De Repente Grávida escrita por Dul Mikaelson Morgan


Capítulo 2
Convite?!


Notas iniciais do capítulo

Bom chegamos a mais um Capitulo e espero que gostem



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Na redação da Gloss, revista feminina da qual era redatora-chefe, Caroline procurava ordenar uma série de matérias sobre moda e maquiagem para a próxima estação, quando, apesar da recomendação para que não fosse interrompida, a secretária entreabriu a porta e enfiou a cabeça pelo vão.

— Desculpe-me, srta. Forbes, mas uma pessoa insiste em vê-la — informou.

— Quem é? — Caroline perguntou certa de que deveria ser alguém muito importante, caso contrário Jenna não ousaria de­sobedecer suas ordens.

Jenna suspirou, e, gaguejando, começou a falar quando Klaus Mikaelson fez a própria apresentação, entrando na sala com pas­sadas largas.

— Bom dia, Caroline.

Ela quase perdeu o fôlego ao vê-lo. Impecável como sempre, trajava um terno cinza-escuro que lhe realçava os ombros lar­gos, uma camisa azul-clara e uma gravata de seda em tons alternados de amarelo e azul, que imprimia ao conjunto um aspecto menos conservador.

Niklaus Mikaelson, velho amigo de seu pai, era um produtor ci­nematográfico de renome que, ao invés de financiar, poderia muito bem ser o galã de seus filmes. Alto, bonito, dotado de um magnetismo capaz de fascinar as mulheres, seria sem sombra de dúvida um sucesso de bilheteria.

Caroline compreendeu imediatamente por que Jenna se sentira tão intimidada. Desde que ela se conhecia por gente, Niklaus era um homem que partia corações, embora sempre deixasse claro que jamais optaria por um relacionamento permanente. Caroline levantou-se devagar, apoiando as mãos sobre o tampo da mesa.

— Depois de enfeitiçar completamente minha secretária, vo­cê poderia me explicar a que devo a honra de sua visita em hora de expediente, Klaus? — Caroline perguntou, pondo-se na ponta dos pés para lhe dar um beijo.

— Eu estava passando e pensei em convidá-la para almoçar — ele falou sorrindo.

— São onze e meia da manhã... Não acha um pouco cedo para pensar em almoço?

— Não quando ainda não se tomou o café da manhã — afir­mou ele, sentando-se na beirada da escrivaninha e embaralhando diversas fotos que Caroline já havia selecionado.

— Outra de suas noitadas ardentes, Niklaus? — ela ironizou.

— Não especialmente — ele respondeu, dando de ombros, — Não tenho conseguido dormir bem ultimamente.

— Você...

— Dormir sozinho, quero dizer — ele completou, impedindo-a de terminar a frase.

— Esse é o seu problema, Niklaus! Você não está acostumado a dormir sozinho.

— Muito engraçado — Klaus respondeu. — O seu problema e o das suas irmãs é não saber respeitar os mais velhos.

Lembrando-se das poucas e boas que ela e as irmãs apron­tavam com Klaus quando eram menores, Caroline conteve o riso, mas não conseguiu esconder o brilho no olhar.

— Meredith e Elena têm lhe faltado com o respeito?

— Desde quando vocês três demonstraram respeito por mim?

Ele tinha razão. Mas era porque elas o conheciam desde pe­quenas. Klaus sempre fora como um tio para elas, que se di­vertiam com os estratagemas que as mulheres inventavam para fisgá-lo. Estava sempre presente nas formaturas, aniversários, em todas as festas da família.

— Você gostava das nossas brincadeiras, Niklaus, confesse. Principalmente quando a gente atrapalhava aqueles seus na­moricos ridículos.

— A única coisa que no momento estou em condições de confessar é que gostaria de almoçar. Vai me fazer companhia?

— Não posso. Estou muito ocupada. — Ela apontou para a papelada espalhada sobre a mesa.

— Mesmo assim você tem que comer...

— Não há esta hora, Klaus, compreenda. Eu, ao contrário de você, dormi bem, acordei cedo, tomei café e vim trabalhar. Estou ocupadíssima e não posso sair de minha rotina para lhe fazer companhia. Sinto muito.

Klaus fez um gesto impaciente.

— Olhe, não costumo ter tanta dificuldade para levar uma mulher para almoçar...

— Eu sei — Caroline disse com convicção —, mas um não de vez em quando faz bem à alma.

— Mas trata-se da minha alma. Por favor, permita-me de­cidir o que é bom ou não para ela. Acredite ter quase que implorar para que almoce comigo faz muito mal a minha alma.

