo. Ao fim de mais uma de suas histórias, a jovem garota tomou-lhe os lábios nos seus, beijando-o com um amor impetuoso. Passou suas mãos pelo corpo de Lelahel, sentindo sua pele desumanamente macia. A forma que desejava, a forma que Léa pudesse amar. Lelahel beijou-lhe o pescoço e distribuiu pequenos beijos por sua clavícula, enquanto Léa deslizava suas mãos por suas costas, sentindo a textura de suas asas, fofas como plumas. Essas se fecharam ao seu redor, como se estivessem em um novo e pequeno mundo, só deles. Acariciaram-se até que estivessem totalmente nus. Então se uniram ao som de suspiros metafóricos e gemidos silenciosos, se movimentando ao ritmo da dança dos anjos. Lelahel beijava seus seios, enquanto se uniam em uni carne e Léa não sentiu dor, nem mesmo por um segundo, só o mais profundo prazer e uma nova forma de paz. Os lábios de Lelahel desceram pela cova em sua barriga, deslizando por sua pelve até seus lábios inferiores, depois subiram na mesma intensidade, desenhando círculos na linha de sua cintura e quadril. Amaram-se incontrolavelmente até não poder mais.
No fim daquela noite, ainda deitada na cama, Léa olhou para Lelahel como se fosse a última vez, contemplando sua perfeita forma, de pé em meio ao seu quarto. Seu corpo perfeito, com linhas bem desenhadas nas proporções certas, uma obra prima. “Durma...”, sussurrou Lelahel. E assim Léa foi tomada pelo mais profundo sono, caindo nas profundezas do esquecimento.


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