A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 12
Decepções


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo
Gram - Você pode ir na janela
https://www.youtube.com/watch?v=E0MF8jA16Io

**Desculpem a demora, estava cuidado do final da minha outra fic



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Diário do Berg

Voltei muito revoltado pra casa. Minha irmã Andreza havia organizado uma pequena festa de boas-vindas e convidado meus poucos amigos para tal, mas eles mal sabiam que eu estava à beira de um ataque de nervos por causa de todos os acontecidos. Eu sabia que o que eu falei em frente às câmeras não sairia na TV, então eles não me veriam no programa da Verusca no domingo próximo àquele dia.

Eu não queria mais saber daquilo. Para mim, o melhor era esquecer aquela história, aproveitar meus quinze minutos de fama e pronto. Só que o que martelava na minha cabeça era como a Valentina sabia todas aquelas coisas do John, que ele era traficante e tudo mais. Até que, durante a tal festa, eu cheguei pra Valentina e comecei a puxar assunto.

— Valentina, eu fiz uma besteira.

— O que houve Berg?

— Eu tratei mal a Verusca Donato e ainda mandei uma indireta pro John e pra Madalena lá na emissora.

— Caramba! Eu tanto que te avisei! Agora o que a gente faz?

— Fica fria, eles não vão botar no ar.

— Melhor assim

— Ei Valentina. Como você sabia que o John anda com aquela galera... Os traficantes?

Ela hesitou um pouco, e depois resolveu falar, mas não o que eu gostaria de ouvir.

— Desculpa. Eu não posso te dizer. Você é um cara legal, não merece saber disso.

— Disso o quê, Valentina?

— Tchau, Berg. Tenho que ir.

Valentina deveria ter um segredo muito podre para hesitar em me contar, ou então não confiava em mim. Eu tinha que descobrir o que era, pois aquilo deveria perturbá-la. Só sabia que não era uma coisa boa e que quem procura acha.

💜

Depois de um dia de aula, resolvi seguir a Valentina. Queria pelo menos saber onde ela morava, pois nem isso eu sabia. Ela morava pelo caminho contrário ao meu, ou seja, a parte barra pesada do meu bairro. Fiquei com medo de andar por lá, eu nunca tinha me arriscado, só quando eu fui ao posto de saúde uma vez, que ficava por lá, mas fazia muito tempo. A situação daquela parte do meu bairro era a seguinte: assassinato ali era uma coisa normal, mas por enquanto só matavam os viciados que não pagavam a sua droga, ou os seus rivais. (e eu ainda digo "só"). A casa da Valentina, apesar do bairro, era legal, duplex, só fiquei olhando ela entrar lá. Esperei um tempinho e depois, quando ia embora, ela saiu com o skate, já sem farda em direção à parte mais baixa, onde ficava uma favela. Será que ela estava indo por ali por causa do segredo dela? Sim!

Segui-a e vi quando ela parou em uma casa velha e caindo aos pedaços. Resolvi ir até mais perto, mais uma senhora bem idosa me parou e disse:

— Meu filho, não vá lá. Não estrague sua vida desse jeito.

— Não, minha senhora. Não sei do que a senhora tá falando.

— Ali é uma boca de fumo. Você parece um menino direito, ali é uma entrada para um caminho sem volta.

Drogas? A VALENTINA ESTAVA MEXENDO COM DROGAS?! Senti o chão se abrir, o mundo parar, mas eu queria que meu coração parasse.

— E a senhora sabe que tipo de drogas eles vendem ali? Pó? Ecstasy? Maconha?

— Crack. Eles só vendem crack, e isso eu sei por que o filho de uma amiga minha já trabalhou aí.

A velha senhora apenas passou a mão na minha cabeça e deu umas leves batidinhas no meu ombro. Saiu com suas sacolas nas mãos e eu, fiquei sem reação.

Crack... Quem diria que Valentina andava consumindo a pedra do diabo com apenas treze anos de idade. Senti que eu não conhecia aquela garota suficientemente bem para amá-la. Não sei o que me deu, mas eu quis esperá-la. Desmanchar nossa amizade como se desmancha um namoro talvez.

Quando a Valentina saiu da tal boca, eu apareci e fui falar com ela, eu corri com dificuldades, havia algo em minhas pernas que as deixavam pesadas.

— Valentina, larga isso aí.

— O quê?

— A droga que tá na sua mão.

— Hã?

Tomei as pedrinhas da mão dela e joguei longe.

— Seu idiota! Você é uma criança ainda, não sabe nada na vida, Berg.

— Eu sou mais velho que você.

— Foda-se. Idade não quer dizer tudo. Sabe quanto isso custou? Sete reais! Sabe lá quando vou ter sete reais na minha vida de novo!

— Sabe o preço que você vai pagar se continuar usando isso? A vida. É um preço muito alto, não acha?

— Pensei que você fosse meu amigo.

— Eu quero te ajudar.

— Então não enche, seu... Seu... Nerd! Me ajuda ficando longe de mim!