Se Klaus não fosse um homem realizado, maduro, de trinta e cinco anos, Caroline diria que estava lidando com um garoto mimado, que não gostava de ser contrariado.

— Você não está implorando, Niklaus, e eu não estou sendo recusando seu convite para me fazer de difícil. Estou atarefada, será que não consegue entender?

Klaus conseguia entender, mas não queria, por isso voltou a insistir, admirando a silhueta graciosa de Caroline, que o terninho de seda cor de cereja realçava ainda mais.

— Bill diz que você trabalha demais, e se não pode tirar uma hora para almoçar, sou obrigado a concordar com ele.

— E desde quando você e papai trocam idéias a meu respeito?

— Conversamos no casamento de Elena. Comentei que você estava um pouco pálida e Bill disse que você estava traba­lhando muito. Só isso.

— Então você sentiu pena de mim e resolveu me convidar para almoçar — Caroline concluiu, com os olhos azuis faiscando de raiva. — Muito gentil de sua parte, Klaus.

— Não estou sendo gentil, Caroline...

— Ah, entendo. Você detesta comer sozinho, eu trabalho mui­to e não me alimento bem. É isso?

Klaus deu uma sonora gargalhada e meneou a cabeça num gesto que traduzia incredulidade. Olhou exasperado para o teto como a pedir ajuda do céu e acrescentou:

— Ou as coisas costumavam ser mais fáceis ou estou ficando velho e perdendo minha força de persuasão...

Ficando velho, perdendo sua força de persuasão... Nem uma coisa nem outra, Caroline pensara, mas estava mesmo muito ocu­pada e não queria ir almoçar com ele. Tinha bons motivos para isso. Queria evitar qualquer possibilidade de uma conversa par­ticular. Sua vida já estava bem complicada. Klaus que ficasse longe dela!

Para mudar de assunto, voltou a falar no casamento, um tema que ela sabia que não era muito atraente para Klaus:

— Foi um lindo casamento, não, Klaus?

— Lindo! — ele concordou de imediato. — Que sejam felizes para sempre! Primeira Meredith, depois Elena. Espero que você seja a próxima a tirar a sorte grande.

Caroline olhou para o dedo anular desprovido de aliança, certa de que assim iria continuar, porque o homem a quem amava desde criança, que estava ali na sua frente, nunca seria seu. Era avesso a casamento.

— Duvido muito — ela disse, engolindo em seco para repri­mir a vontade de chorar. Tinha se tornado muito emotiva ulti­mamente, um dos sintomas de seu estado, e isso a contrariava, pois detestava sentir-se vulnerável diante de outras pessoas. — Estou destinada a "ficar para titia". Lembra-se?

— Caroline, eu estava brincando! — Ele teve a impressão de ver os olhos dela ficarem rasos de lágrimas e, contornando a mesa, abraçou-a. — Você só tem vinte e seis anos. Ainda tem muito tempo para encontrar a pessoa certa, apaixonar-se e casar.

— Vinte e cinco anos e uns meses... — Caroline corrigiu.

— Quase uma velhinha... — Klaus murmurou, afastando-se para olhá-la.

Caroline desviou o rosto e abaixou a cabeça.

— Klaus, eu fico emocionada porque ainda não me acostumei com o fato de Meredith e Elena terem vida própria, não serem mais apenas minhas irmãs, mas mulheres casadas... Elas agora pertencem mais a Antony e a Damon que a mim.

Klaus olhou-a compreensivo.

— E, tudo aconteceu muito depressa, Caroline. Mal dá para acreditar mesmo. Meredith casada com um banqueiro. Elena, a maluquinha da Elena, com um médico. Espantoso, mas a gente tem que se acostumar.

Acostumar... Caroline refletiu sobre tudo a que teria de se acos­tumar nos meses seguintes...

— Caroline, vamos almoçar! — Klaus insistiu e, para provocá-la, acrescentou: — Ser visto com uma linda jovem adiciona pon­tos à minha imagem.

— Com mais uma — Caroline revidou, pois sabia que pela vida dele desfilaram muitas mulheres jovens e bonitas, que faziam tudo para aparecer ao lado do famoso produtor.

Klaus começou a dar mostras de exasperação, afastando-se dela.

— Sabe? Acho que Bill devia ter lhe dado umas boas pal­madas para ensiná-la a não ser teimosa.

— Ora, Klaus, mamãe não deixaria! — Carolinee retrucou rindo. — Ela era contra as tais "palmadas".

— É verdade — Klaus murmurou, e seu olhar se perdeu no vazio.

