(Versão Allan)

Estavam um tédio aquelas aulas. Foi então que na aula de geografia, Dakota apareceu na sala. Acertou, ela fazia essa aula junto comigo.

— Oi, parece que nem foi preciso desejar muito para te ver de novo. – Ela falou se sentando na cadeira ao meu lado.

— Pois é. – Foi a única coisa que consegui responder sem parecer tão grosso.

O que eu faço com essa menina? Belle já estava brava comigo porque a acompanhei, e agora ela vai ficar no meu pé?

— Então, você gosta de geografia? – Ela tentou puxar assunto.

— Não, sou melhor em informática! – Respondi num tom seco.

— Jura!? Sou horrível em informática. Você bem que podia me ajudar.

— É quem sabe, posso te ajudar. – Respondi mais para tentar ser educado, afinal não estava muito afim de ajudá-la.

— Pode ser hoje 18:00 hs na minha casa?

— Hoje tenho um compromisso nesse horário...

— Não tem problema, pode ser depois da escola, aí depois você vai para o seu compromisso. – Ela falou me interrompendo. Parecia ansiosa demais para o meu gosto.

— Não sei, tenho que ver, depois te dou a resposta.

— Ok, eu espero.

(...)

— Bom pessoal, não esqueçam da tarefa, ela vale metade da nota de vocês. Podem ir.

— Esse trabalho é para que dia mesmo? – Perguntei a Dakota.

— Para terça-feira da semana que vem.

— Ah tá, obrigado. – Disse anotando a data no meu caderno.

Peguei minhas coisas e comecei a andar em direção ao meu armário. Até que ela me chamou:

— Allan!

— O quê? – Disse me virando para olhá-la.

— Será que poderia ficar com você nesse intervalo? É que ainda não conheço muitas pessoas e acredito que preciso me enturmar mais.

— Ah...é... pode! – Respondi, quase me arrependendo imediatamente.

Ela me deu um sorriso e bateu palminhas.

(...)

— Então, está gostando da escola? – Perguntei enquanto colocava minhas coisas no armário.

— Muito – Ela respondeu animada demais enquanto me olhava.

— É melhor a gente ir, Luke deve estar me esperando no refeitório.

(...)

— Você deve ser o Luke! Dakota Clark, muito prazer. – Disse ela estendendo a mão para Luke assim que chegamos no refeitório.

— Prazer! – Luke disse cumprimentando-a.

— Olha só quem encontramos por aqui. – Foi Toni que disse, acabando de chegar com Henry – Dakota...

— Clark, isso mesmo. – Ela disse secamente o interrompendo.

— John acabou de me mandar uma mensagem, ele está falando para a gente o encontrar lá no jardim. – Falou Henry enquanto ainda olhava para o celular.

— Então vamos! – Falou Luke.

Fomos indo em direção ao jardim, quando Henry me puxou pelo braço e disse num campo fora de audição de Dakota e dos outros:

— O que a loira está fazendo com você?

— Ela fez a aula de geografia comigo e depois pediu para passar esse intervalo com ela.

— Você sabe que está fazendo burrada, não sabe? – Ele falou olhando bem no fundo dos meus olhos.

— Não sei o que fazer em relação a ela. Belle ficou irritada por eu ter acompanhado Dakota até a secretária, não sei te explicar o que ela sentiu...

— Ela sentiu ciúmes. – Henry disse me interrompendo. – Ciúmes de você.

— Não, ela não é do tipo que sente ciúmes.

— Não importa se ela é ou não é do tipo que sente ciúmes. Quando uma mulher está apaixonada pode sentir e fazer qualquer coisa. – Henry tentou explicar. – E o que você fez depois do sermão dela? Pediu desculpas?

— Também. Eu lhe beijei...

— Espera! – Ele ficou espantado e segurou meu braço para que parássemos. – Foi um beijo do tipo beijo?

Fiquei meio sem graça com a pergunta, porque não havíamos avançado nessa parte. Queria respeitar o espaço de Isabelle, por isso não fui tão fundo e rápido nesse departamento.

— Foi um beijo no rosto. – Respondi, começando a corar. – Sabe como Belle é... Não podia arriscar perder um braço. – Disse tentando descontrair um pouco e aliviar minha tensão.

Henry assentiu, entendendo meu lado. Continuamos a andar até que ele perguntou:

— E como ela ficou depois disso?

— Paralisada, não falou nada antes que eu saísse e a deixasse.

