Sol e Lua escrita por Aislyn


Capítulo 8
Traídor




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A Revolta das Zanpakutous



Uma semana se passou, Aiko não comia direito, mal dormia para cuidar de Mizuki. Era um segredo pesado demais para carregar sozinha e infelizmente, a única pessoa que sabia ofereceu uma ajuda que não era bem vinda. Ela já não conseguia mais fazer as suas atividades normais, ainda mais quando Kuchiki Byakuya não a recebeu as três vezes em que o procurou, havia prometido a si mesma que o procuraria somente uma vez mais para pedir desculpas.
Aiko chegou ao Rokubantai em um momento atípico, Abarai Renji e o taichou duelavam. A luta estava equilibrada, os homens em furor, torcidas divididas. Ela sentiu um aperto no peito e ouviu a voz de Mizuki ecoar em sua mente.

“Abra seus olhos... Acabo de ouvir aquela voz... Mais uma vez ela tentou se comunicar com todos e pelo que sinto com os presentes, teve efeito. Aiko-chan, Senbonzakura não está mais sob controle.”

Aiko ficou abalada com as palavras de Mizuki, entretanto, não poderia atrapalhar aquele duelo, sobretudo quando Shunsui e Ukitake estavam testemunhando. Renji surpreendeu usando o seu bankai, Byakuya revidou da mesma forma. O bankai de Byakuya não foi capaz de parar o adversário, e o mais curioso foi o corte que o taichou sofreu no pulso, feito por uma de suas lâminas. Ele saiu rapidamente quando o duelo acabou, estava estarrecido. A shinigami correu para alcançá-lo, ele entrou no escritório e como não havia ninguém no corredor, ela entrou sem permissão. O taichou estava sentado em sua cadeira, a luva danificada pela lâmina encontrava-se sobre a mesa. Aiko o fitou, tinha que tentar convencê-lo da inocência de Mizuki, mas antes, precisava ser perdoada.

– Taichou...

– Não lhe dei permissão para entrar – falou ele rispidamente. – Saia!

– Espero que um dia me perdoe... Eu só não queria que o senhor cometesse uma injustiça.

– Eu nunca terei nada para perdoar de você.

– E a Mizuki? – Perguntou Aiko docemente, estava emocionada. – Ela me falou sobre Senbonzakura, eu vi o que aconteceu.

– Não é da sua conta, Kannogi.

– É sim. Há uma semana o senhor acusou a minha zanpakutou de tentar machucá-lo, quando na verdade ela só quis protegê-lo. Espero que pense nisto, pois eu percebi que o seu ataque se voltou contra o seu senhor, mesmo que tenha sido somente uma lâmina. É como uma gota no oceano... Tenho consciência. Mas, pensando bem, se eu tivesse entregado a Mizuki para o senhor, talvez nunca mais a visse. O senhor errou e quase destruiu a minha vida como shinigami por causa disto.

– Você está vendo muito mais do que as coisas são de verdade – ele levantou-se e caminhou até Aiko, queria que ela se colocasse em seu lugar. – Eu não acredito que você teve a coragem de vir até o meu escritório, me desacatar mais uma vez. Hoje os papéis estão inversos... Daqui você pode sair direto para a prisão. Vou lhe dar um minuto, saia e volte para o seu trabalho...

– Essa sua soberba ridícula ainda vai causar-lhe muito mal... Se é que já não causou.

– Bem, assim eu fico sem escolha, Kannogi. Vou chamar um guarda...

– E a sua promessa? – Ela deu as costas, não queria que ele a visse a ponto de chorar. – Eu vou embora, já terminei o que vim fazer.

Mais tarde, o alerta era geral na Sereitei, todos os taichous, fukutaichous e oficiais foram convocados por Yamamoto Genryuusai para uma reunião. O lugar não era o de sempre, eles aguardavam na colina próxima à Soukyoku, local de lembranças duras e amargas. A surpresa não teve precedente, um ser estranho apresentou-se diante de todos, informou que estava no controle das zanpakutous e que o soutaichou estava em seu poder. A primeira prova foi o ataque de Tengen contra o seu senhor, Komamura Sajin. Assim como Tengen, outras estavam em forma humana e iniciaram os ataques. Os shinigamis pareciam ter perdido o chão, não sabiam o que fazer, ainda mais quando as suas zanpakutous começavam a atacar a Seireitei, dizimando soldados e destruindo tudo ao seu redor. A única alternativa era pará-las.
Aiko liderava um grupo de shinigamis do Yonbantai, a missão era fazer o atendimento às vítimas que corriam risco de vida no local e remover as outras para o Centro Médico. A situação estava preocupante, quase não havia homens com vida no perímetro em que o seu grupo ficou responsável. Assim que terminaram de remover as vítimas, o primeiro obstáculo apareceu. A hachiseki tomou a frente, estava disposta a proteger os seus homens.