Carolinee sabia o porquê daquele distanciamento repentino. Ape­sar das inúmeras mulheres com que se envolvera, Niklaus amara uma única mulher em sua vida. Elizabeth, a mãe de Caroline.

Ele sempre estivera pelas imediações desde que Caroline, Meredith e Elena eram crianças. Visitava a fazenda quase todos os fins de semana, embora não fosse do tipo de homem que se identificava com terra, plantação e criação.

Ao tornar-se adulta, Caroline compreendera o motivo do conví­vio constante de Klaus com sua família. Elizabeth.

Quando ela morrera, dez anos atrás, ele ficara arrasado, tão abalado quanto ela, as irmãs e o pai.

Caroline guardou para si esse segredo. Estranhava, porém, a atitude do pai que, mesmo sabendo o quanto Klaus amava Elizabeth, após a morte da mulher estreitara ainda mais os laços de amizade com ele. Dez anos haviam se passado, e o vínculo que os unia se fortalecia cada vez mais.

De volta ao presente, perguntou:

— Isso significa que você desistiu de me convidar para al­moçar, Klaus?

— Nada disso — ele retorquiu sério. — Não estou convidan­do, estou mandando. Você vai almoçar comigo e ponto final. Esse seu trabalho — ele apontou com pouco-caso para a pape­lada sobre a mesa —, você digerirá melhor depois de um bom almoço.

— A resposta ainda é não. Sinto muito, Klaus.

— Que é isso, Caroline? Nós sempre fomos bons amigos...

— E ainda somos — ela frisou pouco se importando com a impaciência de Klaus, com seu ar carrancudo de homem desa­costumado a receber um não de uma mulher. — Mas, como já tentei explicar, estou ocupada.

Klaus franziu as sobrancelhas e, para ganhar tempo, resol­veu mudar de assunto:

— Caroline, achei seu pai preocupado no dia do casamento. Você sabe que o conheço bem. Atribuí à sensação de perder mais uma filha... Que acha?

— Engano seu, Klaus! Papai está louco para livrar-se de nós. Só que, neste caso, deu-se mal. Você conhece aquele ditado que diz que "quem casa uma filha ganha um filho"? O coitado do papai ganhou mais dois filhos. — Caroline disse rindo, com um brilho maroto no olhar.

— Melhor assim... — Klaus fez uma pausa antes de conti­nuar: — Bill precisa de um herdeiro para seu império.

— E se só nascerem meninas, como na nossa família?

— Vocês terão que continuar tentando...

— Meredith e Elena vão adorar saber disso — Caroline garantiu, rindo. — É rezar para que nasça logo um menino.

— Sim. Por enquanto, a responsabilidade é delas. Você não tem que se preocupar até arranjar um marido.

— Não terei que me preocupar nunca, já que não pretendo me casar.

— Todo homem quer um filho — Klaus prosseguiu, com ar pensativo. — Embora eu adore meninas, um filho é muito im­portante para um homem. É a continuação da espécie, é como se você não morresse completamente.

— Sabe Klaus, quando você fala essas coisas, penso que está arrependido de ser um solteirão.

Caroline não está bem, Klaus disse para si mesmo. Conhecen­do há havia tantos anos sentia que havia no ar alguma coisa diferente, ou melhor, misteriosa... Estava linda como sempre. Isso nunca iria mudar. Com exceção dos cabelos cacheados que her­dara de Bill, ela era o retrato de Elizabeth, a mais bela mulher que conhecera. No sábado, durante a recepção, Bill comentara que Caroline estava mais magra, aparentando uma certa fragili­dade que não era característica sua, embora fosse delicada. Ten­tou novamente:

— Então, não consigo mesmo convencê-la a cair em tentação? Eu estava pensando em levá-la a um restaurante italiano para comer um risoto com trufas brancas do Piemonte. Você já ex­perimentou essa especialidade?

— Para dizer a verdade, nunca ouvi falar nisso, Klaus.

— Aceita?

— Não, obrigada. Eu já lhe expliquei...

— Diversas vezes... — ele terminou. — Está bem, vou ver se Jenna quer almoçar comigo.

— Ótima idéia!.— aprovou Caroline, rindo. — Como eu disse você não gosta de comer sozinho, e se não consegue uma com­panhia, trata logo de arranjar outra. Tenho certeza de que Jenna ficará encantada, mas o noivo dela não vai gostar nada desse convite... E se Jenna for sensata, como penso que é você vai almoçar sozinho. Que mal há nisso, Klaus? Uma vez na vida!

