Eu não fazia a menor ideia de onde estávamos. O lugar era escuro, mas o por do sol estava iluminando-o. Parecia um lugar abandonado. Eu olhei pro Smile com um ponto de interrogação na testa. Ele apertou a minha mão.

–Eu só queria que você visse...

Eu levantei uma sobrancelha. Onde ele queria chegar? Ele parecia petrificado. Oh.

–Ai Smile, seja homem!

–O que??!- ele ficou todo vermelho. Ele achou mesmo que o escuro ia disfarçar.

Nós ficamos em silêncio por muito tempo, totalmente parados.

Depois ele começou a se mover lentamente, quase em câmera lenta. A mão vacilante pousou na minha cintura, nossos rostos muito próximos. Mas ai ele travou. É um covarde mesmo. Eu agarrei seu cabelo e esmaguei meus lábios nos dele. Ai deus. Esse foi o beijo mais desajeitado da história da humanidade. Nem sei se aquilo seria classificado como beijo. Nós só ficamos com a boca meio aberta, suspirando, tentando se acalmar, até que nós não aguentamos mais de vergonha. Só ficamos nos abraçando, as cabeças enterradas na curva do ombro. Eu gostava do cheiro do Smile. Eu comecei a pensar sobre isso, e comecei a pensar se existe alguém que consiga descrever um cheiro sem ser como cheiro de alguma coisa, doce e salgado. Ai eu percebi que não existe cheiro salgado. Acho que é impossível.

Quando percebi, estava muito escuro. Parecia que estávamos de pé no meio do espaço. O Smile começou a me apertar mais contra ele.

–Está tudo bem?- eu sussurrei pra ele.

–A maid... a maid me contou...

Eu fiquei chocada. Eu só conseguia repetir “Não”.

–Sabi... você vai sobreviver! Você vai viver para nos casarmos e...- ele estava prestes a chorar. Eu também.- Mas você precisa ir pro hospital...

–Eu sei... mas eu vou ficar louca lá dentro.

–Eu sei que eu não posso forçar você... mas acho que ficar aqui fora vai ser pior pra você... eu acho... eu acho que eu não vou aguentar!

Eu achei que tinha entendido o que ele queria dizer com aquela frase. Mas eu não tinha.