Like Ghosts In Snow escrita por Drunk Senpai


Capítulo 43
How Can I Sleep... I Just Have Nightmares...


Notas iniciais do capítulo

Um ano depois, e aqui está!
Sinto muito pela demora! Vou tentar fazer com que não aconteça outra vez!
Boa leitura!



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Grimmjow cortava as porções da caça fresca com os próprios dentes, como um selvagem, nada que viesse como surpresa para Ulquiorra àquela altura. Neliel por outro lado, portava-se com toda a elegância e delicadeza de sempre, sentada à cabeceira da mesa de jantar, posta com fartura e luxo. Via um leve sorriso de satisfação se formando em seu rosto enquanto experimentava o prato a sua frente. Levou a taça aos lábios e bebericou, suspirando em seguida. Ulquiorra no entanto, não havia sequer tocado coisa alguma ofertada à ceia, a tensão que o consumia àquela altura não permitiria.

—Então? – Mais um gole e Neliel parecia pronta para lhe dar atenção.

—Ainda não entendo a necessidade de tudo isso. – Ulquiorra reclamou, afastando o prato de sua frente.

—Como não? – Neliel perguntou num tom composto e calmo. – Disse que precisava conversar, e aqui estamos! Por que não aproveitar uma saborosa refeição enquanto o fazemos? – Voltou a sorrir. – Então, qual o assunto seríssimo sobre o qual precisamos discutir?

—Alguém ameaçou o pequeno Ulquiorra? – Grimmjow zombou, esvaziando sua taça completamente, logo em seguida, levantando- a para que fosse servido mais. Ulquiorra podia sentir o ódio e desprezo borbulharem dentro de si, mas não era o momento para perder tempo com Grimmjow, não ainda pelo menos. Voltou sua atenção somente à Neliel.

—Os caçadores ou o que quer que sejam, já estão nessa cidade. – Seu tom era sério e pesado, mesmo por que, para ele havia ali muito mais do que só sua vida em jogo. A feição de Neliel estava agora séria.

—Por que diz isso? – Perguntou com cautela.

—A garota, a que não pode ser compelida... – Havia um cansaço palpável na voz de Ulquiorra, unido com a preocupação. - Consegui algumas respostas dela...

—Ah então agora vamos nos guiar pelo que diz uma humana amedrontada? – Grimmjow interrompeu, puxando pela mão uma das compelidas que vinha preencher sua taça. – Me diga querida, o quão disposta a inventar uma história qualquer, você estaria se eu ameaçasse cortar sua garganta aqui e agora?

 A garota, devidamente uniformizada como todos os serviçais de Neliel, tinha seus olhos cobertos por um delicado lenço negro, para esconder o olhar vazio - Neliel havia lhe dito certa vez - e por estar tão bem compilada, sequer precisava da visão. Também não havia medo em sua expressão, ou melhor, não havia nada ali, como um fantoche.

—Eu diria qualquer coisa. – A voz era baixa, mas, consistente e robótica.

—Muito obrigado. – Grimmjow disse num tom irônico, soltando-a e voltando-se para Ulquiorra.

—O que exatamente ela disse? - Neliel perguntou, ignorando a provocação anterior.

—Ela disse saber sobre mim, sobre vocês, e definitivamente foi compelida.

—E...? – Grimmjow continuava num tom não convencido e desinteressado.

—Ela mencionou o inverno na Alemanha. – Disse enfim. O silencio dominou o ambiente. Grimmjow parecia finalmente sem palavras, e quanto a Neliel, seu rosto agora era uma palidez tensa e incrédula.

—O que...- Ela parecia não conseguir decidir o que perguntar ou sequer dizer qualquer coisa. – Como... Não é possível! – Ulquiorra finalmente bebeu de sua taça, recém preenchida. O gosto fresco do sangue não parecia capaz de diluir nem mesmo parte da tensão em sua mente, mas precisava ao menos tentar.

