Depois de algumas horas, o garoto com olhos puxados voltou para casa, e a cena que encontrou quando passou pela porta era, no mínimo, fofa. A garota, que antes estava encharcada pela agua da chuva, agora dormia tranquilamente no sofá da enorme sala. Sua respiração era serena.

Kyunjon estava com pequenos cortes no rosto e nas mãos. Estava com medo que Spencer o visse assim, nem mesmo ele sabia o motivo de ter tal receio. Por que ele iria se importar se ela o visse ou não daquele jeito? Ele apenas seguiu em direção a um dos milhares banheiros que havia naquela casa.

Adentrou no enorme banheiro de mármore branco, se apoiou na pia e abriu a caixa de primeiros socorros que estava em cima da mesma. Pegou de lá um algodão e colocou um pouco de água oxigenada, passou delicadamente por cima dos cortes em seu rosto. Qualquer pessoa, pelo menos, sentiria uma irritação com a água oxigenada tocando seus machucados, mas Kyunjon já estava tão acostumado com aquela sensação que nem se importou, nem ao menos se mexeu.

Depois de ter cuidado de todos seus machucados, ele resolveu tomar um banho para tirar o cheiro que estava impregnando em seu corpo. A água fria que caia do chuveiro fazia contraste com a pele quente do garoto.

Após terminado o banho, ele foi em direção ao seu quarto. Ele era enorme, como qualquer outro cômodo daquela casa. Enquanto seu quarto poderia ter vários móveis e enfeites, ele apenas tinha um colchão com alguns edredons brancos e um travesseiro, com alguns livros empilhados ao seu lado. Ele era iluminado por um pequeno abajur que ficava em um canto do quarto. Uma velha cômoda era o lugar onde suas roupas ficavam guardadas.

Já vestido, foi em direção a sala em que se encontrava Spencer. A garota estava do mesmo jeito que ele a viu, deitada no enorme sofá, seu corpo parecia ainda menor devido ao tamanho do mesmo.

Kyunjon precisava acordar a garota. Posou, delicadamente, sua mão sobre frio rosto da mesma, o garoto chamou Spencer algumas vezes. Com dificuldade, a garota abriu seus olhos, suas pálpebras estavam pesadas. Spencer não queria acordar, queria ficar dormindo por mais tempo, seu sono estava tão sereno que ela poderia ficar assim pelo resto da sua vida.

— Mãe, deixa eu dormir só mais um pouco. — Murmurou Spencer.

— Eu não sou sua mãe, para falar a verdade nem mulher eu sou, quer ver? — Disse o garoto ironicamente.

Quando escutou aquilo, Spencer se lembrou de onde estava e quem era sua companhia. O garoto do cigarro. Então, rapidamente, se sentou no sofá e olhou para o garoto que estava ao seu lado. Ele a olhava com uma expressão divertida.

— Desculpa Kyunjon, desculpa. Realmente não foi minha intenção te ofender.

Kyunjon estava rindo com aquilo, a garota realmente estava se desculpando, por acaso ela não havia intendido a ironia naquela frase? Realmente, aquela garota era um bebê comparada a ele.

— Você pelo menos sabe o endereço da sua casa certo? — Disse Kyunjon que já estava em frente a porta.

— Eu tenho anotado dentro da minha mochila. — Disse Spencer já se levantando e pegando sua bolsa.

***

Depois de algum tempo andando, eles finalmente chegaram. Era uma casa bem localizada na pequena cidade, ficava em um dos bairros nobres da cidade. A casa tinha apenas um andar, ela era pequena comparada a de Kyunjon, mas a parede de vidro e as suas cores a faziam a estrutura parecer maior do que realmente era.

Spencer andava para a porta já com a chave na mão. O garoto de olhos puxados apenas a seguia, queria garantir que ela chegaria bem em casa, quando a mesma abriu a porta e adentrou, o garoto se despediu:

— Pronto, já está em casa.

Ele já estava indo embora até que sentiu a mão de Spencer segundando seu braço. A garota corou com a sua ação, mas não queria ficar sozinha naquela casa, estava com medo que algo acontecesse.

— Você pode ficar aqui até minha mãe chegar? — Disse Spencer, dando uma longa pausa entre as palavras que falava.

— Acho que eu posso.