– Vão para o centro, logo encontro vocês!

A criatura que estava diante dela trajava uma armadura de Samurai, condecorada a detalhes de prata e ouro, usando uma máscara com o detalhe de meia flor de cerejeira. Os longos cabelos castanhos presos no alto da cabeça esvoaçavam, Aiko não se sentiu bem ao fitá-lo, era um pouco assustador.

– Você é uma das poucas que eu terei o prazer em cortar aos pedaços, shinigami.

– Quem é você? – Perguntou Aiko, seu coração disparava, obviamente sabia que se tratava de uma zanpakutou.

– Um velho amigo...

A garota sacou a zanpakutou e ficou observando o oponente, estava disposta a lutar, seja ele quem fosse. Seu maior susto foi quando ele fez surgir uma zanpakutou em suas mãos.

– Chire...

“O quê? É a mesma técnica... Esse é...”

Aiko não quis pensar, tinha que agir.

– Flua, Mizuki!

Com os sai em mãos, ela colocou-se em posição de ataque. Aparentemente, a zanpakutou diante dela foi surpreendida. Não era possível que algum shinigami ainda tivesse controle sob a sua arma.

– Surpreso, eu suponho, Senbonzakura – desdenhou a oficial. – Creio que o amor também seja algo instintivo. Eu amo Mizuki, mais do que a mim mesma e dou a minha vida por ela! Seja quem for que estiver por detrás disto tudo, não vou permitir que toque em minha zanpakutou!

A reiatsu de Aiko manifestou-se como em uma explosão. Kuchiki Byakuya surgiu no mesmo momento, a tempo de contemplar o poder da shinigami. Não acreditava que ela era capaz de atacar sem ter a sua vida ameaçada, sem no mínimo ter sido encurralada pelo inimigo. Ele realmente não conhecia Aiko.

– Ban... Kai...

Ela bradou, com a força de sua reiatsu, conseguia fazer fissuras no chão e nas paredes, levantando despojos e muita poeira. Byakuya não poderia permitir aquilo, por mais que quisesse presenciar aquele fenômeno.

– Espere, Kannogi! – Aiko imediatamente parou, o taichou colocou-se entre ela e o inimigo. – Isso é meu problema.

Tudo o que eles ouviram foi uma risada abafada antes da zanpakutou desaparecer. Em segundos a reiatsu dele já estava distante.

– Taichou...

– Como é possível você querer utilizar o bankai? Essa técnica requer anos e anos de desenvolvimento e treinamento. Você não pode usar um blefe destes em uma batalha. Todos os que possuem tal poder devem ser respeitados!

– O senhor não tem o direito de me desrespeitar. Como pode afirmar que é um blefe? Assim eu me sinto ofendida – ela apertou a sua zanpakutou. – Mizuki não é igual às outras zanpakutous... Ela estava prestes a me dizer como quebrar o selo do bankai. De qualquer forma, agora o senhor pode ter certeza de que ela só estava protegendo-o.

– Conversaremos em breve.

– Espere...

Byakuya sumiu do campo de visão de Aiko antes que ela pudesse dizer-lhe algo. Sentia um aperto muito forte no peito.

“Tome cuidado...”

Ela correu tão rápido o quanto pôde, infelizmente, não chegou a tempo de ajudá-lo. O taichou desapareceu em meio às lâminas da Senbonzakura. Rukia estava em pânico e Abarai Renji estático.

Um dia havia se passado e Kuchiki Byakuya ainda estava desaparecido. Os shinigamis tentavam parar as zanpakutous, Kurotsuchi Mayuri estudava todo o fenômeno e aos poucos chegava a algumas conclusões. No Yonbantai, todos estavam envolvidos com os feridos, Aiko não conseguia sequer arrumar tempo para refeições. O estado de Komamura era estável, assim como o de Rukia que havia lutado contra a Sode No Shirayuki. A única pista que se tinha era a de ser uma zanpakutou a causadora de tudo, esta se chamava Muramasa.
Por ordens de Unohana, Aiko fora obrigada a permanecer no Centro Médico, não queria que Mizuki também pudesse se voltar contra eles. Horas depois, veio a notícia de que Renji controlou a sua Zabimaru, nem tudo estava perdido. Como já era tarde, a hachiseki foi descansar um pouco, outro oficial assumiu o plantão. Por mais que ela não quisesse descansar, tinha a consciência de que precisava estar lúcida para ajudar com os tratamentos. Ao chegar ao seu quarto, ela sentou-se na cama e largou a zanpakutou ao seu lado. Sua maior vontade era sair para procurar por Byakuya, mas se ela o fizesse, poderiam notar a sua ausência. Estava entre a cruz e a espada, o mais incrível era o fato de a sua zanpakutou sempre aparecer com uma solução. Ela surgiu em sua forma humana e sentou-se ao lado de Aiko, pegando gentilmente em sua mão. A shinigami sorriu, ver Mizuki sempre a acalmava.

