Como Treinar o seu Dragão Interior escrita por Kethy


Capítulo 9
Parte do seu mundo


Notas iniciais do capítulo

Usei esse título porque percebi que esse cap combina muito com o que a Ariel quis dizer com a canção.

Está assim porque me pus no lugar do Soluço. Com certeza ele não foi nada feliz antes do Banguela aparecer, desculpe se está meio dramático, mas se pensar um pouco vai ver que tenho rasão.

Enfim, espero que gostem e boa leitura.



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Felizmente, eu já estava um pouco melhor, já tinha conseguido parar de chorar, mas ainda sentia algo pesado dentro do meu peito. Era muito difícil entender.

Consegui ter coragem para enfrentar o mundo do lado de fora, tentando enganar todos com uma postura confiante. Com sorte, ninguém se lembraria do ataque que tive. Mesmo sabendo que ele não queria me ver, não consegui evitar e fui até a casa de Soluço. Idiotice, eu sei. Mas precisava vê-lo. Claro que Olavo foi comigo.

Chegando naquela casa, ergui o punho para bater na porta, mas algo me fez ficar naquela posição durante alguns instantes, travada, como se ele fosse fazer algo. Talvez por causa do susto de antes.

― Tudo bem. Eu vou primeiro. ― Olavo se ofereceu. ― Chamo quando estiver tudo bem.

Ele bateu na porta, na verdade não estava trancada, estava quebrada, completamente solta.

O que vimos lá dentro nos assustou.

Cada móvel, cada louça, paredes, telhado; estava tudo aos pedaços e até queimado. Marcas de aranhões e punhos, os objetos estavam espalhados e em partes, a casa estava revirada, tudo destruído e tinha algumas marcas de fogo nas paredes.

― O que você fez?! ― perguntei espantada com a destruição. Como ele fez aquilo?! Não tinha como acreditar que foi ele quem fez, parecia que uma tempestade aconteceu dentro da casa.

― Ele está aqui!

Olavo chamou, ele estava no andar de cima. Subi as escadas rápido e encontrei Soluço encolhido no que sobrou de sua cama e das almofadas. Devia estar desmaiado. Fiquei feliz por ele estar relativamente bem.

― Você é louco?! ― Olavo o acordou de maneira bruta, chutando para empurrá-lo para fora da cama ― Que ideia foi essa?! E se não fossemos nós que chegássemos?! Como vai explicar isso pro seu pai?! “Ah, não se preocupe, papai, eu só tive um ataque por causa de uma garota.” Tenha dó!

― Não grite com ele! ― o empurrei para longe, praticamente o agredindo ― Ele tá sofrendo. Todo mundo tá sofrendo! E você não está ajudando nem um pouco!

Olavo se virou e percebeu que Soluço estava chorando, de um jeito que só notei depois. Ele se arrependeu e confortou o irmão.

― Desculpe, é que você me assustou. Eu nunca vi...

― N-não tem problema. ― Soluço enxugou as lágrimas e depois se levantou. Se virou para mim constrangido ― Desculpe, Astrid... Mas eu tinha que... Quer dizer... Não pode ficar perto de mim! Você tem...

― Para com isso! Olavo já me contou tudo.

Soluço ficou em silêncio. Olhou para o irmão e depois para mim, como se pedisse desculpas.

― E não venha dizer que não quer me ver. Porque, se não quisesse, sua casa não teria virado um cenário de guerra, não é? ― falei uma coisa séria com tom de brincadeira, tentando amenizar a situação.

― É claro que eu quero te ver, só que não dá! O Alfa ficou uma fera só de eu dizer que te conhecia.

― Interrompendo, vocês precisam me explicar o que tá acontecendo aqui.

Um minuto de silêncio, eles se olharam de modo “Conta você!”, depois Soluço decidiu me dar as explicações que eu queria.

― Acontece que depois de algum tempo nós caímos no sono. Depois disso Olavo me acordou, ele disse que já tinha passado da hora de conhecer nosso Alfa, fiquei animado e decidi ir prometendo voltar logo. Quando chegamos à nossa ilha, vi que ela não tinha nada. Nenhuma árvore, nenhum arbusto, só um rio tão fino que nem tinha peixe. Mesmo assim fui recebido com uma festa; conversei com as pessoas, conheci todos e tudo estava bem, até eu mencionar o seu nome. Até que aconteceu uma briga quando o Alfa falou mal dos humanos, mas não resisti ao poder dele de persuasão. Quando vi, já estava prestes a te atacar.

Na parte da descrição da ilha, consegui entender pelo menos o porquê deles roubarem comida, pelo modo de falar parecia que ninguém tinha opção, mas então... Por que não foram embora? Por que viver daquele jeito?

― Pra ter uma ideia, ele nos mandou pra lá por causa de vocês. Para ficarmos longe dos humanos. ― Olavo respondeu como se lesse meus pensamentos ― Ele quer nos manter... “seguros”.