— Tenta se livrar da loira, assim o seu caminho fica menos complicado. – Ele terminou de falar assim que Dakota chegou interrompendo nossa conversa.

(...)

Assim que chegamos no jardim, cumprimentei John e Chris e me sentei em um banco sozinho. Ainda estava pensando no que Henrique me falara. Como vou me livrar dela?

— Posso? – Perguntou Dakota. Queria saber se podia se sentar ao meu lado.

— Pode.

— Um beijo pelos seus pensamentos. – Disse ela encostando a cabeça no meu ombro direito.

— Oi?

— Você está pensativo, com cara de preocupado. O que aconteceu?

— Ah, nada... Nada mesmo, só estou pensando nas minhas notas de matemática que não estão muito boas.

Claro que não estava pensando em matemática, as provas ainda nem tinham começado para eu estar preocupado com notas. Mas foi a única coisa que me veio na cabeça, não sou muito bom em desculpas.

— Tenta esquecer a matemática, pelo menos na hora do intervalo.

Fiz um sinal de confirmação com a cabeça e estava torcendo para que ela saísse logo dali.

(Versão Belle)

— Você está fazendo de novo. – Falou Marie olhando na mesma direção em que eu.

— O que ela está fazendo com ele? – Perguntei desviando o olhar para Marie.

— Você falou que ele te beijou não foi? Então com o que está preocupada? Ele provou que quer estar com você. – Falou Alice se sentando ao meu lado.

— Foi um beijo na bochecha, pode significar várias coisas. – Disse ainda me lembrando da cena.

— Não acredito que possa ter sido apenas um beijo. Allan parece estar realmente afim de você... – Alice disse assentindo com a cabeça. Parecia muito convencida do que falava.

— Mas então por que ele fica andando para baixo e para cima com ela? – Perguntei cruzando os braços e olhando novamente para Dakota, que por sua vez estava sentada no colo de Allan.

— Conversa com ele. Vocês não têm um encontro hoje? – Perguntou Care colocando o cabelo atrás da orelha.

— Temos...

— Então! Conversa com ele e esclarece tudo. – Falou Marie, como se aquele assunto já estivesse encerrado.

— Ah mais uma coisa! Não usa seu tom de autoridade na hora da conversa. – Terminou Caroline apontando o dedo para mim.

— Pode deixar, vou tentar lembrar disso... – Falei com um sorriso. Só elas para me fazerem sorrir numas horas assim.

— Onde está a Clary? – Perguntou Alice olhando para a tela do celular. – Já faz uns 20 minutos que estamos em horário de intervalo e ela ainda não apareceu.

— Quando estava vindo para cá, a vi entrando na biblioteca com o garoto novo, o tal de... Enzo. – Respondeu Lizy se aproximando.

— Xiii, sinto cheiro de paixão no ar. – Falou Care balançando a cabeça e com um sorriso no rosto.

— Mas ela não gosta do Luke Donavam? – Perguntei tirando meu olhar de Allan e Dakota por um momento.

— Ela falou que preferiu o odiar do que continuar gostando dele, então eu acho que isso é um não. Mas se bem que quando ela falou isso não senti muita certeza no seu olhar. – Marie respondeu, como se estivesse tentando se lembrar exatamente o momento.

— Vindo da Clary uma coisa assim, acho que ela mentiu e ainda é caidinha pelo Luke. – Caroline disse.

— Não é o que demonstra. – Falei.

— Mas isso é porque ela fingi muito bem, assim como você Belle. – Falou Lizy, rindo de si mesma e talvez da minha cara também.

— Hahaha, muito engraçado. – Respondi ironicamente.

— Estou mentindo? Se fizesse algum efeito seus olhares, Dakota já tinha morrido mais de 50 vezes. – Elizabeth falou.

— Você ainda vai no encontro? – Perguntou Marie me olhando.

— Não sei, tenho até a tarde para decidir.

Passei o resto do intervalo ouvindo abobrinha sair da boca delas. Cada coisa que elas falam que vou te contar.

Então resolvi que não ia ficar sofrendo por causa dele, se ele quer ficar andando com a Dakota nos seus calcanhares, não posso fazer nada. Mas uma coisa eu tinha certeza, ele queria estar comigo, e eu ia nesse encontro.

O resto do dia foi entediante. Menos a hora que Rebheka tentou dar em cima do Enzo e ele a dispensou. Foi hilário ver ela levando um fora (o primeiro da sua vida).

