Juliana comentou com Ferdinando o plano que tinha para fazer Gina assumir de uma vez por todas que o amava. O engenheiro ficou com sérias dúvidas se iria coloca-lo em prática, mas após a professora garantir que a ruiva gostava de verdade dele e que isso iria faze-la aceitar seu pedido de namoro, ele decidiu pensar melhor. Eles conversavam enquanto a professora voltava para a casa de Pedro Falcão.

–Ara professora, ieu ainda num sei...ieu preciso pensá, sabe?

–Ferdinando deixa de ser bobo, vai ser apenas um empurrãozinho para vocês dois.– Disse, ansiosa para juntar o casal, como sempre foi. Quando chegaram na porta da casa, ela continuou: - Hoje a noite eu vou ter uma conversa com a Gina e amanhã quero ver você aqui, você vem?

–Ara mai é claro qui ieu venho. - Disse, pois não pode perder nenhuma oportunidade de rever Gina. - Intão estamos conversados, ieu vou vortá pra casa, está esfriando muito. Inté professora.

–Até logo amigo Ferdinando. - Disse Juliana, se despedindo e entrando.

Ferdinando acabou pensando melhor e decidiu confiar nela. Afinal, ela poderia estar certa e tudo poderia funcionar como disse. "Ara mai aquela professora é otra maluca", pensava.

Após a janta, Juliana subiu e encontrou Gina já na cama, de pijama. Como sempre, conversava com a amiga antes de dormir. Começou a puxar o assunto.

–Gina, como foi seu dia hoje? Nada de interessante para me contar? - Disse, com a intenção de chegar no nome de Ferdinando. Percebeu o nervosismo da amiga ao responder.

–Ara, nada de bão Juliana. Tudo normal. - Disse, tentando disfarçar.

–Sério mesmo Gina?

–Mai é craro Juliana. O que poderia di te contecido?

–Tudo bem então Gina, é que o meu dia foi ótimo! - A professora percebeu que estava mais difícil do que imaginava, e teve que tocar no assunto ela mesma - Ah me lembrei agora, sabe quem eu encontrei no caminho de volta? O doutor Ferdinando! -Disse, fingindo não ter pensado nisso antes. Gina ficou mais atenta apenas ao ouvir o nome dele, mas fingiu não ligar.

–I ieu cum issu? - A professora não se importou e continuou:

–Nada Gina, só achei que você devia saber disso. Nós viemos conversando e sabe o que ele me contou?

–Num sei i num mi interessa sabê! -Respondeu, nervosa.

–Ele me falou que veio aqui e que você o ignorou.

–Ara professora, ele mi veio aqui i teve a corage de mi pedi im namoro pro meu pai. Ieu num gosto dele i nem nada. - Mentiu Gina.

–Pois então você não sabe o que está perdendo. O doutor Ferdinando é um rapaz muito bom Gina, garanto que se você não quer, tem quem queira. Ele não vai ficar a vida inteira esperando por você, fique sabendo disso. - E começando a colocar seu plano em prática - Ele me pareceu muito desanimado, até me contou que está pensando em desistir de você.

– O que Juliana? Desisti deu? I u que é essa história de "tem quem quera?" - Gina se desesperou de repente.

–Sim Gina, desistir. Tem certeza de que você não quer ele mesmo?

–Purque ocê tá mi perguntando isso?

–Sabe Gina eu estive pensando, o Nando é um rapaz muito interessante, eu com o Zelão já não estamos juntos, então nada me impede de me apaixonar por ele.

Gina paralisou. Abominava pensar em Juliana e Ferdinando tendo algo a mais do que apenas uma amizade e depois do que ela falou, foi inevitável o pensamento de como seria se Ferdinando tivesse beijado e quisesse ficar com Juliana ao invés dela. Tratou de tirar ligo isso da sua cabeça, senão correria pegar sua espingarda.

–Ara mai ocê num pode não Juliana!

–Porque não Gina? -Disse, se divertindo com a reação da amiga. Sabia que ela não agiria nada bem com seu comentário.

–Purque não! Agora vamu durmi que já tá tarde! -Disse, se virando, irritada.

–---------------------------------------------------------------------

O dia amanheceu de certa forma diferente naquela manhã. Todo aquele frio que estava aparecendo deu resultado e deixou a vila de Santa Fé mais branca. Estava nevando.

Ferdinando se levantou e se lembrou do dia anterior. Toda a rejeição de Gina doía pra ele, como nada doía. Hoje ele iria se encontrar com ela novamente e esperava que tudo desse certo, tudo tinha que dar certo. As horas se passaram e quando ele viu que já estava na hora de sair, se agasalhou bem e foi em direção a casa de Pedro Falcão. Quando chegou, encontrou Juliana e Gina na sala.

–Tarde tarde, licença!–Disse quando chegou. Juliana se levantou e foi cumprimentá-lo. Gina olhou, mas continuou sentada.

–Olá Nando, como é bom vê-lo!–Disse a professora, piscando para o engenheiro e começando a provocar Gina. Ele entendeu o que Juliana estava tentando fazer, piscou de volta e resolveu continuar:

–Juliana minha querida como vai?– Disse, beijando sua mão. Gina se virou e olhou irritada para eles. Os dois se sentaram ao lado dela no sofá e começaram a falar do relacionamento de Juliana com Zelão. Apenas para provocar, a professora fingiu não dar a mínima para o capanga. Gina, que já estava brava com o fato do engenheiro sequer tê-la cumprimentado ou notado sua presença, ficou mil vezes pior quando os dois começaram a rir.

–Ai Ferdinando sabe, acho que não vale mais a pena eu me importar com o Zelão. Preciso de outro alguém nessa minha vida. -Disse a professora.

–Pois ieu também acho Juliana. -Respondeu Ferdinando. Gina não podia mais ouvir nada daquela conversa. Antes de se retirar, disse pela primeira vez alguma palavra desde que Ferdinando havia chegado:

–Ara Ferdinando, agora a dona Juliana tá querendo arguem enenhero grônomo que nem ocê! - E saiu da sala.

–Gina, Gina! Espera, Gina!–Ferdinando olhou para a professora com um certo desespero e correu atrás da ruiva. "I agora?", pensava enquanto a chamava.