Shudder escrita por Extraordinary Girl


Capítulo 4
Capítulo Três - Damn it, I'm not a villain, I'm just a killer




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Damn it, I'm not a villain, I'm just a killer

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Elsie Harris

Reck

"I got caught for what I did, but took it all in style"

Se existia uma coisa detestável para Elsie Harris, era não se sentir viva. Talvez apenas ela sentia-se incomodada com lugares extremamente quietos e, aparentemente, normais. Salas de espera de hospitais, escritórios e locais semelhantes a deixavam maluca. Não conseguia passar mais de dez minutos nos halls de empresas sem arrumar uma razão estúpida para criar encrenca com alguém.

Ali, sentada na cadeira fria e dura, com os braços atrás das costas e mãos amarradas, já sentia-se infeliz e agitada. O cômodo era refrigerado, cinzento e um espelho tomava conta da parede. Ela sabia o que havia lá: pessoas calculando cada lufada de ar e piscar de olhos que dava. Tinha muitos inimigos, era verdade, porém, quem seriam os sortudos da vez?

Claramente livraria-se das algemas quando quisesse, no entanto, antes, precisava saber mais sobre o território (inimigo ou confiável?) onde encontrava-se.

Então... Aonde estou? — sua voz saíra fraca, rouca. — Seus cretinos, eu juro por Deus que quando for desamarrada dessa merda de cadeira vou matar cada um de vocês com seus próprios dedos enfiados no meio...

— Fique calma, Reck. — Ela conhecia aquela voz... Sim, conhecia muito bem.

Arregalou os olhos, remexendo-se no assento.

— Wade?

O grande espelho tornou-se instantaneamente transparente, permitindo Elsie de observar quem estava do outro lado. Ficou com mais raiva ainda!

— Vocês são uns bostas — resmungou, livrando-se das algemas. — Jurava estar em uma fria. O Rei do Crime tá atrás da minha cabeça, por isso imaginei...

— Não, agente, considere-se com sorte — Nick Fury falou pelo microfone, interrompendo-a. Elsie conseguia fitar cada ação dele através da camada espessa de vidro. — Poderá sair dai após responder minhas perguntas.

— E precisava disto tudo? Me prender? Sabe, Fury, dá próxima vez não vou esperar antes de sair destruindo Washington.

— Como sabe nossa localidade? — perguntou, um tanto surpreso.

— Não é difícil — replicou com desdém.

Levou a cadeira consigo, até ficar defronte ao espelho. Wade Wilson, conhecido com Deadpool, estava à esquerda de Fury, que estava próximo do Capitão America.

Sou a droga de um bichinho de estimação por acaso?, pensou relutante. Essa é uma das razões para sempre manter distância dos mocinhos: no fundo eles são tão cretinos quanto os vadios das ruas do Bronx.

— Senhorita Harris, — Steve Rogers tomou partido, acionando o microfone, olhando-a nos olhos, — sinto muito pelo modo inconveniente de agirmos, porém foi necessário. Estávamos atrás da senhorita há semanas.

Elsie riu, sem humor.

Senhorita? Não sou tão honrada assim, me chame de Reck.

— Sua honra foi água abaixo em Madripoor, de fato.

— Cala a boca, Wade — falou indiferente, lançando um olhar rápido ao ser de vermelho e preto. — Você se aproveitou de mim!

— Foi você quem me levou para cama — Deadpool rebateu, bem-humorado.

— Porque você estava um caco depois de tomar uns cinco foras da Elektra. Só quis tentar ajudar, — justificou-se, sentindo as bochechas corarem. — De qualquer maneira, o assunto principal aqui não é nossa "ex-vida sexual". Fury, Capitão, como conseguiram encontrar-me? Em sã consciência nunca, nunquinha, seria pega por vocês. Foi mal pela sinceridade.

— Não lembra? — Steve pareceu surpreso.

4 Horas Antes...

O barulho do trânsito caótico era tremendamente familiar para ela. Elsie inspirou profundamente o aroma: New York em agosto. Perfeito! Certamente, por debaixo do cheiro carregado de lixo quente, encanamento molhado e urina, conseguiu respirar um pouco de ar puro. Sentia falta da família e queria tanto visitar o antigo apartamento na zona oeste e comer a pizza do Joe's, embora não pudesse dar-se ao risco de ser avistada novamente. Eles não parariam tão cedo com a perseguição, pelo menos não até terem sua vingança.