—Essa garota... – Grimmjow parecia pronto para fazer incontáveis questões.

—Não é ela minha preocupação, mas sim quem está por trás dela. – Ulquiorra interrompeu.

—Mas isso significaria que...- A voz de Neliel trazia muito mais que preocupação.

—Se é esse o caso então o que ainda estamos fazendo aqui? Precisamos de alguma estratégia. – Eram poucas as situações nas quais Ulquiorra já vira Grimmjow desconcertado ou sequer mencionar a necessidade de um plano, ao menos isso, levava a sério.

—Sim, mas não vamos sair daqui pra isso. – Ulquiorra disse, com uma voz composta. - Se estão aqui por nós, vamos contra-atacar e acabar com isso de uma vez por todas. – Neliel levantou o olhar em sua direção, claramente não achava aquele um bom plano.

—Como imagina que vamos fazer isso? – Perguntou com seriedade em sua voz. – Não temos como lutar, estamos em desvantagem, sabem onde nos encontrar e aparentemente já existe um plano em andamento, como acha que podemos contra-atacar?

—Exatamente, já sabem onde nos encontrar, então vamos esperar que venham até nós.

—Sempre soube que você era um imbecil, mas não achei que fosse a esse ponto. – Grimmjow opôs-se, irritado. – Neliel, você não pode concordar com essa burrice, não é? - Neliel não respondeu, parecia ponderar, argumentar consigo mesma em pensamentos, com olhos perdidos. – Qual é? Você mesma disse! Não temos forças, não temos planos!

—E também não temos certeza do nosso inimigo. – Sua voz estava composta e concentrada. – Precisamos de mais informações para agirmos. – Grimmjow levantou-se irado.

—Pois eu não ficarei! Você não vê? – Ele apontou para Ulquiorra. – O único motivo desse idiota querer permanecer é aquela humana! Ele vai nos arruinar por conta dela!

—Sente-se e escute! – Neliel rugiu. – Se formos agora, sob uma suposição, não importa pra onde formos, vamos ser alvos por que não saberemos de onde virá o ataque. Vamos usar a situação a nosso favor. – Ela disse por fim, seu tom já era mais composto e focado. – Grimmjow não parecia convencido e ainda pronto para ir. – Se você for, todos morreremos, você sabe, somos mais fortes se lutarmos juntos. – disse por fim, levantando e indo até ele. - Não vai estar mais seguro se for. – Neliel tocou-lhe a mão, com delicadeza. – Confie em mim. – Pediu.

—Confiar em você? – Soltou sua mão da dela. Ela suspirou.

—Muito bem, então confie nas probabilidades. Você sabe quais suas chances lutando sozinho, e mais, se o inimigo for realmente quem achamos ser... – Passou a mão nas madeixas verdes-água, e terminou a taça de Grimmjow que ainda estava na mesa.

—Qual é o maldito plano, então? – Grimmjow perguntou.

—Vamos deixar que pensem que estamos desprotegidos, enquanto acreditam que não sabemos de nada, vamos observar e descobrir a verdade... – Neliel disse concentrada na formulação do plano. – E então poderemos ir. E partiremos. – Ela voltou seu olhar para Ulquiorra, num tom que não abria espaço para discussões. Ulquiorra voltou a beber de sua taça. Sabia que aquilo aconteceria, por mais difícil que pudesse ser aceitar, sabia que teriam que partir, deixar a cidade, deixar Orihime. Apenas acenou concordando em silencio.

—Então é o que faremos? Sentar e esperar? – Grimmjow voltou ao seu tom zombeteiro. – Como vamos trazê-los até nós?

—Já temos uma forma. – Neliel lhe respondeu, sentando-se em sua cadeira, com elegância e um sorriso pensativo no rosto. – Vamos dar uma festa afinal de contas...

