Elos de Fogo - Profecia da Bruxa escrita por Kuro_Hana


Capítulo 14
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Obviamente Dináh não gostou nada de ser repreendida pela filha e ainda menos da recompensa que o escravo, aparentemente “sem motivo”, ganhou. Ele teria três dias inteiros de descanso.

Quando esse prazo acabou Gretel parecia um pouco mudada, talvez um tanto contente. Na manhã do quarto dia ela levou seu escravo por uma trilha na floresta, visitariam a casa de alguém especial.

E a cavalo, chegarão sem dificuldade à casa do irmão dela. Infelizmente ele ainda estava mal e já não podia andar, Willow sempre esperançosa permanecia ao seu lado.

A lady abraçou o irmão com cuidado e beijou sua mão carinhosamente:

–Como se sente mano?

–Forte – riu ele – como uma galinha depenada.

Ele bagunçou o cabelo da irmã que sorriu com o gracejo:

–Pelo visto vai ficar me devendo um sobrinho.

Willow alisou sua barriga:

–Não por isso, faz três meses que estou fora da lua ¹... Agora falta que eu vá ao doutor para que ele confirme.

Tássio puxou a lady e disse em seu ouvido:

–Estou mal, mas não estou bobo!

Os dois riram e envergonhada a jovem esposa tentou parecer seria:

–Deixe de dizer coisas da nossa intimidade!

E jogou o lenço que segurava no rosto dele:

–Ora – iniciou o ex-Lorde alegre – deixe que todos saibam que plantei em você uma semente de amor e que quando eu me for você terá um pedaço de mim para cuidar...

Ele ria, mas todos se tornaram sérios:

–Tássio você não vai morrer... E vai ver nosso filho crescer...

–Desculpe – ele beijou a testa da esposa- mas eu não gosto de mentir, sinto que pouco tempo me resta, eu não quero morrer, porém se for... Quero ver as pessoas que amo e saber que elas vão continuar firmes... E quando morrer vou me lembrar de que fiz boas escolhas!

Lanios viu que tinha a sua frente uma daquelas pessoas que fazem qualquer um se sentir fraco por ser naturalmente forte de espírito, Tássio demonstrava confiança mesmo debilitado, ele era desse tipo e marcava todos os que têm a sua volta com seu carisma e segurança.

As horas ali foram calmas e renderam boas risadas e passaram o almoço por lá. A maior parte do tempo Lanios falou pouco, mas se sentiu muito à vontade ali.

Voltando para Punyburg Lady Gretel parecia ter a mente perdida em pensamentos longínquos. Seu ar era de tristeza e seu olhar era baixo.

Ela olhou para trás e encontrou os olhos curiosos de Lanios, voltou seu olhar para frente e repentinamente:

– Vamos fazer um caminho novo!

E disparou com o cavalo, estupefato ele a seguiu... A moça ria com seu cabelo jogado ao vento.

Sem perceber Lanios também começou a rir, as montarias lada a lado disputavam uma corrida sem rumo entre as árvores, vez ou outra tendo que saltar sobre uma pedra ou tronco caído.

Os dois pareciam figuras saídas de um sonho de tão alegres, e perigosamente a lady soltou as rédeas se segurando apenas com os joelhos ao cavalo, Lanios a admirou encantado.

Com os braços abertos ela ria deixando o cabelo chicotear com o vento, o sol quando passava pelos galhos iluminava com certa regularidade o rosto dela enquanto cavalgava e a pele branca estava corada de vermelho delicado.

Ainda cavalgando à pique cruzaram um riacho raso e deram com uma pequena clareira, provavelmente tinham seguido o caminho oposto ao da cidade:

–Vamos deixar os cavalos descansarem – ela não estava dando uma ordem – Veja só quantas flores!

A relva estava salpicada de branco e amarelo das pequenas flores selvagens, urzes se espalhavam por todos os cantos. Ela amarrou o cavalo e se deitou no meio da clareira aproveitando o sol morno da tarde.

Lanios não sabia bem o que deveria fazer, mas imitou-a e se deitou próximo a ela:

–Achei que estivesse ficando louca – ele disse rindo – mas foi muito divertido correr até aqui!

Ela abriu um sorriso e prestou atenção nas nuvens que passavam lentamente:

–A vida é tão curta...

–Pois é... E tem gente que faz tantas coisas, gente que vive intensamente todos os dias.

O sol foi tapado por uma nuvem e ele continuou:

–Eu gostaria de realizar pelo menos um sonho na minha vida, mas ainda não achei nenhum que vala a pena.

–Eu também não tenho sonhos, nem metas.

–Bom – ele refletiu por um tempo – meta eu tinha, queria pagar minha divida com o orfanato... Mas Gretel, pelo menos um motivo pra viver você deve ter.

Ela escolheu as palavras e tentou achar um motivo:

–Eu tinha um motivo, mas ele já não parece tão bom...

–Qual era?

–Me vingar e matar qualquer um que ameaçasse o bem do meu povo.

A nuvem passou e o sol voltou parecendo ainda mais agradável:

–Você não disse o porquê já não parece bom.

–Ainda quero proteger todos os Ossis, mas a minha vingança não pode mais ser feita. Ela perdeu o sentido...

Automaticamente a mão dele passou pela relva até encontrar a dela, sem resistência os dedos se entrelaçaram:

–Você ainda pode viver muito, vamos achar um sonho e inventar varias metas e motivos todos os dias!

–Só um sonho me bastaria...

As mãos se apertaram. Uma leve garoa caiu e foi soprada para longe pelo vento tendo tempo de apenas umedecer as plantas da floresta:

–Quero fazer dos Ossis um reino mais unido e achar Ane...

–Você acha que ela pode estar viva?

–... Não sei se tenho esperança de vê-la viva, mas preciso saber o que aconteceu com ela!

Os dois estavam úmidos, mas se recusaram a se levantar:

–Tenho medo que esses dois únicos sonhos morram.

Sem pensar muito ela se deitou no peito dele, encostando a orelha nele para ouvir seu coração:

–Não quero te deixar com saudade daquele tempo em que nós três sempre estávamos juntos, mas a própria Ane dizia que “quando um sonho morre é por que se tornou real”.

–Eu quase não me lembrava disso.

A conversa se brecou nesse ponto, mas o silêncio era bem vindo e sem dizer nada pareciam estar se entendendo muito bem.

E só voltaram para casa quando uma chuva gelada os tirou daquele transe de paz, fazendo com que se lembrassem da vida real.


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Notas finais do capítulo

¹ Fora da lua, quer dizer que ela não está tendo ciclo menstrual.



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