– Nosso estimado Kuchiki-sama está vivo, Aiko-chan – disse ela com sua voz de veludo.

– Como você sabe?

– Intuição – sussurrou a zanpakutou. – Ninguém mais pode ajudá-lo, somente ele mesmo. Confie nele, Aiko-chan.

– Mizuki... Obrigada. – Aiko deitou-se na cama e ficou olhando para a janela. – Você tem alguma resposta? Por que as outras zanpakutous estão atacando seus senhores? Quer dizer, o que há por detrás de tudo isso, além de Muramasa?

– Não tenho... Se por um acaso eu for em busca destas respostas, talvez eu coloque a sua vida em risco. Nosso vínculo não permitirá que a voz de Muramasa me controle, porém, cada uma das zanpakutous representa uma potência. Sozinha, eu não posso... Perdoe-me.

– Mizuki, eu jamais permitiria que você tentasse ir atrás de respostas... Tenho consciência do poder daquelas zanpakutous.

– Tente dormir, Aiko-chan. Vou ficar em vigília.

– Sim... Vou tentar.

A shinigami conseguiu dormir por quatro horas, seu corpo e sua mente precisavam daquele descanso. Ela acordou com o barulho de batidas em sua porta, levantou-se em um sobressalto e viu Mizuki voltando à sua forma normal. Aiko abriu a porta, sonolenta, demorou a assimilar o que um shinigami estava lhe dizendo.

– Chamado de emergência? – Perguntou ela.

– Precisamente! Os homens já estão reunidos no pátio, estamos aguardando as suas ordens.

– Hai!

Ela pegou a zanpakutou e saiu apressada, tinha que seguir para uma região em especial, lá mais feridos aguardavam pelo socorro. Os outros grupos continuavam correndo contra o tempo no centro, quase não havia leitos e os alojamentos estavam servindo para feridos fora de perigo. O grupo de Aiko assim que chegou ao local, se separou para tentarem socorrer as vítimas o mais rápido possível. Ela estava atenta, não sentia a presença de nenhum inimigo por perto. Enquanto terminava o tratamento de um ferimento mais grave de um shinigami do Juubantai, Aiko sentiu um frio percorrer a sua espinha. Estavam muito perto do Nibantai, ela tinha que averiguar. Após seus homens se dirigirem para o centro, saiu correndo. Na entrada do bantai comandado por Soi Fon, ela viu a guarda caída e se certificou sobre o estado de saúde deles, felizmente, estavam apenas desacordados. No interior do bantai, passava por vários shinigamis na mesma situação dos anteriores, ela queria estar errada sobre o que sentia. Ao chegar a uma sala que continha os registros secretos do Onmitsukidou, Aiko sofreu um choque.

– Então... Sei que deve ter um bom motivo para estar fazendo isto...

– Unicamente, o meu orgulho. – Respondeu ele com frieza. – Saia do meu caminho, Kannogi Aiko.

– Eu posso ser acusada de traição, o senhor sabe, não sabe? – Ela aproximou-se de Kuchiki Byakuya, ele estava com um livro em mãos. – Ao menos, eu gostaria de uma explicação.

– Não se envolva se não quiser se machucar – ele fechou o livro e passou por ela.

– Taichou...

Aiko pegou no braço dele com força, apertava-o com os dedos. Aquela situação era um paradoxo, ela não sabia qual o papel que deveria desempenhar. Seu coração lhe dizia para deixá-lo ir, sua razão em contrapartida dizia para pará-lo, afinal, era a sua obrigação como shinigami. Byakuya parou e Aiko colocou-se na frente dele. Por alguns instantes, os dois apenas se confrontavam com o olhar, ambos sabiam que logo alguém chegaria. Ela respirou profundamente e quebrou o silêncio.

– Por favor... Não se machuque. Eu vou ficar fora disso... Só quero vê-lo novamente.

– Kannogi...

– Confio no senhor, taichou.

– Não estou dando motivos para confiar em mim.

