Mansão Sakamaki, Sala de Entrada

– Tá, peraí. Deixa eu ver se entendi... Você quer que a gente saia pra dar um rolê por essa mansão? À noite? – Uma ponta de indignação era perceptível no tom de voz, levemente mais alto do que deveria, de Miyuki enquanto ela direcionava um olhar descrente para Alice, que se encontrava à sua frente

– Fala um pouco mais baixo, Miyu. Se um deles voltar já era. Vamos aproveitar bem esse raro momento de paz e tranquilidade de quando eles nos deixam sozinhas – Azusa falou em um tom mais sussurrado enquanto fazia um sinal de silencio e puxava Miyuki para sentar novamente no pequeno circulo no qual elas se encontravam

– É – Alice respondeu simplesmente dando de ombros – Quero que a gente saia do quarto durante a noite e vá dar uma olhada na mansão

– Mas por que de noite? – Nunally perguntou passando a mão pelo braço, como se estivesse nervosa.

– Porque é o único momento em que temos mais certeza de que nenhum dos seis vai aparecer e nos atrapalhar – Elise explicou calmamente para depois voltar o seu olhar para Alice – Mas qual o seu objetivo com isso?

Alice deu um grande suspiro antes de responder

– Se você está pensando que quero achar alguma forma de fugir, sinto lhe informar, cara criança, mas você está levemente equivocada. Obviamente eu quero sair daqui, mas o que eu quero fazer propondo isso é-

– Propondo o que? – As garotas se assustaram com a voz repentina e viraram-se assustadas encontrando, parado atrás de Alice, Shuu.

No momento em que os olhos das garotas encontraram a figura loira que as observava elas automaticamente ficaram tensas e se entreolharam nervosas.

– Estavamos planejando pedir pra vocês deixarem a gente sair ou ao menos levar a gente para algum lugar – Miyuki se levantou e falou de um jeito tão sincero que até as meninas duvidaram que aquilo fosse realmente mentira.

– Ficar aqui o dia inteiro é muito chato! – Alice completou a ideia de Miyuki olhando para o garoto com uma careta de pirraça

Shuu avaliou o rosto de todas as meninas para em seguida suspirar e se virar em direção à escada, mas antes de começar a andar falou simplesmente:

– Se vocês não gostam de ficar aqui dentro, vão para o jardim. Não tem nada impedindo isso, mas vocês não vão sair daqui.

E após falar isso, o garoto simplesmente desapareceu. As garotas se entreolharam novamente e suspiraram aliviadas, algumas mais dramaticamente que outras.

– Obrigada senhor! – Amy quase gritou jogando o corpo para trás e os braços para cima – Eu quase morri de taquicardia quando esse moleque apareceu, eu ainda não tô bem

Algumas das garotas riram do drama de Amy, incluindo a própria.

– Eu acho melhor a gente ir para o jardim pra terminar essa conversa – Azusa sugeriu enquanto se levantava sendo logo seguida das outras

– A gente deu sorte dessa vez, mas se algum deles aparecer de novo eu não acho que vamos conseguir nos livrar tão fácil – Elise falou enquanto cruzava os braços.

– Rezemos para que o meu lindo e maravilhoso noivo não tenha ouvido nada que possa nos denunciar – Alice disse passando a mão pelo cabelo

– Vamos então? – Nunally perguntou calmamente para as outras garotas que a responderam com um breve aceno de cabeça para então seguirem todas juntas à caminho do jardim

~****~

Shuu andava preguiçosamente pelos corredores da mansão enquanto pensava sobre a atitude das garotas. Ele não era burro, sabia que ali tinha coisa, só não sabia ao certo o que era.

O garoto loiro caminhou apenas um pouco mais antes de chegar a uma das várias portas do corredor e, sem ao menos bater, entrar no quarto.