***

Orihime sentia-se levemente entorpecida e também um pouco nervosa. Havia sido pega de surpresa quando Neliel apareceu na loja, no fim de seu turno e caminhou junto a ela até a cafeteria, muito mais interessada nas questões da festa que planejavam para Ulquiorra. Desta vez, tinha muitas ideias e planos. Interrompeu-se no momento em que seus pedidos foram servidos, e depois de bebericar seu café, voltou-se outra vez para a ruiva.

—Ah, e mais uma coisa! – Disse empolgada. – Faremos a festa em minha casa. – Sorriu antes de tomar um gole.

—Na sua casa? – Orihime surpreendeu-se. Era verdade, o lar de Neliel era definitivamente magnifico, e uma festa ali seria perfeita, mas aquilo a havia pego de surpresa. – Mesmo? Tem certeza?

—Mas é claro! Vai ser ótimo, você vai ver! – Respondeu de forma a não dar espaço para muito mais argumentação.

—Certo, então... – Orihime sorriu em resposta. – Só vou precisar falar com o Ulquiorra antes e...

—Não precisa! – Neliel lhe interrompeu. – Ele já sabe!

—Então ele concordou? – Outra vez Orihime surpreendeu-se. Tudo até aquele ponto em relação a essa festa havia sido tão difícil de organizar, em grande parte por culpa do moreno que não parecia nem um pouco empolgado com a ideia.

—Sim, achou uma ótima ideia! – Neliel sorriu outra vez e experimentou a fatia de torta de morangos na sua frente. Orihime não sabia bem como se sentir em relação a tudo aquilo. A princípio sua ideia era apenas fazer algo para deixar Ulquiorra feliz, além de oficialmente apresenta-lo a seus amigos, e até mesmo, conhecer um pouco mais sobre ele, se tivesse a oportunidade. No entanto, agora, sua humilde reunião parecia ter se transformado num evento de luxo. Havia um desconforto em seu estomago, mas se afinal de contas, o próprio Ulquiorra optara por fazer daquela forma, não haveria muito mais que pudesse questionar, queria agradá-lo, queria que fosse tudo perfeito.

—Muito bem então! – Tentou animar-se com um sorriso largo no rosto.

— Ah, e outra coisa! Vamos fazer um baile de máscaras! – A animação de Neliel continuava, e pelo tom que falara aquela não era uma sugestão, mas sim uma decisão já tomada. – Vou chamar mais alguns de nossos amigos e providenciar um banquete maravilhoso.

—Um baile de máscaras? – Orihime ainda estava um pouco atordoada com a forma como Neliel havia tomado frente de todo o planejamento da festa. – Mas não está muito em cima da hora? Quer dizer, eu não acho que tenha uma dessas, e também...

—Não se preocupe! – Neliel a interrompeu, antes que pudesse terminar. -  Garantirei que todos tenham suas máscaras, e é claro que a sua precisará ser especial! – Mostrou-lhe um sorriso confiante. – Acredite, será uma noite inesquecível!

Mais tarde naquela noite, Orihime podia sentir o peso do mundo em suas costas. Haviam tantas coisas lhe incomodando, se revirando em sua alma. Queria apenas passar mais tempo ao lado de Ulquiorra, lhe conhecer melhor, mas as coisas nunca pareciam fáceis, nada era simples, exceto talvez, a forma como tão rapidamente seu coração entregou-se a ele, e desde então nada mais.

Segurava o celular em suas mãos, depois de passar o endereço da casa de Neliel a seus convidados. Observava distraidamente o contato de Ulquiorra na tela. Haviam tantas coisas que gostaria de lhe perguntar. Queria saber o que estava de errado, queria saber onde estava, queria saber o porquê sentia-se tão distante dele, queria saber, queria saber...

Colocou o celular de lado. Estava cansada de sentir-se daquela forma. Fechou os olhos por um instante, deixou que o ar entrasse em seus pulmões completamente e expirou lentamente. Havia pelo menos três noites desde que conseguira dormir verdadeiramente bem, apesar de sentir-se tão cansada. Quando não eram os pesadelos, seus olhos simplesmente se abriam no meio da noite e já não conseguia voltar a dormir.