Byakuya empunhou a sua zanpakutou, não exprimia emoção alguma. Num movimento que a shinigami não pôde acompanhar com os olhos, ele golpeou a nuca dela e antes que ela caísse, a pegou em seus braços. Byakuya usou toda a sua velocidade para sair dali, então, colocou Aiko delicadamente no chão, próxima a alguns guardas que ele derrubou. Ao menos, ninguém poderia dizer que ela o deixou partir, caso a interrogassem. Ele a olhou com certa ternura e continuou com seus objetivos.
A hachiseki acordou em seu quarto no alojamento do Yonbantai, Mizuki estava sentada na beira da cama, olhando-a com preocupação.

– Você está bem?

– Estou sim, Mizuki... Desconcertada.

– Kuchiki Byakuya vai ser sempre um mistério a ser revelado, Aiko-chan.

– Não sei por qual motivo eu confio tanto nele... Sinto-me mal por sequer ter tentado pará-lo. Não posso colocar meus sentimentos acima do dever desta forma...

– Você está pensando como ele – lamentou Mizuki. – Não é um bom exemplo a ser seguido... Você deve respeitar as leis, mas também deve se respeitar. O que você fez não fará diferença alguma, Aiko-chan. Ele estava decidido e levaria seja lá o que estiver tramando até o fim. Vamos continuar juntas, ajudando os que precisam.

– É uma boa conselheira, Mizuki... Estou tão preocupada. De qualquer jeito, só me resta seguir em frente... Vou comer alguma coisa e voltar ao trabalho! Vamos?

– Sempre!

Aiko já esperava pela notícia que corria na Seireitei, Kuchiki Byakuya estava sendo dado como traidor. Ele levantou a sua zanpakutou contra seus subordinados, até mesmo contra sua irmã. A maior surpresa, entretanto, foi o fato de ele ter sido visto ao lado de Muramasa.
Ela estava cuidando de uma shinigami do Sanbantai quando soube da notícia e acabou se descuidando, deixando a sua energia de cura enfraquecer. Assim que sorriu para a enferma, continuou, precisava se concentrar. Em sua mente só pensava no erro que poderia ter cometido, ainda não se sabia nada sobre o inimigo, talvez ele tivesse controlando a mente de Byakuya. Nem mesmo Mizuki poderia acalmá-la naquele momento, nada tinha lógica.

“Orgulho... Ele falou de orgulho. Eu preciso pensar! Deve haver uma resposta.”

A resposta demorou algum tempo para aparecer, muitas coisas haviam acontecido neste período. Zanpakutous foram destruídas, outras continuavam matando inocentes e destruindo a Seireitei. De acordo com os estudos do Centro de Pesquisas Tecnológicas, havia alguma esperança para consertar as zanpakutous destruídas. O embate estava se desenrolando, os planos de Muramasa finalmente eram conhecidos. A notícia se espalhava rapidamente, ao fim, foi descoberto o objetivo de Muramasa: libertar uma das maiores ameaças que a Soul Society já teve, um enteado da família Kuchiki, Kouga. Muramasa nada mais era do que a sua zanpakutou, que tinha o poder de controlar outras zanpakutous. Vários taichous foram enviados ao Mundo Real para dar suporte na batalha, Byakuya lutava com Kouga... Aquilo envolvia a honra de sua família e acima de tudo, o seu orgulho. Não houve interferências no combate, como era esperado, o taichou do Rokubantai venceu o inimigo.
Alguns dias depois, as zanpakutous já não representavam ameaça alguma, todos conseguiram reavê-las, mas o trabalho no Centro Médico ainda era intenso. Aiko cumpria com o seu horário, mais quinze minutos e fecharia o seu expediente. Os plantões daqueles últimos dias haviam sido exaustivos, contudo, não se deixou abater, assim como nenhum de seus companheiros. Aquele era o objetivo do Yonbantai, salvar vidas, sem medir esforços. A maior preocupação do bantai deixou de existir no momento em que Hisagi Shuuhei recobrou a consciência dias atrás, de todos, ele fora o que teve os ferimentos mais graves.

– Mia-chan – Aiko chamou a enfermeira que estava responsável pela segunda ala do centro. – Meu expediente terminou... Por favor, qualquer problema, pode me chamar.

– Claro, Aiko-chan. Tenha um bom descanso... Em duas horas meu plantão termina, preciso de um bom banho.

– É o que eu farei agora! Amanhã estou de folga, vou aproveitar para ficar com a minha família.

– Ah, então até mais... Espero que aproveite o seu dia de folga.

– Obrigada, Mia-chan! Até breve.

