Broken Wings escrita por Lady


Capítulo 1
Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Broken Wings

“Muitos fecham os olhos quando morrem, mas nem todos enxergam enquanto ainda estão vivos.” – Augusto Cary

Aquela fora a gota d’água. Por que tinha de continuar agüentando? Por que suportar? Já não havia ido longe o bastante? Já não lutara o suficiente? E o que ganhara em troca por eles? Um braço quebrado. Um maldito braço quebrado que lhe impossibilitava de fazer a única coisa no qual era bom. Numa respiração profunda o moreno sorriu, um sorriso cruelmente falso, e despediu-se dos amigos, alegando ter de fazer algo, uma pura mentira.

Foi sozinho para casa, o braço quebrado incomodava, mas não comparava-se as repreensões mentais, o desanimo ou mesmo a falta de vontade de viver. O que faria dali em diante? Não era bom em nada, exceto baseball. Suspirou, solitário, enquanto largava a bolsa sobre o assoalho de seu quarto. Ficaria ali, seria melhor já que não poderia ajudar o pai no restaurante, não com aquela maldita lesão.

Mordeu o lábio, num nervosismo que Yamamoto Takeshi não sabia possuir. O que faria? O que podia fazer? E apesar de tantos questionamentos, nada lhe vinha como resposta. O moreno sabia que em breve, se não pudesse mais jogar, seus amigos estavam lhe deixando de lado, afinal, ele seria nada mais que um peso morto, talvez nem fosse mais popular e fosse deixado de lado.

Virou-se sobre a cama, ignorando a pontada no braço. O que podia fazer?

A resposta veio a si de forma tão rápida e inesperada que o adolescente se quer cogitou as conseqüências de tal escolha.

Da perda para seu abraço

Voei através do medo e da escuridão do dia

Como um anjo de graça caída

Rapidamente subiu as escadas que levavam ao térreo do prédio estudantil. A área estava desprovida de qualquer aluno, mesmo Hibari Kyoya – o infame demônio disciplinador – não se encontrava ali a aquele horário. Era cedo, afinal.

Largou a mochila ao pé da porta fechada, atrapalhando a passagem, e rumou para as cercas de segurança, estas que já eram um tanto quanto velhas. Escalou-a com dificuldade devido ao braço ferido e só permitiu-se respirar fundo em alivio quando viu-se do outro lado, perto da borda. Perto demais.

Minhas asas quebradas não agüentam meu peso

Eu cheguei tão perto que eu senti suas chamas

Eu cheguei tão perto que eu nunca vou estar seguro novamente

Eu faria qualquer coisa para encontrar um caminho para abandonar o medo e evacuar

Fitou a imensidão que se estendia num azul pacifico acima de si. Era tão maravilhoso estar ali, aquela vista, a brisa soprando em sua face... Era tudo tão maravilhosamente calmante, quase o fazia esquecer do por que estava ali. Quase. Por que ele ainda sentia o peso de todas as suas falhas e o calor sob sua pele apenas o fazia lembrar-se da maldita realidade a qual pertencia.

Baixou a cabeça, os metros estendendo-se assustadores. Mas ele não recuaria, não podia. Não agora.

Precisava apenas dar mais um passo.

Venha aqui dentro alcançar meu interior

Venha sentir minha tristeza e minhas lágrimas

Minhas asas quebradas não agüentam meu peso

Através da escuridão do dia

- Por que está fazendo isso? – e rapidamente sua cabeça chicoteou para a esquerda, deparando-se com uma figura pequena e, aparentemente, frágil trajando o uniforme masculino de sua escola, mas, claramente, não era o uniforme daquele período. O jovem de cabelos acastanhados, sentado a beira do prédio, apenas ergueu a cabeça para fitar o céu. – Está bonito não é mesmo?

- Como? – questionou Takeshi de testa franzida, não compreendendo o que o rapaz estava a dizer. – Quem é você? – indagou, confuso, não recordando-se de ter visto aquele adolescente em algum momento, mas, de certa forma, a figura pequena de cabelos e olhos castanhos lhe parecia vagamente familiar.

- O Céu. – respondeu, ainda fitando a vastidão azulada e bela. Em poucos segundos o castanho voltou-se para o adolescente com o braço quebrado. – Sou Sawada Tsunayoshi, Tsuna, para breve. – e assim seus olhares se encontraram e Tsunayoshi pode ver muita coisa naquele olhar, exceto pelo motivo daquela idéia estúpida.

- Tsuna... – murmurou Yamamoto, esticando os lábios num falso sorriso. – Sou Yamamoto Takeshi. – riu-o fazendo com que o moreno devolvesse um pequeno sorriso, claro que, este sendo tão vago e triste quanto sua própria presença ali.

E o silencio veio tão pacifico e ao mesmo tempo cruel. O moreno não compreendia como Tsunayoshi surgira ali, afinal, tinha a plena certeza de que estava sozinho quando subira, e certamente teria ouvido a porta se abrindo.