Uma das coisas mais engraçadas — na concepção dela — era como os seres humanos deixavam coisas, propriamente ditas, "óbvias" passarem perante seus olhos. Afinal, quem olharia para a mulher de vinte anos adentrando o Central Park, esperando ver algo fora do habitual? Ninguém. Eles não perceberiam a arma que ela carregava na coxa por baixo da calça ou o canivete butterfly escondido por entre os livros da faculdade.

Frank provavelmente bateria-lhe sem cessar quando soubesse das atitudes imprudentes tomadas em relação ao Mercenário. Lester* não estava para brincadeira. Contudo, nem ela.

Sua história de combatente ao crime começara extremamente cedo, por volta dos nove anos de idade. Seu vizinho, misterioso, potencialmente grosseiro e intimidante — e ex-herói de guerra —, durante á noite combatia o crime. Elsie, curiosa e descuidada como era, decidira o seguir por um longo período, atrás de informações e segredos submersos em sombras. Ela descobrira mais do que deveria; havia presenciado um assassinato. Frank Castle, antigo militar norte-americano, tentava vingar-se dos culpados pela morte da sua mulher e filhos.

A história era longa e complexa, e provavelmente se um dia Elsie a contasse para alguém seria mandada à uma casa psiquiátrica. Afinal, por que infernos um homem de trinta e tantos anos treinaria uma pirralha para combater a criminalidade nova-iorquina? Essa foi a mesma pergunta que martelou na cabeça dela por muitos anos, até finalmente entender o real significado de todo aquele sacrifício.

Dissipou-se dos insistentes devaneios, apressando o passo e esbarrando, acidentalmente, em alguns transitantes.

— Olha por onde anda, garota — uma velha chamou-lhe a atenção

— Desculpa, foi sem querer, — disse, longe o bastante para ser ouvida. — Droga. Dá licença, obrigada — desviou de um casal de namorados, passando entre eles. — Com licença, agradecida.

Atravessou no sinal verde, correndo em direção á um prédio que, durante as noitadas, era uma danceteria falida. A porta estava trancada, o que não foi problema para arrombar. Cautelosa, entrou em um beco adjacente ao bar, preparando os armamentos e planos práticos.

Puxou o capuz, colocando-o, e puxou o sobretudo, revelando o cinto de utilidades repleto de munição. Dentro do livro que antes carregava, puxou duas pistolas 380 Glock douradas — sua marca registrada. Antes de ganhar o codinome Reck, chamavam-a de Pistola Dourada, pelas redondezas.

Câmeras de segurança: o.k., repassou mentalmente. Munição extra: o.k.; Identidade civil protegida: o.k.; Frases de efeito: o.k.; Hora do pau começar: o.k.

Entrou na danceteria pela porta dos fundos. O estado do lugar era deplorável. Andou devagar, observando cada ponto do local, entes de ser puxada para trás com força desnecessária. Suas costas se chocaram contra o chão, fortemente, e devido o impacto sentiu sua cabeça rodar — literalmente.

Olhou para trás, e o homem que a atacara permanecia lá, parado, temeroso.

Um hispânico? E só um? Lester só pode estar de brincadeira — reclamou, aborrecida. Odiava ser subestimada.

Elsie deu um Double B-Twist, ficando de pé. A expressão surpresa dele foi impagável.

Hola, Miguel — sorriu, girando a pistola na mão esquerda. — Vamos a jugar?

O moreno destravou a sub 20, atirando sem direção. Reck gargalhou alto, dando uma sequência de saltos carpados sobre o balcão laminado do bar.

— Pode parar? — inquiriu, após esconder-se atrás do balcão, já furado por diversos tiros. Ele atirava sem mira, e Elsie não estava afim de sair dali baleada.

Perra del infierno! — exclamou, persistindo nos tiros.

— Se quer desse jeito, beleza — pescou uma granada no cinto. — E, Miguel, su madre es una puta. — gritou, jogando a granada na lateral do estabelecimento, onde ele estava. — Lá vem bomba!

Aguardou um pouco, esperando toda névoa causada pela granada se dissipar, levantando, indo de encontro ao corpo inerte do mexicano.

— Ainda tem pulso — constatou, ajoelhada sobre o corpo dele. — Miguelito... Acorda.

Dios mío — arregalou os olhos, assustado, um bebê chorão. — No me mates, por favor. Tengo familia.

— Só basta dizer onde ele tá. Ai te deixo sair vivo. Palavra de escoteira.

Ele permaneceu em silêncio, encarando-a de olhos bem arregalados. Elsie apontou a arma para ele, destravando-a.