Aconchegou-se melhor na cama, talvez se pensasse em qualquer outra coisa, conseguiria dormir esta noite. No entanto, no momento em que parecia finalmente que conseguiria cair no sono, despertou-se bruscamente com batidas repetidas e insistentes em sua porta.

Orihime levantou-se atordoada, suas mãos tremiam e seu coração estava disparado, enquanto caminhava em direção à porta, temia estar em outro de seus pesadelos, e não tinha certeza se seria melhor se não fosse um. Interrompeu seus passos, uma vez frente a porta. As batidas urgentes e violentas continuaram um pouco mais até que subitamente pararam. Parecia haver um nó em sua garganta, o medo ainda lhe dominava, e antes que pudesse pensar que quem quer que fosse, havia desistido, a ruiva ouviu.

—O-RI-HI-ME-CHAN... – Sibilou uma voz engasgada e inconstante que parecia quase tão perto dela que fez com que uma onda de gelo subisse por sua coluna e lhe paralisasse. Como se soubesse a reação que lhe causara, Orihime pôde ouvir uma gargalhada ainda mais cortante, e então, uma outra vez, o silencio. Orihime permaneceu no mesmo lugar, sentia que despencaria caso tentasse se mover, e o ar em seus pulmões parecia preso, como se afundasse naquele frio. Vários minutos haviam se passado, e mesmo assim, não conseguira tranquilizar-se.

Definitivamente, não dormiria esta noite.

***

I Like It When You Sleep, For You Are So Beautiful Yet So Unaware Of It...

Ichigo abriu as pálpebras lenta e preguiçosamente, incomodado pela claridade do sol que entrava pelas fendas na cortina. Não demorou muito para que seu coração acelerasse no momento em que notou a delicada figura em seus braços. Queria beliscar a si próprio para ter certeza que não estava sonhando dessa vez, mas só pensar em estragar aquela serenidade que via, parecia um crime sem igual. Preferiu observá-la, ao invés.

Se houvesse uma outra definição para “paz”, o ruivo desconhecia, e àquele ponto, preferia não descobrir. Seus cabelos negros, um vislumbre de breu verdadeiro, tinham um perfume doce de pêssegos e mesmo desgrenhados pelo sono, era a melhor coisa que já vira. Seu rosto, delicado e tranquilo encostado em seu peito, a forma como seus longos cílios negros se moviam enquanto sonhava, sua respiração, seu calor... Se houvesse uma maneira de viver neste momento para sempre, Ichigo definitivamente aceitaria de bom grado. 

Mas a realidade não tardara em se fazer presente, com seu celular tocando sobre a mesinha de centro. O barulho fez com que Rukia movesse-se para o outro lado, fora de seus braços. “Quem poderia ser?” perguntou-se, alcançando o aparelho. Observou a tela ainda um pouco atordoado, mas sabia que precisaria abrir mão da serenidade e sossego quase surreais de momentos antes. Era Urahara.

Ichigo levantou-se do sofá, cuidadosamente, e a olhou uma última vez antes de sair, lutando contra a vontade de permanecer ao seu lado. Calçou seus sapatos e fechou cuidadosamente a porta atrás de si. Já fora da casa de Rukia, Ichigo finalmente atendeu a ligação. De fato, parecia não haver muitas formas mais drásticas de trazê-lo de volta a realidade, além de uma ligação daquelas.

—Fala. - Pôs-se a caminhar, queria ainda passar em sua casa. Parecia não ver suas irmãs há séculos.

—Kurosaki-san. – Urahara cumprimentou do outro lado da linha. – Como vai? – Apesar de soar tranquilo, Ichigo sabia que aquela não era só uma ligação para checar seu bem-estar. Ichigo suspirou.