Aiko contrariando a própria vontade, apenas tomou um banho rápido em vez de ficar algumas horas na banheira pequena. A última notícia que agitava os esquadrões era o fato de ter acontecido uma festa para quem quisesse e pudesse ter ido. Kuchiki Rukia foi a responsável por tudo, sendo que mais cedo, Aiko ficou sabendo que o Rokubantai em peso esteve na Casa Kuchiki para uma grande confraternização. Alguns diziam que Byakuya deu muita atenção para os seus subordinados, que estavam encantados com o fato do taichou estar em seu meio, até mesmo compartilhando a sua última experiência. Ele havia se tornando um herói para o seu time, digno de toda a admiração. Como no dia seguinte era a sua folga oficial, a shinigami podia se considerar de folga desde então, assim, resolveu fazer uma visita a Casa Kuchiki, ainda tinha algo pendente com o seu líder. Após arrumar-se, preferiu deixar os cabelos soltos e para tentar mudar um pouco, borrifou um perfume de sândalo, outro favorito. Quando estava fechando a porta do quarto, lembrou-se de um doce que fez no dia anterior, então, pegou um dos vidros artesanais e colocou em sua bolsa. Esperava que o taichou se lembrasse daquele doce, era o mesmo que ela fez quando ele ficou doente.
Já havia escurecido, ela chegou ao portão da morada de Byakuya e foi bem recebida pelos empregados, agora só restava esperar para que ele a recebesse. Com a permissão de seu senhor, uma empregada acompanhou a shinigami até a biblioteca da casa, ele estava sentado em uma poltrona aconchegante enquanto lia um livro. Aiko ficou esperando até que ele dispensou a empregada, então, fez sinal para que ela sentasse em outra poltrona à frente dele.

– Fico grata por ter me recebido, Kuchiki-sama.

– Como está a sua zanpakutou? – Perguntou ele interessado.

– Muito bem, parece que agora ela resolveu ficar sempre acordada enquanto eu durmo. Confesso que me assusto quando a vejo ao pé da cama – ela sorriu. Ao atentar-se no título do livro que ele lia, achou curioso: “Elogio à morte”. – E o Senbonzakura?

– O deixei com a Rukia, para fazer o que quiser com ele – respondeu com a voz agradável. – Não suporto alguém falando o que devo ou não fazer.

– Ele apenas se preocupa com o senhor...

– Pare de me chamar de senhor – pediu Byakuya após um suspiro. – Isso me irrita.

– Vou tentar. Ah! – Ela abriu a bolsa e retirou o vidro de seu interior. Ele tinha o desenho de algumas flores de cerejeira. – Eu trouxe para você...

– Agradeço – Byakuya pegou o vidro e o admirou por alguns instantes antes de colocar sobre uma mesa de canto. – Você já está ciente sobre a nova ameaça?

– Hai. É muito triste... Imagino o desespero de uma criatura destas, vagando sem saber que o seu mestre está morto. Eu não sei se gostaria de encontrar com um Toujuu, acho que ficaria muito infeliz ao machucá-lo. – Aiko estava emocionada, mais cedo foi informada a respeito das zanpakutous que foram libertadas por Murasama e mataram os seus próprios mestres que não conseguiram contê-las. – Não sei se o que estou dizendo é correto, mas, pelo que ouvi, o Kurotsuchi-taichou não está tão interessado neste caso.

– Está correto. De qualquer forma, logo ele terá que agir... Alguma ordem deverá vir de cima.

– Sim. – Aiko não sabia como chegar ao motivo de sua visita. – Kuchiki-sama... Eu sei que você não gosta deste tipo de manifestação, contudo, eu me sinto na obrigação de agradecer pelo que fez por mim. Se por um acaso não tivesse me tirado do seu caminho naquela noite, talvez eu pudesse ter recebido alguma punição.

– Você confiou em mim, não foi? Eu nunca lhe dei motivos para aquele voto.

– É tudo uma questão de sentimentos... Não acho que venha ao caso.

– Não vou forçá-la a...

Ele foi interrompido por uma borboleta infernal que entrou pela janela, felizmente trazia uma boa notícia. Aiko ficou mais tranqüila ao ter ouvido a mensagem, ao menos a zanpakutou capturada por Rukia poderia servir de estudo para tentar ajudar outras. Lá fora, começava a chover, era algo que não acontecia há meses na Soul Society. A shinigami foi correndo olhar pela janela, não demorava muito até a chuva se intensificar e como ela adorava água, não poderia negar a vontade que lhe invadiu. Byakuya ficou perplexo ao vê-la pular a janela e ir para o meio do jardim, ela olhava para o céu, estava nitidamente feliz.

– Kuchiki-sama! Por que não vem até aqui? Está tão agradável...

– Estou bem aqui.