— Cansei desse joguinho — praguejou, colocando-o ajoelhado. — Me diz, seu puto. Onde ele tá?

— Não — o latino negou-se.

— Onde? — insistiu, apertando o cano da arma contra a orelha dele.

— Quinto andar. Apartamento número 534 — respondeu, vencido, de olhos apertadamente fechados.

— Obrigada — e atirou de raspão (propositalmente) na orelha dele, ouvindo-o gritar desesperado.

Vários outros lacaios do Mercenário tentaram pega-la. E todos acabaram com um tiro no meio da testa, ou então jogados escada à baixo.

O rastro de mortos (quinze no total) pararam, quando chegou ao apartamento 534. Bateu, esperando ser atendida, mas sua recepção não foi das melhores: os tiros começaram instantes após bater á porta.

— Eu estava tentando ser educada — gritou, arrombando a porta com um chute. — Precisam receber um pouquinho de educação, e eu não me importo em dar-lhes.

Deslizou por entre as pernas do cara da frente, que segurava uma metralhadora. Logo de inicio já sabia quantos tinham na sala. Eram cinco (do tipo "formação padrão); dois na esquerda e dois na direita; e um no centro. Talvez, pelo lugar ser pequeno, ou provavelmente por o Mercenário estar sentado tomando um martini, na calmaria, ou por Reck estar irritada com o ex-namorado — Bobby Drake —, descontou toda ira em cima do primeiro capanga, e ele morreu antes mesmo de se dar conta.

— Olá, bostinhas — saudou, calculando-os. — Prontos para morrer?

Ao seu modo, singela e ágil, escorregou pelo chão, desviando deles. Um dos caras, hesitante, tentou ataca-la com socos e chutes, ao ver estar sem munição suficiente. Rapidamente aplicou nele um chute formato de tesoura, dando um Webster em seguida.

Em seis minutos já havia exterminado quatro dos capangas e apenas Lester e o grandão sobrevivente ainda estavam de pé.

— Peguei, Lester!

Elsie debateu-se perante os braços maciços dele. Ele era extremamente forte, talvez tanto quando o Coisa. Lester andou até eles, com um sorriso torto estampado no rosto.

— Não é tão invencível agora, ahn? — perguntou cínico, puxando uma adaga do cinto. — Sua desgraçada. — Perfurou a pele do rosto dela, deixando um filete de sangue escorrer até o queixo. — Vadia, — falou, enquanto arrastava a superfície gélida da arma branca sobre a testa de Elsie.

Todo o rosto da menina ficou empapado de sangue rapidamente. Os cortes eram pequenos, porém profundos. O homem que a prendia parecia ser feito de titânio, e o Mercenário nunca deixaria-a sair daquela sala sem levar alguma lembrancinha antes (as cicatrizes).

Não tem escapatória!, ela pensou. Se eu morrer por perda de sangue devido os cortes, irei voltar à vida só para me matar por tamanha fraqueza.

— Não é hoje — sussurrou fracamente para si mesma. — Hoje não é o dia da minha morte.

— O que você disse, cadela? — Lester lhe deferiu um tapa, gargalhando em seguida. — Quem diabos colocou na tua cabeça que garotinhas indefesas, sem poderes, podem brincar com os vilões?

— Indefesa é o cacete — cuspiu, certeiramente, no olho dele. — Vai me pagar. Tão caro quanto sua vida. Talvez eu te mate, aqui e agora — sorriu dissimulada. — Ou perturbarei tanto sua mente doentia que no fim você mesmo vai acabar metendo uma bala no céu da boca. Acho a primeira opção mais provável. Odeio deixar trabalhos pela metade.

O soco recebido já era esperado e a dor fez-a sorrir um pouco. O gosto férreo do sangue agradava ao paladar de Elsie. Ela nunca se importara muito em ganhar marcas ou perder dentes.

— Coloque-a. No. Chão. Agora. Ou vai ver o poder das minhas maçanetas*.

A visão dela estava embaçada, no entanto conseguia muito bem ver o borrão vermelho e preto atrás do Mercenário.

— Amigo — o Mercenário saudou, condescendente.

— Não sou seu amigo.

— Na Nicarágua você era — Lester virou-se de costas. — Parece melhor desde a última vez.

— Perdi peso — rebateu.

— C-chegou atrasado — Elsie murmurou, cuspindo um pouco de sangue.

— Pelo menos fiz uma grande entrada, — Deadpool riu.