Não conversei e nem vi mais o Allan o resto do dia. Queria perguntar se o encontro ainda estava de pé, mas achei melhor não perguntar, já que ele tinha insistido tanto para ele poder acontecer. Clary é outra que também sumiu o dia todo. Só à vi na aula de português, da qual ela fazia comigo, mas sem muito papo. Pude perceber que ela já ganhou um admirador que começa com En e termina com Zo.

Quando o sinal que indica final de aula tocou, passei no meu armário, deixei meus livros lá e toquei em direção ao portão de entrada e saída. Chegando lá encontrei Lizy.

— Onde estão as meninas? – Perguntei.

— Clary já foi com o Enzo, Marie e Alice foram direto para casa da Care.

— Ah então tá. Você já tem planos para hoje?

— Vou passar na casa do John mais tarde. – Ela respondeu olhando dentro da bolsa e tirando o celular. Começou a digitar um número de telefone.

— Ok então. Até mais. – Falei pegando as chaves do meu carro dentro da bolsa.

— Até! – Lizy respondeu.

Entrei no carro. Liguei e segui.

(Versão Allan)

Cara o sinal bateu. Não acredito. Fim de Dakota e um lindo passeio com a Belle. Estava tão ansioso que o sinal mal tocou e já saí da sala correndo em direção ao meu armário. Por sorte não encontrei sombra de Dakota. Chegando ao meu armário encontrei Henrique me esperando. Ele queria falar comigo.

— Como você acha que chamo a Marie para sair? – Ele perguntou pensativo demais. Estava encostado no meu armário, com o cabelo todo bagunçado. Parece que alguém andou pensando demais nesse assunto.

— Com a boca. – Respondi ainda com a atenção no código de combinação do armário.

— Nossa valeu, achei que eu ia pedir com o pé, mas tudo bem, vou seguir seu conselho. – Ele disse ironizando e dessa vez me encarando. – É sério, não estou brincando. Quero a chamar para sair, mas não sei como faço isso com a Julie no meu pé o tempo todo.

— O cara que me deu o conselho vindo me perguntar. É bem simples, se livra da Julie. A mesma coisa que devo fazer com a Dakota. – Disse olhando para ele.

— Nunca achei que precisaria de ajuda para seguir meus próprios conselhos. – Henry falou bufando.

— É meu caro amigo. Mas por que quer a chamar para sair? – Perguntei enquanto fechava meu armário e começávamos a andar em direção ao portão.

— Não sei direito, mas tenho a observado há algum tempo, e percebi que ela é maravilhosa. Interessei-me. Achei ela extrovertida, animada, gata, e o mais importante, não é igual a esse bando de meninas que vive a nossa volta, como a Julie e Rebheka.

— Acho que foi por isso que me interessei pela Belle. Ela é incrível. – Falei dando um sorriso para mim mesmo.

— Falando nela, você não tem um encontro hoje?

— Tenho – Respondi enquanto cruzava o portão.

— Então já vou indo, não quero te atrasar, príncipe encantado. – Ele falou enquanto andava de costas até seu carro e dava um sorrisinho malicioso.

Fui em direção ao estacionamento pegar meu carro, quando fui interceptado por Dakota me chamando feito loca em frente ao seu carro.

— Allan! Me ajuda aqui. Acho que aconteceu alguma coisa com meu carro que ele não quer ligar. – Ela falou enquanto me aproximava.

Link carro.

— O que você fez?

— Nada. Saí da escola e vim direto para cá, mas quando dou partida no carro, ele não liga.

 Aproximei-me mais, entrei no carro e tentei dar partida, mas era verdade, o carro não queria ligar mesmo. Depois de umas 20 tentativas falhadas, liguei para um mecânico, já que eu não entendia nada sobre conserto de carro.

Olhei no relógio, era 17:00 hs. Nossa não acredito que perdi uma hora aqui com a Dakota. Ia chegar atrasado no encontro. Quando passou 15 minutos, o mecânico chegou. Olhou o carro e falou umas coisas lá que não entendi direito o que significava, mas o que importava era que o carro não ia ficar pronto na hora, teria que levá-lo para o conserto.

— Vou chamar um guincho para levar o carro para o meu local de trabalho. Suponho que amanhã à tarde, ele fica pronto. Quando isso acontecer, te ligo avisando. – Falou o mecânico.

