A rua estava parcialmente clara, pois havia pouca iluminação e postes queimados, mesmo assim esperava mais barulho e movimento deste lugar. Pensei comigo mesmo o que eu estava fazendo ali. Será que bati forte com a cabeça?

Escutei um assovio que vinha da minha esquerda, direcionado a mim. Abaixei a cabeça olhando para o chão. Constrangia-me que eles soubessem o que eu procurava ali. Constrangia-me ainda mais em saber que o que eu procurava eu queria e queria muito.

O motivo de minha presença naquele lugar era pelo fato de um garoto, na verdade ele foi o estopim. Despertou algo inusitado em mim e eu queria ter certeza. Nunca havia experimentado deste sentimento, chegou de supetão. Aquele jovem despertou algo que nunca senti até o exato momento. Jurava nunca o ter sentido, mas agora sentia.

Acontece que, dentro de mim algo despertou e faz com que minha cabeça ferva e minha dúvida cresça cada dia mais, porém não sou um completo tapado, tenho certa consciência. Isso começou há dois meses, para ser mais exato, no primeiro dia de aula do segundo bimestre.

Eu e meu amigo estávamos olhando a lista, fomos conferir nossa sala, felizmente estaríamos juntos mais um ano, porém notamos que uma pessoa cujo nome não nos recordávamos de ter estudado conosco encontrava-se lá. Enfim, nada grandioso, afinal é normal ter alunos novos transferidos.

O sinal ressoou em nossos ouvidos. Entramos em nossa sala e como de costume corremos para pegar as últimas carteiras rentes a parede da janela, eu na frente e ele atrás. Não ficávamos no fundo pelo fato de sermos “burros”, pelo contrário, éramos inteligentes, pelo menos nos esforçávamos para alcançar a média.

A sala enchia aos poucos, alguns pareciam criar asas para chegar aos seus lugares desejados. Era engraçado, parecia queima de estoque.

Todos satisfeitos com seus lugares, panelinhas formadas, conversando e matando a saudade. No momento eu estava em outra dimensão, não que eu não estivesse feliz por ter voltado à faculdade, pelo contrário, eu estava, ver os amigos é muito legal, o problema são as matérias, provas, entre outras coisas.

—Acorda, acorda! Aluno novo! – senti um cutucão que me tirou do transe.

—Onde? – procurei o tal do aluno novo sem muito interesse. Meu campo de visão acabou por detectar o aluno novo. O primeiro pensamento que tive a respeito dele foi: bonito. Um rapaz de longos cabelos negros, olhos brancos, quase leitosos. Por um instante julguei que ele fosse cego.

—Naruto.

—Fala, Kiba. – respondi sem dar muita importância.

—Eu ouvi um boato de que o aluno novo é bissexual.

—A é? Quem disse? – perguntei. Acabei me interessando, não sei ao certo o motivo, mas senti-me contente.

—A panelinha do outro lado da classe estava comentando, passei e ouvi. Também os ouvi dizer que o viram se beijando com um garoto.

Enquanto ouvia a informação direcionada a mim voltei minha atenção ao belo rapaz já sentado em sua carteira, a primeira da fileira ao lado da minha. Apoiei meu queixo sobre a palma de minha mão e fiquei a olhá-lo por detrás, porém fui surpreendido, ele virou-se para trás e tive a certeza que não era cego. Ou minha visão estava realmente ruim, ou não sei, mas ele olhava para mim, descaradamente, como se quisesse que eu notasse seu atrevimento em olhar-me sem pudor, na maior cara de pau.

Senti o peso de seu olhar sobre mim e abaixei o meu. Mexi, inquieto, em minha bolsa enquanto sentia o rubor espalhar-se por meu rosto. Seus olhos me provocaram um estranho sentimento, porém mesmo estando com vergonha atrevi-me a mover meu olhar na direção dos olhos dele, mas não os encontrei, pois já havia virado para frente. Entristeci-me em não ter visto nada além de suas costas, mas eu teria o ano todo para olhá-lo. Surpreendi-me com o pensamento que tive.

Abaixei a cabeça novamente e notei que estava interessado no aluno novo. Balancei a cabeça e deslizei minhas mãos por meus fios loiros tentando colocar meus pensamentos em ordem. Soltei o ar que prendia sem perceber. Senti-me sendo observado novamente e quis retribuir o olhar, mas me repreendi ao máximo, não era possível que eu estava querendo trocar olhares com um garoto.

E foi aí que eu comecei a perceber que algo despertou em mim. Senti-me perdido sem entender ao certo o que acontecia comigo ou entendesse sim, mas não por completo.

As aulas progrediram e junto a elas os olhares e as sensações que tive no primeiro dia com o garoto. Achei que era bobeira por ser uma novidade o fato dele ser bissexual, pois não tinha amigos com essa orientação sexual. Pensava que ao final do dia passaria, mas nunca cogitei a ideia de que poderiam durar meses e a cada dia seu olhar me assaltava com a mesma intensidade que no primeiro.