Aiko ficou imaginando quanto tempo deveria fazer desde que ele brincou na chuva. Quem sabe, ele jamais tenha feito aquilo... Não conseguia entender como uma pessoa normal poderia ficar alheia àquela maravilha da natureza, tinha a certeza de que muitos outros deveriam estar fazendo o mesmo que ela. Byakuya saiu da janela, alguns minutos depois, ele a surpreendeu aparecendo no jardim. Também, seria querer demais que ele pulasse a janela. A princípio, estava visivelmente incomodado em estar fazendo aquilo, tinha deixado a haori de taichou no interior da casa. Ela lembrou-se da última vez que o viu molhado daquela forma, era uma boa lembrança.

– Esta chuva... Algo me diz que veio para nos trazer um pouco de paz. Para tentar acariciar aqueles que precisam de um carinho ou consolo – ela falava docemente, parecia apaixonada pela chuva. – E também, para lavar o sangue dos inocentes que ainda está no solo da Seireitei... Somente a água é capaz de purificar. É uma pena que nem todos se deixem levar por algo tão bom. Eu me sinto bem agora, é como se meu corpo estivesse livre das energias ruins que permanecem no hospital.

– Confesso que eu nunca dei tanto valor à chuva quanto você... Mas, posso dizer que após a última batalha, ela caiu como uma dádiva.

– Taichou... Eu não vou mais tomar o seu tempo. Acho que já está ficando tarde.

– Pretendo descansar um pouco hoje, se quiser, pode ficar.

– Não sabe o quanto eu gostaria de ficar aqui...

– E qual o problema?

– Preciso ver os meus pais, eles devem estar com saudades. Um dia é muito pouco para vê-los, mas infelizmente, eu preciso me contentar e ser feliz com isso. Acho que agora, não sei quando volto a ver você – ela deu as costas e caminhou até o interior da casa, Byakuya a seguiu. – Antes de ir... Posso fazer uma pergunta?

– Sim...

– Em todo o Gotei Juusan, dizem que você não gosta de conversar mais do que o necessário e dificilmente tolera a presença de outros shinigamis... E eu estou sempre, de alguma forma, aparecendo no seu caminho...

– Você é o menor dos meus incômodos – interrompeu o taichou. – Se é isso o que quer saber.

– Bem, então eu posso me considerar alguém importante... Sua sinceridade me espanta.

– Não seja tão inconveniente, Kannogi.

– Claro que não – ela riu do comentário dele. – Tenha uma boa noite, Kuchiki-sama. E por favor, repouse um pouco...

– Essa é a recomendação da oficial do Yonbantai? - Indagou ele olhando-a nos olhos.

– Não... É um pedido sincero de alguém que se preocupa com o seu bem estar. Talvez mais do que você imagina... – Disse Aiko sinceramente. – Até mais.

Seu dia de folga passou muito rápido, Aiko não acreditava que já estava no laboratório do Yonbantai, para uma aula de farmácia. Adepta dos tratamentos naturais, odiava tudo o que tinha a ver com substâncias químicas. No total, a aula durou quatro horas, a shinigami estava com sono, precisava de chá antes de começar a parte burocrática do seu dia.

– Aiko-san!

– Ohayo, Isane-fukutaichou. – Aiko chegou ao mesmo tempo em que a fukutaichou na salinha de descanso. – Tudo bem?

– Tudo tranqüilo comigo – respondeu ela sorrindo enquanto preparava o chá. – Recebemos uma ordem para ajudar o Juubantai no Mundo Real, na verdade, é mais um plantão. Ficaremos em alerta caso alguém se machuque, mas não entraremos no campo de batalha.

– Ah, alguns Toujuu conseguiram escapar... Eu soube mais cedo – comentou tristonha. – Não consigo parar de pensar neles.

– É muito triste, realmente – Isane serviu uma xícara de chá para Aiko. – Como a Unohana-taichou quer que você esteja preparada para qualquer situação, ela pediu que o seu grupo fosse ajudar nesta missão.

– O meu grupo? – Aiko engasgou com o chá. – Isto quer dizer... Que...

– Você será responsável pelos homens no Mundo Real. Acha que está pronta?

– Claro que sim! Desculpe a minha reação, é que fiquei sem palavras... Estou lisonjeada.

– Dentro de uma hora o Senkaimon será aberto, você já pode escolher quem irá nesta missão com você. No máximo sete...

– Sim, fukutaichou! Vou agora mesmo. Obrigada...