Ambos entraram na casa, o primeiro cômodo era uma sala conjugada, diferente da sala da casa do garoto, essa sala era "quente", ela passava uma sensação de conforto para qualquer pessoa que adentrava na casa. Os móveis modernos contrastavam com o estilo rustico da sala, suas cores eram quentes, a lareira moderna aquecia o ambiente.

— Acho melhor eu trocar de roupa, eu já volto, fique à vontade.

Depois de dizer isto, Spencer saiu correndo em direção ao corredor, e depois entrou em seu quarto, deixando Kyunjon sozinho na sala. O garoto apenas se sentou e ficou inspirando o cheiro que aquele ambiente tinha, era um cheiro bom Ele não saberia descrever esse cheiro, se pedissem para ele descrever em apenas uma palavra ele, sem dúvidas, falaria família; o porquê? Nem ele mesmo sabia.

Spencer colocou a roupa mais quente que achou, a maioria de suas roupas ainda estavam dentro dos milhares caixotes que estavam espalhadas em seu quarto. Prendeu seus cabelos castanhos em um rabo de cavalo baixo. Sua franja já estava grande demais, ela precisava cortá-la, mas aquilo a deixava ainda mais bonita.

A castanha voltou para a sala andando pelo corredor, observava os quadros com cuidado, várias daquelas fotos penduradas na parede eram ela, mas tinha uma em especial, era uma foto sua com seu pai. Desde que ele morreu, sua vida mudou, a sua morte deixou sequelas.

— Você está com fome? — Perguntou Spencer se sentando ao lado de Kyunjon.

— Talvez.

— Vou ir preparar alguma coisa.

A garota foi em direção a grande cozinha, pegou os ingredientes para preparar a refeição.

— Você gosta de macarrão?

— Sim. — Disse Kyunjon já se apoiando no balcão de mármore, olhando fixamente para ela.

Spencer ligou o fogão para colocar a colocar a água para ferver, enquanto ela se concentrava na panela, Kyunjon se concentrava nela. Naquele momento, ela não parecia uma garota frágil, mas sim uma garota forte que era capaz de si mesma e dos outros, sem se deixar cair.

O barulho da porta sendo aberta fez com que os dois desviassem sua atenção para a mulher que adentrava na casa, a mãe de Spencer acabava de chegar. Ela já estava à margem dos quarenta anos, mas quem a visse não daria mais de trinta anos. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque, usava uma roupa toda branca. Ela era médica, esse era seu uniforme, todo branco.

— Boa noite filha, vi que você fez um amigo na escola. — Disse com um sorriso simpático.

— Sim, esse é o Kyunjon. Se não fosse por ele, hoje eu não teria chegado em casa.

Kyunjon estava nervoso com toda aquela situação, nunca tinha sido apresentado formalmente para alguém e, para fugir daquela situação, ele apenas pensou em ir embora.

— Acho que é melhor eu ir indo. — Disse o garoto já indo em direção a saída.

— Vá chamar ele, Spencer. — Sua mãe ordenou.

Spencer foi em direção ao garoto que já estava fora de sua casa, ela não deixaria ele ir embora sem mesmo antes ter comido. Não depois dele tê-la ajudado.

— Ei, Kyunjon! — Disse Spencer chamando a atenção do garoto — Fique, pelo menos coma um pouco, minha mãe quer te conhecer.

— Spencer — Disse Kyunjon olhando com uma expressão séria para a garota — Eu não sou o tipo de cara que você deve apresentar para sua mãe.

— Eu não me importo.

Então, depois de alguns segundos se olhando, ambos entraram na casa. Eles se sentaram à mesa e Lauren, a mãe da Spencer, começou a falar sobre vários assuntos. A comida estava boa, as risadas eram altas. Depois de algum tempo Kyunjon se acostumou com aquele clima, ele começou a rir também. Spencer vendo aquilo sorriu, o Kyunjon estava confortável com aquele clima.

Depois de terminarem o jantar Kyunjon estava indo embora e Spencer o levou até a porta.

— Até amanhã Kyunjon.

— Obrigado. — Agradeceu Kyunjon.

— Por que você está me agradecendo? Eu que deveria agradecer por tudo hoje. — Disse Spencer.

— Porque você me fez sentir como eu não me sentia há muito tempo.

— Como?

— Como se eu tivesse uma família.