A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 25
Confissões de uma adolescente grávida




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Diário da Andreza

Agosto de 2010

A vontade de fazer xixi era tamanha! E os desejos então!

Eu pedia pro meu pai trazer sanduiches daqueles, enormes, antes de chegar em casa do trabalho.

Estava engordando demais, algumas roupas não estavam dando muito bem em mim e eu comecei a usar uns vestidos horríveis que minha mãe me dera. Dona Hilda mal sabia o motivo por eu estar daquele tamanho.

E o Berg, coitadinho... ele não via a hora do ano passar e chegar Julho de novo. Estava sofrendo demais, eu também queria que a Valentina voltasse logo. Mas até lá meu filho já teria nascido. E até o meu filho nascer, meus pais (de certa) já teriam me expulsado de casa.

Rafa e eu adorávamos caminhar na praia aos fins de semana.

— Andreza, eu arrumei um emprego! A gente vai se casar e você vai morar comigo.

— Não é assim tão simples, meu amor. Rafa acho que já tá dando pra notar, não?

— Tá chegando a hora, Andreza.

— Qual vai ser a reação, hein?

— Isso a gente só vai saber quando tentar.

— Eu tô com medo.

Rafael tomou minhas mãos para si, e disse:

— Eu tô com você. Não precisa ter medo.

💜

Meus pais estavam sentados na sala assistindo Chaves, como todas as noites. Berg estava na mesa fazendo o dever de casa, quando chegamos do passeio na praia.

— Chegaram tarde hein? —disse minha mãe, conservadora que só ela.

— Digo o mesmo. — Esse era o meu pai, conservador elevado a última potência.

— Desculpa, a gente deu uma passadinha na sorveteria. — falei.

— Eita, Rafa! Deve ter dado um desfalque na tua carteira, a Andreza anda muito esfomeada ultimamente.

Olhei com aquele olhar matador pro meu irmão. Não era pra ele ter dito aquela idiotice! Ele sabia o porquê!

— Verdade, Andreza. O Berg tem razão. Você parece estar comendo por dois! — papai concordou. Eu gelei.

Achei melhor aproveitar que os dois estavam reunidos e mandar a bomba logo. Mais cedo ou mais tarde eles descobririam.

—É porque... É porque eu tô grávida!

Minha mãe caiu, desmaiada enquanto meu pai se levantou com ódio, partindo para cima de mim e de Rafa.

— O quê?!
—Pai, foi... foi... — eu mal sabia o que dizer.

O olhar do meu pai foi direto para Rafa. Muitos ficariam com medo do meu pai, mas ele não, ele o encarou, firme e forte.

— Eu não vou abandonar sua filha Sr. Araújo.

— Eu quero que os dois se lasquem! E, de preferência, longe daqui! Fora daqui! Os dois!

— Não pai! — interveio Berg. — O senhor não pode abandonar minha irmã. Ela precisa da gente!

Eu fiquei tonta, acho que de medo, sei lá. Rafa me ajudou a sentar.

— Tá vendo, pai? — Continuou Berg. —Todo mundo faz besteira nessa vida, cara! O senhor, nunca fez?! Por favor, deixa ela ficar, ela precisa do nosso apoio!

Depois de toda aquela confusão, eu seria muito grata ao Berg por ter feito aquilo. Meu pai até aceitou, mas do jeito dele. Bom, com aquilo, eu aprendi que nós não devemos deixar as coisas pra última hora. Quanto mais tarde, pior.

💜

Diário da Ludi

A vida no Rio de Janeiro estava às mil maravilhas. A parte ruim era que Valentina, a única pessoa conhecida , estava internada, tentando se recuperar.

A escola onde eu estudava era super legal. De manhã era aula e à tarde era aula de teatro, minha paixão. Lá também servia como uma espécie de colégio interno. Eu dormia lá, porém, eu podia sair quando eu quisesse.

Cada cena que eu interpretava, era uma esperança. Demorei muito para fazer amigos lá, até que conheci melhor uma garota chamada Sara. Nós dormíamos no mesmo quarto. De vez em quando eu a ajudava a escapar para fugir para o quarto do namorado. Fazer Deus sabe o quê lá.

Ela e o namorado também faziam teatro.