Aiko bebeu o chá num gole só e saiu apressada, não conseguia conter a alegria de poder ir a uma missão no Mundo Real. Em pouco mais de trinta minutos ela escolheu sete shinigamis e explicou a eles no que consistia a missão, conseguia passar confiança para eles, assim, conquistou rapidamente a admiração de seu grupo. Era uma líder nata, tanto que escolhera dois shinigamis que além dos conhecimentos médicos, eram grandes guerreiros. Sua intuição lhe dizia que não seria seguro sair sem alguém que pudesse fazer frente ao seu lado, caso algum problema aparecesse. Lembrava-se das palavras de Byakuya, para salvar a vida de alguém, antes ela precisaria salvar a sua própria se corresse algum risco. Tal máxima desde aquele dia era seguida por todo o seu grupo, tanto que os homens se motivaram a treinar desde então.
O Senkaimon já estava aberto, oito borboletas infernais os esperavam para guiá-los por todo o caminho. Aiko não deixava transparecer o seu nervosismo, ainda mais por ser a primeira vez que estava indo para o mundo real. Eles demoraram um pouco para chegar até o fim do caminho e assim que saíram para o mundo real, ela sentiu o seu coração bater mais forte. Era muito diferente de tudo o que conhecia, havia luzes por todos os lados, prédios, carros, muitas pessoas. O ar que ela respirava também era diferente, parecia mais pesado, porém, logo se acostumaria. Já conhecia bem o Denreishinki por conta de treinamentos sobre suas ferramentas, além de servir como um radar para detectar e apontar distúrbios na cidade, também era um comunicador.

– Hitsugaya-taichou... Já estamos em alerta – informou a hachiseki com segurança. – Ficaremos aguardando as suas ordens, caso necessite de nós.

– Hai, Kannogi! Tenha cuidado, detectamos ações de mais de cinco Toujuu na cidade.

– Sim, senhor!

Ela desligou assim que Hitsugaya o fez. O maior problema seria não ter tido nenhum tipo de aconselhamento sobre como proceder durante o tempo em que não estivessem de serviço, era uma grande responsabilidade ter que zelar pelo bem estar de sete shinigamis. Conforme a sugestão de um homem mais experiente, chamado Murai Toshio, eles acamparam em um campo aberto bem próximo à estrada principal que levava à Karakura. Ele mesmo se encarregou da barreira ao redor do acampamento, para o alívio de Aiko. Como agradecimento, a hachiseki se ofereceu para fazer o almoço na fogueira improvisada. Todos comiam e conversavam, o maior interesse era na oficial, perguntavam como era fazer parte de uma família nobre.

– Para alguém que viveu muitos anos sem uma família, é como um sonho. E não falo isso por serem de uma família nobre... Confesso que, desde criança, eu batia de porta em porta no Rukongai, ninguém abria.

– Eu também perdi a minha família muito cedo, Kannogi-hachiseki – falou Toshio. – Vim de um distrito pobre, tive que cometer muitos delitos para sobreviver, até que, encontrei um shinigami pela primeira vez e quis ser como ele. Passei por vários bantais até chegar nesse... Depois que comecei a fazer parte do Centro Médico, vi que era tudo o que eu sempre quis fazer.

– Comigo foi parecido também...

– Desculpe, Kannogi...

– Me chame de Aiko, por favor...

– Aiko-san – disse Toshio sem jeito. – Ouvimos falar que o Kuchiki-taichou salvou a sua vida e foi por isso que você resolveu ingressar na academia... É verdade?

– É sim, Toshio-san – lembrou com um sorriso estampado no rosto. – Me inspirei muito no Kuchiki-taichou e também no Ukitake-taichou...

– Você foi um prodígio da academia... Nunca ninguém em toda a história conseguiu se formar tão rápido, ainda mais quebrando o selo do shikai em um teste. Confesso que eu fiquei insatisfeito quando você assumiu o nosso grupo, uma shinigami tão inexperiente. Mas, aos poucos, você demonstrou o porquê de que ter conquistado a confiança da taichou para o cargo e logo, conquistou a nossa também.

– Arigatou! – Aiko sorriu e serviu mais um pouco de lamen para o companheiro. - A propósito, qualquer dia eu quero dar uma festa para o nosso time em minha casa. Já conversei com a taichou e ela ficou empolgada com a idéia.

– Espero que nosso atual problema seja eliminado rapidamente então... Há muito tempo o Yonbantai não tem um evento do tipo.

A noite chegou sem que o grupo precisasse sair do acampamento, todos já estavam dormindo em suas respectivas barracas quando uma forte ventania começou a ser fazer no local. A princípio, Aiko apenas se preocupou em fechar o zíper de entrada da barraca que estava entreaberto, confiava na perícia de Toshio quando a ajudou a montá-la. Sonolenta, olhou para fora e viu algo que demorou em assimilar que estava lá, no meio do acampamento. Um dos shinigamis de seu grupo, Kojiro, foi o primeiro a sair de sua barraca. Frente a frente com uma criatura fantasmagórica, era evidente o medo nos olhos dele, entretanto, quis enfrentá-la.

– Você é uma zanpakutou?