- Takeshi, por que está pensando em pular? – questionou, e apenas nessas palavras o sorriso desaparecera dos lábios do astro de baseball dando lugar a uma surpresa indefinida e muda. – Você, está mesmo certo sobre isso...?

Deixe aquela suja cruz da culpa para trás

Liberte seus braços, faça isso um de cada vez

Não é seu erro, você não deve ser culpado

- Você já pensou nas conseqüências? – indagou Tsunayoshi novamente. – Já pensou no que ficaria para trás? Nas pessoas? Nos seus amigos?

O moreno franziu o cenho profundamente, irritado por aquele rapaz desconhecido tentar lhe dar alguma lição de moral. Se ele estava fazendo o que pensava era por que já havia pensado em tudo, em todos, certo?

Certo?

- Não tente me convencer a não pular. – alertou o moreno, e novamente o Sawada apenas deu um sorriso triste.

Sua asa aparada no passado não deve trazer-lhe vergonha

E os anos que você ainda suportou

Devem funcionar como força para ver tudo passar

- Não estou tentando lhe convencer, Yamamoto. – disse-o, baixo, apoiando o braço sobre o joelho dobrado contra o corpo. – É só que isso, essa situação, é um tanto nostálgica para mim... – e logo o riso ecoou, este que se quer possuía algum tipo de humor.

O adolescente ainda de pé – Takeshi – fitou-o, mudo. Qualquer coisa que pudesse, ou quisesse, dizer entalava-se em sua garganta enquanto permanecia a fitar a figura pequena e triste. E foi só então que ele permitiu-se fitar as vestes do rapaz, analisando-as melhor.

Era o uniforme de seu colégio, obvio, mas de forma alguma era o daquela temporada, afinal o calor era demasiado grande aquela época do ano. O castanho trajava uma camisa social branca de mangas compridas, sob a mesma havia um colete amarelo claro e uma gravata azul céu dançava ao vento; sua calça era um marrom escuro – beirando o preto – e calçava sapatos comuns escuros. Não havia bolsa acompanhando o adolescente, não havia nada mais ali, alem de si próprio e do Sawada.

- Uma vez um garoto, desesperado, veio aqui. – murmurou-o, fitando os prédios distantes. – Ele queria pular. Ele ia pular...

- Você o impediu? – indagou Takeshi, não escondendo sua curiosidade.

O castanho sorriu vagamente, perdido em pensamentos.

Venha aqui dentro alcançar meu medo interior

Venha sentir minha tristeza e minhas lágrimas

Minhas asas quebradas não agüentam meu peso

- Queria pode dizer que sim... – sussurrou, mais uma vez. – Eu me lembro que quando ele estava ai, no seu lugar, há apenas um passo do precipício, ele perguntou-se se as pessoas sentiriam a falta dele; questionou-se se sua mãe se lembraria dele; se seu pai apareceria em casa para consolar sua mãe e seu irmão mais velho... – e assim o castanho suspirou triste. – Você já se perguntou isso... Takeshi?

O moreno piscou.

- Quais eram os motivos dele? – questionou o moreno, curioso e, de certa forma, temeroso.

- Posso te garantir que vocês eram muito diferentes. – respondeu. O atleta franziu a testa numa careta repugnante.

Através da escuridão do dia

Toda esperança foi queimada a cinzas

E eu estou tão cansado de esconder os hematomas

Minhas asas quebradas não podem me levar

Através da escuridão do dia

- Como pode dizer isso se nem me conhece? – retorquiu Yamamoto com certa irritação.

A risada suave e sonora ecoou.

- É verdade, eu não te conheço, mas apenas de te olhar, posso ver as diferenças. – devolveu em tom baixo. – Você sabe por que, Yamamoto, vocês são diferentes? – e sequer esperou pela resposta do moreno em pé. – Por que antes mesmo de ele vir aqui, a beira do precipício, ele já se suicidava diariamente... Em pequenas doses... Por coisas pequenas que o destruíam por dentro, por causa de pessoas que, como você, ostentam grandes círculos de amizade e foram essas pessoas que o destruíram com zombas e bullyings...

Suavemente o castanho esfregou os pulsos, como se os mesmo coçassem apenas por aquele assunto.

- Naquela época não havia alguém para salvá-lo... Era tão triste, tão solitário... – murmurou-o, perdido em devaneios. – O mundo era apenas o preto no branco, como uma fotografia velha, e ele sentia que sua presença ou sua falta não fariam a diferença, e toda noite ele chorava por causa disso. – inconscientemente o castanho levou a mão ao coração e nesse simples ato Takeshi pode ver as ataduras grossas que circundavam os pulsos finos abaixo das mangas da camisa. – Aos poucos ele perdeu a fé, perdeu os sorrisos, perdeu as palavras...

- Ele morreu? – indagou Yamamoto sua mão agarrada firmemente a grade divisória. – Ele se matou? Ele p-pulou...?

O castanho apenas baixou o olhar.

- Ele morreu. – confirmou o castanho. – E eu gostaria de dizer que sentiram a falta dele, mas, como ele previu, ninguém notou... Ele não fez diferença alguma.

