Thalia’s P.O.V

Depois que o Dragão Branco levou Nico, tudo que pude fazer foi ficar gritando até não vê-lo mais.

Caí de joelhos e solucei. Ele não pode me deixar de novo! Eu não posso perdê-lo de jeito nenhum! Aquele cabeça-dura idiota! Tem que ficar fazendo promessas só para salvar minha vida! Metido a super-herói! Cansei de ser a mocinha nessa porcaria! Vou arrancar fora a cabeça daquele dragão idiota e pegar a pedra!

Senti Jason me envolver em seus braços e chorei sobre seu ombro.

– Calma, Thalia... Pode não ser nada de mais...

– E... E se... Ele estiver. - Ao invés de concluir a frase, deixei escapar um gemido baixinho e voltei a soluçar.

Senti o navio inclinar. Estávamos descendo... Velozmente.

– Olhem... - Annabeth apontou para uma abertura imensa, onde uma escada de gelo descia até um ponto profundo que eu não via de onde estava.

Assim que o navio pousou, Anna correu até onde eu estava.

– Não, Anna. - Falei. - Nico mandou você ficar aqui e é aqui que você vai ficar! Não deixe Tobias sair e não saia do navio!

– Mas...

– Anna... - Começou Jason. - É o que Nico queria para você. Ainda não tem experiência para lutar... Não deve sair daqui!

Anna bufou baixinho e fez um bico. Jason riu.

– Que tal se você treinar um pouquinho? O que acha?

Ela assentiu. Jason pegou seu gládio de ouro imperial e o entregou a Anna.

– Cuidado para não se machucar. Reveze com o Tobias...

Ela sorriu e subiu a rampa de embarque.

Peguei minha lança e a estendi a Jason.

– Como você vai lutar?

– Com isso... - Peguei a espada de Nico.

– Acredito que ele realmente iria querer que você a usasse se algo ocorresse... - Ele olhou o colar. - É lindo...

Olhei para a pedra de ônix que repousava acima de meu peito e lembrei-me da mensagem que foi deixada junto ao colar.

“Para lembrar-se dos meus olhos.”

“Se um dia eles não se abrirem mais.”

Aquilo me atingiu como uma facada no coração. Lembrar-se daquela mensagem não ajudou em nada.

Segurei as lágrimas com força e assenti.

Ainda mergulhada em pensamentos, me sobressaltei ao ouvir um rugido e um pequeno tremor.

Nico! Tenho que salvá-lo!

Corri até a escadaria. E, por burrada, não havia notado que estavam todos parados no início dos degraus.

Bati com força em Leo e perdemos o equilíbrio. Caímos escadaria abaixo, puxando os outros junto. Rolando numa confusão tão grande que eu nem via nada. Apenas gritava...

Chegamos ao pé da escada. Todos se levantaram e me encararam com olhares de censura.

– Gente! É desespero!

– Desespero dói... - Reclamou Leo.

– Finalmente! Vocês chegaram!

Encarei com um ódio que nunca havia experimentado o grande dragão branco enroscado em um sofá enorme.

– Você! Onde está Nico?!

– Veja você mesma.

O dragão apontou para um canto da sala. Ao ver o que vi, gritei, surpresa.

Um grande dragão negro estava lá, de pé. Encarando-me.

Aos seus pés estavam as roupas rasgadas de Nico.

O ódio cresceu com mais força. Eu senti que era capaz de partir o mundo ao meio com um raio.

– Eu vou te matar!

Ergui a espada de Nico e investi contra o dragão.

Com um simples movimento, aquela fera imensa e negra pegou a espada entre os dentes. Segurei com força e o bicho desgraçado me ergueu.

– Me põe no chão, sua lagartixa cremada! Eu vou arrancar sua cabeça e pendurar na parede do meu chalé!

Quer parar de se contorcer? Que droga, Lia! Eu não consigo aguentar! Você está cortando minha língua!

Paralisei. Aquela voz em minha mente era familiar. Era a voz dele.

– N-Nico? O-Onde você está?

Na sua frente! Onde mais?

– Vo-Você é... Um... Um...

Eu estava estática e o dragão/Nico aproveitou para me colocar no chão e retirar a espada de minhas mãos.

Ele aproximou o focinho do meu rosto e emitiu um ruído baixinho.

Não sei se foi por reflexo ou porque eu quis... (Ok, foi porque eu quis.) Mas assim que ele se aproximou, soquei seu focinho. Ele grunhiu e afastou-se.

