Ainda era recente a perda de meus pais, a imagem de minha mãe morta no meio da rua, e um nojento pedido de desculpas.

 - Foi um engano... - dizia o homem alto, com o revolver na mão. 

 Seu corpo estava cheio de sangue, eu tentava a qualquer custo traze-la de volta.

Ao chegar em casa uma nova surpresa, meu pai havia ido com ela. Me deixaram sozinha e com fome, decidi que seguiria o exemplo de meu pai, mas o egoísta não deixou nem mais uma bala naquele revolver. Eu sabia que o suicídio era a melhor solução. Eu não lutaria por mais sofrimento.

No caminho para um penhasco próximo, onde muitas história já haviam terminado, vi uma moedinha de pouco valor, que não era notada pelas pessoas que passavam, assim como eu. Aquilo não daria nem para um pedaço de pão, mas eu resolvi trazê-la comigo.Eu não me conformava com o fato de minha vida terminar daquela maneira. Minha vida seria mais uma esquecida naquele lugar, e eu não tinha como evitar aquilo.

-  Venham!Venham ver! Essa água que trago comigo vem das profundezas do Lago dos Desejos! - gritava um homem com um pote na mão. Ele era muito magro e parecia cansado. Ele percebeu que eu o olhava e sorriu para mim. - Venha menina bonita! - senti uma dor no coração com aquelas palavras. Eu sabia que não estava bonita, principalmente depois que aqueles desgraçados cortaram meu cabelo e fizeram vários cortes em meu rosto. Isso foi logo depois da morte dos meus pais, uns garotos viram como eu estava desprotegida, abusaram de mim, e me deixaram coberta de hematomas. - Não quer fazer um pedido? Aqui todos eles se realizam!

- O que eu preciso fazer?

- Basta jogar uma moeda aqui dentro...

- Eu tenho uma moeda! - falei animada 

-...e me pagar por isso.

- Mas não vê que não tenho nada? Quer por acaso rir de mim?

- Eu aceito este seu anel.Muito bonito... é claro que não paga nem a metade... mas vejo que necessita muito de um desejo realizado.

- Pode até ser... - Peguei o anel e o entreguei - ...Mas acho que o meu é meio impossível... para dizer a verdade, eu nem sei o que desejar, perdi minhas esperanças já faz algum tempo.

- Ora... não fale besteira. Sempre resta alguma esperança.

Peguei a moedinha e apertei contra minha mão.

- eu desejo que...aconteça algo... especial... que possa mudar o final de minha história. O que realmente quero é que eu não seja mais uma vida esquecida naquele penhasco. Não quero terminar assim!

- Agora jogue a moeda!

Obedecendo, joguei minha única moedinha naquele pote cheio de água. Fiquei esperando por alguma luz ou alguma transformação em meu corpo. Já que eu não pedi nada especifico, eu não sabia o que aconteceria. O tempo passava e eu estava angustiada. Lágrimas começaram a descer do meu rosto e eu saí correndo em direção a esse penhasco, que não ficava muito longe dali. Ainda ouvi os gritos daquele homem.

- Garota, espere! Não faça besteira! Aonde pensa que vai?

Eu não respondi. Continuei a correr até chegar ao meu destino. Por que o mundo havia sido tão ruim assim comigo? Será que eu merecia aquele golpe da vida? Pensei no meu útimo aniversario, quando ainda estava com minha família, e sorria a toda hora. Isso não aconteceria de novo. Meus eternos 9 anos de idade...

Pulei sem pensar duas vezes.

                                                    * * *

Na hora que o homem, com o pote em uma das mãos vira o que aconteceu sentiu-se um pouco culpado, mas logo voltou a caçar nova clientela.

- Venham! Venham ver! Essa água que trago comigo... – Sem aviso, o vento se tornou mais forte surpreendendo-o. O pote caiu de sua mão.

A água se espalhou pelo chão junto com a chuva violenta que acabara de começar.

Para não perder nenhuma mercadoria recolheu tudo o que pode levar.

Muitos anos depois...