Cortes profundos não irão ajudá-lo a curar

A dor infligida é simplesmente falso alívio

Momentos preciosos onde você pode sonhar

Num dia quando você também pode sentir

E o silencio veio, frágil como um floco de neve e tímido como o céu que se escurecia para mostrar o esplendor da lua. E nesse silencio o moreno refletiu as palavras que o castanho lhe dissera.

Takeshi queria ir... Ele queria pular, seria até bom que não sentissem sua falta, ninguém sofreria, mas o moreno sabia que não seria assim, não consigo, por que havia algumas pessoas que gostavam de si e o admiravam, seu pai sentiria sua falta e Yamamoto não queria que seu amado pai sofresse por mais uma perda, já bastara a morte da sua mãe para partir o coração do homem.

E enquanto pensava, fitando o céu claro, o atleta mal notou o sorriso que brincou os lábios finos do adolescente de cabelos castanhos.

- Eu não vou lhe dizer o que fazer. – comentou o Sawada sutilmente. – É uma escolha sua Yamamoto. Se quiser pular, pule, e não se arrependa, mas pense em todos aqueles que podem ser afetados por isso, mesmo que você ache que as pessoas podem não sentir sua falta viva mais um dia para ter a certeza disso.

O moreno voltou a fitar o castanho. E só então uma luz pareceu brilhar em sua mente. Como o garoto poderia saber o que o suicida se sentia daquela forma? Como ele sabia que o garoto que tentou se suicidar questionou-se sobre sua família? Como ele poderia saber que tal rapaz havia perdido-se tanto?

Arregalando os olhos Takeshi quase despencou com a resposta mais provável para tudo aquilo.

Venha aqui dentro alcançar meu medo interior

Venha sentir minha tristeza e minhas lágrimas

Minhas asas quebradas não agüentam meu peso

Através da escuridão do dia

- Foi você! – afirmou-o. – Você é o garoto da história!

- Eu não posso ser o garoto da historia, eu estou aqui, lembra-se? – sorriu o Sawada, fracamente.

E, pela terceira vez apenas naquela manha, a testa do atleta fincou-se, enquanto este agarrava-se, rigidamente, a cerca divisória. Abriu a boca para devolver a questão, mas havia o fato de que o adolescente da historia havia morrido, ele havia pulado.

- Eu... – engolindo em seco, Yamamoto tomou a decisão mais sensata. – Eu vou... Esperar mais um dia. - E novamente o castanho sorriu quando viu que o astro de baseball subira novamente a cerca, retornando a área segura. – Você não vem, eu quero saber mais, quero saber direito por que ele pulou.

Virando-se, sutilmente, o adolescente ainda sentado a borda fixou seus olhos castanhos nas orbes cor de mel de Takeshi.

- Nee, eu nunca disse que ele tinha pulado. – o moreno surpreendera-se diante daquela afirmação. E sentindo a indagação no ar, com sutileza o castanho acariciou o próprio pulso. – Existe mais de uma maneira de tirar a própria vida, Takeshi. – sorriu-o, fraco. E novamente o olhar do maior decaiu sobre as ataduras a mostra no pulso, estas que agora tinham certo tom rosado. – Espere mais um dia... – fora tudo o que o castanho sussurrou antes de impulsionar o próprio corpo para frente e ser abraçado pelo abismo abaixo de si.

- Tsuna!! – chamou o moreno, agarrado a grade de proteção. E o adolescente não pensou duas vezes antes de subir novamente na grade e ir para a área perigosa, mas quando seu olhar fora para o fundo do precipício que lhe aguardava, não havia nada, nenhum corpo. Nada.

Piscou, não acreditando naquilo. Esfregou os olhos de novo e de novo, apenas para ter certeza de que não estava vendo errado. Beliscou-se a fim de ter a certeza que aquilo não era um sonho. Mas não, era tudo real, o garoto, a historia, as palavras. E talvez, só talvez, Takeshi estivesse certo.

Mais tarde, naquele mesmo dia, o atleta foi em busca de informações a respeito de Sawada Tsunayoshi, para sua sorte havia um registro no colégio informando onde o moreno morava e também onde ele se encontrava atualmente. Ao fim daquela tarde, quando o sol cedia o céu para a lua, Yamamoto Takeshi encontrava-se no centro hospitalar de Namimori questionando a recepcionista sobre o rapaz que conhecera mais cedo.

- Ele faleceu. – ela lhe informara com uma prancheta em mãos enquanto sua face transmitia apenas tristeza pela jovem vida perdida. – Ele deu entrada de madrugada e faleceu esta manha.

O moreno engoliu em seco, tremulo.

- D-De que...? – gaguejou.

A mulher suspirou.

- Suicídio.

Fim.


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Notas finais do capítulo

Espero que todos tenham gostado.
Essa ideía está me atazanando desde cedo....
Enfim, jya'ne.
Ps: a musica é Broken Wings de Evergrey.