—O que houve? - Os momentos de silencio do outro lado da linha, pesavam uma tonelada sobre seu peito. – Urahara-san? – Sua própria voz soou um pouco mais sombria do que esperava.

—Precisamos conversar. – De certa forma, Ichigo sabia, aquela não seria uma conversa que teriam pelo telefone. Parou seu caminhar por um instante e respirou fundo, antes de voltar a falar.

—Estou a caminho.

***

 Rukia acordou de súbito com o barulho de panelas em sua cozinha. Ichigo não estava mais ao seu lado, mas ela sabia também que não era ele quem estava lá. Levantou-se lentamente, já com sua guarda erguida, apanhando a katana que nunca deixava longe de si, mesmo quando dormia. Caminhou de forma cuidadosa, sem saber ao certo pelo que esperar, tentando manter fora de sua mente as lembranças das que sem dúvidas foram as piores noites de sua vida, bem como aquela gargalhada que ainda assombrava seus pesadelos mais obscuros.

Respirou fundo em busca de recuperar seu foco. Seu coração martelava em seu peito enquanto se aproximava da cozinha, mas estava pronta para qualquer coisa, não seria pega de surpresa mais uma vez... Ou foi o que pensara.

Quando finalmente entrou na cozinha, seu coração parecia ter parado por um momento, enquanto as lágrimas brotavam de seus olhos. Soltou sua katana enquanto corria em sua direção, não importava mais.

—Hisana-nee! – A visão de sua irmã ali, de pé, no lugar onde há algumas semanas ela a havia visto quase sem vida, era quase como um sonho se tornando realidade. Rukia a abraçou com força e permitiu que as lagrimas caíssem finalmente, quando se deu conta de que não estava sonhando, sua irmã realmente estava ali, e estava bem.

Não sabia quanto tempo haviam ficado abraçadas, mas mesmo depois, quando se sentaram para conversar, sua felicidade continuava inalterada, mas sabia que precisava tocar no assunto que vinha lhe atormentando tanto.

—Hisana-nee... eu... – respirou fundo. - Eu sinto muito... – Estava em prantos uma outra vez. – Eu não pude protege-la, eu sinto... eu sinto muito mesmo... – Hisana sentou-se mais perto dela e a abraçou.

—Não foi culpa sua... está tudo bem, agora! – Ela disse lhe mostrando um de seus famosos sorrisos gentis. – Agora, como tem passado? Não preciso nem perguntar se tem comido bem, não é? – Disse sorrindo e apontando para a caixa de pizza e guloseimas que ainda estavam na sala. Ambas riram, um momento leve e muito bem-vindo e então, logo depois Rukia pôde ver que o assunto seria outro. – Recebemos seu relatório... Você está bem?

—Sim. – Respondeu instintivamente. – Estou melhorando... – Tentou manter longe de seus pensamentos, mais uma vez, a dor, o medo e o sangue... todo aquele sangue...

—Ei...- Sua irmã lhe trouxe-a de volta. Hisana lhe abraçou quando começaram a se precipitar as lagrimas que Rukia nem sequer sabia que estavam ali.

Depois de conseguir enfim se tranquilizar outra vez, Rukia finalmente conseguiu conversar com sua irmã sobre o que houve. Contou-lhe o máximo que pode, surpreendendo-se com o quão profundas aquelas feridas estavam enraizadas em sua alma. Ao fim, estava bebericando um pouco de chá que Hisana havia preparado.

—Eu senti muito sua falta. – Rukia sussurrou, apreciando o calor da xicara em suas mãos.

—Eu também. – Hisana sorriu por um breve momento e então, sua expressão era outra. Havia algo a mais ali. – Como já deve imaginar, esse não é o único motivo pelo qual estou aqui. – Sim, esperava por isso. Era hora de voltar a vida real. Rukia suspirou.

—O que houve? – Hisana fitou a própria xicara a sua frente antes de pôr-se a falar.