O professor, Hélio, gostou muito de mim, disse que eu tinha potencial. As outras pessoas não, diziam que eu "me achava" por eu ter entrado lá por causa do Adolfo Barreto. Nada a ver.

💜

Diário da Andreza

Setembro de 2010

Adolescente... Deixei de ser isso fazia tempo quando aceitei continuar essa gravidez. E eu fiz bem! Por mais que fosse difícil a aceitação dos meus pais, graças ao meu irmão Berg, eu consegui o apoio deles!

Os pais do Rafa também aceitaram, mas disseram que não iriam ajudar em nada. Coisa de quem está com raiva, em um instante passa.

(Era isso o que eu esperava)

Eu me sentia muito cansada, varizes já começavam a aparecer nas minhas pernas e eu achava melhor passar o dia sentada ou deitada. Já estava um pouco menos enjoada, mas ainda sim eu tinha ânsia de vômito só de sentir cheiro de alguns alimentos, principalmente comida com alho.

Certa noite liguei para o Rafa. Eu e os meus ataques de desejo.

💜

Diário do Rafa

No dia seguinte àquela noite eu teria uma entrevista, onde eu faria estágio em um supermercado. Estava dormindo tranquilamente na minha cama, quando meu celular tocou. Era a Andreza. Me desesperei. Será que tinha acontecido alguma coisa?

— Rafa?

— Que foi Andreza, aconteceu alguma coisa, me diz logo!
— Tô com fome!

— Hã?

— Eu tô com vontade de comer manga! Com sal!

— Ai, Andreza, meu amor, não acredito que você me ligou no meio da noite só por causa disso.

— Quer que nosso filho nasça com cara de manga chupada?

Essa ameaça nunca falha, fato.

Vesti-me decentemente e corri até o Supermercado Center Box, que era aberto 24 horas. Comprei um quilo de manga e um litro de cachaça. Aquilo estava me deixando louco a ponto de querer beber, mas não bebi.

Andreza agarrou a sacola cheia de mangas descascando-as e jogando sal em cima de todas. Ela devorou tudo!

— Que bom, assim nosso filho não nasce com cara de manga. Agora descansa, Andreza.

— Ok. Se eu tiver mais um ataque desses, eu perturbo o Berg. Boa sorte amanhã na entrevista.

💜

Diário da Madalena

Os bons ventos traziam boas notícias para mim. Já fazia dois meses, nada de Valentina, nada de Ludi. Uma maravilha.

O Berg nem olhava pra mim, tentava fazer ciúme com os garotos que o zoavam, mas ele nem tchum.

Agora o Jhon... Acho que ele sentia uma atração por mim. Sempre o via na entrada e na saída do colégio.

Talvez fosse imaginação minha, mas ele sempre piscava pra mim.

Resolvi falar com ele, mas, claro, quando o Berg estivesse vendo. Queria que aquele nerd soubesse que a fila havia andado!

— E aí gatinha...

—Gatinha? Obrigada Jhon, mas assim você me deixa convencida.

— Não, não. Você é linda. Que tal a gente dar um rolé hoje, a gente se encontra na Mofoville. Vamo aproveitar que hoje é sexta.

—Ok. A gente se vê. Às sete.

💜

Diário do Berg

Nenhuma peninha da Madalena. Se metendo com o Jhon, o traficante de drogas? Os dois deviam estar na seca.

Mas até que um completa o outro... Cada qual mais mau caráter...

Eu que não iria me meter naquela história.

💜

Diário do Rafa

Acordei bem cedo, mas ainda caindo de sono. Depois daquela aventura gastronômica, não consegui dormir muito bem.

Tomei meu café, e corri para o supermercado. Seria lá a entrevista.

Havia mais algumas pessoas lá, de todas as idades, mas na maioria eram jovens à procura de estágio. Eu sabia que alguns cursos contavam muito, e eu tinha um ótimo de informática no meu currículo. Só bastava o entrevistador (ou sei lá como se chama) me aprovar.

Havia dado uma olhada na net sobre algumas dicas para entrevista e estava guardado tudo na minha mente. A secretária me chamou:

—Senhor Rafael Furtado?

—Sou eu.

—Por aqui.