Ao ouvir o barulho da porta se abrindo Subaru deu um pequeno sobressalto e virou-se de frente para a origem do som dando de cara com seu irmão

– O que você quer? – O mais novo perguntou asperamente observando os movimentos de Shuu enquanto o loiro se sentava preguiçosamente na cadeira presente no quarto

– Tenho certeza de que aquelas garotas estão planejando alguma coisa – Respondeu de olhos fechados

– E o que eu tenho a ver com isso?

– Sua noiva também está envolvida, então eu creio que muita coisa – Shuu respondeu sem muito interesse e com os olhos fechados.

– Elas querem fugir? – Subaru perguntou desistindo de discutir com o irmão e o encarando

– Eu não sei o que elas querem fazer, mas eu não acho que seja fugir.

– Por quê? É obvio que elas querem sair daqui – Subaru falou com raiva fechando os punhos

– Eu não neguei isso idiota – A fala de Shuu fez com que o mais novo quase voasse para cima dele, o garoto só parou porque o mais velho abriu os olhos – Eu sei que elas querem fugir, só disse que não parecia ser isso que elas queriam fazer e, por mais que a desculpa até tenha sido convincente, sei que elas devem estar armando algo.

– E o que você quer que eu faça? – Subaru perguntou enquanto caminhava em direção a janela e olhava a parte do jardim que lhe era visível – Elas estão ali

– Eu sei – Shuu respondeu simplesmente fechando os olhos novamente – Fui eu que falei pra elas irem pro jardim – Explicou o mais velho deixando Subaru com uma expressão confusa – Foi uma resposta para a desculpa delas – Esclareceu

– Mas isso não responde a minha pergunta! – O mais novo se irritou

– Que pergunta? – Shuu falou com uma voz cansada deixando Subaru ainda mais irritado

– O que você quer que eu faça?! – O de cabelos brancos praticamente gritou fazendo com que o loiro fizesse uma pequena careta e esfregasse a mão no ouvido, como se ele estivesse doendo.

– Você é muito barulhento – Subaru estava prestes a esfregar a cara do irmão no asfalto, mas parou quando Shuu voltou a falar – Só quero que preste atenção na sua noiva e tente saber o que elas querem.

– E por que eu? Por que você não fala pros outros fazerem o mesmo? – Perguntou novamente o mais novo cruzando os braços

– Por que você teria a ilusão que Raito, Kanato e Ayato fariam algo de útil a respeito disso? E por que eu falaria com o Reiji? Você não é tão burro Subaru

– Ora, cale a sua boca! – Subaru gritou e deu um soco na pequena mesa que se encontrava no quarto ao lado da cadeira onde Shuu estivera sentado o tempo todo a fazendo se quebrar toda, mas o loiro nem ao menos se mexeu.

– Por que ficou tão irritado? Era um elogio – Shuu falou com um pequeno sorrisinho cínico nos lábios enquanto se levantava para logo em seguida desaparecer, antes que Subaru lhe metesse um soco que o faria conhecer o país vizinho.

Assim que a presença do mais velho não era mais sentida no quarto Subaru fechou os punhos com mais força e trincou os dentes. Ele fez um baixo “Tsc” antes de se encaminhar para a janela e ver que as garotas continuavam lá

Em um piscar de olhos o garoto sumiu do quarto e apareceu no jardim bem ao lado de onde as garotas conversavam

– Tudo bem então – Subaru conseguiu ouvir Azusa falando antes de Elise perceber sua presença e fazer sinal para as garotas ficarem quietas

O albino as olhou meio desconfiado antes de começar a andar em direção as meninas, ele iria passar reto, ou ao menos tentar, mas acabou parando ao lado das garotas que o encaravam sem dizer nada.

– O que foi?! – Perguntou asperamente

– Algum problema Subaru-kun? – Nunally perguntou e recebeu o olhar duro do garoto o que a assustou

– Onde você tá indo? – Foi a vez de Amy perguntar e receber o olhar raivoso do garoto antes da resposta

– Não é da sua conta! – Subaru respondeu com raiva e saiu andando sem voltar a olhar as garotas, mas ainda escutou as vozes delas conversando.