Klaus fingiu não perceber a ironia.

— Você nunca foi tão difícil, Caroline! — exclamou, voltando à realidade.

— Eu nunca fui uma porção de coisas, meu querido — ela respondeu, tensa.

As palavras vieram permeadas de uma tristeza que ela es­perava que Klaus não tivesse percebido. A última coisa que desejava na vida era que ele resolvesse descobrir a razão de ultimamente seus olhos ficarem marejados de lágrimas.

Klaus percorreu com o olhar o escritório de luxo onde Caroline passava os dias e comentou, franzindo a testa:

— Belíssima sala de executiva. Você, obviamente, adora ser a número um da Gloss, não, Caroline?

Caroline acenou a cabeça afirmativamente.

— Do mesmo modo que você adora ser o número um de sua produtora...

Caroline sabia que Klaus estava procurando assunto para pro­longar um pouco mais sua inoportuna visita.

Sentiu o calor que emanava de sua pele quando ele se apro­ximou, olhando adentro dos olhos, e disse meio sério, meio brincalhão:

— Isso quer dizer, senhorita, que você, ao contrário de suas irmãs, optou por ser uma mulher dedicada à carreira? É não tem jeito mesmo. Já a alertei, vai mesmo "ficar para titia"!

Ele não sabia de nada! Quem sabe não seria ela a primeira a dar a Bill um herdeiro... Caroline não havia optado exatamente por ser uma mulher dedicada à carreira. Sua verdadeira carreira fora truncada pelo amor impossível que a acompanha­va desde menina. Mas no que dizia respeito ao trabalho atual, aquela seria a última semana que dedicaria a ele. Algo muito importante demandava toda sua atenção. Era, porém, necessá­rio deixar as coisas em ordem antes de tirar umas férias pro­longadas. Não queria entrar nesse assunto com Klaus.

— Klaus, você vai à fazenda este fim de semana?

Os profundos olhos verdes claro de Klaus escureceram ao perguntar:

— Por quê?

— Porque me vejo na obrigação de avisá-lo que vai encontrar meu pai num tremendo mal humor.

Caroline não entrou em detalhes. Mas o mau humor de Bill era compreensível. Derivava de dois fatores. Primeiro, o pedido de demissão de Niel, que fora seu braço direito por nove anos. Segundo, a preocupação com a gravidez de Caroline.

— E você, vai para lá no fim de semana?

— Por quê? — perguntou meio agressiva.

— Por nada em especial — defendeu-se Klaus. — A verdade é que fui convidado para ir à fazenda, e se Bill está de mau humor gostaria de poder contar com uma companhia mais amena.

Caroline deu uma risada gostosa.

— O franco e rude Klaus de sempre. Isso é para não chamá-lo de interesseiro.

Ele riu.

— Você não me reconheceria se eu, repentinamente, me trans­formasse num perfeito cavalheiro...

— Acertou na mosca, Klaus. Mas bem que me agradaria testemunhar essa metamorfose.

Fora impressão dele, ou com aquelas palavras Caroline estava exprimindo uma esperança, insinuando alguma coisa?

Pura imaginação, concluiu.

Embora Caroline tivesse tido namorados, sabia que, no momen­to, estava sozinha, tanto que fora desacompanhada ao casa­mento, mas imaginar ou sonhar que ela poderia nutrir por ele uma paixão secreta, depois de tê-lo despachado naquela noite em que estiveram juntos, seria uma grande estupidez de sua parte.

— O que é que está deixando Bill tão mal-humorado? — perguntou para adiar sua ida.

— Niel pediu demissão.

— O quê? — Klaus retrucou, espantado. — Niel pediu demissão?

— Sim.

Não dava para acreditar. Durante anos, Niel Conde fora a secretária particular de Bill, dedicada a ponto de se tornar parte importante da família, tanto que era difícil pensar nos Forbes sem incluí-la.

Niel ajudara a criar as meninas, devolvera ordem e acon­chego a um lar que a morte de Elizabeth deixara desestruturado e ainda acompanhava Bill a todos os lugares que demandas­sem eficiência ou apresentação, porque era competente, educa­da e muito bonita. De repente...

— Ficamos tão surpresos quanto você. Meu pai, então, nem se fala...

— Minha reação não é exatamente de surpresa. É de total incredulidade.

Será que a família Forbes ficara cega? Será que só ele via que Niel amava Bill? Será que Bill não se conscientizara de que durante nove anos, ela fora a alma daquela casa?

Por que decidira partir?