O homem que me entrevistaria era um senhor bem apessoado, mas com aquela cara de rígido que algumas pessoas adoram impor.

— Bom dia. — falei, estendendo a mão.

Achei que ele não ia apertar, mas depois de olhar bastante tempo pra minha cara, apertou. Quem assistiu “O Diabo Veste Prada", pode comparar aquela mulher, a chefona de cabelo branco, com ele. Detalhe: eu não conseguia segurar meu nervosismo.

— Boa tarde. — Ele percebeu que eu estava nervoso — Calma garoto. Primeiro emprego, não é?

— Sim. Foi mal, eu nunca enfrentei uma parada dessas.

Ele olhou pra mim mais uma vez e sorriu. Achei que ele não tinha resistido e rido da minha cara. Pensei logo que aquilo não passaria de uma entrevista frustrada.

E quando eu achei que aquilo poderia ficar pior, eis que toca meu celular. Sweet child o`mine. Nunca aquela música do Guns N` Roses me apavorou tanto. Nunca eu odiei tanto ter posto aquela música como toque de chamada no meu telefone.

—Desculpa... —falei mais uma vez desligando o telefone. —Quem sabe nós não podemos começar de novo e...

— Você gosta de Guns? —Ele perguntou, espantado.

— Sou muito fã.

— Não mais do que eu! É estranho um garoto da sua idade gostar de uma banda tão antiga ...

Rock? Ah, não? Dali o papo fluiu. Esqueci foi de tudo. Na verdade, nós dois esquecemos que aquilo ali era uma entrevista de emprego.

💜

Diário da Andreza

— Rafa, que cara é essa? —Perguntei. O coitadinho parecia estar triste, decepcionado, quando voltou da entrevista.

— Eu consegui! —Ele gritou, mudando totalmente de face. —Eu tô empregado!

O safado tinha me enganado! Que bom que estava dando tudo certo. Ele me contou das trabalhadas da primeira entrevista dele, e por causa de um simples toque de celular conseguiu um cargo muito melhor do que ele queria. De carregador de caixas à caixa de supermercado já era um grande avanço. Quem sabe dali a um tempo ele não se tornaria gerente?

💜

Diário da Madalena

Os preparativos do casamento do Rafa com a Andreza estavam indo à mil. Só não sabia que aquilo tudo poderia me atrapalhar de alguma forma.

Já estava tudo combinado, eu saí de casa dizendo que iria dormir na casa de uma amiga e fui direto encontrar o John. Ele me fez subir na sua moto, coisa que eu nunca havia feito na minha vida. Como combinado, iríamos dançar muuuuito!

Chegando à Mofoville, o segurança nos barrou na porta:

— Desculpa, mas hoje a boate tá reservada.

— Como assim? —me espantei.

— Porra mano, tava tudo combinado. —John estressou-se.

— Calma John.

— Mas quem teria bala na agulha pra alugar a boate toda?

💜

Diário da Andreza

Já era Setembro, 6 meses de gravidez. Fiz a ultrassonografia. Estava esperando uma menina! Decidimos até o nome da nossa princesa: Débora.

Também era o mês do nosso casamento, e faltando um dia, decidimos fazer uma despedida de solteiro. Um amigo riquíssimo do Rafa alugaria a Mofoville pra eles aprontarem sabia eu lá o quê.

Fiquei com ódio, confesso, mas eu não deixaria barato.

— Pode ir, Rafa. A gente faz nossa festinha aqui.

💜

Diário do Berg

O melhor foi ver a cara daqueles dois sendo barrados na porta da Mofoville. John e Madalena estavam bufando.

— O que é que vai ter aí?

— Despedida de solteiro, manolo. —Rafa respondeu ao John.

— E o que esse nerd vai fazer aí? Estudar a anatomia do corpo das putas? —John e Madalena caíram na gargalhada.

— O que eu vou fazer não interessa. Mas vocês não vão entrar aqui. Vambora!!! —Respondi, virando as costas para os dois.

💜

Aaah eles tinham que tocar aquela música? Aquela música que me fazia lembrar-se de tudo o que eu vivi desde que eu entrei naquela escola?

Sacanagem. Estava triste, desanimado mesmo, enquanto os caras de divertiam com as dançarinas e litros e litros de vinho, cachaça, cerveja e vodka.