– Ora... Seu... Seu... ESTÚPIDO! Quer sempre dar uma de herói para me proteger! Olha só no que deu! Está feliz agora, di Ângelo?

Ele rosnou baixinho.

– Não rosne para mim! Não ouse rosnar para mim novamente, entendeu?!

Thalia! Você me disse que não saiu da caçada para ser viúva! Mas eu não te protegi ao máximo para ser viúvo também! Caramba! Eu amo você! Só quero que essa droga de missão acabe para ficarmos juntos! Para constituirmos uma família!

– Ótimo! Vou adorar ser mãe de lagartos voadores! Como é que vai ser? Eu não sei botar ovo, ok?

Eu só vou ficar assim até pegarmos a pedra branca e sairmos dos domínios do dragão!

– Você... - Parei. - O quê?

– Sim, filha de Zeus! Seu amado ficará nesta forma até que a pedra branca seja recuperada e vocês estejam fora dos meus domínios!

– Nossa... Uau! - Começou Leo... Pensei que ele fosse falar sobre como era maneiro o Nico ser dragão e etc. Mas ele me surpreendeu com o que falou. - A Thalia acabou de ter uma D.R com um dragão cem vezes maior que ela!

– Doidinha... - Começou Travis, depois ele se aproximou de Leo e falou baixinho. - Eu sempre desconfiei!

Nico rosnou. Leo e Travis olharam para ele com cara de “somos anjos!”.

– Se você quer saber, Nico... Eu não vou subir em você!

Ele grunhiu de novo...

– E a pedra? - Questionou Annie.

– Não está comigo... Sentem-se, por favor... – Nos sentamos e eu fiquei surpresa ao ver Bia correr para Nico e se acomodar sob sua asa. – Nós, dragões, éramos vários há dez mil anos... Mas o sofrimento humano, a guerra, o caos e o crime acabaram nos sucumbindo à loucura e morte. Eu e meu irmão somos os últimos sobreviventes... Mas meu irmão enlouqueceu. Na noite passada, ele roubou a pedra e a levou consigo. Para que nenhum humano a pegasse novamente.

– Então... Você quer que nós convençamos o seu irmão a voltar para o nosso lado.

– Eu bem que queria... Mas uma vez sucumbido à loucura, um dragão não pode voltar a ser o que era... Infelizmente, não há outra saída, a não ser matar meu irmão... - Ele baixou a cabeça e uma lágrima de cristal deslizou pelo seu longo focinho e caiu no sofá.

Agindo por reflexo, estendi minha mão toquei-o. Sua pele era fria. Mas tinha um calor interior confortável... Ele emitiu um ruído baixinho.

– Obrigada, menina... Agradeço por sua afeição. O filho de Hades tem realmente sorte por ter seu coração... Olhe em meus olhos, menina. E veja o futuro de sua missão.

Olhei nos olhos do dragão branco. Á princípio, fitei apenas a imensidão azul-gelo... Depois, mergulhei em uma espécie de abismo. Quando olhei de novo, me vi assistindo uma cena horrível.

Nico estava totalmente ferido. Com vários arranhões e cortes profundos. Nem estava com sua camiseta. Apenas um trapo empapado de sangue sobre o ombro.

Drácula estava em sua forma de morcego e atacava Nico sem dó. Uma de suas esposas me segurava com firmeza e segurava meu rosto, me obrigando a assistir o sofrimento de Nico.

Drácula pegou a espada de Nico e a tocou.

– Não é irônico um guerreiro ser morto por sua própria espada?

Ele arremessou a espada na direção de Nico, que estava de joelhos. A espada atravessou seu peito. Ele gritou e desabou. Drácula encheu um cálice de prata com o sangue que escorria por seu corpo inerte e me estendeu.

– À sua saúde, minha querida.

Gritei muito alto e voltei à realidade. Os outros me olhavam com preocupação. Eu estava de joelhos. Soluçando alto.

Nico se aproximou e eu abracei seu longo pescoço com força, me cortando por acidente em suas escamas.

– N-não... Não pode me deixar... Por favor...

O dragão branco aproximou-se de mim.

– Nada está perdido, minha pobre menina... A pedra negra pode trazer de volta seus entes queridos... Mas o mais importante é que é ela que mantém o Conde vivo. Você pode ser capaz de mudar o futuro, fazendo com que não haja dor...

Assenti fracamente, ainda soluçando. Não contaria a ninguém o que vi...

Nem mesmo a Nico.