—Na verdade, um conjunto de coisas... – Voltou seu olhar para Rukia. – A missão que viemos aqui para que você realizasse, o incidente nesta casa...- Foi sua vez de suspirar. E então depois de um gole de chá, voltou a falar. – Seu relatório das últimas patrulhas... Tudo isso, chamou a atenção da Soul Society. A cidade de Karakura parece estar servindo de cenário para algo muito incomum, para dizer no mínimo.

—Como assim? Achei que o número de incidências estivesse dentro do comum, ou ao menos sobre a margem.

—Não pelo menos nos últimos meses. – Hisana pegou de sua bolsa uma pasta, lhe exibindo estatísticas. – Aparentemente, não só no Japão, mas em todas as maiores capitais do mundo, estatísticas revelam que, se não um declínio, há ao menos uma redução no número de ocorrências. Enquanto em Karakura...- Lhe mostrou outra planilha de dados e gráficos em crescimento. Hisana parecia estar lhe dando um tempo para refletir sobre os dados apresentados. – Há algo de errado. – Disse, cruzando as mãos, direcionando-lhe um olhar perdido e então voltando a olhá-la nos olhos. – Outros agentes já foram contatados...

—E o que isso significa para mim? Para minha missão? – Rukia perguntou cautelosamente, mesmo já sabendo o que viria.

—Os agentes responsáveis por este distrito, e isso inclui você... – Ela parecia ter tido a necessidade de acrescentar. – Estão sendo chamados de volta à sede de Londres. – Sim, sabia que sua estadia em Karakura, a vida que construíra ali nos últimos meses... estar com Ichigo... Sabia que tudo isso acabaria cedo ou tarde, mas não esperava que tão cedo, e sabia, pelo simples fato de sua irmã estar ali, que seria muito antes do que gostaria.

—Quando? – Perguntou, sua voz não era muito mais que um sussurro. Não tinha certeza se queria ouvir a resposta. Hisana parecia ter-lhe lido por sua expressão, e tocou-lhe a mão, como quem queria passar algum conforto.

—O quanto antes. – Era como se aquelas palavras a tivessem feito desconectar-se deste mundo por um instante. Pensou em suas amizades, pensou no quanto gostava do café da cafeteria do Urahara, pensou em como o ar soprava silencioso e gelado daquele lado da cidade, no quanto gostava de ver o sol se pôr perto do rio... e pensou em Ichigo. Pensou em toda a paz que só ele parecia capaz de lhe trazer vez ou outra. Pensou na felicidade que sentia ao caminhar ao seu lado na volta da escola, pensou no tom de sua voz, seu cheiro e seu calor perto de si. – Não fique tão triste... – Sua irmã, lhe tocou o rosto, trazendo-a de volta. – É para o bem de todos...- Completou como se pudesse ler seus pensamentos, como se soubesse que se preocupava com alguém em especial.

—Eu sei...- Rukia tentou sorrir, para tranquiliza-la e talvez a si mesma. – Quando vamos então? – Perguntou enfim.

—Para muito do meu desgosto, terei que estar de volta hoje mesmo, consegui vir aqui depois de muito esforço e persuasão sobre Byakuya. Mas você é esperada em no máximo dois dias... – Comentou com certo pesar em seu tom, talvez por ver na expressão de seu rosto, o quão triste tudo aquilo havia se tornado. – Vai pelo menos poder se despedir... – Concluiu enfim, tentando passar-lhe algum conforto. Mas tinha razão, ao menos poderia vê-lo mais uma vez.

Ainda não sabia ao certo que palavras usaria, enquanto caminhava em silencio até o local onde encontraria o ruivo, para que pudessem seguir juntos até o endereço que Orihime lhe passara. Interrompeu seus passos por um instante, fitando o céu. A noite já caía, trazendo nuances de laranja e lilás, que de certa forma, lhe faziam sentir acolhida. O frio daquele dia, deixava sua respiração visível. Nevaria naquela noite...


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