Eu só conseguia pensar na Ludi, na Valentina... Em pouco tempo o ano acabaria, seria transferido para outra escola. Será que eu sentiria saudades? Saudades de apanhar, saudades de ser altamente rejeitado pela galera, pelos professores... mas eu levaria de lá só as boas lembranças.

—Ei cara, tá todo mundo se divertindo. Vamo ver as dançarinas!

— Eles tinham que tocar essa maldita música, Rafa.

— Eu pedi uma música lenta pra elas fazerem o strip!

— Under the bridge?

— Se eu trocar a música você sai desse eterno luto?

Eles trocaram a música. As mulheres começaram a fazer poli dance seminuas, enquanto eu tomava vodka e começava a me soltar. Eu sabia que não podia beber. Era fraco pra bebida.

💜

Diário do Rafa

Berg já estava bêbado. Já tinha encarado tudo o que foi de bebida por lá. Quis subir no palco com as dançarinas e tirar a roupa.

— Eu quero ficar peladoooo!!!! —ele gritava, enquanto se esfregava nas dançarinas. Não pude deixar de rir.

— Berg sai daí?

— Saio nada. E vocês também. — disse para as dançarinas. —O palco é só meu.

O cara ficou fazendo um monte de frescuras em cima do palco enquanto todo mundo se acabava de rir. Caramba, meu futuro cunhado era uma figura!

💜

Diário da Andreza

Minha mãe sempre quis casar na igreja, com aquele vestido branco e longo, véu, grinalda, buquê com rosas vermelhas... Mas não conseguira. E como não conseguira, eis que o sonho dela foi para mim. Sinceramente, eu não queria festa nem nada do tipo, mas a minha mãe com aquela insistência dela toda e a alegria maior ainda, não pude nem negar.

Por causa do barrigão que crescia assustadoramente, ficava difícil usar o vestido. Tive que ajustar no dia. Eu estava parada enquanto a costureira mexia nos botões do longo vestido, quando algo na minha barriga me pareceu bastante estranho. Não pude evitar um "ai".

—Aconteceu alguma coisa, menina? —perguntou a costureira.

—Acho... Acho que o bebê chutou!

—Ih, primeira vez? Vai logo se acostumando, viu?

💜

Diáro do Rafa

A igreja estava linda e eu muito nervoso! Berg tentava me acalmar, mas nada me fazia parar de bater os dentes.

— Ela tá demorando demais.

— Calma, cara! É assim mesmo...

— Eu sei! Só não sabia que demorava tanto.

— Coisa de noiva.

De repente, as pessoas levantaram-se dos bancos. Era a minha Andreza que estava entrando na igreja.

Como ela estava linda! Sem os óculos, seus cabelos encaracolados penteados divinamente, deixando seu lindo rosto em destaque... Não pude evitar ver nossas mães chorando de emoção.

Depois da cerimônia, das falas do padre, da troca de alianças, do beijo, chegou a hora da Andreza jogar o buquê. Advinha quem pegou? Acertou quem respondeu Madalena, que nem havia sido convidada! Ela deu uma olhada sinistra para o Berg, e depois foi pra perto do John. Eu ri.

A festa estava linda, tudo financiado pelas nossas madrinhas e padrinhos.

—Acho que eu tenho sorte em ter você. —falei para ela, enquanto dançávamos.

—Eu também — ela respondeu, me dando um beijo.

💜

Diário do Berg

Andreza e Rafa tiraram várias fotos, depois entraram no carro e foram direto pra casa. E eu, forever alone. Meu celular tocou.

—Alô.

—Berg?

—Valentina! — que susto eu tomei, pensei que ela ia me evitar. — Que saudade.

— Eu também estou. Fiquei sabendo que a sua irmã casou. Cadê ela, queria dar meus parabéns.

— Ela acabou de entrar no carro, foi pra casa deles.

— E a gravidez?

— Vai ser uma menina. Minha sobrinha vai se chamar Débora.

— Bom, depois eu ligo...

— Espera!

— O quê?

— Não vai dizer nada? Como você tá?

— Depois eu ligo, a enfermeira tá chamando. Tchau.

Pensei certo. Valentina queria me evitar.


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