– Agora vocês devem se apressar! Voltem ao navio! Voem até o norte. Meu irmão vive numa grande cratera no gelo que ele mesmo fez! Cuidado, semideuses! Ele não tem piedade. Não possui mais a sabedoria... Mas vocês têm suas vantagens...

O dragão soprou uma pequena brisa gelada em Percy. Um dragão verde brilhou sobre sua cabeça.

– Perseu Jackson. Tem a lealdade e coragem do dragão verde!

Ele soprou uma brisa gelada em Annie. Sobre sua cabeça, um dragão branco bateu as asas.

– Annabeth Chase. Você tem o orgulho e a sabedoria do dragão branco! - É impressão minha ou ouvi certo tom de orgulho na voz do dragão? Ele soprou uma brisa gelada em Travis e Leo. – Travis Stoll e Leo Valdez. Têm a criatividade e o bom humor do dragão azul!

– Sei que sou divertido... - Gabou-se Leo.

O dragão soprou em Calipso.

– Calipso Atlas. A paciência e tranquilidade do dragão turquesa! - Foi a vez de Katie. - Katie Gardner, a riqueza e perfeição do dragão dourado! - Finalmente, era a minha vez e a de Jason. Senti um pequeno calafrio ao sentir a brisa gelada do dragão. – Finalmente, Thalia e Jason Grace. Vocês têm a liderança e teimosia do dragão vermelho!

Teimosinha...

Cale a boca, di Ângelo!

Nico emitiu um silvo que parecia uma risada. Sua boca aberta num formato de sorriso.

Dei-lhe a língua e virei para ver a forma esfumaçada do dragão vermelho se apagar acima de minha cabeça.

– Com suas características combinadas, todos vocês poderão derrotar meu irmão. - Ele nos olhou. – Um imenso dragão vermelho.

– Vermelho? Pela teimosia e liderança?

– Não... Pela violência.

Engoli em seco.

Ferrou!

(...)

– Chegaremos em um dia! - Avisou Leo entrando da SCEW (Sala de Controles Esquisitos de Wii, como eu havia batizado. Leo havia se apegado a ele).

O sol estava se pondo. E eu me diverti vendo Bia, Anna e Tobias brincarem de escorregador em Nico, deslizando por sua asa.

– Anna, Bia e Tobias! Hora de dormir! Nico precisa descansar!

– Ah... Eu queria brincar mais.

Nico usou a cauda para empurrar de leve as crianças de volta à sua cabine.

Sorri, lhe fiz um carinho e fui deitar.

Ainda fazia frio... Eu tremia sob os cobertores e a cama parecia muito mais fria sem Nico para me abraçar.

Levantei, ainda tremendo e envolta no cobertor. Abri a porta e saí. Caminhando até o deque, onde Nico dormia enroscado. A cabeça escondida sob a asa imensa.

Caminhei com cuidado para não acordá-lo e vi a lua cheia brilhar no céu. Senti vontade de chorar ao ver a familiar constelação de Zöe no céu. Deixei meus pensamentos vaguearem pelo vislumbre que tive do futuro... Aquilo que o dragão disse eu procurava associar e tentar encaixar em algum lugar. A pedra trazia vidas perdidas de volta. O Conde se mantém vivo com ela. Se ela for destruída, o Conde morre. Mas eu perco Nico. Para sempre. Eu precisava encontrar uma maneira de salvar Nico e matar Drácula! Mas como?

Não consegue dormir, principessa?

Virei. Nico olhava fixamente para mim.

– Não... Estou com frio.

Percebe-se... Venha aqui...

Caminhei até ficar em frente a ele. Nico me segurou levemente com a pata enorme e me levou de encontro à sua barriga quentinha. Ele novamente escondeu-me sob a asa e colocou sua cabeça embaixo da mesma...

– Obrigada... É bom saber que posso estar com você de outra maneira...

É bom saber que você gosta de estar comigo... Mesmo que eu não esteja sendo exatamente quem sou...

– Você sempre será o mesmo Nico pra mim. O Nico que eu amo...

Ele emitiu um ruído que eu achei fofinho... Sorri com esse pensamento.

Ti amo, la mia principessa guerriera... Quero estar com você de todas as formas...

– Eu também te amo, meu anjo... E quero que você esteja sempre comigo.

Ele emitiu mais um ruído.

Me aconcheguei em seu “abraço” e adormeci.

Sonhando que voávamos pela imensidão azul.

Juntos.

Como se fôssemos um só.