Como Treinar o seu Dragão Interior escrita por Kethy


Capítulo 4
Seu verdadeiro ser


Notas iniciais do capítulo

Todo mundo lembra que meus dragões são como aqueles medievais, certo? Ótimo, senão não entenderiam meu Gronkel.

Boa leitura.



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Chegou o dia, entramos na arena para aprender como se mata dragões. Eu, Melequento, o primo de Soluço, Os Gêmeos: Cabeça-Quente e Cabeça-Dura e Perna-de-Peixe, que chegava a ser pior do que o próprio Soluço.

Com certeza Soluço queria sair dali correndo o mais rápido que podia e não voltar nunca. Depois que descobri o que realmente Soluço era não queria mais fazer essas coisas. Por Soluço isso ia acabar no exato minuto em que Olavo entrou em seu quarto; e esse não é o único motivo, assim que pôs os pés naquele lugar começaram a implicar com o coitado.

— Quem convidou ele? - Cabeça-Dura perguntou irônico o olhando e Soluço o olhou com raiva. Vi suas pupilas se comprimirem e seu rosto ficar meio escamoso. O garoto loiro arregalou os olhos e desviou seu olhar.

Bocão apareceu e começou o discurso que era para ser animador, mas só o deixou mais nervoso.

— Hoje começam suas aulas de como se matar os dragões. Vamos começar do mais fácil ao mais difícil e assim por diante até chegar o dia em que um de vocês será escolhido para matar seu primeiro dragão. Começamos com o Básico: Gronkel.

— Não vai nos treinar primeiro? - Melequento tinha medo na voz que, se não fosse a situação errada, eu morreria de rir .

— Acredito que só se aprende fazendo.

O nosso professor soltou o dragão que ficou olhando, não sabia se procurava uma rota de fuga ou quem atacaria primeiro. Ele era grande, uma armadura natural de couro grossa, como se fosse um martelo nas patas, seu corpo longo tinha placas formando uma linha pelas costas, chifres como de um gado e as asas eram poderosas e longas, seu pescoço longo parecia impossível de se ferir. Em vez de medo, Soluço teve pena, sabia que com certeza ele ficou lá dentro durante muito tempo sem comida ou água, balançou a cabeça e voltou ao foco:

— Qual a primeira coisa de que vão precisar?! - Bocão perguntou e cada um falou algo diferente, apenas eu respondi certo.

— Um escudo!

— Isso mesmo, todo dragão é “sentenciável” a um número muito alto de sons. Fazendo muito barulho com um escudo conseguem uma boa distração. Se tiverem que escolher entre uma espada e um escudo, peguem o escudo!

Assim todos nós fomos pegar um escudo e começamos a fazer barulho, deu para ver que Soluço também ficou atordoado com os ruídos como o dragão. Ele tentava não deixar evidente, não entendi o que estava acontecendo e estava ocupada demais para tentar entender Soluço largou aquela coisa e quase caiu no chão. A criatura pareceu se recuperar e foi atrás dele, avançou, o agarrou entre aquelas garras mas o garoto sabia o que fazer, falou com ele:

— Prohibere eam! Qui non vult facere. Ut ego te sanguis sanguinem. Et non nocuerunt mihi. : {Pare! Não vai querer fazer isso. Sou como você, sangue do seu sangue. Não me machuque.} — Assim que ele falou o dragão pareceu não entender, mas respondeu daquele jeito de cobra.

— Neque hic es, et inuenta? Aut unus quisque nostrum ad vos est? : {Você está aqui e nunca foi descoberto? Você é um de nós ou um deles?}

— Tamen nescio quid lubet. : {Não sei ainda o que escolher.}

Pararam a conversa quando Bocão apareceu e puxou o bicho com o gancho que tinha no lugar da sua mão e o levou para sua cela. Creio que ninguém o ouviu falando com o dragão, não vi rostos assustados nem nada, melhor para todos. Bocão fez o anúncio:

— Acabou a aula por hoje, Soluço teve média baixa por ser pego. - Bocão se virou para ele e me encarou - Lembre-se que não vamos estar lá a cada minuto para te salvar, garoto. Aprenda a lutar ou morra. - Sua frase foi ameaçadora, mas seu tom foi preocupado, Bocão é um dos poucos que realente se preocupa com Soluço.Soluço assentiu e foi embora sem que ninguém notasse ou se importasse, só eu. Falei afastada de todos:

— Toma cuidado, "menino dragão", não foi você que pediu para guardar segredo? Faça por onde.

— Vou ser mais prudente. Tenho que ir! - Disse enquanto corria me deixando lá curiosa para saber onde iria com tanta pressa.

Saiu daquele lugar e foi para lado de fora, lembrou que não combinou com Olavo onde ia ser sua primeira aula com ele, sentiu-se um idiota, daí lembrou que podia seguir o cheiro dele.

Fechou seus olhos e prestou atenção no que estava além do que podia ser visto: sentiu um cheiro familiar, o de Olavo. Seguiu até um desfiladeiro, como se fosse um buraco com um campo dentro:

— Olavo! - Pôs as mãos em forma de concha e gritou procurando por ele - Olavo, Você está ai?! Já cheguei! - Caiu de costas quando vi um dragão negro voar na frente de seu rosto, fazer manobras e se transformar em um ser humano, dar umas cambalhotas e cair de pé - Exibido!