– Eu ein, puta bipolaridade desse moleque, que stress – Amy falou enquanto se escorava um pouco mais no banco onde estava.

– Por que o Subaru-kun tem tanta raiva de tudo? – Nunally perguntou olhando para a direção para onde o garoto seguira

– E a gente lá vai saber? – Foi a vez de Miyuki se pronunciar

– Vai entender a revolta desse tio aí – Alice falou – Acho que nem ele sabe o porquê de ser tão revolts com a vida

– Bom, eu não sei de nada, mas não parece que os outros cinco tem algo a ver com isso? – Supôs Azusa e Elise respondeu:

– Talvez, mas vai saber. Talvez seja só coisa da personalidade dele

~****~

Ayato estava escorado na bancada da cozinha comendo alguma coisa que ele tinha achado na geladeira, aparentemente parecia despreocupado, mas na realidade estava somente muito distraído.

Apesar de já ter passado um bom tempo desde o dia em que Miyuki o viu tendo o pesadelo, ele ainda continuava a ignora-la o máximo possível para que ela não tivesse oportunidade de lhe fazer pergunta demais.

Em alguns momentos Ayato até chegava a ter fé que ela tinha simplesmente esquecido de tudo, mas era só ele dar uma brecha que ela começava a fazer perguntas e então ele se afastava novamente e evitava ao máximo trocar muitas palavras com a garota, só se aproximava por conta própria quando queria sangue.

A realização tomou conta do rosto do garoto como se ele tivesse tido a ideia mais genial que se é possível ter no universo.

Era só ele ordenar que ela parasse de fazer perguntas para ele, afinal ele era o melhor e ela tinha que obedecer a suas ordens, não?... É... Não

Ele já tinha tentado isso, mas quando ele falou Miyuki apenas o olhou com uma cara de “É sério isso?” e não se importou nada com nenhuma das palavras de Ayato. Ele até tentou fazê-la sofrer “as consequências de seus atos”, mas a garota levou como nada além do normal, já que para Ayato a mordesse até que ela desmaiasse não era necessário nenhum motivo especial.

Então o garoto apenas soltou um suspiro cansado voltando a sua atenção para o ambiente no qual ele se encontrava e levou um susto quando notou Kanato sentado na mesa à sua frente comendo um pedaço de algum doce com seu urso, Teddy, ao lado de seu prato.

Notando que a atenção era dirigida para ele o garoto de cabelos roxos levantou o olhar para o irmão

– Ah, olá Ayato-kun – Kanato falou enquanto empurrava Teddy um pouco para o lado para que pudesse ver melhor o garoto a sua frente – Você parecia bastante distraído.

– Tsc, não se meta nos meus assuntos – Ayato resmungou e se virou para sair da cozinha, mas foi impedido pela voz do irmão.

– Você fala como se tivesse algum importante, não é mesmo Teddy? – O garoto de cabelos roxos falou com um sorriso levemente divertido no rosto olhando para o ursinho ao final de sua frase.

– O que disse seu pirralho histérico? – Ayato praticamente rosnou a pergunta com raiva se virando novamente para encarar Kanato que apenas tombou a cabeça para o lado fechando o sorriso e encarando o mais alto em confusão

– Por que pirralho se eu sou mais velho que você? – A pergunta de Kanato somente fez com que Ayato ficasse ainda mais possesso

– Cale a boca! Você é um incômodo! Nada do que eu faço é da sua conta então não se meta nas minhas coisas – Ayato gritou furioso para rapidamente fazer seu caminho para fora da cozinha. Antes ele tivesse encontrado Raito ali dentro, seria melhor do que aquele pequeno louco.

Não foi preciso que Ayato desse muitos passos para fora da cozinha para ouvir a gargalhada de Kanato vinda de dentro daquele ambiente. Mas ele não se importou com aquilo, ou pelo menos fingiu que não, apenas continuou andando para longe do ambiente, em direção a qualquer lugar que ele achasse onde não fosse incomodado por seus “irmãos”.