― Nós só os atacamos porque não sabemos a verdade. ― falei firme e autoritária ― Se não houvesse segredo...

― “... Nos atacariam por medo!” Eu sei disso, eu tentei uma vez! ― mais uma vez, Olavo nos surpreendeu ― Foi com uma garota de outra tribo. Apaixonei-me por ela, mas o pai... ― deu para ver lágrimas em seus olhos. Olavo se sentou na janela sem querer continuar o assunto mesmo tendo deixado bem claro.

Uma coisa que eu aprendi é: “Quando um dragão ama, é amor verdadeiro. E se é recíproco, você é dele para sempre.” Como eu, pelo visto.

Não desistiria tão facilmente de Soluço, daria tudo para vê-lo com aquele sorriso doce outra vez. Nem que seja preciso fugir ― o que não seria um sacrifício tão grande assim... ― Precisava ver novamente seu olhar gentil e sem aquelas gotas que o tornava triste, precisava ver aquela expressão que tinha quando me disse aquelas palavras depois do voo, precisava daquele garoto tímido que me fazia rir.

Foi quando comecei a pensar em algo.

O Alfa tem ódio dos humanos porque pensa que nós os atacaríamos de qualquer jeito, portanto, tínhamos que provar que ele errou. E a única maneira de fazer isso era expor o segredo, sem que haja perigo de algum protesto. Soluço é o filho do chefe, estamos na academia e quem for melhor matará seu primeiro dragão na frente de toda a aldeia. Plateia, família e um garoto que todos sabem que não faria mal a uma mosca.

― Já sei!

Comemorei minha ideia. Eles se assustaram, mas logo a curiosidade veio. Quando expliquei o plano, Olavo concordou na hora e só faltou aplaudir, mas Soluço ficou receoso e assustado, como se fôssemos mandá-lo enfrentar um leão ― não deixa de ser o caso ― Ele saiu do quarto e andou rápido pelas escadas mal tocando o chão, nos evitando.

― Soluço! ― o chamamos, ele parou, mas não se virou para nós.

― Irmão, é o único jeito! ― Olavo o confortou ― Tenho certeza que vai funcionar, seu pai nunca deixaria nada acontecer. Não precisa ficar assim e...

Como não?! ― ele gritou me assustando. ― Meu pai não vai entender! Ninguém nunca vai entender! Vocês acham que só por ser filho do chefe Stóico sou intocável?! Deviam ter avisado aos outros! E quer saber? Agora que eu posso, vou fazer o que sempre quis fazer: Cair fora!

― Espere ai! Você vai desistir? ― perguntei desafiando com a esperança de um "não", mas seu olhar estava mais serio que o normal.

Ótimo! Agora você se preocupa! ― Aquele tom me magoou profundamente. Lembrei-me de todas as vezes em que fui uma imbecil com ele ― Você nunca prestou a mínima atenção em mim, nunca se importou em me conhecer. Ontem foi nosso primeiro beijo e hoje estou fugindo! Se coloque em meu lugar, Astrid: se você vivesse como eu; isolada, menosprezada, inferior e infeliz. Então descobrisse algo em que se encaixe, encontrasse seu lugar no mundo e... se libertasse. Mas ai, tudo ao redor te limita e você sentisse correntes te prendendo dentro de uma gaiola e começasse a gritar por socorro, mas ninguém ouvisse. O que você faria?

Acabou! Agora eu consigo entender o que ele sente. Tudo isso estava dentro dele. Não podia culpá-lo por não querer nem se despedir, nós não merecíamos. A sorte era que ele não quis se vingar ― como eu faria ― só queria se libertar. Ser livre! Ser ele mesmo.

― Eu... Fugiria. Sem choro, sem arrependimento, sem olhar para trás... e nem dizer adeus... ― Silêncio. Levantei o olhar e o encarei decidida. ― Mas não sozinha. Eu vou com você!

― Como é? ― os dois falaram juntos.

― Vocês me ouviram. Não vai se livrar de mim. ― Deu um soco leve no ombro de Soluço, sorrindo apesar do momento sério esperando ele sorrir de volta. Mas ele estava sério e sem emoção, abaixei a cabeça e engoli seco; foi quando ele me deu um beijo desajeitado e meio bruto, mas compensou com a demora e o zelo que só ele tem.

― Tem certeza que é isso o que quer? Viver feliz para sempre com o dragão ao invés do príncipe?

― Você é um príncipe. ― Olhei em seu olhos verde-oliva procurando as palavras certas. ― Demorei a te achar e não quero te perder. Não sei o que fez comigo, mas funcionou. Não vai embora sem mim.


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Notas finais do capítulo

A parte do melequento vai ser a próxima, não me deixem esquecer! ;)



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