Naquele verão escrita por Cyn


Capítulo 6
Boa miúda




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BOA MIÙDA

– Ei.

Abri os olhos e vi Louise a espreitar para dentro da picape.

– Como conseguiste subir para ai?

– Pelo pneu.

– Que queres?

Ela deu de ombros e passou a perna para dentro.

– Apenas vim ver como estavas.- Deitou-se ao meu lado.

– Estou bem. Obrigado.

Ela olhou-me durante um tempo.

– Não pareces bem.

– Apenas um pouco com raiva. Já passa.

Suspirei e fechei os olhos.

– Porque ela estava feliz por teres acabado com Alex?

Olhei para a miúda e de volta para o céu.

– Eles achavam que Alex era… uma má influência.

– Porquê?

Dei de ombros.

– Talvez porque desde que comecei a andar com ele meti-me em mais problemas do que nunca. E as bebidas também não ajudaram.

– Tu bebes? Mas ainda és muito nova.

Eu ri.

– Se conhecesses Alex nunca dirias que eras nova demais.

– Porquê?

Olhei para ela e levantei uma sobrancelha.

– Não estás a ser curiosa demais?

– Não.

Eu ri e assenti.

Estava a gostar desta miúda.

– Muito bem. Não sei se vais compreender mas… Com Alex não era uma miúda. Ele tratava-me como se tivesses idade para fazer tudo. E eu fazia. Foi com ele que aprendi a conduzir e foi por causa dele que conheci a esquadra.

Louise olhou-me com a boca aberta.

– Já estives-te presa?

– Já. Umas cinco vezes mas nunca mais do que 24 horas.

– O que fizeste?

Dei de ombros.

– Coisas que não sei se me arrependa.

Ela ficou em silêncio por um tempo apenas a olhar-me.

– Porque acabastes?

– Porque os homens não prestam. – Suspirei.

– O meu pai é um homem.

Eu sorri tristemente.

– Sim, o teu pai é. Mas á uns que …

Que não valem nada e deixam os filhos para trás. Ou são uns canalhas estúpidos imbecis.

– Que não prestam. – Disse apenas. – Muitos deles são da minha idade ou um pouco mais velhos. – Olhei para ela. – Anda com alguém que tenhas a certeza que amas e que se preocupe contigo. Não faças como eu.

– O que tu fazes?

– Estrago a minha vida e a dos que me rodeiam. – Dei-lhe com o cotovelo. – Ei, acho melhores chegares um bocado para o lado. – Brinquei.

Ela sorriu.

– És uma boa miúda. – Suspirei.

– Tu também.

Eu ri.

– Acredita, de boa não tenho nada. Fiz muitas coisas Louise. Coisas que não se podem apagar com uma borracha. Nem com o tempo.

Ela olhou-me.

– Não acredito em ti. És a pessoas mais divertida que conheci.

Eu olhei com a testa franzida.

– Então tens de sair mais.

Ela deu de ombros.

– É o que eu acho.

– Louise… o que queres ser quando cresceres?

Ela olhou pensativa para o céu.

–Hmm… modelo. O meu pai diz que é um desperdício mas é o que eu quero. Minha mãe era modelo então eu também quero. Sempre gostei de ver os programas na televisão e quis estar numa passerelle. Pode ser uma ideia de criança, mas… é o que eu quero.

– Se é o que gostas fá-lo. Essa é a diferença entre eu e tu. Tens programado o que queres eu apenas estou á espera do que a vida me queira dar. Tu tens futuro enquanto que eu… não.

– Mas podias mudar isso. O que gostas de fazer?

Eu sorri-lhe.

Essa era a pergunta de milhões.

– Não sei.

– Tem que haver alguma coisa.

– Eu apenas sirvo para sarilhos Louise. Com o meu currículo, mesmo que tenha jeito em alguma coisa, ninguém me vai dar emprego.

– É assim tão mau?

– Pior.

– Não pode ser assim tão mau.

– Não é. Mas ninguém sabe a verdade quanto a isso. Pelo menos as pessoas que interessam.

Ela olhou-me confusa.

– O que isso quer dizer?

Eu sentei-me e olhei o horizonte. Fiz tanta porra e para quê?

– Que às vezes farias qualquer coisa para livrar as pessoas em que acreditas que são a tua vida, de problemas.

Virei a cabeça para a olhar.

– Não te metas em problemas que vão arruinar a tua vida. Sê uma boa miúda. Não quero dizer que não podes-te divertir, apenas tem cuidado onde te metes.

Louise sorriu agradecida e vi-me a sorri-lhe também. O sorriso mais sincero que dei em anos.

Enganei-me. Eu gosto desta miúda.


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