Porque, em sua opinião, Niel perdera a esperança, sufo­cara o sonho de que um dia Bill viesse a reconhecer que a amava.

Klaus, provavelmente melhor que ninguém, sabia como era doloroso amar sem ser amado, e o lamentável dessa história toda é que sabia que Bill amava Niel.

— E o que estão fazendo para abrir os olhos de seu pai e impedir a partida de Niel? — ele perguntou, com expressão sombria.

— E o que podemos fazer? Estamos bem aborrecidos, claro.

— Aborrecidos, claro — Klaus imitou sarcástico.

Os olhos azuis de Caroline fuzilaram Klaus.

— O que se podem fazer quando uma mulher está decidida? Diga-me, Klaus.

— Ora... Tentar convencê-la do contrário, fazê-la ver o quan­to é necessária. Vocês não atinaram com o quanto Niel deve ter sofrido e está sofrendo para chegar a essa decisão? É preciso fazer alguma coisa.

Caroline empalideceu, depois enrubesceu e disse:

— Você não está sendo injusto, Klaus? E precipitado? E se ela tiver um bom motivo para partir?

— Que posição comodista, Caroline! — ele exclamou, irritado. — Eu sei que não estou sendo nem um pouco injusto. Vou à fazenda este fim de semana para ver se posso ajudar de alguma maneira, nem que seja para que Niel chore em meu ombro.

Caroline brindou-o com um olhar mais frio que gelo, embora uma veia indiscreta pulsasse em seu pescoço.

— Tenho certeza de que ela ficará muito grata.

— Sabe o que mais, Caroline? — ele, prosseguiu de cenho fran­zido. — Hoje eu vim aqui cheio de boas intenções para passar uns bons momentos com você, relaxarmos durante o almoço, conversarmos como há muito tempo estou querendo fazer, e depois de tudo isso, perdi o apetite. Céus, como podem ser tão egoístas?

Caroline, engolindo em seco, procurou defender-se daquelas acu­sações de insensibilidade e egoísmo em relação a uma pessoa que amava.

— Niel significa muito para nós, Klaus. Já tentei dissua­di-la de partir, acredite.

— Sem sucesso, se vê, já que ela parece firme em seu pro­pósito de nos deixar. Falo em nos deixar, Caroline, porque também gosto muito de Niel — Klaus declarou, contraindo os lábios,

Caroline fitou-o por entre os cílios úmidos.

— Talvez você consiga. Pelo bem de Niel e de meu pai.

A expressão carregada do rosto de Klaus desanuviou-se. Lem­brou-se de que fazia quase dezessete anos que conhecia Bill. Era jovem, cheio de idéias e com os bolsos vazios. Bill tornara-se um homem de negócios bem-sucedido e por muitos anos o havia ajudado, investindo em sua carreira, até o mo­mento em que ele pudera ressarci-lo e seguir por conta própria, até chegar a produtor cinematográfico. Se atualmente sua com­panhia valia milhões, devia muito a Bill.

Esse era um aspecto de seu passado que gostava de recordar. Sua luta bem-sucedida. Mas as fases de infância e adolescência e sua vida familiar, ele preferia esquecer. Não tendo, portanto, família, com o passar dos anos fora se sentindo cada vez mais ligado aos Forbes. E imaginava que Niel também se sen­tisse assim.

Pensando em tudo isso, Klaus retomou o fio da meada.

— Bem que eu gostaria... A verdade é que alguém tem que se empenhar seriamente.

Diante dessa nova acusação de indiferença da parte dela, como se não tivesse se empenhado, Caroline deu-lhe as costas e voltou para sua mesa.

— Talvez você me encontre lá — murmurou, retomando o marcador.

— Talvez — ele retrucou mal-humorado, caminhando para a porta. Antes de abri-la, acrescentou: — Isso se você puder desligar-se por umas horas de seus interesses, já que, como sabemos, tem ido muito pouco à fazenda.

Os olhos verdes de Caroline fitaram-no com frieza.

— Se você pode, eu também posso — ela respondeu, pondo um fim na conversa.

Klaus despediu-se com um olhar por cima do ombro antes de sair porta afora.

Seguindo para o restaurante, pensava aborrecido, que esta­va acontecendo o que ele supunha que nunca pudesse acontecer. Durante anos quisera crer que as coisas nunca mudariam. Que Bill, Niel e as três meninas estariam sempre lá, em seu porto seguro.

Elena e Meredith estavam casadas, Niel prestes a ir embo­ra, e Caroline, depois daquela noite, não mais fora a mesma.


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Notas finais do capítulo

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