Ela tinha a aparência de um fantasma, seus pés não tocavam o chão, os cabelos negros esvoaçavam ao ritmo do vento que parecia estar concentrado apenas ao seu redor naquele momento. Os olhos vermelhos, furiosos, encararam Kojiro. Aiko sentiu que a reiatsu da mulher teve uma alteração, então, saiu rapidamente da barraca e colocou-se na frente de Kojiro.

– Peça aos outros que fiquem em alerta!

Não estava com a sua zanpakutou em mãos, por isto, sentiu um aperto no peito quando a criatura materializou a sua arma, uma belíssima espada chinesa. Sabia com o que estava lidando, sentiria muito se tivesse que machucar uma zanpakutou sem dono. Aiko concentrou-se, precisaria achar uma saída para que não houvesse derramamento de sangue. A única idéia que teve foi utilizar um bakudou, provavelmente, conseguiria prender a zanpakutou sem grandes problemas. Em um aglomerado de movimentos rápidos, a shinigami estendeu e cruzou dois dos dedos de sua mão direita – indicador e médio – um sobre o outro, mantendo os demais dedos na posição de punho serrado - inclusive o polegar, abaixo destes. Seus dedos delineavam um ideograma em cor vermelha brilhante, o qual ficava desenhado no ar até o final do símbolo tomar formato. Assim que isto ocorria, a conjuradora deixava seu braço totalmente esticado para frente do tórax, com a mão e os dedos em mesma posição de antes, mas apontando para cima. A outra mão, espalmada, posicionou-se agora atrás da primeira, dando sustentação para a próxima etapa da técnica. O corpo da shinigami passa a ser contornado pela coloração vermelha – idem a do ideograma que agora desaparece.

– Bakudou número nove, Geki!

Toshio apareceu logo em seguida para dar assistência à Aiko, assim como todos os outros do grupo e trouxe a sua zanpakutou. Aiko agradeceu com um sorriso, sentia-se melhor com Mizuki em suas mãos. O Toujuu permaneceu imóvel, contudo, aquele bakudou não era forte o suficiente para prendê-la por muito mais tempo. Toshio tocou no ombro de Aiko e sorriu, estava de costas para a criatura capturada.

– Eu cuido disso, Aiko-san...

Ele pretendia utilizar um selamento mais potente, contudo, mal teve tempo para virar-se. Aiko não conseguiu acreditar, o Toujuu livrou-se do bakudou e golpeou o shinigami pelas costas, de forma que a sua lâmina atravessou-lhe o corpo. Toshio caiu na direção de Aiko, ela o amparou nos braços.

– Kojiro... Fique com ele, por favor – Aiko pediu docemente, em seu rosto, uma lágrima rolou livremente. – Vocês todos, ajudem o Kojiro, por favor. Não quero que se aproximem até eu acabar com isso.

Os homens sentiram algo estranho na voz de Aiko, ela mudou completamente o seu jeito de ser, sua última frase foi dita com firmeza. Assim que Toshio foi levado para um lugar seguro e todos se afastaram, ela ficou frente a frente com o Toujuu que não esboçava emoção alguma. A reiatsu de Aiko começou a fluir ao redor de seu corpo, seus cabelos esvoaçavam. Não sentia que estava controlando a si mesma, parecia ter sido tomada por uma cólera imensa. Ela tinha a convicção de que não havia mais nada de bom naquela criatura, então, saltou com uma velocidade a qual nunca chegara antes e foi em direção dela. Bastou apenas um golpe, com a lâmina de sua zanpakutou, fez um corte do ombro até o abdômen do Toujuu que imediatamente desapareceu e assumiu a sua forma original, quebrando-se. Aiko guardou a sua zanpakutou e correu para o lugar em que os shinigamis davam assistência a Kojiro, que iniciou os procedimentos para salvar a vida de Toshio.

– Vou assumir o tratamento, Kojiro-san... Obrigada.

Um dia se passou, os homens estavam impacientes, todos preocupados com a loucura que a sua superior estava cometendo. Desde a noite anterior, ela estava canalizando todas as suas forças para curar o ferimento profundo de Toshio, seu corpo já não estava mais agüentando. Assim que o último homem foi oferecer ajuda, ela cessou o tratamento e o fitou com pesar.

– Me perdoe... – Aiko falava com dificuldade e quando tentou se levantar, caiu sentada no chão. – Eu fui imprudente demais... Como pude achar que um bakudou tão fraco...

– Fique tranqüila, Kannogi-san – interrompeu o shinigami, estava com pena daquela jovem. – Nós sabemos o quanto você se preocupa com os que estão ao seu redor. Ficou claro que se você pudesse, daria a sua vida por nós... Graças aos seus cuidados, o Toshio-san vai ficar bem!

– Shunsuke-san...


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