Naquele verão escrita por Cyn
BOA MIÙDA
– Ei.
Abri os olhos e vi Louise a espreitar para dentro da picape.
– Como conseguiste subir para ai?
– Pelo pneu.
– Que queres?
Ela deu de ombros e passou a perna para dentro.
– Apenas vim ver como estavas.- Deitou-se ao meu lado.
– Estou bem. Obrigado.
Ela olhou-me durante um tempo.
– Não pareces bem.
– Apenas um pouco com raiva. Já passa.
Suspirei e fechei os olhos.
– Porque ela estava feliz por teres acabado com Alex?
Olhei para a miúda e de volta para o céu.
– Eles achavam que Alex era… uma má influência.
– Porquê?
Dei de ombros.
– Talvez porque desde que comecei a andar com ele meti-me em mais problemas do que nunca. E as bebidas também não ajudaram.
– Tu bebes? Mas ainda és muito nova.
Eu ri.
– Se conhecesses Alex nunca dirias que eras nova demais.
– Porquê?
Olhei para ela e levantei uma sobrancelha.
– Não estás a ser curiosa demais?
– Não.
Eu ri e assenti.
Estava a gostar desta miúda.
– Muito bem. Não sei se vais compreender mas… Com Alex não era uma miúda. Ele tratava-me como se tivesses idade para fazer tudo. E eu fazia. Foi com ele que aprendi a conduzir e foi por causa dele que conheci a esquadra.
Louise olhou-me com a boca aberta.
– Já estives-te presa?
– Já. Umas cinco vezes mas nunca mais do que 24 horas.
– O que fizeste?
Dei de ombros.
– Coisas que não sei se me arrependa.
Ela ficou em silêncio por um tempo apenas a olhar-me.
– Porque acabastes?
– Porque os homens não prestam. – Suspirei.
– O meu pai é um homem.
Eu sorri tristemente.
– Sim, o teu pai é. Mas á uns que …
Que não valem nada e deixam os filhos para trás. Ou são uns canalhas estúpidos imbecis.
– Que não prestam. – Disse apenas. – Muitos deles são da minha idade ou um pouco mais velhos. – Olhei para ela. – Anda com alguém que tenhas a certeza que amas e que se preocupe contigo. Não faças como eu.
– O que tu fazes?
– Estrago a minha vida e a dos que me rodeiam. – Dei-lhe com o cotovelo. – Ei, acho melhores chegares um bocado para o lado. – Brinquei.
Ela sorriu.
– És uma boa miúda. – Suspirei.
– Tu também.
Eu ri.
– Acredita, de boa não tenho nada. Fiz muitas coisas Louise. Coisas que não se podem apagar com uma borracha. Nem com o tempo.
Ela olhou-me.
– Não acredito em ti. És a pessoas mais divertida que conheci.
Eu olhei com a testa franzida.
– Então tens de sair mais.
Ela deu de ombros.
– É o que eu acho.
– Louise… o que queres ser quando cresceres?
Ela olhou pensativa para o céu.
–Hmm… modelo. O meu pai diz que é um desperdício mas é o que eu quero. Minha mãe era modelo então eu também quero. Sempre gostei de ver os programas na televisão e quis estar numa passerelle. Pode ser uma ideia de criança, mas… é o que eu quero.
– Se é o que gostas fá-lo. Essa é a diferença entre eu e tu. Tens programado o que queres eu apenas estou á espera do que a vida me queira dar. Tu tens futuro enquanto que eu… não.
– Mas podias mudar isso. O que gostas de fazer?
Eu sorri-lhe.
Essa era a pergunta de milhões.
– Não sei.
– Tem que haver alguma coisa.
– Eu apenas sirvo para sarilhos Louise. Com o meu currículo, mesmo que tenha jeito em alguma coisa, ninguém me vai dar emprego.
– É assim tão mau?
– Pior.
– Não pode ser assim tão mau.
– Não é. Mas ninguém sabe a verdade quanto a isso. Pelo menos as pessoas que interessam.
Ela olhou-me confusa.
– O que isso quer dizer?
Eu sentei-me e olhei o horizonte. Fiz tanta porra e para quê?
– Que às vezes farias qualquer coisa para livrar as pessoas em que acreditas que são a tua vida, de problemas.
Virei a cabeça para a olhar.
– Não te metas em problemas que vão arruinar a tua vida. Sê uma boa miúda. Não quero dizer que não podes-te divertir, apenas tem cuidado onde te metes.
Louise sorriu agradecida e vi-me a sorri-lhe também. O sorriso mais sincero que dei em anos.
Enganei-me. Eu gosto desta miúda.
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