— Você também vai ficar. Vem, é só pular daí.

— Pular? Já viu a altura?

— Você vai conseguir. - A fé que Olavo pôs em Soluço, uma que ninguém nunca pôs, o fez dar um impulso e pular; deu um giro e caiu de pé. Nunca tinha conseguido coisa assim, eu teria ficado boquiaberta - Depois o exibido sou eu. - Riram.

— Qual a primeira aula? Espero que seja mais fácil que a do Bocão.

— Bocão é quem?

— Meu mestre, sou aprendiz dele como ferreiro e agora aluno na academia.

— Entendi. Não vou mentir, não é nada fácil. Será transformação.

— Agora?! É muito cedo.

— Você tem que aprender agora ou vai se transformar na frente de todos na vila, seu segredo vai ser descoberto, vai perder o controle dos seus poderes porque não vai saber o que fazer; vai ser expulso de casa, banido da ilha e nunca vai poder voltar e nem vir comigo, porque vai ser uma ameaça ao segredo do nosso povo. - Soluço quase riu com o discurso dele, mas o viu sério e mordeu seus lábios para se conter.

— Tudo bem, eu vou tentar. - Fechou seus olhos e se concentrou bastante; se imaginou como dragão, mas não aconteceu nada. Depois de um tempo Olavo o advertiu.

— Pare de pensar! - Se virou e Olavo o olhou como se Soluço fosse um asno - Magia não funciona assim, não com pensamentos.

— Então como?

— Com emoções. Use seu sentimento mais marcante.

— Não dá! - Olavo se aproximou e o encarou em desafio.

— Claro que dá! Você diz isso por causa das pessoas que dizem isso para você. Dizem que você não consegue nada, que não serve para nada, que só traz desgraça! - Enquanto ele falava o sangue de Soluço fervia de tanta raiva - Esta é a hora, Soluço, mostre para todos que estão errados, mostre seu eu verdadeiro. Ou seja um nada, como sempre foi. - Sua respiração ficou mais pesada com a raiva que borbulhava - Um zero, sem valor, humilhado todos os dias, sem ser nem dragão de verdade...

— PARA! – Gritou, uma bola de fogo saiu da sua boca e queimou uma árvore na sua frente.

Soluço ficou sem falar nada, mas Olavo aplaudiu e voltou a ser aquele rapaz alegre e não o professor autoritário.

— Eu sabia! Raiva. Essa é chave dos seus poderes, o seu desejo de provar que todos erraram sobre você. Esse é o seu estopim, use-o.

— Isso é incrível... - Murmurou e fiz o que seu novo mestre disse.

Imaginou todos os que duvidaram dele, os viu se curvando e implorando perdão. Sentiu seu corpo arder e crescer, não parou, sentiu sua pele criando escamas e as mãos garras, não parou, sentiu seu pescoço alongando, asas e uma calda crescerem, não parou até sentir a transformação completa. O pai de Soluço foi o último a pedir perdão e dizer que sentia orgulho dele quando acabou. De olhos fechados ouviu Olavo falar com a mesma voz de quando o viu como dragão.

— Et ponam te velut pars non tibi videtur esse, non est tibi. Si te audierit, et draconi, qui delere imperium capit. Solum versus est, ne veritas es draconem. : {Uma parte sua vai gostar disso e vai te fazer pensar que não é real, que não é você. Se der ouvidos você apaga e o dragão toma o controle. O único jeito de evitar isso é encarando a realidade: Você é o dragão.}

Soluço sentiu a pata de Olavo abaixar sua cabeça, abriu seus olhos e vi seu reflexo numa lagoa:um dragão com escamas cor ouro velho, chifres que pareciam uma coroa, focinho longo e dentes afiados. Soluço quase não acreditou que fosse ele, mas lembrou das palavras e creu com todas as minhas forças que era.

— Et hoc est mirabile. : {Isso é incrível.} - Sua voz era como o uivo de um lobo, até o assustou.

Memento fuse iram, sed etiam abundat. Continere iracundiam tuam et vulnera donut. : {Lembre que raiva é o estopim, mas também é o estouro. Controle sua fúria ou machucará quem ama.}

— Factum est Dominus ad te? : {Aconteceu com você?}

— Non video tamen alias. : {Não, mas já vi com outros.}

— Sed dic mihi. Quis enim es tu? :{Já pode me contar, então. Quem é você?}

— Ego nondum habeo. Patientia. {Ainda não devo. Paciência.}

— Olavo stultus non sum. Nescio cur me habueris fratrem. : {Olavo, não sou tolo. Sei que tem outro motivo para me chamar de irmão.} - Ele o olhou, impressionado com sua inteligência — Vultus idem, dixi pater meus fuit via ... Frater meus vere est hoc? : {Nossas faces são idênticas, a maneira como ficou quando falei do meu pai... Você é mesmo meu irmão, não é?}

At ego ... fratrem ... {Sou sim, irmão...}


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Notas finais do capítulo

Tan Tan taaaaan



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