— Como conseguiu entrar, tão levianamente? — Lester chamou-lhe a atenção, novamente, rondando-o.

Preciso sair daqui!

Reck balançou-se um pouco, embora o homenzarrão não a fosse soltar tão facilmente.

— W-Wade... — chamou com voz fraca. — Cuida dele por mim — Elsie falou, sentindo todas sua força esvaindo-se, indicando Lester.

Utilizando o restante de energia, deu uma cabeçada no homem que a segurava, com a parte posterior da cabeça. Ele vacilou, ainda segurando-a. Mas Elsie aproveitou a tonteira temporária dele como distração para chutar-lhe a barriga, em um golpe certeiro.

Seu corpo então caiu ao chão, e conseguiu, desajeitadamente, deferir uma rasteira no homem. Ele estatelou-se, meio atordoado. Reck enrolou ambas pernas em seu pescoço, enforcando-o pouco depois. "Os grandões sempre morrem primeiro", a voz de Frank soou em sua cabeça. "Quanto maior, pior a queda. Lembre-se disso, Elsie".

Depois disso, tudo apagou.

Atualmente...

Permanecia sentada, fitando os outros três do lado de fora, através do vidro.

— Você o matou? Me refiro ao Mercenário.

— Não. Tinha duas opções — Deadoool indicou nos dedos. — Ou tirava você de lá, ou você morria e eles também.

— Panaca — resmungou, rolando os olhos. — Mas... Ainda tenho uma dúvida.

— Qualquer dúvida será sanada, apenas pergunte — Rogers disse, com as sobrancelhas juntas.

— Por que a S.H.I.E.L.D. quer a mim? Pelo que eu saiba... Não tenho nenhum vínculo fixo com o governo.

E não tinha mesmo, por mais que fizesse parte dos Vingadores Secretos e Thunderbolts. Entretanto, as duas equipes que integrava, eram plenamente anarquistas e de ideais fieis. Não existiam regras impostas pelos altos chefões. Entrar na S.H.I.E.L.D., significava passar por monitoração 24h.

Elsie não sentia-se confortável, sendo encarada de maneira especulativa por Fury.

— Me deem uma boa razão para aceitar ficar marcada como "objeto da S.H.I.E.L.D".

— Todas informações, no que diz respeito à proteção da sua identidade civil, ficarão guardadas. Limparemos sua ficha criminal. Assim não precisará mais fugir da policia, CIA e FBI.

Certo, pensou, Fury tem bons argumentos.

— Acredite, vocês não vão me querer na equipe — moveu os lábios lentamente, dando enfase em cada palavra. Wade riu. — Sou impulsiva, inconsequente, temperamental. E, além do mais, não tenho nada de especial.

— Todos temos alguma coisa de especial, senhorita Harris, — Steve continuava a observando daquela maneira inocente. Elsie oscilou, olhando para baixo. — Você é especial. Não importa o por que.

Será que ele pode parar de me encarar desse jeito?, pensou aturdida.

— Beleza, — ficou de pé, batendo uma mão na outra. — Tô dentro.


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Notas finais do capítulo

*"Eu fui pega pelo que fiz, mas levei tudo em grande estilo" (trecho da música Going to Hell, da banda The Pretty Reckless).
*Lester é um dos supostos nomes do Mercenário.
*Webster e B-Twist são saltos, eu até colocaria links, mas não deu. Nos próximos eu ponho.
*Deadpool chama das armas dele de "maçanetas" (nas HQ's).
Digam olá para a Reck o/
A estória dessa fic só começou porque eu queria muito fazer uma personagem estilo "badass", mas criar fanfic só para introduzir uma personagem como "A FODA" é muito forçado e eu creio que colocando um OC no meio de um enredo que já existe torna tudo mais real. E, afinal de contas, existem poucas personagens heroicas [mulheres, quero dizer] no Universo Marvel (o povo só conhece Natasha e algumas mutantes, nada demais). Ai decidi criar a Elsie, que é meio que uma Hit-Girl (quando combate o crime) e versão feminina do Peter Parker pela manhã, na vida civil.
O próximo capítulo é do Punho de Ferro :)
Elsie (aos, mais ou menos, quatorze anos, no começo, quando o Justiceiro ainda a treinava): https://fbcdn-sphotos-h-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xpf1/v/t34.0-12/10525413_533403773449558_2109885265_n.jpg?oh=2c15bc5f4a51633ea203298695334f80&oe=53B78DF9&__gda__=1404523305_e50b6ee725bb5dd566ae57fec4222d5c