— Tudo bem. – Dakota respondeu. – Allan você poderia me dar uma carona até em casa?

— Dou sim. Vamos lá! – Falei mostrando onde meu carro estava.

— Obrigado por me ajudar. – Dakota falou já dentro do meu carro.

— Imagina, não custa nada. – Disse, por mais que queria sair dali correndo e ir para casa.

(...)

— Pode parar, é aqui. – Ela falou apontando para uma casa no lado esquerdo do carro.

Link casa.

Encostei o carro.

— Entra um pouco. – Ela disse sorrindo para mim. – Quem sabe você não me dá aquela ajuda em informática.

— Bem que eu gostaria, mas eu não posso. Tenho um compromisso daqui a pouco. – Respondi olhando as horas no relógio. 17 hs 45 minutos.

— Mas terei que insistir. Entra por favor. O mínimo que posso fazer é te servir um café pela carona.

Terei que entrar, ela não vai desistir tão fácil. Você entra e aceita uma água e vai embora, nada mais, você já está atrasado, minha consciência falava.

— Tá tudo bem, só uma água e depois eu vou. – Falei enquanto desligava o carro.

Entramos. Ela me guiou até a cozinha.

Link cozinha.

Me sentei e ela perguntou:

— Você quer um lanche? Um suco? Eu faço para a gente.

— Não, não precisa...

— Claro que precisa, vou fazer. – Ela falou me interrompendo. – Só espera tá bem?

— Onde estão seus pais? – Perguntei, desistindo completamente de dizer não.

— Meus pais ficaram na Itália. Moro aqui com Enzo. – Ela respondeu enquanto olhava dentro da geladeira.

Ela sorriu.

Depois que ela fez o lanche, resolvemos assistir um filme enquanto a gente comia (malicia off). Foi quando eu vi, ela tinha a série inteira de Friends. Não resisti a tentação e pedi para assistir alguns capítulos.

Assistimos a primeira temporada completa. Perdi a hora assistindo isso. Quando olhei no celular, tinha uma ligação perdida da Belle, e já era mais de oito horas da noite. Eu havia perdido o encontro.

(Versão Belle)

Quando cheguei em casa, subi direto e fui tomar um banho. Estava um pouco ansiosa com esse encontro. Tinha umas dúvidas que queria tirar com ele. Depois do banho, coloquei uma roupa e desci para falar com a minha mãe.

Link.

— Oi mãe.

— Oi Belle. Vai sair?

— Vou, tenho um encontro com um menino lá da escola.

— Belle minha filha, você vai sair com um menino? – Ela perguntou espantada.

— Ué, não tem nada de mais nisso. – Respondi enquanto terminava de beber um pouco de água.

— Claro que tem. Como conseguiu isso? – Ela perguntou ironicamente enquanto terminava de cortar uma cenoura.

— Cara, minha própria mãe. – Falei colocando a mão no queixo.

A gente riu.

— Nem eu mesma sei direito como consegui uma coisa dessas. O mais engraçado é que ele é um daqueles que ficavam zombando de mim e das meninas ano passado. Acho que ele pode estar gostando de mim. – Disse sonhadora.

Eu e minha mãe somos tipo confidentes. Sempre conto com ela e não fico escondendo nada, principalmente sobre garotos.

— Que bom minha filha, fico muito feliz que tenha aparecido alguém na sua vida. Mas não se esqueça do que eu sempre te falo, toma cuidado para não sair ferida disso tudo. – Ela falou tirando sua atenção da cenoura e olhando para mim com cara de mãe preocupada.

— Fica tranquila mãe, vou tomar cuidado. – Falei dando um sorrisinho.

— Não vai comer nada?

— Não, estou sem fome.

Subi novamente para terminar de fazer minha maquiagem, pegar minha bolsa e colocar sapato. Desci, peguei as chaves, me despedi da minha mãe e fui.

(...)

Cheguei um pouco adiantada, então resolvi me sentar em um banco e esperar. Às horas foram passando. 18:00hs. Ele nada de chegar. Quinze minutos, meia hora. Será que ele não vem? Errei de lugar? De dia? De horário? Não é possível. Comecei a ficar preocupada. Liguei para ele, nada. Nem um sinal.

Estava nervosa. Com raiva, muita raiva. Me senti enganada, traída. Ele se esquecera. Se esquecera de mim, do nosso encontro. Ele não vem. Me deixara aqui, o esperando. E não viera. Peguei o carro e fui embora.