💜

Eu tinha que arrumar uma forma de extrapolar minhas emoções, e o único meio que encontrei foi chorar. Parecia coisa de emo, eu mesmo tinha meus preconceitos contra isso, mas quem não chora? Chorar é algo extremamente humano, eu queria aproveitar.

Uma das últimas pessoas que eu queria que me visse chorando, me viu. Adivinha? Ela mesma: Madalena. Aquela vadia tinha o poder de saber quando eu estava mal e encher meu saco. Eu fiquei sentado na calçada, de cabeça abaixada e vendo as lágrimas caírem e pintarem a areia fofa, não reparei que a minha xérox feminina estava vindo à minha direção.

— O que tá acontecendo, Berg?

— O quê?

— Tá chorando por quê?

— Não tô chorando. — falei, passando os braços nos olhos.

Silêncio total. Esperei que ela fosse embora, mas continuou ali.

— Pensei que não tivesse falando comigo. — falou Madalena.

— E não tô.

—Ta sim.

— Não estou mais, a partir de agora.

— Berg? Berg? me diz, tá chateado com o quê?

— Com a vida. Com você, com o Jhon, com a Eliana, com a Valentina, com todo mundo.

— A Valentina? A roqueirinha? A drogada?

— Hã? Como você sabe disso?

— Eu sei de tudo. Quer que eu fale sobre ela pra você?

— O que você quer falar pra mim sobre a Valentina?

— Ah, você sabe Berg, pra mim não é novidade que aquela garota é uma drogada, é só olhar pra cara dela. Além do mais eu sei tudo o que acontece na nossa escola. E de todos os segredos, pode acreditar. E aí, vai querer saber ou não?

— Muito obrigado, Madalena, mas eu sei bem por que você está aqui.

— Ah é?

— Se você é a bambambã, a sabe tudo, deve saber que eu amo aquela garota e não vou deixar ninguém, muito menos você julgá-la. E deve saber também que foi por ela que eu te abandonei.

Levantei-me e saí, deixando ela sozinha. Madalena poderia ter dormido sem essa.

💜

Diário da Valentina

Para o Berg, talvez eu fosse uma garota normal, que curtia rock, que juntava dinheiro para que no fim do mês comprar a camisa de sua banda favorita, que sonhava em ter uma guitarra sem nem mesmo saber tocar. Mas eu não era.

Ninguém conseguia ver o que eu escondia no meu olhar, nem as marcas que eu trazia debaixo da minha camisa, precisamente na parte das costas.

Entrei no mundo do crack aos doze anos de idade, quando, por raiva do meu pai (que bebia e me espancava muito) eu experimentei. Era uma forma de me vingar, mas eu não tinha nenhuma consciência de que aquilo acabaria com a minha vida.

Mas falando daquele momento, eu gostava do Berg. Não só como amigo, mas como o homem da minha vida. Ele era simples, honesto e ingênuo. Eu adorava aquilo nele. Talvez ele não gostasse de mim do mesmo jeito. Eu acho que ele não se interessaria por uma garota que só ligava pra música, e que adorava sair à noite. Berg, um cara intelectual, culto. O que ele veria em mim?

Eu tinha medo, eu não queria falar que o amava. Vai que ele me rejeitava? E naquele momento, naquele momento ele não gostaria nem de falar comigo, quanto mais ter-me em seus braços.

💜

Diário do Berg

A Valentina me decepcionou, eu sei, mas ela podia usar drogas, se prostituir, escutar funk, pra mim ela continuaria sendo perfeita! Porém como dizer isso a ela sem medo de levar um fora? E ainda mais agora que ela não queria nem olhar pra minha cara por vergonha?

O mais detestável era saber que o John e caras como ele estavam vendendo aquilo pra ela. Eu queria ajudá-la, mas não sabia como. Eu sei que, como aquela senhora falou, a droga é um caminho sem volta, mas tinha que ter uma luz no fim do túnel, pois pra mim nada é impossível.

Ela nem olhava mais pra minha cara, me evitava, evitava o Rafa e a Ludi também e eles não sabia o porquê, apenas eu.

— A Valentina não fala nem mais com a gente. — comentou Rafa.

— Deve estar naqueles dias. — disse Ludi.

Por mais que eu confiasse neles dois, eu não poderia expor isso para eles, não era uma boa.

E assim os dias foram se passando. Nada de mensagens de texto para Valentina, nem mesmo Valentina Cobain (sobrenome do seu cantor favorito) online no MSN. Nada. Nem mesmo seu olhar, o que eu sentia imensa falta.


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Notas finais do capítulo

Bom, esse é o segredo da Valentina. Alguns leitores já haviam deduzido isso, mesmo antes de eu ter postado o capítulo.
Agora vocês já sabem que ela também gosta do Berg, mas tem medo de falar isso pra ele, assim como o Berg tem medo de falar de seus sentimentos pra ela.
Ah, às vezes, por isso, eu acho o John pior que a Madalena.
O que vocês acharam? Comentem, bjs